sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Um último domingo de magia

Segunda-feira, o futebol brasileiro já acordará mais medíocre.

Pela última vez, Alex sairá de sua casa rumo ao Alto da Glória a fim de disputar uma partida como jogador profissional. O menino que saiu do Coritiba, cresceu no Palmeiras, passou pelo Flamengo, se agigantou no Cruzeiro e virou mito no Fenerbahce, da Turquia.



Pela seleção brasileira, nunca nenhum treinador compreendeu a importância de Alex para o futebol. Apesar do título em 2002, é incompreensível sua ausência na lista dos 23 nomes que foram para a Copa. Mas já está provado que o Felipão não gosta de futebol.

Alex é um dos últimos remanescentes de nossa maior carência no Brasil dos atuais tempos. Nos falta um meia que faça o mundo parar de girar, que dite o ritmo do jogo como quem rege uma orquestra.

Seu último ato como craque que sempre foi, é e continuará sendo por toda a eternidade das nossas lembranças sobre o esporte bretão, será enfrentar o Bahia e, lamentavelmente, rebaixá-lo à segunda divisão. Isto após ter garantido a presença do Coritiba na primeira.

Este período no Coritiba serviu para despertar em Alex uma liderança para fora do campo, para além das quatro linhas, que parecia impensável há tempos atrás. O genial camisa 10 do Coxa se tornou uma referência na luta por um futebol melhor para todos, através do Bom Senso FC.

É de Alex a afirmação que a CBF é, para o futebol brasiileiro, uma mera sala de reuniões. Quem manda mesmo é a Rede Globo, que paga a banda e escolhe a música.

Este Alex vindo da Turquia não para de jogar, nem pode. Deve continuar esta luta, mesmo aposentado dos gramados.

Do outro Alex, que parecia tímido, aparentava ser sonolento - o que lhe deu o injusto apelido de Alexotan - fica a genialidade dos lances de rara beleza. A precisão na conclusão, a velocidade de raciocínio, aquele chapéu no Rogério Ceni...

O futebol acordará na segunda-feira menos mágico, ainda mais medíocre. As esperanças de um sopro desta magia continua apenas em Ganso, que não é convocado por Dunga - que também não gosta de futebol.

Diante de tantos treinadores que desprezam a arte em detrimento dos resultados que garantam tão somente os lucros da quadrilha que se apossa do futebol brasileiro através da CBF, o talento tem pouco espaço.

O Brasil parece não querer novos Alex, mas o Brasil precisa de novos Alex. Dentro e fora do campo.


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A quem ama futebol...

Esta noite foi espetacular!

De repente, cinco torcidas de cinco gigantes do futebol brasileiro passaram os últimos 15 minutos desta quarta-feira vidradas, em pânico absoluto.

O São Paulo por um gol de cair fora da Sul-Americana. O Cruzeiro a um gol de cair fora da Copa do Brasil. O Santos a um gol de cair fora da Copa do Brasil. O Atlético-MG a um gol de cair fora da Copa do Brasil. O Flamengo a um gol de cair fora da Copa do Brasil.

Respiraram aliviadas as torcidas do São Paulo, do Cruzeiro e do Galo. Santistas e rubro-negros voltam para casa chorando.



Quanto aos santistas, não tenho muito o que falar. Caíram para o melhor time do Brasil e de forma digna.

Vou tratar do meu quintal. Vou falar, especificamente, do único time que não quis jogar futebol nesta quarta-feira. Vou falar do Flamengo.

Futebol é um esporte tão maravilhoso, tão apaixonante, que talvez uma das grandes frustrações da minha vida foi não ter talento suficiente pra viver jogando futebol. Nem talento, nem equilíbrio emocional para ser profissional e vestir outra camisa que não fosse a do Flamengo.

Respeito quem conseguiu.

Pois bem. É tão maravilhoso que eu não consigo entender como quase um time todo consegue passar 90 minutos sem jogá-lo.

Não vou me ater, inicialmente, à escalação do time. Obra daquele que, a meu ver, foi quem mais errou nesta noite. O "pofexô".

O jogo de futebol é bom para quem tem a bola. Ainda assim é possível ter menos a bola e jogar bem, se a proposta for mais defensiva. Mas para isso é preciso ter alguma válvula de escape da defesa para o ataque.

A falta de um passador no primeiro tempo que colocasse os mais rápidos para puxar o contra-ataque e a ausência dos mais rápidos no segundo tempo foram determinantes para que o time não saísse de trás da linha do meio-campo.

Aliás, este é outro ponto. O jogo se ganha no meio-campo. Se você não consegue sequer segurar a bola por ali, você está perdido.

Não se abre mão da bola e de dois terços do campo ao mesmo tempo impunemente.

Aí passamos aos "destaques" individuais.

Eduardo da Silva NUNCA poderia dar um toque de letra antes da linha do meio-campo com a defesa toda saindo, era hora de dominar a bola e escolher a melhor jogada. Tinha espaço para isso.

Os laterais não podem ser driblados o tempo todo como foram. Estes, ao menos, tem atenuantes. O Léo jogou uma partida e meia no Brasileirão, passou boa parte do ano no departamento médico. João Paulo é ruim mesmo.

As substituições foram um fiasco. Quem é Elton? Quem é Matheus? O que fazem? Como se reproduzem? Com a palavra, Sérgio Chapelin...

No entanto, como disse anteriormente, Luxemburgo foi quem mais errou.

Samir é titular deste time até com câncer no esôfago. As substituições foram descabidas. Ele estava nervoso demais e, por consequência, o time também. As pixotadas da defesa e a incapacidade de manter a bola nos pés nos faziam pensar que o Atlético estava classificado desde o primeiro tempo, uma questão puramente emocional.

O trabalho de Luxemburgo foi pro vinagre? Não. Mas é preciso reconhecer que ele não está entre os grandes treinadores da atualidade. O seu trabalho foi importante pra sair da confusão, mas ninguém passa 10 anos sem vencer títulos nacionais à toa. Até a Copa do Brasil ficou grande demais pra ele.

Pois bem. Agora é juntar os cacos, levantar a cabeça e, temporariamente, mudar um pouco de assunto.

Aliás, a final da Copa do Brasil nos traz um fator interessante. Muito anda se falando em terceiro turno das eleições. Aécio é Cruzeiro, Dilma é Galo.

O Flamengo deve ser a Marina, neste raciocínio.

Para não dizer que esqueci de mim mesmo, paguei pela minha soberba. Se estivesse no Irã, mereceria umas 120 chibatadas por cantar vitória antes da hora. E não dá pra dizer que não me alertaram do risco que eu corria... né, Gustavo?


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Confusão

Vanderlei Luxemburgo, pode não ser mais o melhor treinador do Brasil, mas está no topo dos melhores frasistas, junto com Joel Santana, do nosso futebol pós-Neném Prancha.

Essa história da confusão no Flamengo foi genial. Acabou virando sinônimo de zona do rebaixamento, transformando o mesmo em expressão proibida na Gávea. De repente, todos os jogadores compraram a ideia e saíram por aí dizendo que o negócio era sair da confusão.



Daí a pegar na imprensa esportiva, foi um pulo. A confusão se tornou um imediato sucesso de público, crítica e, principalmente, bola. O Flamengo virou outro, sem a pressão da palavra rebaixamento e sabendo exatamente quais eram suas pretensões.

Assim, de forma leve, o Flamengo chegou longe na Copa do Brasil. Mas é bom que se diga que a redução do preço dos ingressos ajudou a devolver o time para os braços de sua torcida. E Luxemburgo teve um papel importante, inclusive, neste aspecto.

