sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Adeus ano velho, feliz ano novo!

É hora de dar adeus ao ano de 2011!

O primeiro ano da primeira mulher Presidenta da República na história do Brasil.

O governo de Dilma Rousseff, em termos de noticiário, não difere muito de todos os homens que a antecederam. Com exceção feita à forma com que tratou os casos de corrupção em seu governo.

Todos os ministros envolvidos em algum escândalo, comprovado ou não, caíram. No fim das contas, acaba-se, subliminarmente, premiando Nelson Jobim, o ultraconservador da Defesa que foi o único que saiu por divergências com o Planalto. Em seu lugar, veio o bom Celso Amorim, em uma pasta difícil, pois tem que lidar com os caprichos dos militares (que não são poucos), além dos parcos recursos.

A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim e a mesma destinação orçamentária de sempre.


De resto, o governo atravessa mais uma crise econômica mundial, agora com epicentro na Europa, e, por via das dúvidas, antes que a marola se torne um tsunami, corta-se prioritariamente os gastos sociais, e preserva-se o que o "Deus-mercado" achar que deve. Afinal de contas, "Ele" continua ditando as regras por aqui.

E por falar em Deus, o kit anti-homofobia recomendado pelo Ministério da Educação, foi duramente repreendido pela bancada que fala em nome Dele e, para garantir a tal governabilidade, vetado pela Presidenta.

Ou seja, tudo como d'antes no quartel de Abrantes.

Já no futebol, teremos Copa do Mundo em 2014, mas nossos preparativos andam a passos de tartaruga com relação aos estádios, mas a passos largos para o enriquecimento da cartolagem e o desalojamento de comunidades por onde o "bonde da especulação sem freio" quer passar.

Dentro dos campos, Ronaldinho Gaúcho foi a grande contratação do ano. O saldo dela? Um manjado título carioca para o Flamengo.

Leia mais:

http://porpetta.blogspot.com/2011/06/o-esporadico-ronaldinho.html

http://porpetta.blogspot.com/2011/05/no-rio-o-bonde-atropela-o-trem.html

http://porpetta.blogspot.com/2011/04/vergonha-rubronegra.html


A redenção foi a do Corinthians que, iniciou o ano sendo vergonhosamente eliminado pelo Deportes Tolima, na fase preliminar da Libertadores, e acabou campeão brasileiro.

Houveram duas promessas não cumpridas. A primeira foi o Cruzeiro, que passou de time arrebatador da fase de grupos da Libertadores ao quase descenso no Brasileirão. A outra foi o tal jogo do século entre Santos e Barcelona, do qual o time da Vila se ausentou e o Barça jogou sozinho.

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http://porpetta.blogspot.com/2011/12/quase-um-wo.html

No fim das contas, o melhor jogo do ano acabou sendo Santos 4 x 5 Flamengo, na Vila Belmiro.

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Encerrado o ano, fica a expectativa (eterna, diga-se de passagem) de melhores dias para o próximo ano.

Seja na política, ou no futebol, as coisas não caminham para um futuro melhor. Portanto, que no próximo ano, melhore nossa disposição de combater os desmandos de todos eles. E haja luta pela frente!

Feliz ano novo a tod@s! Que 2012 seja o ano em que marcamos uma virada em nossas vidas! Tanto pessoal, quanto "pública".

Até o ano que vem!


Valeu,

Bruno Porpetta

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Adriano, o homem-bomba

Vira e mexe, Adriano está envolvido em alguma confusão.

Por parte da imprensa, existe uma presunção de culpa que recai sobre Adriano pelo fato do mesmo viver acompanhado de seus amigos de longa data da Vila Cruzeiro. Nada surpreendente o fato de alguns deles viverem às custas do tráfico de drogas. Infelizmente, nem todos tinham o mesmo talento para o futebol, tampouco escolas de qualidade e, por consequência, empregos dignos, além de uma série de direitos garantidos apenas para as comunidades do Leblon, Ipanema, Barra, Gávea, Jardim Botânico, entre outras.

Agora, o craque se enrola por conta de uma arma disparada dentro de um carro, onde a garota, que acompanhava Adriano e seu amigo, saiu ferida na mão.

O destino de Adriano pode variar de acordo com sua companhia. É o tal do "Diga-me com quem andas..."



Mas tem uma singela diferença que, se passa incólume pelos olhos dos expectadores, determina o tom da cobertura do fato. Desta vez, não era um traficante que acompanhava o craque, era um policial militar.

Além de aliviar um pouco a barra do atacante do Corinthians (e um dos meus ídolos pessoais, diga-se de passagem) perante a mídia, revela também certo descuidado do policial com seu instrumento de trabalho que, permitido por lei que seja portado constantemente, mesmo fora de serviço, deve zelar por tal.

Assim, podemos trabalhar com ambas versões para o fato, sem que se cometa alguma calúnia.

Na versão da moça, Adriano estava no banco de trás - a perícia confirma que a bala partiu do banco traseiro - e, brincando com a arma, disparou contra a mão dela.

Já o jogador, afirmou que estava no banco da frente, e a própria garota manuseava a arma quando esta disparou.

A segunda versão foi confirmada por um segurança da casa noturna de onde partiu o carro. Quanto à versão da garota, nenhuma testemunha.

