quarta-feira, 30 de julho de 2014

O golpe da cartolagem

O Proforte, a Lei de Responsabilidade Fiscal dos clubes de futebol, deve ser votado pelos deputados na semana que vem, em Brasília.

O texto original fala em transparência nos gastos dos clubes, proibição da antecipação de receitas e da perpetuação de dirigentes que poderiam (ou deveriam?) estar em sarcófagos, além da renegociação das dívidas com impostos que batem na casa dos R$ 4 bilhões.



Porém, em reunião com a Presidenta Dilma, os clubes, junto com a CBF, as federações estaduais e a chamada “bancada da bola”, bateram o pé para que se votasse apenas o parcelamento das dívidas.

Sabe por quê? Porque querem carta branca para gastar mais, endividar mais os clubes sem responder por nada disso. Daqui a algum tempo, aparece algum governo bonachão para recomeçar a ciranda.

Para Dilma, o presidente do Botafogo chegou a dizer que poderia literalmente tirar o time de campo. Abandonar o Brasileirão por conta das receitas bloqueadas pela justiça, resultado de gestões esdrúxulas que ele busca referendar. Talvez para não ficar tão escrachada sua cara-de-pau, com seus jogadores cobrando publicamente o que lhes é de direito.

Merecia um “vai fundo”, para ver até onde vai essa valentia toda.

Maurício Assumpção reclama de barriga cheia, pois atrasa os salários de seus jogadores há algum tempo e não pode atribuir os atrasos simplesmente ao bloqueio das receitas do clube.

No Flamengo, voltou à cena o termo “engenharia financeira”, que contrata jogadores caríssimos e aumenta o tamanho do calote.

Enfim, os responsáveis pela calamidade do futebol brasileiro querem tirar o deles da reta e deixar a conta da farra que patrocinam nas nossas mãos.


São estes dirigentes que elegem os Teixeiras e Marins da vida, pois todos ali falam a mesma língua. E assim, fazem os sete gols da Alemanha virarem fichinha.


Valeu,

Bruno Porpetta

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Provação

Vivemos tempos bicudos! Durante décadas os trabalhadores foram perdendo o debate ideológico. A elite fincou o cajado no chão e disse: este país é meu!

Resistimos, sobrevivemos... Pois é, ainda estamos vivos. Este deve ser o ponto de partida pra começarmos a entender algumas coisas, ou produzir novas perguntas.



Não adianta negar. Coube à esquerda a defesa dos trabalhadores ao longo da história. A direita está aí desde a revolução francesa fazendo cagada com o mundo, brincando com a vida das pessoas como se estas fossem copos plásticos.

Diante da tentativa de uma galera, em geral jovens que não enfrentaram ainda a contradição capitalista no mundo do trabalho, de se levantar, a reação é estúpida, estapafúrdia, violenta. Os jovens não fizeram nada além de dizer que as coisas, do jeito que estão, não estão boas. E não estão mesmo, ora bolas!

Alguém ainda quer me convencer que tudo vai bem enquanto pessoas dormem na rua, só porque nossas empresas estão competitivas no mercado e outras bobagens deste tipo?

De qualquer forma, mesmo que entendêssemos que tudo vai bem, se algo não nos agrada, nós temos o direito de falar e, principalmente, de sermos ouvidos.

Até porque há uma distância enorme entre uma coisa e outra. Falar a gente fala, mas o nosso alcance é a família, o vizinho, o cara da quitanda, da padaria. Não que isso não seja importante, mas a nossa voz merece mais do que isso.

Infelizmente, apenas 11 famílias neste país tem direito a falar com todo mundo. Ou seja, só eles podem ser ouvidos. Até porque nossa tímida voz fica perdida no meio dessa parafernália da comunicação de massa.

Pois bem, nos fizemos ouvir a fórceps, no ano passado. Fomos pra rua, por qualquer motivo. Uns pelos 20 centavos, outros por mais que os 20 centavos, outros pela PEC-37, outros contra a corrupção, outros contra a Globo e a Veja, outros contra a PM. Que seja! Finalmente fomos ouvidos.

Aí os caras, com medo de perder o país de controle, além de descer a porrada na galera, prende indiscriminadamente uma turma. Uns por portar Pinho Sol, outros por livros, outros só por gosto mesmo.