Mas nem todo mundo quer sair da confusão. O Botafogo parece chafurdar, cada vez mais, nela. Graças às inúmeras trapalhadas de sua diretoria, o clube parece fadado a ocupar o lugar do Vasco, que vai subir.

Ao menos, o alvinegro de General Severiano economizará algum dinheiro de avião, indo de ônibus para Macaé. O Vasco torce para que as eleições no clube passem logo e que alguém assuma o clube de uma vez por todas.

Outros acham uma confusão boa para se meter, como a das vagas na Libertadores. Há algumas rodadas atrás, até mesmo alguns tricolores resolveram jogar a toalha, mas com quatro vitórias seguidas o time volta a brigar.


Resumindo, dá pra achar confusão em qualquer ponta da tabela. O campeonato está embolado e confusão é o que não falta. O Flamengo, não só se livrou de uma, como também não se envolveu nas outras.



Valeu,


Bruno Porpetta

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Ponta esquerda

Na Copa de 82, ficou famoso um personagem humorístico interpretado por Jô Soares chamado Zé da Galera. O dito cujo sacaneava o treinador Telê Santana, colocando em suas falas o bordão “Bota ponta, Telê!”.



Aquela época era o ocaso do ponteiro, que fez parte dos esquemas táticos do futebol até os anos 70. Embora, desde 58, o ponta esquerda já compunha mais a marcação no meio-campo da seleção brasileira. O sujeito em questão era Zagallo.

Com a chegada dos anos 80 e a necessidade de ter mais marcadores atrás da linha de ataque, os pontas começaram a desaparecer.

O futebol foi mudando ao longo do tempo. Por muito tempo, ficou mais chato. Sem os pontas, a linha de fundo virou quase um território proibido. Quase não se pisava por ali.

Aí veio o Barcelona de Guardiola, que por marcar e trocar passes no campo de ataque, percebeu que não podia se confinar na intermediária. Alguém teria que ir à linha de fundo.

Foi o retorno do ponta. Não exatamente com as mesmas funções de antigamente, mas estava lá.

Hoje, os pontas, além de ir à linha de fundo, voltam para marcar a saída dos laterais. Os atacantes abertos pelos lados do campo foram fundamentais para dar mais graça ao futebol atual.

Ou seja, redescobriu-se que o futebol é a arte da ocupação de espaços. Quase um xadrez de peças “malemolentes”. Este é o centro da discussão mais inevitável do momento: as eleições presidenciais.

No segundo turno, cada um correu para a ponta do ataque onde se sentiu mais à vontade para jogar. Dilma foi à esquerda, Aécio à direita.

Na defesa adversária, FHC, o lateral-direito, dava várias pixotadas. O jogo era por ali, pela ponta-esquerda.

A estratégia deu certo. A vitória veio pela esquerda.


Para governar, é hora de entender o recado que o Brasil deu: “Bota ponta-esquerda, Dilma!”.


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Mais cômicos do que nunca

Os amigos de Aécio que dirigem o futebol brasileiro não se cansam de tirar uma onda com a nossa cara. Só podem ser humoristas, brincalhões, piadistas de mão cheia.



Não faz muito tempo, fomos humilhados dentro de casa com uma vergonhosa goleada por 7 a 1 aplicada pela Alemanha em plena capital mineira. Por muito menos do que isso, o goleiro Barbosa foi crucificado por 64 anos. Cada gol da Alemanha serviu para redimir o goleiro da Copa de 50.

Pois bem. Terminada a Copa de 2014, a CBF – tal como um vira-latas cheio de pulgas e carente de atenção – solicitou à Federação Alemã datas para uma “revanche”. Aliás, nem isso a CBF faz. Uma empresa chamada Pitch é a responsável por marcar os amistosos da seleção, em uma escandalosa terceirização de tarefas.

A Alemanha negou, pois já tem ocupadas todas as datas FIFA em 2015. O Brasil, ainda não. Nestas datas, o campeonato alemão vai parar para que seus jogadores disputem os amistosos por suas seleções. No Brasil, não.

Essa excrescência provoca situações bizarras como as do atacante Diego Tardelli e do goleiro Jefferson, que jogaram na terça em Cingapura contra o Japão.

O primeiro esteve em campo na quarta-feira em BH e, graças à classificação do Galo às semifinais da Copa do Brasil, se tornou herói. Já o segundo, deveria estar em campo na quinta, no Pacaembu. Não jogou e virou vilão para dirigentes e comissão técnica do Botafogo. Ambos vinham de 26 horas de vôo.

É inegável que o Brasil jogou bem contra a Argentina e que Neymar arrasou o Japão, como se fosse ele próprio uma bomba atômica. Daí a sermos “mais respeitados do que nunca”, como disse Marin, não é só um exagero. É um escárnio!

Parece que combinam tudo antes. Marin lança uma piada dessas, vem o Del Nero e emenda dizendo que os alemães “não querem enfrentar o Brasil”.


É pra rir?


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Cotidiano

O leitor já deve estar cansado de ler sobre o Botafogo nesta coluna. Entendo, mas é necessário.

A “margarida” que atende pelo nome de Maurício Assumpção, presidente desta instituição centenária e que transformou o cargo no maior exemplo de funcionário fantasma do país, resolveu aparecer.



Chamou uma coletiva de imprensa e, no que deveria ser um pedido de desculpas aos torcedores do clube por tamanha incompetência, demitiu quatro referências técnicas do elenco alvinegro.

Sheik, Bolívar, Julio César e Edílson foram dispensados por razões “técnicas” pelo sujeito. Segundo ele, o desempenho deles em campo está aquém do quanto falam fora dele.

Cá entre nós, imagina se o seu patrão deixa de te pagar por meses. O que você faria? Que motivação encontraria para trabalhar?

A resposta para a primeira pergunta é simples. Greve! Nada menos do que isso para lidar com caloteiros. Para a segunda, seria muito difícil trabalhar com disposição.

Esta situação no Botafogo se repete desde o ano passado, onde esses heróis que lá jogam conseguiram recolocar o clube na Libertadores da América. O time vem sendo desmontado pouco a pouco, ainda assim os caras jogam e, às vezes, conseguem resultados improváveis.

Com cada vez menos jogadores no elenco, é natural que o time fique pior e flerte com o rebaixamento mais do que qualquer outro objetivo. Além disso, quem fica não recebe.

O eclíptico presidente coloca o Botafogo ainda mais entre os favoritos a uma vaga na série B. É um desrespeito com os torcedores e com o próprio elenco, que tinha nos quatro demitidos vozes mais ativas contra os desmandos do sumido.


Quem é o próximo na lista de dispensas? O Jefferson?
                                                

A torcida do Botafogo ora pelas almas de Garrincha e Nilton Santos, desejando que o próximo a receber o bilhete azul seja o próprio Assumpção.


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Tá tudo errado

Duas situações envolvendo o Botafogo demonstram a inversão de valores no futebol brasileiro. Uma delas nos tribunais, tão ou mais decisivos que os craques dentro de campo ultimamente. A outra, entre goles de cerveja e suculentos pedaços de carne, linguiças e drumetes.



O STJD julgou os casos de Emerson Sheik, que reclamou da arbitragem no jogo com o Bahia e disparou contra a CBF na saída do campo, e Airton, por pisar a cabeça de Pato na partida o São Paulo.

Sheik foi absolvido pelas críticas à CBF, mas pegou quatro jogos de suspensão por ofensas ao árbitro. Airton pegou dois jogos de gancho pela agressão. No mesmo julgamento, o meia Valdívia pegou também dois jogos pelo pisão em Amaral, no confronto entre Palmeiras e Flamengo.

