segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Desabafo

Enquanto dava uma zapeada nos canais de TV, parei para assistir a uma entrevista do Deputado Estadual Paulo Ramos (PDT-RJ), recém-eleito para a Câmara dos Deputados em Brasília, para o programa Jogo do Poder, na CNT.

Em um dado momento da entrevista, o âncora do programa o pergunta sobre o papel que o Judiciário vem exercendo na política nacional e, em especial, no Rio de Janeiro, após a prisão do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Eis que Ramos diz algo que, há algum tempo, venho refletindo a respeito. Os chamados "políticos" deixaram de fazer política, ou nas palavras dele "perderam a capacidade de resolver as questões politicamente". Essa perda de capacidade resultou nas constantes provocações ao Judiciário, para resolver essas questões.





Outro trecho da fala de Ramos diz que, após tantas provocações que o alçaram a uma condição de iminência parda do poder, o Judiciário gostou de fazer política.

O Poder Judiciário é o único dos três poderes que, diferentemente do que prega a Constituição Federal de 88, não emana do povo. O único não eleito pelo voto popular. Por si só, isso já faz uma diferença enorme.

Exatamente por não ser eleito é o poder menos poroso às classes sociais mais baixas, formado quase que exclusivamente por brancos oriundos da classe média para cima, com raríssimas exceções que, segundo a crença popular, servem para confirmar a regra.

A seleção para a magistratura é um funil com corte de classe, a medida que o nível de exigência de dedicação e comprometimento para com os estudos é inviável para quem precisa trabalhar para sobreviver, quem tem filhos para criar, etc.

Não basta apenas concluir o curso de Direito, é preciso começar a preparação ainda durante a faculdade, prosseguir estudando após o término e, ainda assim, não é fácil. Cursos preparatórios, tardes em bibliotecas, reclusão para estudos,... Um estilo de vida nada compatível para quem tem contas a pagar ou crianças na escola.

Em geral, passam os garotos que se dedicaram a isso em tempo integral, que tiveram apoio da família para tal sem que isso representasse um prejuízo financeiro aos parentes.

Em uma escala menor, o mesmo vale para o Ministério Público.

Ou seja, além de não eleitos, praticamente todos são oriundos do mesmo estrato social, formados com valores semelhantes, experiências de vida similares que determinam formas de pensar e, principalmente, julgar, parecidas.

Tudo isso para, retomando a fala de Paulo Ramos, dizer que as constantes provocações ao Judiciário e suas peculiaridades são um tiro no pé da democracia.

Ao mesmo tempo que o Judiciário é útil para dirimir questões entre os indivíduos, o mesmo aplicado à política é uma tragédia.

Tornou-se cômodo às forças de oposição, sejam elas quais forem, de direita ou de esquerda, recorrer às instâncias do Judiciário após alguma derrota nas casas legislativas.

Isto porque, se por um lado as Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores se tornaram meros escritórios de legitimidade a serviço das políticas dos Executivos, por outro as oposições suprem as ausências de mobilizações populares com intervenções judiciais.

Que a direita não conte com mobilizações populares e se escore em um Poder essencialmente afeito às suas convicções não chega a ser uma surpresa. Que a esquerda faça isso, é um sacrilégio.

Primeiro porque contribui para esvaziar o sentido da política onde ela deve ser feita, no espaço que reúne a legitimidade necessária, conquistada através do voto, para tal. Segundo porque nos estimula a, cada vez mais, resolver as nossas questões por cima, sem mobilização e com confiança excessiva no funcionamento regular das instituições.

Não cabe a mim fazer um extenso tratado sobre isso. Não tenho tempo, nem intelecto suficiente para a tarefa. Mas se eu puder plantar uma pulga nas orelhas da esquerda, já me dou por satisfeito.

Até porque sou filiado ao PSOL, o campeão brasileiro do chamamento ao Judiciário, e me desespera cada vez que o partido vai ao STF para qualquer coisa.