Inventam as mais esdrúxulas patacoadas para justificar as prisões. Ora, até "amante de um pai de família" a anedotária Sininho se tornou. As tais 11 famílias fazem tudo para que toda a nossa história se transforme em uma novela, o maior produto de exportação da TV brasileira.

Ou seja, além de todos aqueles adjetivos que pertencem à nossa elite, podemos incluir mais um: jocosa.

Sim, a elite já está nos esculhambando. Querendo nos sacanear. Tirar uma onda com a nossa cara.

Trazendo para o mundinho particular do futebol, já havíamos conversado anteriormente sobre esta "tendência" dos poderosos em nos esculachar. Eles não só estão cagando para o que falamos, como ainda querem rir da nossa cara.

Aproximando ainda mais a lente, vou entrar no mundinho ainda mais particular do Flamengo, o clube pelo qual acabei me apaixonando com seis anos de idade e nunca mais larguei.

A forma com que a atual diretoria trata de algumas questões é igualmente violenta como a porrada nas manifestações. A demissão de Jayme de Almeida é um exemplo bastante eloquente disso.

Pois bem, não basta ser violento, tem que ser jocoso.

Os caras, na onda "retrô" da CBF, se igualando ao que existe de mais funesto no futebol brasileiro e, "coincidentemente", estabelecendo uma relação esquisita entre uma coisa e outra, ressuscitam o Vanderlei Luxemburgo.

E boto a coincidência entre aspas, porque considero bastante esquisito que Luxemburgo assuma o Flamengo logo após ser cogitado para a seleção, em nome da amizade com Gilmar Rinaldi, o novo diretor de seleções da CBF. Esta mesma entidade que leva bastante tempo para regularizar a situação dos dois únicos reforços do Flamengo neste período de Copa.

E convenhamos, o Flamengo possui uma joia chamada Samir no elenco. Apontado por alguns como um zagueiro capaz de estar na próxima Copa, e uma excelente oportunidade de negócios.

Resumindo, esta diretoria - que pertence à elite, tal como todos os outros "caciques" da política rubro-negra - não só violenta o torcedor, como ainda tira uma onda. Tal como sua classe social.

E acho bem provável que "dê certo". Ou seja, o Flamengo não deve cair.

O que vai permear essa caminhada é que parece muito esquisito. Tal como na nossa vida por aí.

Não acredito que estejamos derrotados, muito pelo contrário. Temos dado prova de vida, respirado. O que nos faz pensar que tudo isto, na verdade, é uma grande provação pela qual temos que atravessar.

E vamos...


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 22 de julho de 2014

FlaBrasil

Enganou-se quem pensou que o Flamengo fosse a Alemanha, por conta da cor da camisa. O Flamengo é o retrato do futebol brasileiro, no pior sentido.

Enquanto a CBF tira onda com a nossa cara ao trazer o ex(???)-empresário Gilmar Rinaldi, para ser o cara que “mudará” o nosso futebol, e Dunga, pra abandonar a ideia de família e recolocar as crianças no colégio interno, o Flamengo é o lanterna do Brasileirão.



Aliás, campeonato difícil de assistir depois dos jogos da Copa. É evidente que o futebol brasileiro carece de uma nova direção. Esta turma de Marin e Del Nero deve sair imediatamente.

A diretoria rubro-negra, que parecia um sopro de novidade, se perdeu em suas escolhas. Sucumbiu à política interna do Flamengo e hoje alimenta monstros que colocaram o clube na situação em que se encontra.

A goleada sofrida para o Internacional, embora esteja bem abaixo tecnicamente, foi um novo Brasil X Alemanha para os rubro-negros. No entanto, desta vez, o Flamengo era o Brasil.

Um bando em campo, uma cratera no meio-campo para o Inter passear, corredores enormes atrás dos laterais e outra goleada. Não chegou aos 7 porque o Inter não chega a ser uma Alemanha, embora tenha feito um excelente jogo para os padrões do nosso campeonato.

Ney Franco teve um mês inteiro para organizar esta bagunça. Não importam as razões, ele não conseguiu. O elenco do Flamengo é o quarto mais caro do Brasil.

Em crise, a diretoria não sabe o que fazer. Os antigos caciques do clube se agitam. As organizadas perdem a cabeça e fazem mais bobagens. Mudanças são necessárias e não podem ser como as da CBF, que não mudam nada.