Para o STJD ofender o árbitro é mais grave que pisar na cabeça de um companheiro de profissão. Para os jogadores fica a lição: melhor arrebentar alguém que se dirigir ofensivamente ao Deus todo-poderoso vestido de preto.

Nossa arbitragem, que anda de mal a pior, só falta ser condecorada pelos serviços prestados ao futebol. Após o jogo entre Santos e Goiás, onde os “castanheiras” não viram um gol esmeraldino onde entre a bola e a linha do gol cabia uma carreta, estes novos personagens do futebol foram alçados à condição de árbitros.

Deixam de prejudicar o jogo da linha de fundo e passam a fazer dentro do campo o que a pomba faz nos fios de alta tensão.

A outra situação aconteceu no churrasco do aniversariante Maurício Assumpção, presidente do Botafogo.

Os salários dos jogadores atrasam e Jefferson vai a público dizer que, para fugir do rebaixamento, o time só pode contar consigo mesmo, a comissão técnica e a torcida. Assumpção bebe, come e ri. Chorar e sofrer, só na frente da Presidenta Dilma.


A cartolagem brasileira não merece sequer um pão dormido.


Valeu,

Bruno Porpetta

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Tempos sinistros

Emerson Sheik, por qualquer razão que se possa imaginar, expôs o quanto a CBF coloca nossa democracia à prova, retomando medos de outros tempos, quando falar o que se pensava era tratado como crime contra a segurança nacional.



Não importa se Sheik está “politizando” suas férias ou se acaba, involuntariamente, tornando-se uma liderança em um processo de questionamentos à CBF que se iniciou com o Bom Senso FC. Deve-se considerar, inclusive, a possibilidade de um processo coletivo arquitetado pelo próprio movimento, utilizando-se de novas figuras, como Sheik e Ganso.

O mais importante é falar e, principalmente, poder falar. Foi por este, e outros direitos, que muitos tombaram. Foram torturados, mortos e seus cadáveres foram ocultados, negando a suas famílias a simples chance de enterrá-los.

Nada que não vivemos nas favelas e periferias do país nos dias de hoje, mas existe um especial simbolismo nas mortes da ditadura militar. Uma referência em desrespeito aos direitos humanos.

Dentre as inúmeras similaridades que temos entre o presente e o passado, uma delas é o cerceamento ao direito de expressar suas opiniões. Por mais infames que possam ser, devem ser todas ditas.

A hipótese da punição a Emerson, já cogitada instantaneamente quando o atacante foi às câmeras de TV dizer que a CBF era uma vergonha, é um resquício muito grande destes tempos que ninguém nunca enterrará. A naturalização desta ideia é perigosíssima.

Uma coisa é a falta que provocou sua expulsão na partida. Por esta, ainda dá uma discussão. Pelo desabafo, nenhuma repreensão deve ser considerada normal.

Não é a toa que, ultimamente, vem ganhando força uma turma que adora deveres, mas tem pouco apreço por direitos, falando em “família”, “valores” e “moral”.


Que Deus nos proteja, mas que façamos por onde.


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Um convite ao sofá

O clássico das multidões. Esta é a definição do confronto entre as duas maiores torcidas do país: Flamengo e Corinthians.



Ou seja, o povo brasileiro está condenado a assistir velhos fantasmas do futebol brasileiro. Ingressos caros e os erros de arbitragem – do árbitro da Copa, diga-se de passagem.

Após uma sequência de vitórias rubro-negras, vieram as duas derrotas e o jogo contra o alvinegro paulistano deveria ser a redenção do Flamengo. Ao mesmo tempo em que o Corinthians vinha de uma sequência positiva, com um time melhor que o do Flamengo e sem problemas para o jogo.

Com os preços praticados nos tempos da lanterna, haveriam pelo menos 50 mil pessoas no Maracanã. Haviam 32 mil, o que não é um público ruim, pelo contrário. Mas poderia ter mais gente ali.

Gente que veria mais uma atuação vergonhosa da arbitragem. O árbitro Sandro Meira Ricci prejudicou, mais que o Corinthians, o jogo.

O gol do Flamengo estava – duas vezes – impedido e o pênalti não existiu. É necessário adotar, logo de cara, estas duas premissas. Ainda assim a vitória do Flamengo não foi injusta, jogou mais que os paulistas.

Além do mais, o Flamengo também foi prejudicado pela arbitragem. Por um lado, pelo impedimento dado a um jogador que estava no campo de defesa e sairia na cara do gol. Por outro, porque os erros contra o Corinthians tiram um pouco do brilho da vitória, mesmo justa.

O Flamengo dominou o adversário, correu riscos maiores apenas no início do segundo tempo, com o vacilo da defesa que deixou Luciano na cara do gol. A partida de Everton foi sublime. O Corinthians fez muito pouco para quem quer ir à Libertadores.


Ambos os fantasmas empurram o verdadeiro torcedor brasileiro para o sofá. Pagar muito por um “espetáculo” desses é de doer na alma, mas especialmente no bolso.


Valeu,


Bruno Porpetta

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Um museu de grandes novidades

O futebol brasileiro, carente de uma profunda renovação de conceitos e de novos personagens, precisou levar sete gols da Alemanha para que, ao menos, estas necessidades se tornassem visíveis.

Mas de que adianta ter visibilidade se nossos dirigentes são praticamente cegos? A pouca visão por parte de quem comanda o nosso futebol acaba provocando revolta em vários torcedores, mas não só. Algumas coisas são dignas de risos.



A grande “novidade” no Vasco é a contratação de Joel Santana para o comando técnico do time. Não basta caminhar na contramão do que se espera no nosso futebol, tem que ser uma anedota.

O futebol do Rio, há muito tempo, recorre ao Papai Joel para salvar times em crise. Como Joel é um bom malandro, querido por todas as torcidas, acaba descendo pela goela. Mas o que justifica o retorno de Joel ao futebol carioca, do ponto de vista tático, ou dos métodos de treinamento?

Os problemas do Vasco não se resolvem com frases de efeito ou expressões em inglês. O clube precisa definir quem responde pelo futebol. Não pode ser atribuição do Rodrigo Caetano, que deve ir ao mercado para cumprir as diretrizes do comando do clube, que não existe.

Sem isso, até o Guardiola estaria fadado a ser demitido em algum momento.

É impressionante como ainda dão ouvidos ao Roberto Dinamite, responsável direto pela bagunça que tomou conta do clube. Não à toa, sua reeleição foi descartada.

Este tipo de dirigente infesta o futebol brasileiro. Destes que só enxergam até a próxima rodada e tomam decisões baseadas no vento da opinião pública.

Por essas e outras, casos como o de Maicon na seleção são tratados dessa forma esdrúxula. Ninguém fala nada, nem deixa ninguém falar.


O futebol brasileiro continua com uma mentalidade tacanha. Enquanto você lia este artigo, mais um gol da Alemanha.


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Nada de novo

O mundo do futebol coleciona casos de racismo. Em todo o planeta, também no Brasil, não só no Rio Grande do Sul. O caso Aranha é o início da contagem regressiva para o próximo.

A única chance que temos para começar a desatar esses nós é, sem qualquer delírio de soluções imediatas, punir exemplarmente os envolvidos. A garota, os outros e, também, o Grêmio.



A garota e os outros estúpidos da arquibancada por razões escancaradas. Foram flagrados pela TV. Já o tricolor gaúcho, por mais que tenha tomado posturas aparentemente enérgicas, está envolvido pela terceira vez, nos últimos anos, em casos de racismo.

Chegou a hora desses idiotas verem o tamanho do estrago que causam, tanto na vida dos negros e negras do nosso povo, como para o próprio clube. Conviver no sistema carcerário brasileiro, um verdadeiro depósito de negros e pobres, pode fazê-los pensar um bocado.