Consideremos ainda que o segurança pode dizer qualquer coisa, sem que isso seja necessariamente a verdade. Em um caso, envolvendo um jogador famoso e uma garota desconhecida, parte-se de um evidente desequilíbrio, e qualquer verdade pode ser condicionada.

Além disso, vários seguranças são, ou foram, envolvidos de alguma forma com policiais. Até porque pertencem, ou pertenceram, a própria corporação, ou desenvolveram relações mais próximas por conta da própria profissão.

Chama a atenção como a mídia, antes tão hostil ao comportamento de Adriano, agora começa a "comprar" a sua versão dos fatos com uma velocidade assustadora. Por quê? Por que ele estava acompanhado de um policial, ao invés de um traficante?

Ignora-se, até mesmo, o fato da arma não estar devidamente segura pelo seu responsável - no caso, o policial que dirigia o carro - e começa-se a esmiuçar o passado da garota.

Não se presume aqui nenhuma das versões. As investigações devem continuar e o seu resultado, por mais óbvio que pareça, deve ser aguardado.

Mas a mídia não pode construir verdades, tampouco omitir detalhes menos relevantes. Às vezes, tais detalhes são fundamentais para se chegar a uma conclusão mais certeira.

E o detalhe do policial pode ser importantíssimo...


Valeu,

Bruno Porpetta


domingo, 25 de dezembro de 2011

O significado do Natal

Para além dos significados abstratos e concretos do Natal, podem haver outros, absolutamente pessoais.

Da concretude à abstração, o papel do "homenageado" sucumbiu ao consumismo. O nascimento de Jesus tornou-se o significado mais abstrato do Natal, meio escanteado entre os presentes abaixo da árvore.

O Natal, ao passar do tempo, perdeu seu caráter meramente religioso para se tornar um potenciador da economia, gerando empregos na produção e comércio de produtos que serão trocados entre os familiares. E assim, a data revela um caráter excludente.

A mais inclusiva das concretudes é a reunião familiar. O Natal serve ao reencontro de parentes que pouco se vêem durante o ano, e aí cumpre um papel, embora distante do real significado da data, ao menos mais "democrático". Ainda assim, existem exclusões.

Para quem encontrou o seu significado, um feliz Natal!


Quanto aos significados pessoais, se auto-explica. São significados que só ganham sentido para um indivíduo, ou um conjunto reduzido de pessoas.

Enquanto caminhava pela noite de véspera, deu-se um novo significado.

Na casa, nenhuma referência ao Natal. Sem enfeites, sem luzes, sem árvore, sem presentes, sem ninguém. Restou a alternativa de procurar amigos, e assim seria sua noite de Natal.

A caminhada de sua casa até a de seus amigos, se não era longa, era daquelas suficientes para expor-se a riscos. Ruas escuras, quase ninguém transitando, um clima propício para o que quer que fosse.


Mas como tudo na vida é estado de espírito, abriu-se uma boa perspectiva, onde a cidade, naquele momento, era somente sua.

Somente os que estavam em função de seu trabalho passavam espaçadamente pelas ruas. Sejam durante o expediente, como motoristas e trocadores de ônibus, ou retornando apressadamente às suas casas após largar o serviço. Ali, se sentiu bem, por, pelo menos, não estar trabalhando.

Assim, ele se pega a pensar na vida pelo caminho. Contando com a providencial ajuda de fones de ouvido, e música a embalar a caminhada.

O Natal nunca havia feito muito sentido, e se fosse estabelecido um, seria o sentido da hipocrisia e do conflito.

A forçada reunião familiar obrigatória anual, em uma família pequena, é das favoritas ocasiões para lavação de roupa suja anual. E as crianças são, por força da falta de autonomia, compulsoriamente colocadas como expectadoras desta tragicomédia.

De qualquer forma, este cenário criou naquele homem uma antipatia ao Natal.

Mas algo mudou.

De repente, ele se pega olhando para as luzes nas janelas dos apartamentos, nos jardins dos prédios e casas, ou mesmo os reflexos de uma modesta árvore de Natal nas salas, que iluminam os imóveis e projetam a lembrança do Natal nas paredes.

Olhar aquilo, o fez pensar que, mesmo com sentido diverso, ou até na ausência de sentido, ele não quis passar o Natal sozinho. Um pouco pela melancolia que isto representa, mas muito para dividir sentimentos que lhe ocorriam.

Aquele homem era pai. Sua filha, nascida em uma véspera de Natal, completava apenas um aninho naquele dia.

Não moravam juntos, já haviam se visto naquele dia, mas ali, naquela caminhada, o Natal virou saudade. Que, embora tenda a ser melancólica, não foi.

Ali, ele deu-se conta do que o Natal lhe significava. Uma festa, no mundo inteiro, para sua filha.

E ele caminhou feliz, até chegar à ceia de Natal.


Valeu,

Bruno Porpetta




quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

As lições que ficam

A entrevista de Neymar (vídeo abaixo), após a nulidade de bola que o Santos mostrou, perante a exuberância do Barcelona, é daquelas que nos fazem refletir.