O Flamengo tem tempo, pode subir na tabela, mas não pode apenas se fiar na camisa e na torcida. Um bom começo é baixar o preço dos ingressos ao nível do espetáculo, que não vale nem um galo.


Valeu,

Bruno Porpetta

domingo, 20 de julho de 2014

Nem o Dunga merece esse escárnio

Amigos e amigas, não pensem que, em virtude do título, farei qualquer defesa do nome do Dunga para treinador da seleção, ou tratarei do cara como um inocente nesta ardilosa tiração de sarro com a nossa cara por parte da cúpula da CBF.

Sou radicalmente contra o nome do Dunga! A passagem dele pela seleção foi melhor do que a última do Felipão, nada além disso.



Como quem anda pra trás é caranguejo, o nome do Dunga é inadmissível. Não foi por falta de "amor à camisa" (pretexto utilizado na primeira vez que o anão foi chamado à tarefa de organizar o bando) que a seleção, e o futebol brasileiro por consequência, caiu.

Resumindo, não aprendemos lição alguma com a surra alemã. Pelo contrário.

Na terça-feira, Dunga será apresentado como novo treinador da seleção. A partir desta data, reinstauramos a igrejinha no escrete. Sem malandros, sem canalhas, sem qualidade.

O capitão do tetra preza pelo bom comportamento. Se você, como eu, achou ridículo o nosso comportamento de escolinha ao entrar em campo, com as mãos sobre os ombros do companheiro à frente, agora todas elas estarão erguidas aos céus.

A questão é que, observando bem, isso tá com cara de provisório, de "vamos ganhar tempo enquanto arrumamos outra solução estapafúrdia". Por isso digo que, mesmo que contrário ao Dunga, reconheço que ele já levantou um caneco e merece um pouco de respeito. Não merece mais esta palhaçada da CBF.

Se você acredita em Deus, sabe que ele está vendo. E não cabe a ele mudar nosso futebol.

É o fim do futebol brasileiro? Não! Enquanto houver um punhado de moleques batendo bola na rua, na praia, no campinho de terra batida ou até no esgoto, o futebol brasileiro não acaba.

O futebol pertence a esses moleques, não à CBF. Basta colocarmos isso nas nossas cabeças.


Valeu,

Bruno Porpetta

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Saudades do Costinha

Olha, antes de qualquer coisa, não me preocupei em momento algum em ser "politicamente correto", tampouco em ofender quem quer que seja. Mas, convenhamos. Costinha era sensacional!

Ele é do tempo de um humor mais "incorreto", porém com algum limite para o bom senso e sem nenhum para a diversão. Costinha já me fez morrer de rir um milhão de vezes. Muito mais que os parcos mil gols de Pelé, até porque ainda não era nascido.

Só que Costinha morreu, e já o acompanham no panteão dos caras mais engraçados do país outros companheiros de humor da época, como Chico Anysio, Tião Macalé, Mussum, Zacarias, Rony Cócegas e outros. Sem eles, o Brasil perdeu um pouco da graça.



Se tornou um país que, dentre outras coisas, não deixa a juventude ser rebelde. Ora, mas se a rebeldia é o traço mais marcante da juventude, por que reprimi-la?

Porque os caretas, babacas e poderosos venceram.

Estão todos por aí espalhados. Nos governos, nas TV's, na dita justiça, nos jornais,... no Ministério da Justiça!

Se estão em toda parte da nossa vida, por que não haveriam de estar no futebol?

Pois estão. E na ausência da nata do nosso bom humor, se põem a fazer graça. Sem nenhuma graça.

O anúncio de Gilmar Rinaldi como novo "diretor de seleções" da CBF é um exemplo clássico de escárnio indevido.

Em tempos de 7x1 na orelha, em algum lugar sério cairia o Rei de Copas, o de Ouros, o de Espadas, o de Paus... não ficaria nada! Não só não caíram, como riem da nossa cara.

Gilmar foi um grande goleiro. Salvou a pele do meu clube na estreia do Casagrande, contra o Corinthians no Pacaembu. Em jogo que poderíamos ter levado uns cinco, mas só levamos um graças a Gilmar.

Fora isso, não muito mais. Foi o terceiro reserva na Copa de 94, sendo portanto um tetracampeão.

