sexta-feira, 28 de junho de 2013

O óbvio, por um triz

Brasil e Espanha decidem a Copa das Confederações, domingo, no Maracanã.



Não era preciso ser nenhum grande analista para saber que esta era a final mais óbvia possível.

A Espanha tem o melhor time do mundo no atual período.

Até esta semifinal, a última vez que espanhóis e italianos haviam se encontrado foi um baile. Os italianos se tornaram touros diante dos súditos de Juan Carlos (outro que calado é um poeta).

O Brasil é o Brasil. Isto por si só colocava o escrete brasileiro entre os favoritos. Além disto, havia o fator casa. Foi nesta combinação que o Brasil pôs fim ao sonho uruguaio de um Mineirazo.

Aliás, os jogos contra o Uruguai, via de regra, são mais difíceis que os contra a Argentina. Carregamos eternamente o peso do Maracanazo em nossas costas. Por mais que tenhamos, depois desta tragédia, vencido cinco títulos mundiais, enquanto o Uruguai parou naquele 16 de julho de 1950, o assunto sempre volta à tona quando Brasil e Uruguai se enfrentam.

Imaginem se não voltaria às vésperas de um jogo decisivo em solo brasileiro?

O Uruguai, mesmo que combalido em relação ao seu passado, e até mesmo ao mais recente, é um carma na vida do futebol brasileiro.

Carma que a Itália representava na vida dos espanhóis.

No tempo em que a Espanha montava bons times, que seriam fatalmente eliminados em algum momento da competição que estivesse, era dos italianos que o povo espanhol mais tinha medo. O histórico de eliminações espanholas diante dos italianos era extenso.

De uns tempos pra cá, a história mudou. Nas últimas duas Eurocopas foi a Espanha que eliminou a Itália. Em 2008 nos pênaltis, em 2012 com os tais 4 a 0 acachapantes.

Por essas e outras, a final prevista era Brasil e Espanha, mas ela foi muito mais difícil de sair do que se previa.

O Uruguai jogou mais que o Brasil.

O autor do gol uruguaio, o atacante Cavani, fez uma partida monstruosa do ponto de vista tático.

A vida de Neymar e Marcelo ficou muito complicada com a presença constante de Cavani marcando o lateral e impedindo a armação de jogadas por aquele lado.

Ou seja, onde o Brasil é mais criativo, o Uruguai travou a passagem. Mas Forlán deve se lamentar por muito tempo pelo pênalti (justamente marcado) perdido.

A decisão saiu do pé de Neymar, em cobrança de escanteio no segundo pau que encontrou a testa de Paulinho e dali, as redes. Naquele momento, não havia muito tempo pra mais nada.

No dia seguinte, os espanhóis até ameaçaram passar horas com a bola nos pés, mas a Itália não deixou.

Principalmente no primeiro tempo, enquanto os italianos tiveram fôlego, a Azzurra jogou mais que a Espanha. Equilibrou a posse de bola e criou melhores chances de gol.

No segundo, o próprio ritmo da partida diminuiu, devido ao calor de Fortaleza, mas a Espanha não conseguiu uma supremacia suficiente para tirá-la da boa marcação italiana.

Assim seguiu-se a prorrogação, em seus dois tempos, até a chegada dos pênaltis.

Para quem viu a troca de flâmulas, antes do início do jogo, entre os capitães Casillas e Buffon, ambos goleiros de grande estirpe, devia imaginar que uma disputa de pênaltis serviria para que os dois resolvessem suas diferenças ali, pegando várias cobranças.

Talvez aí tenha se evidenciado uma surpresa. O que saltou aos olhos foi a qualidade dos batedores. Todos os pênaltis foram muito bem batidos, menos o pênalti perdido por Bonucci, que jogou por cima.



No fim das contas, a final era o que todo mundo queria, esperava. Mas olha, foi dura de sair, viu?


Valeu,

Bruno Porpetta

domingo, 23 de junho de 2013

Agora é só clássico!

Terminada a primeira fase da Copa das Confederações (ou seria das Manifestações?), restaram vivos na competição as quatro seleções efetivamente grandes. Ou seja, as quatro que possuem títulos mundiais.