Sim, existem lições deixadas pelo jogo. Mas quais são elas? São somente para o Santos? Se restringem ao futebol profissional no Brasil?

Não! Definitivamente, não!





Não sou daqueles que acham que treinador ganha jogo. Ajudam, mas não ganham.

Quem ganha são os jogadores. A eles cabe aplicar toda a ciência do futebol na prática.

Nosso futebol brota das ruas, com ou sem asfalto, dos campos de terra batida, das praias, ou de qualquer tipo de solo minimamente plano, onde seja possível cravar dois pedaços de madeira ou estender dois chinelos em paralelo. Daí tem-se o gol. A bola é feita de qualquer coisa que tenha, ou possa adquirir, uma forma razoavelmente arredondada. Nasce assim, mais uma pelada.

A pelada é o verdadeiro futebol brasileiro


Na pelada não tem esquema tático. As crianças querem gols, mais nada. E saem vários! Seja para um time só, ou para os dois.

Mesmo entre os adultos, já cheios de informações sobre as rotinas do futebol profissional, o gol é muito mais valorizado que a boa marcação. Embora já tenha uns e outros que se dedicam quase exclusivamente a desmanchar as jogadas do adversário.

Em qualquer pelada, o condicionamento físico não é uma exigência. Gordinhos e magrinhos, bebuns e abstêmios, fumantes e atletas, se misturam em torno da bola. Uns aguentam mais, outros menos, mas no fim da pelada estão todos cansados, mas não o suficiente para impedir guloseimas para crianças, ou cerveja para os adultos.

Quando crianças é até melhor! Jogam meninos e meninas juntos, e ninguém ainda sabe direito o que é esse troço chamado preconceito.

De qualquer forma, é aí que o futebol brasileiro nasce. Com improvisação, sem ensaio.

A ciência do futebol deve ser um aditivo à essência do nosso jeito de jogar. Quando se pensa o contrário, o Brasil se acultura.

Ao longo da história do nosso futebol, as contribuições táticas foram importantes para desenvolver o melhor de cada jogador, sem interferir na improvisação.

Os grandes times da nossa história - como o Santos de Pelé, o Flamengo de Zico, o Cruzeiro de Tostão, o Botafogo de Garrincha, o Palmeiras de Ademir, o Inter de Falcão, o Vasco de Ademir Menezes, o Corinthians de Sócrates, o Fluminense de Assis, entre outros grandes times - marcaram-se pela união perfeita entre o talento e a disposição tática.

Esta é, também, a maior marca das grandes seleções brasileiras na história das Copas, vencedoras ou não.

As derrotas, encaradas como tragédias, e as vitórias, como grandes negócios, serviram para justificar a descaracterização de nossas raízes. A importação de conceitos europeus, quando estes já eram ultrapassados até mesmo na Europa, serviu para tornar o jogador uma máquina, o esquema tático é uma linha de produção e o resultado vira sinônimo de lucro.

Os clubes formam máquinas, ao invés de jogadores


Desde a base, aqueles garotos que batem bola descompromissadamente nos campos de pelada, de repente, passam a ser avaliados pelo seu porte físico, sua capacidade pulmonar, sua capacidade de se adaptar a um jogo mais "duro".

Quanto mais esta exigência se faz presente, menos a técnica e, em especial, a improvisação são levadas em conta. Elas não desaparecem, afinal de contas ainda não importamos jogadores em larga escala, e a nossa molecada acaba trazendo essa "malemolência" de berço.

Porém, ela vai determinando um novo perfil ao jogador profissional brasileiro. Apesar de nunca termos vencido a competição de futebol olímpico, nossos talentos estão cada vez mais rápidos, mais altos e mais fortes, além de um forte senso de obediência tática.

Aí está outra questão: a obediência. Nossos craques pensam menos que outrora. Não só porque nosso país não lhes dá muita oportunidade para desenvolver senso crítico diante da vida que eles mesmos levavam antes do profissionalismo, mas também porque são adestrados a obedecer aos comandos dos cientistas do futebol.

Além do treinador, cujo poder soberano de determinar como, onde e até porque jogam, existem, desde muito cedo, preparadores físicos, médicos, fisioterapeutas, massagistas, fisiologistas, nutricionistas, e uma infinidade de profissionais que "orientam" o desenvolvimento da garotada. É bom ressaltar que pouquíssimos clubes possuem professores e psicólogos em suas equipes técnicas. Ou seja, se devem ser máquinas de jogar bola, estas não precisam pensar e sentir.

A ideia de comando introduzida por Havelange


E como o futebol, tal como quase tudo que vemos, é um negócio, submetido a um mercado, e este também é "humanizado" pelos tecnocratas de plantão, sujeito a alterações de humor que beneficiam sempre os maiores contra os menores, não poderia faltar um personagem decisivo nesta história: o empresário.



Os dirigentes de clubes e federações são, em sua imensa maioria, homens e mulheres de famílias tradicionais, cheios de posses, e manter tal status exige o esforço de ampliar constantemente seus rendimentos. São responsáveis pela paixão de milhões de despossuídos, onde alguns destes vislumbram a possibilidade de ascensão social por meio dela, e fazem disso seu grande negócio.