A exclusão do Grêmio na Copa do Brasil é pouco. É preciso limitar o número de ingressos à metade da capacidade de um estádio distante de Porto Alegre, além de uma pesada multa. Ou seja, doer no bolso do clube. Os outros clubes, rapidamente, se precaveriam.

Até porque o racismo não é gremista, nem só no futebol, é uma questão nacional. O sujeito enlatado no trem, em sua maioria, é negro. Não é à toa.

O Brasil é um país racista. Os negros foram jogados para os cantos das cidades, recebem menos, trabalham mais. Qualquer semelhança com o século retrasado não é mera coincidência.

Os negros e negras do nosso povo não fazem parte da elite, que andaram dizendo por aí que não existe. Nem esquerda, nem direita, nem branco, nem negro... mas nada que umas tuitadas não possam mudar, de repente.


Do gremista Humberto Gessinger: “Nessa terra de gigantes, eu sei, já ouvimos tudo isso antes.”.



Valeu,

Bruno Porpetta

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Até daqui a alguns meses...

A cena da garota gritando "macaco" atrás do gol do Aranha, no jogo entre Grêmio e Santos, pela Copa do Brasil, na Arena Grêmio, é chocante, repugnante, merece todo nosso grito. Nenhum silêncio diante do racismo!

O Grêmio já protagonizou outros casos de racismo. Dirigentes, jogadores e torcedores já foram denunciados. Não na polícia, mas pela imprensa.

Bom que se diga, o Grêmio passa longe de ser o único clube a "praticar" o racismo. Não podemos isolar o clube de um comportamento comum - e abjeto - da nossa sociedade.



Porém, cabe observar que, em nenhum caso, houve punição mais severa. O racismo é uma agressão, tal como a violência que encerrou o Brasileirão do ano passado em Joinville, só que mais covarde. Em geral, é praticada contra uma única pessoa, por vários imbecis.

O racismo é uma demonstração nojenta de que não nos livramos da cultura escravagista que foi construindo cidades em nosso país brancas no meio e negras nos cantos. A garota gremista é só mais uma no meio de tantos que, inclusive, estavam próximos a ela, imitando macacos.

Há uma sede punitiva contra a garota. Resolve?

Em geral, os comentários contra a garota são reacionários, mesquinhos, preconceituosos. Enfim, um retrato fiel do mergulho que nossa sociedade deu em um tanque de fezes. Tais comentários revelam que o sujeito crítico das redes sociais é bastante nivelado por baixo.

Mas o que gostaria de tratar é, diante do que já foi apresentado, sobre o início da contagem regressiva para o próximo caso de racismo no futebol. Sendo específico, porque se abrir o leque terei que largar o banco para me dedicar somente aos posts sobre racismo.

Só neste ano, dois jogadores do Santos foram vítimas de racismo. Arouca, no Paulista, e agora Aranha. Ainda teve o caso do Tinga, no Cruzeiro. O torcedor do Bayern de Munique, na Alemanha.

Eles não acabam porque quem investiga é racista, quem julga é racista, quem executa a pena é racista, quem torce é racista, quem joga é racista, quem apita é racista, quem dirige o futebol é racista. No meio de tudo isso, o negro e sua impotência diante de tamanha "torcida adversária".

Por isso, geralmente, ele não leva adiante. Não vai às últimas consequências.

Se fosse, a garota estaria na cadeia, junto com os outros que imitaram macacos, Antônio Carlos não daria sequer um pito no futebol brasileiro, entre outros exemplos.

Enquanto ninguém punido, nada avança. Mas só a punição é insuficiente, nós temos é que enterrar a escravidão de uma vez por todas. Na escola, na família, na igreja.

Estamos bem longe de uma solução, mas bem próximos do próximo caso de racismo no futebol.


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Torcida que canta e vibra, há 100 anos

Sou Flamengo! Até as pedras portuguesas de calçada sabem disso. Algumas até ousam me sacanear nas derrotas. Outras sorriem para mim nas vitórias.

Mas devo confessar que o Palmeiras me traz lembranças interessantes. Pro bem e pro mal.

A primeira lembrança que tenho do agora centenário Palmeiras foi em uma derrota, digamos assim, vexatória. Assisti à final do Campeonato Paulista de 86, onde a Inter de Limeira sagrou-se campeã ao derrotar o Palmeiras. O alviverde da capital foi, em várias ocasiões, a alegria do interior.

Mas tem uma lembrança que, sinceramente, me deixa puto até hoje.

Em 88, o Zetti - então goleiro do Palmeiras - quebrou a perna em um lance no Maracanã, contra o Flamengo, e o Gaúcho (que depois seria campeão brasileiro pelo Flamengo em 92) acabou indo pro gol. O jogo terminou 1 a 1 e, por conta do regulamento daquela Copa União, foi para os pênaltis.



E não é que o filho da puta, além de fazer o dele, ainda pegou dois?

Pois é, ainda teve o dia em que eu fui "palmeirense". A convite de um grande amigo, fui ao Palestra Itália assistir a um jogo contra o Deportivo Tachira, da Venezuela, pela Libertadores.

O Parque Antártica era (até porque aquele já não existe mais) um estádio ótimo para assistir futebol, menos para os visitantes. A torcida adversária ficava de frente para a piscina e assistia ao jogo com a cabeça virada pro lado. Fui para assistir decentemente a um jogo no Parque Antártica.

Este meu amigo estava acompanhado por outro, que mais adiante, nós três, juntos com um sãopaulino, formaríamos uma banda, mas aí é outra história.

Tinha visto este cara uma vez na vida, o bastante para ter falado de futebol por umas duas horas e meia. Ele me reconheceu algum tempo depois.

- Você não é...

- Sim, sou! (dei um abraço nele e continuei) Agora, fique em silêncio, senão eu vou morrer aqui.

O Palmeiras ganhou por 2 a 0, e não pude ser acusado de pé frio. Depois, fomos beber cerveja e comer os excelentes sanduíches de linguiça no entorno do estádio.

Ir ao Parque Antártica como visitante era uma tortura. Não era fácil ter que usar casaco no verão para esconder a camisa do Flamengo e, via de regra, você chega ao estádio no meio dos palmeirenses. Em algum lugar, você vai encontrá-los. Seja no metrô ou no entorno.

Além de tudo isso, outros confrontos entre Flamengo e Palmeiras foram bastante marcantes para mim. A final da Copa Mercosul, que ganhamos lá no Palestra, com gol de Lê. O confronto na Copa do Brasil, onde fomos eliminados, perdendo por 4 a 2, com dois gols iguais e os dois com falta no Clemer (que a porcada nunca vai admitir).

Resumindo, o Palmeiras é um gigante do futebol brasileiro pelo qual tenho um profundo respeito. Por isso, não poderia me furtar a contar estas histórias no dia de seu centenário.

O alviverde do Parque Antártica possui torcedores fanáticos. Uma torcida que me deu grandes amigos, pelos quais, às vezes, sinto até pena pelo estado crítico que o Palmeiras vive.

O Palmeiras me deu até ídolos, como Marcos, que é mais humano que a média dos jogadores de futebol no Brasil. O cara é campeão da Libertadores e para em posto de gasolina pra beber um vinho e comemorar com outros torcedores. Toma café durante um jogo de Libertadores. É campeão do mundo pela seleção. Como não gostar de um cara desses?



Ao Palmeiras, meus sinceros parabéns! Desejo que protagonizem ainda grandes confrontos com o Flamengo, para sempre.

Mas não me peçam pra chamar a "arena" pelo nome novo. Não tenho contrato com ninguém pra ficar fazendo propaganda. Vai ser sempre Parque Antártica, ou Palestra Itália.