Brasil e Uruguai se enfrentam em Belo Horizonte. Espanha e Itália duelam em Salvador.

O Brasil avança para, enfim, formar um time. A sequência de jogos em competição deu mais corpo à equipe  de Felipão, embora ainda esteja distante das principais seleções do mundo na atualidade.



O Uruguai torcerá por um novo acaso do destino. Um time envelhecido, com relação ao que fez um bom papel na Copa do Mundo em 2010 e foi campeão da Copa América em 2011, mas um bom time. A possibilidade de ficar fora da próxima Copa pode sofrer um revés, caso o Uruguai retome o caminho do bom futebol.

A Espanha é aquilo de sempre, há um tempão. Com 460 toques de primeira por minuto, o time espanhol passa o jogo todo com a bola, aguardando a hora certa de dar o bote e enfiar uma bola para seus homens de área. Acontece que, agora, a Espanha terá que definir quem são seus homens de área. Torres, mesmo na reserva, levou alguma vantagem sobre Soldado.

A Itália, mesmo levando quatro gols do Brasil, está lá. E via de regra, sempre está lá. Tem um baita craque no meio-campo chamado Pirlo, um excelente atacante que é o Balotelli, e não muito mais do que isso. Mas é a vice-campeã europeia, e não chegou lá à toa.



O mais óbvio palpite crava Brasil e Espanha na final. Mas destes jogos, a última coisa que se pode cravar são obviedades.

Devem ser grandes jogos, sem dúvida alguma.


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A redenção

Neymar era contestado até o início da Copa das Confederações.

Mas é craque! E tem provado isso.



Fez duas belas partidas, contra Japão (que a Itália "descobriu" que não é um time de zé-ninguém) e México. Dois golaços, um com cada perna. Um drible maravilhoso pelo lado esquerdo da área e o passe com açúcar para o gol de Jô.

Claro que todos vão exigir o título, mas não dá pra conter o pacote de exigências da torcida.

Não existe obrigação alguma de título para um time que está se reconhecendo. Já podemos ensaiar dizer que agora temos um time.

Aquele lado esquerdo com Neymar e Marcelo está impossível! Bonito de se ver.

É o que dá botar quem sabe jogar bola, pra jogar com quem também sabe. Marcelo ganhou um salvo-conduto para cometer até um homicídio, e ainda assim não perde a vaga de titular.

Pelo menos, esperamos que não perca.

E Neymar... a Catalunha que o aguarde!


Valeu,

Bruno Porpetta

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Os insones

O que mais se ouve, ou lê, é que o Brasil acordou.

A revolta iniciada pela redução do preço das passagens, desembocou em cenas tocantes para quem, há muito tempo, questiona a política de privatizações dos serviços públicos, dentre eles o transporte.

São milhares e milhares de vozes, duramente reprimidas pela nossa lembrança mais candente da ditadura militar: a Polícia Militar.

No afã de construirmos uma nova história em nosso país, sendo uma marca desta nova geração para as futuras, acabamos muitas vezes reproduzindo os equívocos das passadas.

Esta não é uma prerrogativa exclusiva desta geração, mostrando que a história, ao ser ignorada, repete-se como farsa. O que não é novidade para quem conhece o marxismo.



De qualquer forma, é fundamental que retomemos as ruas como um espaço coletivo, que reflita nossos sonhos, por mais diversos que sejam.

É justamente esta diversidade que, se tolhida, dá espaço ao ranço autoritário típico das elites. Como os caminhos a seguir por estas mobilizações estão em aberto, as próprias elites enxergam nelas uma possibilidade para o recrudescimento de seus instintos mais canalhas.

Durante 20 anos, atravessamos um deserto de ideias, sufocadas pelas mãos destas elites que financiavam os filmes de Arnaldo Jabor, patrocinaram o crescimento das organizações Globo, que produziram as oligarquias regionais que hoje contestamos (mesmo que estas sejam contempladas em parte no atual governo que, em tese, está do lado de cá do muro).