Às favas com o STF! Às favas com a primeira instância, cujos membros passaram também a se sentirem deuses!


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Escrever é preciso...

Já tem muito tempo que não publico nada por aqui. Uma soma de falta de tempo, de ânimo, até de gosto pela escrita, foram deixando esse espaço para trás.

No entanto, talvez pelo excesso de razões que a vida anda me dando, resolvi voltar a escrever.

É necessário voltar a pegar gosto pela coisa. É bom pra minha saúde mental, inclusive.




Vivo no país da mamadeira de piroca. Por si só, já é motivo suficiente pra gritar, espernear, arrancar os cabelos. E isso eu, geralmente, faço melhor por escrito.

Ainda não sei a frequência com que me dedicarei, mas pretendo não passar muito tempo sem me alimentar disso aqui. Também não sei se minha temática se restringirá ao futebol, já que este perdeu muita graça de uns tempos pra cá.

Só pra se ter uma ideia, a final mais esperada da história da Libertadores será na Espanha. Na terra dos colonizadores. É, no mínimo, muita falta de noção da Conmebol.

Mas já não se espera nenhuma razoabilidade dentro de um ambiente onde uma porrada de gente foi presa por enriquecer às custas do nosso esporte favorito e, na prática, nada muda. Segue o jogo (sujo)!

Seguimos nós também, pois a vida não pode parar e a hora é de resistência.

Nem que seja por escrito.

Bem-vind@s novamente!


Valeu,

Bruno Porpetta

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Trocando as moscas

Fazer que se está mudando tudo é a melhor forma de não se mudar nada.

Hoje, assistimos a uma faxina geral na FIFA, Conmebol, UEFA, federações nacionais, etc.

 Foto: Eny Miranda/GOVERJ

O ex-todo poderoso Blatter e seu provável sucessor Michel Platini foram punidos com uma suspensão de oito anos fora de qualquer atividade relacionada ao futebol.

Muito bem! Estaríamos assistindo a uma faxina ética na entidade que comanda o futebol no mundo?

É bom observar mais. A FIFA é presidida, desde o afastamento de Blatter e até 27 de fevereiro, quando ocorrerá o congresso eleitoral extraordinário, pelo camaronês Issa Hayatou, sobre quem pesam também uma gama enorme de acusações.

O próximo presidente da FIFA será eleito pelo mesmo colégio eleitoral. Ou seja, pela maioria de votos dentre as mais de 200 federações e confederações nacionais, além das confederações continentais.

O que ninguém vem questionando, até o momento, é justamente o papel das entidades que compõem o colégio eleitoral.

Não vou reproduzir o discurso mesquinho e racista de quem acha que o voto do Gabão não pode valer o mesmo que o da Itália. O que distancia Gabão e Itália é a geopolítica mundial, a economia dos países. O futebol, dentro de campo, é o mesmo. Uns com mais qualidade, outros com menos. Mas chutar uma bola é uma prerrogativa de oito a cada dez crianças em todo o mundo.

Mas as eleições na FIFA, diante do cenário econômico dos países e, por consequência, de suas federações, são marcadas pela troca de favores. Pela ajudinha financeira, travestida de auxílio no "desenvolvimento do futebol".

Ver jornalistas exaltando o papel de João Havelange na popularização do futebol nos quatro cantos do mundo chega a ser aviltante.

Como se o centro do império não tivesse intenção alguma de colocar a periferia no bolso e, assim, manter o controle sobre o vetor principal de onde a grana transita.

Isso é mais antigo que o guaraná com rolha.

João Havelange é, no máximo, um cara "moderno". Ou seja, quando ninguém ainda sabia como aquele negócio podia dar um belo dinheiro, Havelange foi lá e mostrou como. Ninguém tá nem aí pro esporte, esqueça disso.

O centro da questão, a meu ver, está justamente nas regras pouco democráticas que definem os dirigentes das federações nacionais e continentais.

O que nos remete ao cerne de tudo isso. Os clubes!