Quase todos os garotos, ainda nas categorias de base, já possuem empresários. Muitos destes mercadores de gente mantém "parcerias" com dirigentes de clubes, colocando seus garotos no time, valorizando seus produtos.

Mudam as rotas, a história permanece


Sem a figura do empresário, o ingresso do garoto no clube fica muito mais difícil. Neste momento, vários talentos se perdem pela vida.

O Barcelona não é o contrário de toda esta lógica. Pelo contrário, é um dos times mais ricos do mundo e faz negócios da mesma forma que os outros. A diferença é como faz os negócios.

Times como o Real Madrid, e suas constantes constelações globais (refiro-me ao globo, não à Globo, embora Cristiano Ronaldo pareça um galã de novela das sete), fazem negócios através de endividamento. É da política do seu presidente, Florentino Perez, endividar-se para lucrar.

Lucrar, lucra. Mas ganha muito menos, no campo, que seu arquirrival.

Aqui no Brasil, os clubes tomaram atitudes distintas para entrar bem no jogo dos negócios.

Apesar de uma peculiaridade comum, o crescimento da importância dos Departamentos de Marketing no organograma dos clubes, cada um tomou uma direção diferente no "produto" a ser vendido.

Enquanto clubes como Corinthians e Flamengo apostam em contratações bombásticas, que elevam os lucros, apesar dos resultados ficarem abaixo das pretensões, o Santos optou por segurar suas revelações. Toda a estratégia de marketing do Santos passa pelo passado, presente e futuro do próprio clube. Não à toa, os garotos-propaganda do centenário do clube são Pelé, Ganso, Neymar e, nas quadras, Falcão.

Assim, o Santos chegou ao Mundial Interclubes. Com dois craques no time e, nas palavras do seu próprio presidente, um DNA ofensivo.

O DNA ofensivo, em cores semelhantes às do Barça


Só que o tal DNA foi absolutamente dissecado pelo Barcelona. Qual a diferença? O azul-grená da Catalunha desenvolve este projeto há 30 anos!

Antes que Messi sequer cogitasse a hipótese de nascer, iniciava-se uma nova cultura de futebol no Barcelona. Uma aposta no desenvolvimento de suas divisões de base, fundamentadas em um conceito de futebol bem jogado que, para além de nos brindar com o melhor time do mundo na atualidade, demonstra o mesmo padrão de jogo nas divisões inferiores.

As grandes contribuições catalãs à arte: Miró, Gaudi e o time do Barcelona


Obviamente, tal reconhecimento cobra seu preço. O futebol do Barcelona garante a alegria financeira de muita gente, desde os dirigentes até as transmissoras de seus jogos, que vendem o produto catalão de maior refinamento no atual período. De repente, só se fala da cidade de Barcelona pelo seu time de maior expressão. Gaudi e Miró acabam ficando em segundo plano, para a maioria do planeta.

E qual foi a grande inspiração deste projeto, do ponto de vista do futebol? Justamente, o futebol brasileiro.

O Barcelona dá um toque de modernidade às melhores características do futebol brasileiro. Para isso, importa garotos, mas também desenvolve o futebol dos catalães. A maior parte dos jogadores formados no clube é da própria região da Catalunha.

Os garotos importados, em geral, são sulamericanos. O maior exemplo de todos é o argentino Messi, mas já figura entre as principais peças da equipe o (ex) brasileiro Thiago Alcântara, agora naturalizado espanhol. Seu irmão, Rafael Alcântara, joga no Barcelona B e foi testado no time principal em um jogo da Liga dos Campeões, e tenta ser visto pelas seleções de base brasileiras. Até o momento, sem sucesso.

Enquanto incorporamos o que há de pior no futebol europeu, eles incorporam o que há de melhor no nosso. Não parece uma troca justa.

Taí uma grande lição que o Barcelona deu, não só ao Santos, mas a todo o Brasil. Que tal resgatarmos o que temos de melhor?

O Santos é o único que, até o momento, caminha nesta direção, embora ainda de forma incipiente.

Mas perdeu, e feio, para o Barcelona porque ainda carrega um "comandante" que determina um terceiro zagueiro, a ausência do experiente Elano, e uma postura covarde diante de um Golias que, como na mitologia bíblica, pode ser derrotado.

Também porque não forma consciências, com craques que vivem em propagandas e negociações contratuais milionárias, mas são crianças, comparados ao gigantes catalães. A Neymar, ainda falta um pouco mais de maturidade para definir coletivamente o jogo. A Ganso, mais inteligência ao tratar de suas questões negociais.

A grande estrela do Barça, Lionel Messi, tem a maior multa contratual do mundo e, dificilmente, sairá algum dia de lá. Mesmo durante a crise espanhola e europeia, o Barcelona continua rico. Agora, pela primeira vez em sua história, com patrocínio na camisa, mas em todo o tempo com uma legião gigantesca de sócios do clube.

Temos uma população muito maior que a da Espanha, em condições sócio-econômicas diferentes, mas completamente apaixonada por futebol. Uma imensidão de gente que teria orgulho em ser sócio de seu clube de coração, mas os clubes não foram feitos para eles.