Neste tempo, lutamos por bandeiras. As bandeiras da liberdade de pensamento, de crença, étnica, de organizar-se.

Através destas lutas, foi possível voltar às ruas. Mas as lições deveriam ser aprendidas.

Foi para poder levantar bandeiras que lutamos tanto. Para poder nos expressar de forma livre. Nos organizar onde quisermos, respeitando as demais formas de organização.

Se elas são de partido, é porque aquela luta tornou isto possível.

Ao Brasil que acorda, é preciso lembrar que houve gente que, por todo este tempo, nunca dormiu.


Valeu,

Bruno Porpetta

segunda-feira, 10 de junho de 2013

O caminho que "escolhemos"

Este é o documentário A caminho da Copa, com direção e roteiro de Florence Rodrigues e Carolina Caffé.

Mostra, em apenas 26 minutos, o trajeto que percorremos da euforia pela conquista do direito a sediar os dois maiores eventos esportivos do mundo, à agonia de centenas de famílias criminosamente removidas de suas casas.




O filme se passa em comunidades no Rio de Janeiro e em São Paulo. Provavelmente, suas diretoras sequer sonhavam com a ideia de que, um ano após as filmagens, o "dono da festa" Joseph Blatter seria agraciado com o título de cidadão paulistano pela Câmara Municipal.

Às vezes, o Brasil faz parecer que a máxima "o crime não compensa" é uma clamorosa mentira.

Muitas vezes, diga-se de passagem.


Valeu,

Bruno Porpetta

Nada bem e nada mal

Os jogos da seleção, ao contrário de outrora que foram colírios para os olhos, são remédios para insônia.

Sinal evidente de uma seleção que está longe de ficar pronta. Resultado da absoluta falta de planejamento da CBF, é bom que se diga.



Há cinco anos, sabemos que a Copa do Mundo será realizada aqui. Sabemos também que, diante disto, a pressão pelo título é enorme. Como Neymar foi um achado para um país que formou uma imensidão de brucutus e um punhadinho de jogadores talentosos, empurramos para o ex-santista a responsabilidade de conduzir esta bagunça ao título.

Definitivamente, não é hora de Neymar pegar o touro pelo chifre. Ele tem apenas 21 anos, e nós temos a pressa de quem vê a Copa escapando por entre os dedos. Se vencermos a Copa, será pela combinação entre camisa e torcida. Não esperemos muito mais que isto.

Durante todo este tempo, estivemos muito ocupados com nosso calendário tosco para treinarmos a nossa seleção. E a CBF ainda vende a seleção como um produto de alta qualidade. Deveriam responder por propaganda enganosa.

Em outros grandes centros do futebol mundial, ninguém mais acredita. Restaram os países africanos, ou da América Central, Oceania, Ásia, que ainda consomem a nossa seleção com a imagem que tinham de décadas passadas.

Difícil mesmo é enganar ao próprio povo brasileiro. Pode-se tentar forjar um novo público, mas sempre acabam esbarrando com algum torcedor de verdade que coloca a seleção no lugar dela, debaixo de vaias.

Não à toa, entramos em campo hoje sob a espada de dois tabus. Não vencíamos nenhuma seleção campeã do mundo desde o final de 2009. Além da seca contra os franceses desde 1992.

Vencer um remendo de seleção francesa, em crise e com o treinador contestado não deveria ser motivo de tanta festa. Mas existe algum proveito que pode ser tirado.

O Brasil melhorou no segundo tempo, efetivamente. A entrada de Hernanes permitiu transformar a posse de bola em lances perigosos, o que foi a sua redenção do pé no peito de Benzema há dois anos atrás.

E sobre a polêmica sobre quem deve ser titular, Lucas ou Hulk, sou mais o primeiro. Taticamente ele pode cumprir função semelhante. Só que, mais veloz, pode tanto tabelar com os demais atacantes e entrar na área, como pode ir à linha de fundo. Além da qualidade indiscutivelmente superior.

Mas Hulk pode ser importante, tanto pela movimentação no ataque quanto pela estatura na área. É uma boa opção, a depender do jogo, para entrar no segundo tempo.