Valeu,

Bruno Porpetta

Por que o 10 não joga?

O Brasil, desde a Copa do Mundo, fez uma opção por jogadores rápidos no meio-campo. Estes roubam a bola no campo defensivo, partem em velocidade para o ataque. Não trocam passes, nem sentam na bola quando é preciso diminuir o ritmo.

O futebol brasileiro sente falta de um autêntico camisa 10, alguém que dite o ritmo da partida e até mesmo o giro da Terra. Este jogador, gostando ou não, é Paulo Henrique Ganso.



Ele é irregular, não é protagonista no São Paulo, como não era no final de sua passagem no Santos. Na prática, foi responsável só pelo título paulista do Santos, em 2010.

Depois, foi soterrado por suas lesões e pela ascensão do craque Neymar. O cara que se recusou a sair de campo, dando bronca no treinador, naqueles tempos, nunca mais voltou.

Poderia ir à Copa, mas não fez nada para merecer a convocação, a não ser o jogador que é. Um craque!

Quer saber outra? Não precisa nem ser titular, pode ser apenas uma opção. Mas não pode ficar de fora.

Um jogador como Ganso pode parecer antiquado. Afinal de contas, a Alemanha foi campeã do mundo sem um cara exatamente assim. O mais próximo é Schweinsteiger, que joga como “volante”.

Que se dane o mundo! Um cara como Ganso pode trazer de volta uma ideia de futebol que estão tentando enterrar desde 82. Não ganhamos, mas é uma das maiores seleções da história das Copas. Com beleza, que é uma marca nossa.

Está aí nosso grande problema. A cada derrota, fomos “aprendendo” algo com os europeus. Revivemos tempos de Cabral, com a aristocracia da bola sentindo orgulho das influências coloniais do Velho Mundo.

E assim vamos abrindo mão de todas as nossas características, cultuando volantes e mais volantes. A ideia do “feio que vence” predomina, mesmo que tenha perdido mais do que vencido.


Enquanto isso, o Ganso faz golaços pelo São Paulo...



Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Para onde pende a gangorra?

Não faz muito tempo, vascaínos criticavam muito Adilson Batista. Ao mesmo tempo, o treinador Cristóvão Borges era motivo de orgulho para os tricolores.

O primeiro, tropeçava na Série B. A ponto de outras torcidas pensarem na absurda hipótese de queda para a C.  O segundo, tinha o time de maior índice de acerto de passes e, até então, o futebol mais bonito do Brasileirão.



De repente, as bombas eleitorais no Vasco começam a cair. Suspeita de compra de votos, eleitores mortos aptos a votar e nomes que podiam votar duas vezes. A eleição está na justiça, inclusive. E o Vasco, dentro de campo, vai reagindo e subindo na tabela.

No Fluminense, a hecatômbica derrota para o América-RN. Os cinco gols sofridos, sendo quatro só no segundo tempo. Uma virada histórica e uma eliminação terrível. Depois, ainda teve o clássico com o Botafogo. Mais uma derrota.

Adilson Batista, por um lado, gosta de um time bem fechado na defesa. Aposta nas bolas em Douglas – que vem sendo decisivo – para a distribuição do jogo. O meia é o termômetro do time. Vai bem, o time joga. Quando não...

Cristóvão continua o mesmo. Faz um belo trabalho, mas é pressionado pelas más atuações recentes do time. Pouco se fala sobre as razões da queda de produção.

Está se tornando pública a discussão sobre premiações da equipe. A patrocinadora está fechando a torneira e o debate, obviamente, se acalora. Alguns jogadores importantes estão em processo de renovação de contrato, como Cavalieri e Carlinhos. São bons dados para se encontrar uma razão para a queda do time em campo.

É bom que se diga, os jogadores estão cobertos de razão.


Portanto, é bom que se valorize os méritos de Adilson no Vasco, como blindar a equipe daquilo tudo. Por outro lado, é fundamental manter Cristóvão com liberdade para montar o time. Com ou sem Fred.


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Que dia! Que noite!

Este 13 de agosto de 2014 tem tudo para ser uma data lembrada por muito tempo na história.



Começa com a trágica morte de Eduardo Campos e os demais passageiros e tripulantes do avião que caiu na minha cidade natal. Exatos nove anos depois da morte do avô do presidenciável, o lendário Miguel Arraes.

Não deixa de ser lamentável, pelas pessoas que cercavam suas vidas. Também não os redime de eventuais equívocos em vida, e Eduardo Campos tinha vários equívocos.

Mas como qualquer grande "evento" que envolva política, algumas reações chegam a dar náuseas em qualquer um que possua senso de humanidade e, principalmente, de ridículo.

Passam as horas e a noite reserva uma rodada incrível da Copa do Brasil.

Três gigantes do nosso futebol estão fora, eliminados por times considerados pequenos, mas que se mostraram tão gigantes quanto os derrotados.

O Bragantino não tinha uma noite tão heroica desde o título paulista em 90. Tempos em que a linguiça de Bragança Paulista ainda era notícia. E o São Paulo vai lamber suas feridas no Brasileirão e na Sul-Americana.

O Ceará, que já havia vencido o jogo de ida, em pleno Beira-Rio, venceu de novo. Fez 5 a 2 no agregado e despachou o Inter com uma autoridade monumental.

No Maracanã, o Fluminense, que por muito tempo se regozijou com a histórica derrota do Flamengo para o América do México e a atuação exuberante do gordinho Cabañas, agora também tem um América pra chamar de seu. O América de Natal-RN conseguiu improváveis, mas merecidos, 5 a 2 e reverteu a derrota por 3 a 0 na primeira partida, se classificando pelos gols fora de casa.

Para completar, houve a grande final da Libertadores (que as TV's brasileiras se recusaram a exibir, mostrando, mais uma vez, que nossa mídia simboliza os "valores" das nossas elites, que se orgulham de odiar os vizinhos sul-americanos) que consagrou, pela primeira vez, o San Lorenzo como campeão. Tudo decidido em um pênalti cobrado pelo paraguaio Ortigoza para o time argentino, sobre o goleiro argentino Don, dos paraguaios do Nacional.

Este papado argentino tem feito tão bem ao futebol do país que já levou a seleção à final da Copa e o San Lorenzo (time do Chico) ao título inédito da Libertadores. Divino?


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Pode ser a gota d'água...

Luiz Antônio é suspeito – e é bom que se diga que, por enquanto, é apenas suspeito – de ter relações com milicianos da zona oeste do Rio, além de estelionato pelo golpe no seguro de seu carro.



Se confirmadas as suspeitas, além do provável fim de carreira para um garoto promissor, revela que nem só de amigos de infância são formadas as redes de relações entre jogadores de futebol e suas comunidades.

Diferentemente das histórias de Adriano e Vágner Love, que mantinham relações com traficantes em seus locais de nascimento porque, simplesmente, cresceram juntos, aprenderam a dar os primeiros passos no futebol juntos. Portanto, não há razão, mesmo que os caminhos tomados tenham sido absolutamente diferentes, para que seus vínculos sejam rompidos.

Este caso de Luiz Antônio não se trataria de amizade de infância. Até porque os milicianos, em geral, caem de paraquedas nas comunidades, surgem como “alternativa ao domínio do tráfico”, mas se configuram como os novos donos do pedaço. Estabelecem uma relação de poder sobre a comunidade.

É neste aspecto que se firmariam as suspeitas. Nas relações de poder que as milícias exercem sobre as comunidades e sobre como um jogador de futebol conhecido pode ser útil à manutenção destas relações.

A princípio, o único indício mais forte seria o do estelionato. Um golpe, até certo ponto, conhecido aí na praça. Não é incomum alguém querer se livrar de um carro através do acionamento do seguro.