Depois disso, virou Gilmar Rinaldi. Ganhou seu sobrenome de volta e passou a agenciar jogadores. Teve também uma passagem curta como "diretor de futebol" do Flamengo, sem muito sucesso. Sabe quando batemos na Lei Pelé pelo excessivo poder concedido aos empresários no futebol? Então, Gilmar Rinaldi é um deles. Foi empresário, inclusive, de Adriano, que se tivesse alguém decente a seu lado para orientá-lo, seria titular da seleção nesta Copa.

Ou era empresário, pelo menos até a noite anterior ao anúncio.

Pois é... a noite anterior! O momento em que ele, por SMS, comunicou aos seus atletas que estava deixando de agenciá-los porque estava dando um passo importante na carreira. Ganhando menos, diga-se de passagem.

Pelo menos avançou um pouco em relação à "cultura do fax" no futebol. A tecnologia evoluiu tanto e o futebol tão pouco que os clubes ainda confirmam suas contratações por fax. Agora, o novo "diretor de seleções" da CBF os dispensa por SMS. Estamos caminhando...

Caberá a ele, que ainda possui licença da FIFA para negociar jogadores, escolher quem vai convocar a maior mola propulsora de bons negócios no futebol do país: a seleção brasileira.

E na coletiva do anúncio falam ele, Marin, Del Nero e Gallo, visto agora como o novo homem forte do futebol brasileiro, o cara da base.

Gallo impressiona a imprensa citando a palavra "Gap" umas 10 vezes. Nesta hora, percebemos o tal do "complexo de vira-latas" que soterra nossos veículos de comunicação, onde quaisquer três letrinhas, desde que estejam em inglês, conferem status ao sujeito que as pronuncia.

E assim, mais uma vez, nada muda. Aliás, mudar pra quê? Pra turma perder a "oportunidade de trabalhar pelo bem do futebol brasileiro"? Não pode, a caneta e os contratos devem estar nas mãos deles. Só deles.



Agora repara. Leia de novo, se achar que for preciso. Não é um roteiro de comédia? Um texto que caberia num Zorra Total da vida, ou qualquer outro programa infame da TV brasileira, rotulado como humor?

Pena que não é.

Eles estão mesmo nos "zuando". A esta hora devem estar, entre copos de whisky e charutos, rindo até dar cãimbra no abdômem.

Só nos cabe, nós que amamos essa porra desse futebol, lutar para arrancar esses pulhas dali. Derrotar os caretas, babacas e poderosos. Retomar o futebol para o povo.

Caso contrário, em breve estaremos, pela primeira vez, fora de uma Copa. E enquanto assistimos a festa dos outros pela TV, eles continuarão rindo. Sem nenhuma graça.



Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 15 de julho de 2014

O craque sumiu?

O título alemão na Copa levantou a lebre: será o fim do craque?

Só se fala em jogo coletivo, bola de pé em pé, organização, planejamento, tática e até software. O que significa isso tudo?



Chovendo no molhado, o futebol é mesmo um esporte coletivo. Sem participação ativa dos três setores do campo, não tem jogo. Esta participação, hoje, não se limita a guardar posição e só defender ou só atacar.

Não se descobriu a pólvora quando se retomou a ideia de que o passe é o fundamento mágico do futebol. Driblar é bonito, fazer gol é heroico, mas o passe é que determina se temos um time ou um bando de bons jogadores.

As últimas duas Copas consagraram esta afirmação. As seleções que tocam mais a bola foram campeãs. A Espanha tinha dois craques no meio-campo. Os catalães Xavi e Iniesta, que careciam de alguém mais qualificado à frente, toparam ser chamados de chatos e foram campeões na África do Sul.

Na nossa Copa, não tínhamos um craque no time campeão. O que mais se aproxima disso é Schweinsteiger, mas não chega a tanto. Se o meio-campo alemão não tinha os craques espanhóis, tinha muito mais qualidade à frente. Thomas Muller é fantástico!

A Alemanha prima pelo equilíbrio e bom funcionamento dos três setores. A Copa do zagueiro Hummels foi a garantia de bom futebol na defesa e Boateng foi fundamental na final.

No entanto, do outro lado tínhamos um craque. A expectativa criada em torno de Messi, ainda mais quando Neymar saiu, foi muito maior do que o seu corpo permitiu. Messi foi decisivo no início e importante no fim, mas se esperava que ele fosse mais que isto.