Ou seja, a despeito da zona que a CBF fez ao demitir Mano às vésperas da nossa primeira competição depois de três anos, contratar Felipão para retomar uma ideia esdrúxula de "família", desde que esta seja recheada de volantes pegadores, as perspectivas para o Brasil melhoraram um pouco depois desta vitória contra a França.

Fora a confiança, que lentamente vai retornando.


Valeu,

Bruno Porpetta

domingo, 9 de junho de 2013

Pro dia nascer feliz

Ok! Concordo que, se considerada minha ausência por aqui nos últimos dias, um post com este título em dia de vitória do Flamengo é puxar a brasa para a minha sardinha.

E é mesmo!

Voltar a vencer, do ponto de vista de quem só escreve sobre futebol porque, além de amar o esporte, tem paixão por um clube, é reconfortante.

Mas, como não poderia deixar de ser, procurarei fazer uma análise mais global da coisa.





O Flamengo é, em qualquer tempo, um caldeirão prestes a entornar.

Entra diretoria, sai diretoria e o termo "crise na Gávea" parece até incorporado ao nome do bairro. Como se fosse um ponto de referência.

- Onde fica aquele bar?

- Fica ali perto do "crise na Gávea".

Piadinhas infames à parte, o Flamengo não cultiva paz nem mesmo com uma diretoria de altos executivos do capitalismo nacional, interessados em fazer do clube a máquina de gerar riquezas que ele é capaz de ser.

A tal "gestão profissional" esbarra, muitas vezes, na capacidade que o clube também tem de inflar egos, vaidades e outras questões que passam longe dos interesses de sua torcida.

Demite-se Dorival Júnior pelos altos salários. Contrata-se Jorginho pelos baixos salários. Demite-se Jorginho pelos altos salários de Carlos Eduardo e a péssima relação custo-benefício. E no fim das contas, a única nota oficial do clube é para garantir o emprego de Paulo Pelaipe.

Vejamos.

Está errada a ideia de contar com um comandante caro para dirigir um elenco humilde, mas bem limpinho? Não! Mas os "profissionais" devem, no mínimo, guardar alguma coerência em suas decisões.

A mesma questão se colocou na demissão de Dorival, há apenas dois meses. E a opção feita foi pelo barato. Como o barato saiu caro - no campo, pelo menos - muda-se de ideia.

Ainda assim, não é um completo absurdo mudar de ideia quanto ao treinador.

Faz-se agora uma outra opção, com relação ao elenco. Treinadores caros gostam de times caros. Para consegui-los, é preciso abrir definitivamente o cofre. E aí reside a maior contradição desta diretoria.



O investimento maior feito pelo Flamengo, até o momento, foi em Carlos Eduardo - que pouco joga - e Marcelo Moreno - que graças ao nosso "fantástico" calendário, servirá à seleção boliviana por várias rodadas no Brasileirão.

Agora, se fala em nomes de peso para a defesa, o meio e o ataque. Enquanto isso, o Flamengo dos "profissionais" não comenta uma dívida de R$ 5 milhões com Dorival, pela rescisão do contrato.

Para estas questões, e para acabar com quaisquer dúvidas sobre possíveis rachas na diretoria, esta deveria se pronunciar oficialmente. Tal como qualquer executivo de uma grande empresa faria para detalhar os passos a serem dados, junto aos acionistas da mesma.

No entanto, o mundo desaba, notícias vazam (um filme que a torcida do Flamengo já viu centenas de vezes em administrações anteriores), mas a diretoria vem a público dizer apenas que Pelaipe fica.

É compreensível que, diante da inexperiência dos "profissionais" no futebol, chamar alguém que está habituado ao porco submundo da bola é quase uma imposição. Mas deve-se lembrar sempre do ditado: quem se junta aos porcos, come farelo.

Considerando a esperança que a torcida deposita nos girondinos rubro-negros, mais transparência e menos "intocáveis" são essenciais.

Em meio a tudo isto, às vésperas da parada para a Copa das Confederações, o Flamengo venceu, e lembrando o poema, "amanhã, ninguém sabe o que será".


Valeu,

Bruno Porpetta