A estrutura do futebol brasileiro é anti-democrática ao extremo. O clube de maior torcida do Brasil - Flamengo - possui quase 40 milhões de torcedores, e sua metade presidenta, metade vereadora, foi eleita por pouco mais de dois mil sócios.

Quantos craques ficaram para trás?


Se em Barcelona, os donos do clube não deixam de ser da elite catalã, no Brasil faz-se tudo para perpetuar este caráter de controle da classe dominante, de qualquer jeito. Assim, podem continuar a auferir lucros exorbitantes em um país repleto de mazelas, sem que ninguém lhes possa, ao menos, perturbar. Que dirá tomar-lhes os clubes!

Nesta hora, fazem falta os Sócrates da vida... Se ninguém, no mínimo, reclama, de que jeito fica?

Por tudo isso, um futebol mais democrático, menos negocial e que valorize aquilo que temos de melhor, são elementos importantes para resgatar o nosso elo perdido, vencendo ou não.

Mas se as vitórias são negócios, a derrota acaba ensinando pouco. Pelo contrário, no business do futebol, perder é deseducativo, acostumados que somos aos números.

A vitória esmagadora do Barcelona, pelo menos, coloca um pouco isso tudo em xeque. Quem sabe, alguém se toca?


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Quase um WO

O tão aguardado jogo entre Santos e Barcelona foi, até certo ponto, frustrante.

Não pelo novo campeão mundial, que coroou com o troféu a alcunha de melhor time do mundo, mas pelo que se imaginava que o Santos poderia fazer. Como parar o Barcelona? Com a bola nos pés, roubando-lhe a posse de bola? Ou armando um ferrolho, como o da Inter de José Mourinho?

Nem uma coisa, nem outra.

O Santos foi um time medroso, acuado, perdido. Via a posse de bola do Barcelona crescer em progressão geométrica, ao mesmo tempo que dava toda a liberdade do mundo para a troca de passes catalã.

Diante de Messi e Xavi, que fizeram uma partida impecável, o Santos sucumbiu a ausência de respostas para as perguntas que teve meses para responder.



Se os três zagueiros foram uma tentativa de surpreender o adversário, foi o próprio Peixe que surpreendeu-se com sua ineficácia. O único deles que ainda se salvou do desastre do primeiro tempo foi Bruno Rodrigo, sem falar no goleiro Rafael, que evitou um vexame ainda maior.

No meio, tornou-se inexplicável a ausência de Elano, que entrou ainda no primeiro tempo no lugar de Danilo, que se contundiu, em uma partida em que esteve mais desnorteado que cão em dia de mudança.

À frente, Ganso e Neymar já tinham seus retratos estampados em caixinhas de leite, como duas crianças desaparecidas, tamanha a irrelevância de suas presenças em campo.

Neymar ainda teve até uma oportunidade de colocar um companheiro na cara do gol e, quem sabe, mudar toda a história da partida quando esta ainda estava empatada. Preferiu seguir sozinho, chutar a gol e desperdiçar uma grande oportunidade de demonstrar inteligência. Qualidade esta que o maior ídolo da história do seu clube, e do futebol mundial, tinha em demasia.

Ao final da primeira etapa, os 3 a 0 foram medíocres se comparados à superioridade do Barça em campo. O Santos inexistiu e podia ter levado, pelo menos, mais dois gols.

No segundo tempo, o Santos tentou ser um time. Ao menos justificar sua presença ali e a condição de campeão da Libertadores. Repito: tentou.

O Barcelona ainda tocava a bola com bastante tranquilidade e, se não bastasse, tirou o pé do acelerador para não tornar aquele jogo uma anedota.

Quase no final, Messi, que já havia feito um belíssimo gol no primeiro tempo, guardou outro e deu números finais à partida. Massacrantes 4 a 0, fora o show!

Após toda a expectativa criada em torno do que os meninos da Vila poderiam fazer contra o melhor time do mundo, ficou evidente que os meninos ainda devem comer muito arroz e feijão. O Barcelona esculachou o Santos!

E Muricy, que cometeu um grande equívoco chamando ainda mais o Barcelona para o seu campo, vai ter que "trabalhar" muito para entender que futebol se ganha com a bola nos pés.

Recomendo ao treinador santista dar uma lida neste artigo: http://www.rodrigovianna.com.br/colunas/jogo-de-classe/barcelona-e-santos-o-dilema-do-futebol-brasileiro.html

Já o time catalão, só ratifica sua condição de um dos maiores times de futebol da história.

Daqueles times para contar aos netos, como nossos avós falavam daquele Santos de Pelé, nossos pais do Flamengo de Zico. O Barcelona é a história da nossa geração sendo escrita no futebol.

Diante da tecnocracia do futebol atual, é maravilhoso poder ver o Barcelona afrontar a ordem das coisas.

Foi uma aula de futebol do Barça! Mais uma...


Valeu,

Bruno Porpetta

sábado, 17 de dezembro de 2011

Tá chegando a hora...

Amanhã é o grande dia!

O jogo mais esperado dos últimos seis meses, entre Santos e Barcelona, entre Neymar e Messi.



Do lado santista, Ganso pode ser o cara que penderá a balança para os brasileiros. No time catalão, e aí está a grande vantagem, existem pelo menos mais dois jogadores que podem desequilibrar, Xavi e Iniesta.