A Copa não acabou com o craque. A vitória alemã não representa isso, mas sim a importância do time. Se a Alemanha tivesse um craque, do porte de Beckembauer, neste timaço, a Argentina, mesmo organizada, não aguentaria dez minutos.


Valeu,

Bruno Porpetta

domingo, 13 de julho de 2014

Justo, justíssimo

Acabou da forma mais óbvia para quem sabe de futebol. A Alemanha é mais time que qualquer outra seleção, tem um treinador monumental no banco, opções aos montes para mudar uma partida.

Não à toa o gol saiu em jogada pela esquerda de Schurrle para a conclusão de Gotze, ambos saídos do banco de reservas.



O modelo alemão de organização, que ultimamente virou a menina dos olhos da mídia brasileira, é bom, mas não pode ser simplesmente copiado pelo Brasil. Imaginem só se houver apenas um clube multimilionário no Brasil e todos os bons valores dos demais são contratados por ele?

Pois é. Em nome da Copa do Mundo, a Alemanha tem um superclube - Bayern de Munique - e outros que lutam para quebrar a hegemonia dele. O último foi o Borussia Dortmund, mas não está dado que continue sendo por muito tempo, vai faltar "perna" em algum momento.

Noves fora, a Alemanha enfrentou um adversário à altura de uma grande final de Copa. A Argentina valorizou o título alemão. Muito mais valoroso que sua passagem para a final, onde enfrentou um bando de camisas amarelas amontoadas no campo.

A Argentina teve a chance de abrir o placar no primeiro tempo, mas Higuaín deu mole. Não é todo dia que se dá um presente desses como o que Kroos deu. Aliás, Kroos não foi bem no jogo, a despeito da grande Copa que fez.

É preciso reconhecer a Copa monstruosa de Mascherano. Assim como o Barcelona deve pensar que o lugar dele não é na zaga, mas sim à frente dos zagueiros.

Messi, apesar de não ter decidido hoje, pode ser considerado um dos grandes nomes da Copa. Quando não conseguiu decidir, puxou a marcação, abriu espaços.

Porém, coube a um menino decidir a parada. Mario Gotze - uma aposta muito grande do futebol alemão, que surgiu no Borussia, mas foi comprado pelo Bayern - com apenas 22 anos fez o gol que sacramentou o título alemão na prorrogação. Quando a Argentina tinha pouca perna pra acompanhá-lo. Aliás, este time alemão, além da técnica, sobra fisicamente.

Pois bem. Venceu quem se preparou melhor, quem teve a paciência de perder uma Copa em casa por um projeto de reestruturação do seu futebol, quem melhor dialogou com a cultura brasileira, com os hábitos locais. Mesmo que este tenha sido um "golpe de marketing", foi muito mais eficiente que as inúmeras selfies no Instagram de auto-proclamação. Venceu uma seleção.

Se vamos aprender as lições disso tudo? Não sei. Acho muito difícil, inclusive.

Seria necessário cair muita gente pra isso. Muita gente disposta a continuar se pendurando nas tetas do futebol brasileiro.

Parabéns, Alemanha!


Valeu,

Bruno Porpetta


sábado, 12 de julho de 2014

Uma final do tamanho da Copa

A Copa no Brasil foi maravilhosa. A melhor que eu vi na minha vida (acompanho Copas do Mundo desde 86).

Ao contrário do que se pensava, os aeroportos funcionaram bem, os estrangeiros foram muito bem tratados e falam muito bem do país lá fora, além de desbaratar a quadrilha internacional que vendia ingressos no mercado paralelo e tinha "ligações" com a própria FIFA. Ou seja, os caras comandam o esquema oficial e oficioso de ingressos.



Não devemos esquecer também daquilo que não deu certo. Das violações aos direitos humanos, das remoções indecentes de famílias de suas casas, da privatização do espaço público, da subserviência às tais exigências da FIFA. Aliás, quem deve ser banida do futebol é a entidade que morde muito mais que o Suárez.

É bom que tiremos esse tempo pós-Copa para acertarmos as contas de tudo que não prestou. Sem os devaneios da tucanalha, obviamente.

Mas, do ponto de vista esportivo, a final da Copa entre Alemanha e Argentina é do tamanho do que foi a competição. Com nível técnico bastante superior a outras edições, a final opõe o time mais organizado e de alta qualidade da Alemanha, com o time mais raçudo e aplicado, que conta com o maior craque do mundo, da Argentina.