A falta de democracia e transparência começa na célula do organismo. Os clubes são microcosmos do que é a FIFA, a Conmebol, a CBF, etc...

Ou seja, as eleições da FIFA mudarão o presidente, o secretário-geral e outros... Para não mudar nada!

E a imprensa ainda acha que estão fazendo "reformas"...


Valeu,

Bruno Porpetta

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Rejeição

Há um clamor, principalmente por meio da imprensa esportiva, para que Tite seja o novo treinador da seleção. É evidente que, de todos os treinadores brasileiros, ele é o mais atualizado, o mais competente.



Particularmente, concordo. Acho que ele deve ser o novo treinador da seleção, desde que a corja que habita e se alimenta na CBF caia. Não recomendo a nenhum treinador sério trabalhar pra esses caras.

Joguei uma isca no Facebook. Postei uma matéria sobre o treinador campeão brasileiro, convocando-o para a seleção brasileira.

A reação dos corinthianos foi absolutamente justa, compreensível e legítima. Todos negaram com veemência qualquer possibilidade dele sair do Corinthians para ir à seleção brasileira.

No lugar deles, talvez fizesse o mesmo. Aliás, qualquer um que estivesse no lugar deles, faria o mesmo.

Sabe por quê?

Porque somos nosso clube. Não somos seleção.

Essa identidade, cada vez mais, forçada do povo brasileiro com a seleção brasileira, nada mais é do que a rede do investimento atirada no lago do retorno financeiro.

A Globo, que detém exclusividade sobre tudo o que diz respeito à seleção brasileira, tenta forjar em nós uma paixão pela seleção que, por si só, não existe.

A seleção só nos encanta quando joga de acordo com as melhores tradições do nosso futebol. De forma vistosa, bonita, cheia de jogadores com talento.

Com a seleção capengando, o nosso interesse pela mesma cai sistematicamente. Diante do que, hoje, nossos jogadores e treinadores, quando convocados, são mais um estorvo à caminhada dos nossos clubes do que qualquer outra coisa.

Para ver jogo feio, melhor ver nosso campeonato. Onde reside a nossa paixão: o nosso clube, que é nossa nação, muito mais do que o nosso país.

Para aferir isto, basta se fazer a seguinte pergunta: se a seleção brasileira e seu clube se enfrentarem, para quem você torce?


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Pretensão

O ano acabou para a seleção brasileira. Os próximos jogos do escrete canarinho são em março do ano que vem.

Pode parecer pretensioso, mas é o momento de um balanço. Até porque o que mais se ouve por aí são boatos de uma possível queda de Dunga.

Mateus Pereira/GOVBA


Encerramos o ano vencendo o Peru, pelo placar expressivo de 3 a 0. Descobrimos ali que é possível contar com Willian para algo mais que ser um “parça” do Neymar. Que Douglas Costa é um jogador que faz a diferença. Que o meio-campo do Corinthians é um exemplo a ser seguido.

O Brasil foi melhor no segundo tempo porque seu meio-campo, formado por metade do meio-campo do Corinthians, passou a jogar como joga no clube. Renato Augusto não é segundo volante, apesar de quebrar o galho. Deve jogar mais solto, como jogou no segundo tempo, revezando com Elias.

Ou seja, Dunga apelou para a “titebilidade” do meio-campo corinthiano para sair do sufoco que o Peru conseguiu dar na defesa brasileira em alguns momentos do primeiro tempo.

O jornalista Juca Kfouri, em um programa de TV, colocou uma questão interessante a respeito do cargo de Dunga. O treinador dependia muito pouco do resultado contra o Peru, seu cargo está vinculado a Del Nero. Se o Marco Polo que não viaja cair, Dunga cai junto.

É bastante razoável esta teoria. Quem presidir a CBF depois de Del Nero, vai querer “mostrar serviço” e jogar para a galera. Dunga não tem esse prestígio todo com o povo brasileiro, então roda.

Independente de qual a razão, tomara que caia.