Embora ainda se possam verificar outras vantagens para o Barcelona, elas eram bem maiores contra o Getafe, a zebra pintou e bordou, e os azul-grená foram derrotados.

São exatamente estas razões que fazem o futebol ser o que é, amado por tantos em todo o mundo. Só o futebol produz tais imprevisibilidades.

Será um grande jogo, disso não há dúvida alguma.


Valeu,

Bruno Porpetta

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Lições de casa feitas, agora é hora da prova

O Barça passou pelo Al Sadd, por 4 a 0, sem precisar sequer suar a camisa.

Com três gols brasileiros (dois de Adriano e outro de Maxwell), além do gol de Keita, o coitado do Al Sadd mal conseguiu ver a cor da bola, e o Barcelona também não quis forçar muito, sabendo que o grande desafio é o de domingo, contra o Santos.

A tranquilidade foi tamanha, que nem cabe uma análise mais detalhada do jogo. O Barcelona fez a lição de casa e pronto, nada mais do que isso.

Os destaques negativos ficaram por conta das contusões.

Em um lance fortuito, David Villa fraturou a tíbia e está fora do time por, no mínimo, quatro meses. Seu substituto no jogo, o chileno Alexis Sanchez, sentiu dores na coxa esquerda e também saiu, porém ainda não se confirmou o veto para a final.

Não bastasse o favoritismo do Barça, a possibilidade da fratura de Villa mobilizar o time e a enorme torcida japonesa pintada de azul e grená em Yokohama (local da final), são aditivos para o time catalão. O Santos terá que enfrentar tudo isso.

No mais, será um jogaço! Vale a pena acordar cedo no domingo.


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Não teve Mazembe desta vez

O Santos passou, se não com tanta tranquilidade, pelo menos de forma razoavelmente soberana pelo Kashiwa Reysol, o campeão japonês.

Não esteve atrás no placar em nenhum momento, e apesar dos sustos que passou após sofrer o gol de Sakai, soube ampliar o resultado e segurá-lo.

A zebra ficou cabisbaixa



Com mais um golaço de Neymar, o Santos construiu a vitória no primeiro tempo. Borges, em fase iluminada, guardou o seu com bastante inteligência, observando a passagem de Neymar e não fazendo o óbvio, teve personalidade para bater no gol e foi premiado.

Se por um lado, no segundo tempo, o Peixe mostrou deficiências defensivas, levando um gol pelo alto, cujo autor subiu sozinho para cabecear, compensou-as com a criação de lances agudos, que determinaram o terceiro gol, em cobrança de falta de Danilo, cuja curva da bola era praticamente um lindo sorriso.

Ficou evidente que o gol sairia através de Danilo. O lateral-direito teve excelente atuação, foi muito perigoso no ataque, tendo oportunidades claras de marcar.

É bom destacar também a atuação de Ganso. Como quem ainda está retornando, não foi lúdico, foi prático. E diante desta condição de praticidade, foi bem. Deu o passe que achou Neymar para o primeiro gol e participou de outras jogadas perigosas.

Ou seja, se não foi aquela geladeira famosa, ao menos não deixou de ser convincente. Vale tanto para Ganso, como para o Santos.

De Neymar, já tem muita gente falando, e não há nenhuma novidade. Foi decisivo como os craques devem ser.

Não significa que o Santos se iguala em favoritismo ao Barcelona, mas o time catalão vai ter que jogar bola.

Aliás, devemos evitar um possível sentimento de pena do Al Saad (QAT). Deve ser goleado, mas o futebol tem daqueles dias...


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Foi há 30 anos...

Em 13 de dezembro de 1981, o Flamengo pintava o mundo de vermelho e preto.

Um time mágico. Uma final histórica. Eis um novo campeão do mundo!





À nação rubro-negra, todas as homenagens pelos 30 anos da maior conquista da história do clube.

E aos 11 heróis rubro-negros que, antes desdenhados pelo Liverpool, ao final saboreavam uma vitória com sabor de chocolate. Inapeláveis 3 a 0, construídos com facilidade, ainda no primeiro tempo.

Segue abaixo uma hipotética, mas não inverossímil, ficha técnica:

Flamengo 3 x 1 Barcelona

Local: Qualquer lugar
Data: Só ligar e marcar
Árbitro: Pierluigi Colina - ITA (o único com envergadura moral para tal peleja)

Flamengo: Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Lico e Nunes. Técnico: Paulo César Carpegiani

Barcelona: Valdés, Daniel Alves, Puyol, Piqué e Abidal; Busquets, Xavi e Iniesta; Messi, Villa e Pedro. Técnico: Josep Guardiola

Gols: Zico - 17', Nunes - 23' do primeiro tempo, e Leandro - 8' do segundo tempo (Flamengo); Villa - 44' do segundo tempo (Barcelona, em grande jogada de Messi, enquanto o rubro-negro já combinava um pagode em Quintino)

E olha que dava mesmo...



Valeu,

Bruno Porpetta


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Santos deu azar?

Qualquer análise sobre o Mundial Interclubes girava em torno dos times europeu e sulamericano. Os demais apenas participavam da festa e davam um caráter um pouco mais global à competição.