O que causa maior estranhamento é que, em geral, não se faz isso com quem não se tenha uma relação mínima de confiança. É aí que mora o perigo.


Somando-se à confusão na justiça do trabalho, no início deste ano, é o segundo episódio conturbado envolvendo Luiz Antônio que parece não carecer apenas de boa assessoria, mas de cabeça no lugar.


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

“A estrutura do nosso futebol é reacionária, corrupta e corruptora”

JUCA KFOURI – Um dos mais conceituados jornalistas esportivos do país fala ao Brasil de Fato



Por Bruno Porpetta (RJ)

José Carlos Amaral Kfouri ou, simplesmente, Juca é cientista social de formação, mas foi no jornalismo que deixou um legado fundamental. É uma referência de jornalismo esportivo comprometido com os fatos e o crescimento do esporte no Brasil e tal postura, por si só, o fez romper com os círculos de poder dos dirigentes.

Nesta entrevista, Juca analisa a situação do futebol brasileiro e suas perspectivas após a votação do Proforte, a Lei de Responsabilidade Fiscal do futebol, sem poupar ninguém e da maneira que o notabilizou, com independência. Confira:

Brasil de Fato – Às vésperas da votação do Proforte, na Câmara, a presidenta Dilma se reuniu com o Bom Senso numa semana e na outra semana com os clubes. O que está exatamente em jogo?

Juca Kfouri – Está em jogo, de fato, que ao invés de mudar o modelo de gestão do futebol brasileiro, vamos ter mais uma maneira de disfarçar os problemas deste modelo, que é aprovando aquilo como os clubes querem, um “me engana que eu gosto”. Eles vão fingir de novo que vão pagar as dívidas e não vão ser responsabilizados se não pagarem.

A contrapartida a esta possibilidade é que se aprove aquilo que o Bom Senso quer, propondo que, a cada benefício que os clubes consigam na renegociação da dívida, haja uma responsabilidade correspondente. Foi este o compromisso que a Dilma assumiu com o Bom Senso FC. Fazer desta nova legislação um dos legados para o futebol após a Copa do Mundo.

Então ou vamos ter, neste Proforte, uma forma disfarçada da Timemania, ou teremos uma nova lei que faça com que os clubes se responsabilizem por aquilo que fazem na gestão do seu dia-a-dia.

Brasil de Fato – Algumas diretorias eleitas em clubes representaram um “sopro de esperança” no futebol brasileiro, como Belluzzo (Palmeiras), Dinamite (Vasco), Bandeira de Mello (Flamengo) e Bebeto de Freitas, sucedido por Maurício Assumpção (Botafogo). Por que fracassaram neste sentido?

JK – O problema estrutural é tão grande, tão forte, a estrutura do nosso futebol é tão reacionária, tão avessa a qualquer tipo de mudança, tão corrupta e tão corruptora, que a questão não se altera com nomes. As pessoas acabam tragadas por essa estrutura.

O melhor exemplo é o do Belluzzo. Eu cheguei até a escrever, depois da malfadada gestão dele no Palmeiras, que se o Belluzzo fracassou, eu fracassaria mais ainda do que ele, porque ele é mais bem preparado do que eu. Precisa mexer é nessa estrutura, de forma tal que, democratizada, ela permita um respaldo a quem venha gerir o futebol de forma diferente do que temos hoje.

Durante muitos anos, achei que um Dinamite no Vasco, um Zico no Flamengo, um Rogério Ceni no São Paulo, seriam soluções. Não são nessa estrutura, porque eles tem que se adaptar a ela, tem que prestar vassalagem à CBF.

Houve uma inversão no nosso futebol. A CBF, que deveria ser uma entidade a serviço dos clubes, virou uma entidade a serviço de si mesma. As federações, que deviam ser meios, viraram fins. E os clubes acabam se submetendo a isso de maneira subserviente.

Mexer na estrutura significa, por exemplo, os clubes se transformarem em sociedades empresariais. Não como na Inglaterra, que permite que um sheik ou um milionário russo compre um clube, mas como na Alemanha, que se garanta 51% para os sócios, permitindo uma gestão profissional, empresarial.

Brasil de Fato – A Copa Verde, projeto da CBF para atender a reivindicação de centros menos desenvolvidos, como o Norte, o Centro-Oeste e o Espírito Santo, para jogar um torneio mais rentável e visível. Não deu certo e, além disso, o campeão foi definido no “tapetão”. O que dizer sobre isso?

JK – Então, aí você tem duas questões. A primeira questão é a criação de paliativos. Por exemplo, um bom paliativo é a Copa do Nordeste, mas é por muito menos tempo do que deveria. Quais as duas questões centrais pro Bom Senso FC? O fair play financeiro, e o calendário do futebol brasileiro. Que é o calendário do único exército que tá marchando de um jeito, enquanto todos os outros marcham de outro jeito. Não se trata mais de falar da adequação ao calendário europeu, mas sim ao calendário mundial.  É o que, não apenas a Europa, mas a Argentina, México, Uruguai... Enfim, os países que contam no mundo do futebol hoje têm. Por questões eleitorais, pra manter as capitanias hereditárias e esse modelo coronelista do nosso futebol, você tem os campeonatos estaduais.

É incompatível com qualquer solução, de médio ou longo prazo, para os clubes menores, que os campeonatos estaduais permaneçam como estão.

O Tribunal de Justiça Desportiva, da maneira como é feito no Brasil, vira um instrumento de poder. Ele tem a mesma eficácia da escala de árbitros que, por mais que você tente minimizar com sorteios e tal, permanece sob administração das entidades dirigentes. Tanto a arbitragem como a justiça desportiva deveriam ser instituições absolutamente independentes das federações e dos clubes. Na verdade, as federações não fazem mais nenhum sentido. Federação de futebol estadual é como jaboticaba, só tem no Brasil.

A justiça desportiva tem que ser, por exemplo, como a gente vê na Copa do Mundo, que é o chamado rito sumário. Você tem lá o regulamento, as faltas, o que equivale a cada falta em termos de punição e simplesmente aplicar. Não essa palhaçada bacharelesca que a gente tem no Brasil. Tão simples quanto isso, mas é muito difícil porque é um instrumento de poder. Faz parte dessa estrutura podre do nosso futebol.

Brasil de Fato – Como a CBF é uma entidade privada, há uma série de dificuldades do ponto de vista legal para mudanças. Quais os caminhos para democratizar a CBF e o papel do governo e da sociedade nisso?

JK – O papel da sociedade, infelizmente, até hoje a gente não viu no que diz respeito a CBF. A gente vê torcedor se mobilizando pra ir bater em jogador em treino de time quando perde no domingo, e a gente não vê mobilização em torno da exigência de democratização da CBF, nos clubes e tudo mais. O torcedor, por enquanto, se restringe à questão dos resultados dentro de campo e a sua indignação não passa disso, porque ele não vê a questão estrutural.

Quanto ao fato da CBF ser uma entidade privada, é sim, mas de óbvio interesse público. O futebol é considerado, pela Constituição, patrimônio cultural do povo brasileiro. É, portanto, submetido à fiscalização do Ministério Público Federal. O hino que toca quando o time da CBF perfila antes de um jogo não é o hino da CBF, é o hino do Brasil. As cores do uniforme não são as cores do time da CBF, são as cores da bandeira do Brasil.

Existe um artigo na Constituição que é muito usado, de maneira desonesta, ou por ignorância, inclusive, do Judiciário brasileiro, que é o artigo 217. Fala da autonomia das entidades dirigentes, é o mesmo escudo que a CBF usa por não se abastecer de dinheiro público, diferentemente dos esportes olímpicos. Há uma decisão do STF, do ex-ministro Cezar Peluso, o último ato dele como ministro do STF, numa ADIN contra o Estatuto do Torcedor, exatamente por, de alguma maneira, interferir nessa tal autonomia.