É enorme a diferença tática entre Dunga e boa parte dos treinadores de outras seleções. Ganhamos dos dois últimos colocados, jogando em casa, e tivemos algum trabalho para vencer.

Nos testes reais, perdemos para o Chile sem ver a bola e empatamos com uma Argentina bem desfalcada.


Na real e na moral, é isso.


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Óleo de peroba

Se você acha que a política é um meio sujo, você ainda não conhece o mundo do futebol.

Sobre a política ainda é possível exercer algum controle público, existem instrumentos e mecanismos de defesa do interesse coletivo. Por mais que lhe neguem acesso cada vez mais, algum acesso você tem.



No futebol, tal como no tráfico de drogas, armas, contrabando e quaisquer atividades criminosas em todo o mundo, existe uma estrutura paralela ao “nosso mundo” onde rola muita grana.

Este dinheiro que você não sabe de onde vem, tampouco sabe para onde vai. Mas, por onde passa, vai enriquecendo dirigentes e empresários que se valem da nossa paixão pelo esporte.

É possível que a real intenção das investigações tocadas conjuntamente pelo FBI e a justiça suíça não seja das mais nobres, mas elas estão provocando um estrago danado ao que parecia um eterno sossego destes aproveitadores do futebol.

Joseph Blatter, que a princípio não larga o osso até fevereiro de 2016, está na mira dos suíços. Seu provável substituto, Michel Platini, também ganhou motivos para arregalar os olhos, com seu nome citado como destinatário de parte da bufunfa.

Enquanto isso, Zico não consegue míseras cinco cartas de recomendação para seguir adiante em sua candidatura à presidência da FIFA. Ele pode não ser santo, mas decididamente não faz parte do esquema.

A barbárie no mundo do futebol é tamanha que, diante das investigações sobre um suposto calote em impostos dado por Neymar aqui no Brasil, o empresário do atleta “recomenda” publicamente que o pai – aquele que levou a comissão mais gorda da história por uma transação de jogador – tire seu dinheiro do país e o leve para paraísos fiscais.


É o espírito olímpico da cara de pau, superando limites.


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Nome aos bois

Aos poucos, os caras que controlam o futebol brasileiro transformaram o esporte em uma vaca, que lhes deu leite aos litros por muito tempo. Continua dando, mas a teta dá sinais de que pode secar.

O Estatuto do Torcedor, dentre os méritos que possui, um deles é o fim da esculhambação de regulamentos das competições. Ou seja, um regulamento não muda durante o campeonato, nem para o do ano seguinte. O que acaba com qualquer chance da tal virada de mesa que pode salvar o Vasco no fim do ano.

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebon/Agência Brasil

Mas existem coisas que são de competência exclusiva das entidades que administram o esporte. Leia-se, estão na mão da CBF e federações estaduais. Aí, você já pode imaginar o resto.

A arbitragem é uma destas tarefas. Portanto, a culpa de toda essa bagunça no Brasileirão, provocada por uma bobagem maior que a outra feita pelos apitadores, é da CBF.

Marco Polo Del Nero, que está exilado em seu próprio país, pois não existe qualquer lugar no mundo que seja o paraíso penal para ricos como o Brasil, é quem “organiza” essa balbúrdia toda. Isso para não falar de um que já está preso, outro processado,...

A resistência da CBF em admitir a profissionalização dos árbitros, o uso da tecnologia e a racionalidade das escalas provoca a situação do último Fla-Flu, onde o zagueiro Wallace enfia o braço na bola e o olho despreparado do sujeito não vê. Para não falar dos outros inúmeros crimes cometidos país afora.

Esta direção do nosso futebol é responsável pelo desinteresse crescente do público pelo campeonato. Assim como provocou o desdém pela nossa seleção, alvo de piadas até hoje envolvendo os números sete e um.


A seleção joga, desfalca os times, e ninguém vê. Ainda prefere o Brasileirão. Não se sabe até quando.



Valeu,

Bruno Porpetta