Isso até o Mazembe. A vergonha alheia colorada abriu o precedente para analisarmos também as semifinais, fase de estreia dos principais postulantes ao título.

O Santos pretende conquistar os japoneses, contra o único time da casa?


O Santos enfrentará o Kashiwa Reysol, na quarta-feira. Já o Barça, pega o Al Saad, do Qatar, na quinta. Ambos os jogos serão às 8:30h, pelo horário de Brasília.

O Barcelona deve ridicularizar a presença do Al Saad na competição, diante do que, será um orgulho para o time do Qatar levar uma sova do melhor time do mundo na atualidade.

Apesar do Barça, possivelmente, jogar sem alguns de seus titulares, ainda assim é milhões de vezes superior, além de motivado pelo esculacho diante do Real Madrid, em pleno Santiago Bernabeu, onde visivelmente o time catalão tirou o pé no segundo tempo. Fica claro que o objetivo de Guardiola e seus comandados é o título, e eles sabem que isso passa por estar inteiro contra o Santos.

Já o Peixe, que chegou com muita antecedência ao Japão, visando aclimatar-se às condições diferenciadas, como o fuso horário e o frio intenso, mas também com o intuito de angariar torcedores entre os japoneses, pensando também na grande final e uma possível preferência dos locais pelos brasileiros.

No tocante à bola jogada, o Santos é infinitamente superior ao Kashiwa, e deve vencer o jogo. Porém, ironicamente, para quem buscava a simpatia da torcida, enfrentar justamente o campeão japonês, acabou sendo um baita de um azar.

Ou não?


Valeu,

Bruno Porpetta

domingo, 11 de dezembro de 2011

Diverstício

Interstício: in-ters-tí-cio - sm (lat interstitiu) 3. Intervalo*


No primeiro domingo sem futebol, após o término do Campeonato Brasileiro, tomei a liberdade de criar o "diverstício". Um pequeno intervalo na nossa diversão cotidiana com o futebol. Pelo menos, para boa parte da torcida brasileira.

Existe um único clube cujo ano ainda não acabou, e esse clube é o Santos, que disputa o Mundial Interclubes.

Para dois clubes, o diverstício acaba ainda em janeiro. São Flamengo e Internacional, que disputarão a fase preliminar da Libertadores.

Há quem se divirta com os campeonatos europeus, dentre os quais me incluo, mas não é a mesma coisa. Os nossos times são os nossos times!

Já que os campeonatos estaduais, inchados e desgastantes, já não divertem tanto quanto antes, fica como definição:

Diverstício: di-vers-tí-cio - sm 1. Intervalo na diversão compreendido entre a última rodada do Campeonato Brasileiro e o Carnaval, ou a Libertadores.


Vem que vem, Momo!


Valeu,

Bruno Porpetta


* Fonte: Dicionário Michaelis de Língua Portuguesa

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Para pensar na cama...

Há um burburinho em torno da possibilidade do Atlético-MG ter entregue o jogo para o Cruzeiro, na última rodada do Brasileirão.

Fala-se de uma reunião de dirigentes dos dois clubes, junto a representantes do banco que patrocina ambos, cujos interesses estariam deveras prejudicados com o descenso da Raposa.

Será o Plano Cruzeiro? Não parece Real...


O tal banco em questão patrocina - seja master, ou na manga - nove dos 20 times da primeira divisão nacional, além de possuir participação nos direitos econômicos de atletas de 13 destes clubes.

O América-MG foi o único clube, que estampa a marca do banco em sua camisa, rebaixado à segundona. Devidamente substituído pelo Sport, que retornou à elite.

Não será por falta de exposição nacional que o banco morrerá de fome. Aliás, mesmo que caíssem todos, alguém já viu banqueiro passar dificuldades no Brasil? Portanto, não é o caso.

Pois bem, se considerarmos que um mísero 1 a 0 salvaria o Cruzeiro do rebaixamento, meia dúzia de gols não devia estar nos planos de ninguém. Nem do Atlético-MG, que agora convive com tais boatos, nem do Cruzeiro, que se está sob suspeita, ao menos passará muito tempo sacaneando o rival, muito menos do banco, que não gostaria de ver sua marca levando goleadas homéricas.

Já não bastava o mensalão...


Valeu,

Bruno Porpetta


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O(A) luto(a) continua





Sócrates era um sonhador.

Sonhava, certo por linhas tortas, com o socialismo. Sonhava ser cubano, dando a um de seus filhos, o nome de Fidel. Sonhava com outro futebol. Não este do porte físico, mas, fundamentalmente, do porte intelectual.

Assim, desenvolveu o calcanhar mais venenoso da história do futebol brasileiro, para compensar a deficiência física com relação a outros jogadores. Era magro, ou simplesmente Magrão, fumante e gostava da mais refinada derivação da cana-de-açúcar, o álcool.



Sócrates era um filósofo.

Tornou a bola seu maior compêndio filosófico. Sua grande contribuição aos acadêmicos do futebol. Sua deferência à beleza, ao que há de mais arraigado em nossa cultura futebolística. Sócrates tratava a bola com inteligência, dando um toque de classe e intelectualidade aos lances.

Sócrates era um revolucionário.