O que eu acho?

Acho que dá Alemanha. Ao menos, ela chega como favorita. Mas final, sabe como é, não dá pra prever muita coisa. É um jogo só, e qualquer coisa pode acontecer.

Por quem eu vou torcer?

A despeito dos debates que tenho visto sobre as razões para se torcer por um por outro, eu não tenho motivo nenhum. Vou torcer pela Argentina porque eu quero.

Mas não vou negar, tenho alguma idolatria por Maradona. Alguma? Toda, quis dizer.


Valeu,

Bruno Porpetta

A honra em poucas palavras

Dedicarei ao jogo entre Brasil e Holanda pouquíssimas palavras.



Proporcionais à importância da partida. Ou seja, quase nenhuma.

É pra salvar a honra da seleção brasileira? Desculpe, mas não salva nada.

Mas vamos lá, assistir ao baba. Afinal de contas, a gente gosta, né?


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Meu primeiro baque

Pra quem não sabe, nasci em Santos. Naquela cidade, onde vivi meus primeiros 23 anos de vida, quem não gosta de futebol é um insensível capaz de chutar o andador do avô.

Mesmo não torcendo pelo time mais famoso da cidade (devo confessar aqui e agora que tinha uma queda pela Portuguesa Santista, indo diversas vezes ao Ulrico Mursa assistir a jogos de qualidade técnica próxima à temperatura média do inverno russo), não havia como ser imune ao Santos FC.



Já corri da torcida deles por vestir a camisa do Flamengo, em pleno Canal 5 e durante o dia. Não era fácil torcer por um clube distante dali, era visto como um autêntico traidor das noções mais básicas de cidadania de um santista.

Mesmo assim, fui a vários jogos do Santos na Vila Belmiro. Acompanhava meu pai, meu irmão e meu avô nas arquibancadas da Vila, pois era um programa bacana pra se fazer em família, mesmo que eu tivesse que conter qualquer sinal de euforia diante de um revés santista.

Mais velho, já pude ir a jogos do Flamengo na Vila. Na arquibancada visitante, podendo gritar à vontade. Mas esta é uma outra história.

Certa vez, na escola, tínhamos que escolher uma disciplina para o trabalho da Feira de Ciências. Eu e mais uns cinco malucos por futebol escolhemos Educação Física e nosso trabalho seria sobre o Santos.

Foi maravilhoso! Conhecemos os vestiários, os jogadores (em especial o Guga, artilheiro do Santos à época), o gramado e todo o clube.

Batia uma certa satisfação em poder visitar às instalações do clube que dava tanto orgulho à cidade. Me amarrei mesmo nisso.

Em dado momento do "passeio", fomos à sala de troféus.

Era 1992, e o Santos não conquistava um título desde 84. Ou seja, um prato feito para minha sanha em sacanear os santistas. Fui à sala de troféus e saí de lá com rinite alérgica, de tão velhos os coitados.

Mas o grande impacto que tive não foi com troféu algum. Foi com um quadro.

A pintura era um retrato de Pelé. De costas, com o número 10 estampado na camisa, no gramado do Maracanã.

Ao fundo, o placar do jogo apontava Flamengo 1 x Santos 7.

A partida em questão era pelo Rio-São Paulo de 1961. Ou seja, dezoito anos antes do meu nascimento.

Não vi o jogo, claro. Mas olhar àquele quadro me deu uma tristeza tão grande no momento, que me senti como se estivesse na arquibancada do Maracanã, com lágrimas nos olhos.

É duro ver seu time perder por 7 a 1, dentro de casa.

De repente, parei de olhar o placar e passei a olhar para Pelé. Pensei que, estando lá, eu teria visto ele jogar.

Teria a oportunidade que todos da minha geração gostariam de ter. Parar de ouvir conversinha do pai, do avô, dos paralelepípedos da velha cidade. Poderia bater no peito e dizer: "Eu vi Pelé jogar!".

Fiquei imaginando o espetáculo que deve ter sido. O show que ele deve ter dado. O aplauso constrangido que eu seria obrigado a dar.

Depois da dor inicial, a sensação que o jogo que testemunharia não era uma simples goleada, era parte da história do futebol.

Este quadro me ajuda a relativizar um pouco a vergonha pelo jogo da seleção brasileira. Queiramos ou não, a Alemanha ajudou a escrever a história do futebol no Mineirão.