O relatório do Peluso, aprovado por unanimidade no STF, é no sentido de que autonomia não equivale a soberania.

Por exemplo, a universidade pública brasileira é autônoma, e é bom que seja, mas isso não dá a uma faculdade o direito de estabelecer o currículo que ela queira. Quem estabelece o currículo é o Ministério da Educação, o Estado brasileiro.

A autonomia deveria ter este limite. Acaba não tendo, não só porque nós estamos no país dos bacharéis que gostam de trabalhar a ambiguidade, como porque há uma grande ignorância por parte dos juízes todas as vezes que essa questão aparece. Quando as entidades se defendem falando em nome da autonomia, boa parte dos juízes desconhece essa decisão da STF. Então o caminho é uma PEC, que o governo deveria propor para eliminar de vez essa dúvida e acabar com essa coisa da autonomia posta nesses termos.

Brasil de Fato – Dunga pode estar envolvido com agenciamento de jogadores, além de Gilmar Rinaldi ter deixado de ser empresário da noite para o dia, antes de assumir o cargo de diretor de seleções. O que propõe a CBF com estas novas nomeações?

JK – O passadismo, a mercantilização, a pouca transparência, a pouca vergonha. A CBF é responsável por transformar a seleção brasileira na grande grife do nosso futebol, em detrimento dos clubes. Eu sou de uma época em que, uma excursão do Santos de Pelé, era paga com valores comparáveis ao que se pagava por um amistoso da seleção. Da mesma maneira, o Botafogo de Mané ou o Palmeiras de Ademir da Guia. Isso acabou.

A CBF faz um calendário que impede que os nossos clubes façam jogos durante o período de pré-temporada na Europa, ela vende a sua camisa em todas as lojas esportivas do mundo e você não encontra uma camisa de clube brasileiro nelas, embora encontre de argentinos.

Você encontra do Boca, do River, mas não encontra do Flamengo, time mais popular do país. Não encontra do Santos de Pelé, do Corinthians, bicampeão mundial. Tem do Bayern, do Milan, da Juventus, do Barcelona, do Real Madrid, do Paris Saint-Germain e dos times argentinos. Esta é uma política deliberada de uma entidade que se compraz de ver o nosso futebol como mero exportador de pé-de-obra, nós em vez de exportarmos o espetáculo, exportamos os artistas.


Como se a Disney, em vez de vender seus filmes, vendesse o Pato Donald, o Mickey e o Pateta. É isso que nós fazemos. Então esta é uma política deliberada e deletéria, aprimorada pelo Ricardo Teixeira, sob as luzes de João Havelange.


Valeu,

Bruno Porpetta

Sim, é só porque ele é preto!

Em tempos de reflexão sobre as lições deixadas pelos sete gols alemães na Copa, já se falou muita bobagem, mas também muita coisa relevante.

Dentre as maiores bobagens, a entidade que diz que administra o nosso futebol - a tal da CBF - responde por 96% delas. Falam e fazem, por supuesto.

Um tanto vem da imprensa, outro tanto dos treinadores - dentre eles o "pofexô" -, algum tiquinho da torcida. Ou seja, todo mundo já falou alguma bobagem de lá pra cá.



Dentre as coisas relevantes, uma delas foi Tite, que preferiu estudar mais para melhorar e chegar à Europa. O "mais cotado" antes da escolha de Dunga, quer chegar ao continente europeu, em um clube grande, porque lá é o exemplo. Pode quebrar a cara, mas não custa tentar.

Outro é Cuca, que parece ter se livrado da "uruca" de não ganhar nada. Já tem uma Libertadores no currículo, mas alguém com uma Libertadores não poderia ir pra China. Vai aprender o quê lá? Mandarim?

Muricy é outro que parece, pelo menos, estar atento às lições que o mundo lhe dá. Depois da surra que levou do Barcelona, pelo Santos, ele vem procurando mudar seus conceitos, tentando manter seu time mais com a bola nos pés e menos sobrevoando as cabeças. Não dá pra dizer que ele não está tentando.

O problema é que, em todos os aspectos positivos que o futebol brasileiro vem tentando se arrumar, sempre está associado um treinador branco, um visionário.

É nesta invisibilidade dirigida que, muitas vezes, deixamos passar batido o que tem realmente impressionado neste Brasil pós-goleada. Quem parece ter entendido tudo, até porque não precisou da goleada para aprender, já via tudo isso rolando aqui mesmo, é um negro.

Cristóvão Borges assumiu uma bucha no Vasco, logo após o AVC de Ricardo Gomes, que poucos teriam peito pra assumir. Levou o time na Libertadores e, não fosse o gol perdido pelo Diego Souza, estaria, no mínimo, nas semifinais da competição com um time bom, mas que não passava muito disso.

Algum tempo depois, sucumbiu à pressão da torcida vascaína e saiu. Não saiu correndo atrás de outro clube dias depois. Foi pra sua casa estudar.

Enquanto os jornalistas estão preocupados em saber quantas milhas os treinadores andaram acumulando em seus cartões-fidelidade de companhias aéreas indo para a Europa, Cristóvão diz ao blog do PVC que viajou pouco, suas reflexões vem de leitura e observação de algumas coisas bem mais próximas. Sampaoli, no tempo de Universidad do Chile, foi um dos alvos de seus olhares.



Depois de uma passagem pelo Bahia, em que conseguiu fazer um time sofrível permanecer na primeira divisão, Cristóvão tem uma grande chance no clube que o projetou como jogador. O Fluminense.

Nesta história de valorizar o passe como um fundamento sem igual na arte de ganhar bem os jogos, Cristóvão faz do Fluminense o time mais bonito de se ver. E ganha!

Mas sabe porque se pensa em Tite, se fala em Muricy e se traz o Dunga sempre? Pra além da panelinha da cúpula da CBF, é porque o Cristóvão é negro! Por isso o nome dele sequer aparece, mesmo que o seu trabalho venha dando frutos.

É simples. Somos um país racista, imagina a CBF?

E não acho que esta era a hora dele, nem a ocasião. Ele precisa de um título polpudo pra chamar de seu, além disso entrar na seleção agora significa baixar a cabeça pra essa gente, coisa que ele nunca deve fazer.

Não é preciso transpor simplesmente o esquema alemão para cá, basta ocupar bem os espaços. Isto faz muita diferença no futebol.

A lição alemã passa mais pela organização do futebol, que é justamente quem não quer aprender nada.

E tenho dito...


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Vergonha própria e alheia

A tendência mais provável é que, diante da péssima repercussão que a votação imediata do Proforte pode ter, ela ocorrerá após as eleições. Mais um sinal de que as eleições são só um ponto da curva e a nossa participação não pode se restringir ao simples ato de votar.

Vejam só quem são os nossos dirigentes!



O dentista que preside o Botafogo afirmou em um programa de TV que deixou de pagar impostos por oito meses contando com a votação do Proforte. Em qualquer lugar sério, sairia algemado dos estúdios. Pelo contrário, ele vai à Brasília ameaçar tirar o time de campo caso não seja atendido por um pacotão de bondades do governo.

O Flamengo deve até as calças. A simples ideia de pagar 900 mil reais por mês a Robinho merecia desprezo, mas a atual diretoria ressuscita as múmias da política rubro-negra que, a todo tempo, adoram colocar notinhas na imprensa com todo tipo de especulação.