Tal como a Grécia, o Corinthians foi sua grande contribuição à democracia. Dentro ou fora do campo, aquele time do final da década de 70, início de 80 - anos de refluxo do nosso calvário militar - era essencialmente contestador.

Remava contra a maré de chatice que tomou conta do futebol, da onda conservadora que exaltava o comando de treinadores sobre jogadores disciplinados, quase adestrados. Em um mundo onde os operários da bola eram expressamente proibidos de pensar, ousou fazê-lo. E Sócrates foi fundamental em tudo isso.



A democracia corinthiana foi a maior experiência de liberdade e poder compartilhado da história do futebol brasileiro. Não fosse o Livorno, da Itália, seria a maior do mundo. Falava em democracia em pleno regime militar. Envolveu-se ativamente na campanha pelas eleições diretas. Sócrates partiu para a Fiorentina, indignado com a rejeição da emenda Dante de Oliveira. Não importava a vitória ou derrota, desde que com democracia.

Sócrates era um ídolo.

Um dos grandes ídolos da história do Corinthians. Um dos grandes ídolos de uma grande nação.

Aquele que, em sua apresentação ao clube, confessou-se torcedor do Santos, aprendeu a ser corinthiano. Após um início difícil, onde a ideia de sair lhe ocorreu algumas vezes, Sócrates se tornou parte daquela nação, traçando uma mediatriz entre sua classe com a bola nos pés e a garra exigida pela torcida.

Se antes não se entusiasmava com seus próprios gols, depois passou a vibrar muito com eles, como se na arquibancada estivesse.

A mistura entre Sócrates e Corinthians era perfeita. Ambos vivem em permanente angústia, inquietude, mas fazem delas seu combustível.



Não era um ídolo somente dos corinthianos. Sócrates participou de um dos mais belos times da história das Copas, a seleção brasileira de 82. Ali, o Doutor marcava seu nome entre os maiores do futebol mundial, mesmo não conquistando a taça. Da mesma forma, não importava o resultado, e sim a beleza.

Sócrates era grande.

Da grandeza de todas as torcidas. Da grandeza de todas as Copas. Da grandeza de todos que sonham e lutam por um mundo mais justo. Da grandeza de sua razão, e também de seu coração.

No dia da sua morte, o Corinthians disputaria o título que Sócrates não conquistou. O título brasileiro. Brasileiro como o seu próprio nome.

O Corinthians é campeão! Pela quinta vez, é campeão!



A imagem de quase 40 mil torcedores, além dos 11 jogadores em campo, de punhos cerrados durante o minuto de silêncio dedicado a Sócrates, era sua própria presença. Tal como em sua época, a presença dentro e fora de campo.

Poderia dedicar mais de 6 mil caracteres para tratar do desfecho do Campeonato Brasileiro, do título do Corinthians, mas posso resumí-lo aqui: é o título de Sócrates!

Aos que ficam, cabe prosseguir sua luta.

Por um futebol, e uma sociedade, livre daqueles que tanto acumulam. Livre para pensar. Livre para se divertir. Livre para viver. Nem que seja por pouco tempo, como foi em sua própria vida.

Logo após sua primeira internação, devido à hemorragia digestiva, Sócrates lançar-se-ia a uma segunda campanha pelas Diretas. Desta vez, para a CBF!

Ele se foi, mas o sonho fica.

Sigamos com ele, assim o mantemos vivo. Assim, nos mantemos vivos.

"A Embaixada da República Bolivariana da Venezuela no Brasil une-se à dor do povo brasileiro e oferece suas condolências pela morte de quem foi um dos esportistas mais distintos do Brasil e do nosso continente, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.
O Dr. Sócrates, como o povo brasileiro o chama com carinho, honrou o Brasil em todas as oportunidades que vestiu a “canarinha” e que com seu desempenho foi considerado por aficionados e especialistas como um dos melhores jogadores da história.
Lembraremos o Sócrates, mais do que por suas glórias esportivas, pela profunda convicção democrática e pela sua vocação pela unidade da Nossa América. Só horas depois de comemorarmos o nascimento da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC), lembramos seu exemplo de vida porque ele sempre foi esse tipo de cidadãos que cotidianamente manteve vivo o sonho de Bolívar.
Em uma época quando muitas vezes tenta-se transformar o esporte em um espetáculo banal e alienante como ferramenta para o consumo desenfreado, Sócrates utilizou o esporte para conscientizar e promover valores como a solidariedade, e também para assumir uma postura firme em favor da democracia tanto para o país, quanto no âmbito esportivo, onde sempre a evidenciou. Sua pronta partida não permitiu que se concretizasse sua visita à Venezuela, nem sua participação em um programa de formação educativa e esportiva, que já tinha sido colocado.
A Embaixada da República Bolivariana da Venezuela deseja expressar suas máximas condolências ao povo brasileiro, a todas as pessoas que seguiram seu exemplo de luta social e especialmente a seus familiares e amigos. Tornemos o Dr. Sócrates em um exemplo de homem e mulher novo que tanto precisamos na América Latina e o Caribe."


(Nota oficial da Embaixada da República Bolivariana da Venezuela no Brasil, sobre o falecimento de Sócrates)






Valeu,


Bruno Porpetta