As eleições no Vasco seriam cômicas, se não fossem trágicas. Entre mortos, clones e sócios subsidiados por algumas chapas, todo mundo pode votar! Para piorar, o risco do retorno de um dos nomes mais funestos da história do futebol é iminente.

A esquisita relação entre o Fluminense e a patrocinadora daria um livro. Ninguém sabe mais onde terminam os sócios e começam os médicos credenciados. Tampouco sabe o que sobraria caso os médicos metessem o pé.

Resumindo, esta turma de dirigentes que foi à Brasília passar o chapéu é lamentável, asquerosa, retrógrada. São uns vendilhões da nossa paixão pelo futebol. Se estivéssemos no Irã, levariam quatro bilhões de chibatadas, uma para cada real devido ao povo brasileiro. Ninguém se salva!


Longe de ser exclusividade do futebol, o presidente do COB diz que a Baía de Guanabara está limpa. Que tal um mergulho?


Valeu,

Bruno Porpetta

quarta-feira, 30 de julho de 2014

O golpe da cartolagem

O Proforte, a Lei de Responsabilidade Fiscal dos clubes de futebol, deve ser votado pelos deputados na semana que vem, em Brasília.

O texto original fala em transparência nos gastos dos clubes, proibição da antecipação de receitas e da perpetuação de dirigentes que poderiam (ou deveriam?) estar em sarcófagos, além da renegociação das dívidas com impostos que batem na casa dos R$ 4 bilhões.



Porém, em reunião com a Presidenta Dilma, os clubes, junto com a CBF, as federações estaduais e a chamada “bancada da bola”, bateram o pé para que se votasse apenas o parcelamento das dívidas.

Sabe por quê? Porque querem carta branca para gastar mais, endividar mais os clubes sem responder por nada disso. Daqui a algum tempo, aparece algum governo bonachão para recomeçar a ciranda.

Para Dilma, o presidente do Botafogo chegou a dizer que poderia literalmente tirar o time de campo. Abandonar o Brasileirão por conta das receitas bloqueadas pela justiça, resultado de gestões esdrúxulas que ele busca referendar. Talvez para não ficar tão escrachada sua cara-de-pau, com seus jogadores cobrando publicamente o que lhes é de direito.

Merecia um “vai fundo”, para ver até onde vai essa valentia toda.

Maurício Assumpção reclama de barriga cheia, pois atrasa os salários de seus jogadores há algum tempo e não pode atribuir os atrasos simplesmente ao bloqueio das receitas do clube.

No Flamengo, voltou à cena o termo “engenharia financeira”, que contrata jogadores caríssimos e aumenta o tamanho do calote.

Enfim, os responsáveis pela calamidade do futebol brasileiro querem tirar o deles da reta e deixar a conta da farra que patrocinam nas nossas mãos.


São estes dirigentes que elegem os Teixeiras e Marins da vida, pois todos ali falam a mesma língua. E assim, fazem os sete gols da Alemanha virarem fichinha.


Valeu,

Bruno Porpetta

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Provação

Vivemos tempos bicudos! Durante décadas os trabalhadores foram perdendo o debate ideológico. A elite fincou o cajado no chão e disse: este país é meu!

Resistimos, sobrevivemos... Pois é, ainda estamos vivos. Este deve ser o ponto de partida pra começarmos a entender algumas coisas, ou produzir novas perguntas.



Não adianta negar. Coube à esquerda a defesa dos trabalhadores ao longo da história. A direita está aí desde a revolução francesa fazendo cagada com o mundo, brincando com a vida das pessoas como se estas fossem copos plásticos.

Diante da tentativa de uma galera, em geral jovens que não enfrentaram ainda a contradição capitalista no mundo do trabalho, de se levantar, a reação é estúpida, estapafúrdia, violenta. Os jovens não fizeram nada além de dizer que as coisas, do jeito que estão, não estão boas. E não estão mesmo, ora bolas!

Alguém ainda quer me convencer que tudo vai bem enquanto pessoas dormem na rua, só porque nossas empresas estão competitivas no mercado e outras bobagens deste tipo?

De qualquer forma, mesmo que entendêssemos que tudo vai bem, se algo não nos agrada, nós temos o direito de falar e, principalmente, de sermos ouvidos.

Até porque há uma distância enorme entre uma coisa e outra. Falar a gente fala, mas o nosso alcance é a família, o vizinho, o cara da quitanda, da padaria. Não que isso não seja importante, mas a nossa voz merece mais do que isso.

Infelizmente, apenas 11 famílias neste país tem direito a falar com todo mundo. Ou seja, só eles podem ser ouvidos. Até porque nossa tímida voz fica perdida no meio dessa parafernália da comunicação de massa.

Pois bem, nos fizemos ouvir a fórceps, no ano passado. Fomos pra rua, por qualquer motivo. Uns pelos 20 centavos, outros por mais que os 20 centavos, outros pela PEC-37, outros contra a corrupção, outros contra a Globo e a Veja, outros contra a PM. Que seja! Finalmente fomos ouvidos.

Aí os caras, com medo de perder o país de controle, além de descer a porrada na galera, prende indiscriminadamente uma turma. Uns por portar Pinho Sol, outros por livros, outros só por gosto mesmo.

Inventam as mais esdrúxulas patacoadas para justificar as prisões. Ora, até "amante de um pai de família" a anedotária Sininho se tornou. As tais 11 famílias fazem tudo para que toda a nossa história se transforme em uma novela, o maior produto de exportação da TV brasileira.

Ou seja, além de todos aqueles adjetivos que pertencem à nossa elite, podemos incluir mais um: jocosa.

Sim, a elite já está nos esculhambando. Querendo nos sacanear. Tirar uma onda com a nossa cara.

Trazendo para o mundinho particular do futebol, já havíamos conversado anteriormente sobre esta "tendência" dos poderosos em nos esculachar. Eles não só estão cagando para o que falamos, como ainda querem rir da nossa cara.

Aproximando ainda mais a lente, vou entrar no mundinho ainda mais particular do Flamengo, o clube pelo qual acabei me apaixonando com seis anos de idade e nunca mais larguei.

A forma com que a atual diretoria trata de algumas questões é igualmente violenta como a porrada nas manifestações. A demissão de Jayme de Almeida é um exemplo bastante eloquente disso.

Pois bem, não basta ser violento, tem que ser jocoso.

Os caras, na onda "retrô" da CBF, se igualando ao que existe de mais funesto no futebol brasileiro e, "coincidentemente", estabelecendo uma relação esquisita entre uma coisa e outra, ressuscitam o Vanderlei Luxemburgo.

E boto a coincidência entre aspas, porque considero bastante esquisito que Luxemburgo assuma o Flamengo logo após ser cogitado para a seleção, em nome da amizade com Gilmar Rinaldi, o novo diretor de seleções da CBF. Esta mesma entidade que leva bastante tempo para regularizar a situação dos dois únicos reforços do Flamengo neste período de Copa.

E convenhamos, o Flamengo possui uma joia chamada Samir no elenco. Apontado por alguns como um zagueiro capaz de estar na próxima Copa, e uma excelente oportunidade de negócios.

Resumindo, esta diretoria - que pertence à elite, tal como todos os outros "caciques" da política rubro-negra - não só violenta o torcedor, como ainda tira uma onda. Tal como sua classe social.

E acho bem provável que "dê certo". Ou seja, o Flamengo não deve cair.

O que vai permear essa caminhada é que parece muito esquisito. Tal como na nossa vida por aí.

Não acredito que estejamos derrotados, muito pelo contrário. Temos dado prova de vida, respirado. O que nos faz pensar que tudo isto, na verdade, é uma grande provação pela qual temos que atravessar.

E vamos...


Valeu,

Bruno Porpetta