Mas este, por mais que tenha doído muito, pelo menos eu vi.



E não é por nada, não. Te juro que, se o Brasil estivesse todo de branco, eu me sentiria um pouco vingado.



Valeu,

Bruno Porpetta

Barbosa, descanse em paz

Não dá pra amaciar. A goleada alemã sobre nossas cabeças foi a pior tragédia da história do futebol brasileiro.

Sem dúvida, o trauma de 50 ainda tinha peso. Nós temíamos perder a final da Copa no Maracanã. A diferença é simples: em 50, tínhamos time para ir à final. Inclusive, chegamos à final após golear a Suécia por 7 a 1.



O time que cercava Neymar não era o camarão na empada. Até podia chegar à final, mas chegaria com a camisa tão somente. Os alemães acabaram dando uma lição: basta desta corja que dirige o futebol brasileiro! Não basta dizer fora fulano ou beltrano, todos tem que sair!

Era visível que Felipão estava absolutamente perdido. Perdeu o controle, perdeu a razão, perdeu o tempo. Tempo este que agora será contado em gols da Alemanha. Não será incrível que passemos a calcular quantos gols da Alemanha levamos para ir de Madureira à Central.

Só que Felipão não foi parar lá à toa. Alguém o contratou. Contratou por que queria um centroavante fixo na área? Não, porque tinha medo de chegar à Copa com um treinador sem experiência, coincidentemente, contratado pela mesma turma. Só variaram as moscas.

Se havia algo para nos envergonhar nesta Copa, que foi fantástica, é buscar um hexa sem a bola passar no meio-campo, acreditar que “famílias” formam seleções, assistir a esta turma da CBF esculachar o futebol brasileiro.

Temos saudades dos nossos clubes no Brasileirão, mas sabemos que a Copa é um oásis de bom futebol nos nossos gramados. Não formamos mais craques aos montes. A seleção não está tão distante do que temos de melhor hoje.

Esta tragédia no Mineirão fez o Maracanazo ficar muito pequeno. Deu saudade do nosso futebol. Deu saudade de Barbosa que, feliz e finalmente, está absolvido.


Assim enterramos, de uma vez, a derrota em 50.


Valeu,

Bruno Porpetta

domingo, 6 de julho de 2014

A outra metade da laranja

Há pouco mais de um mês, prestei reverências a Washington, ex-atacante do Fluminense, da lendária dupla de ataque que ganhou o apelido de Casal 20.



Agora, as reverências são para a outra metade dessa laranja. O craque Assis, o autor do gol do título carioca de 83, também se foi.

Além da torcida tricolor, todo o país deveria se consternar por, em tão pouco tempo, termos perdido uma dupla de ataque infernal dessas.

Fred, jogue por eles!


Valeu,

Bruno Porpetta

sábado, 5 de julho de 2014

A Reforma da Previdência

Inicialmente, este artigo se chamaria "A esperança venceu o medo", baseado no slogan da campanha de Lula em 2002 que, por sua vez, decorreu das "sábias" palavras de Regina Duarte, quando disse que tinha medo do PT acabar com todos os "avanços" da economia brasileira durante a era FHC.

Do pânico provocado pela péssima atuação da seleção brasileira diante do Chile, a vitória de ontem sobre a Colômbia deu algum fio de esperança para nós, torcedores.



Independente da pouca variação tática, do baixo repertório de jogadas, da centralização do jogo em Neymar, ontem vimos uma seleção que enfrentou o bom time colombiano e controlou a partida.

Até levarmos o gol - e aí está outro grande problema, o Brasil sente demais os gols que leva, se contra o Chile foi ainda no primeiro tempo, desta vez, pelo menos, foi no segundo - e a Colômbia crescer no jogo. Deu susto, mas foi.

Neymar nem ia tão bem, mas foi o autor da cobrança de escanteio que resultou no gol de Thiago Silva (que, alíás, foi importantíssimo pra ele e pra seleção) e sofreu a falta do gol de David Luiz.

Por estas e outras, fica evidente o quão fundamental é Neymar.

Pois bem, após a esperança vencer o medo da eliminação, tal como em 2003, logo vem um banho de água fria. Na época, a reforma da Previdência, que criou uma confusão danada na esquerda com o cumprimento de uma agenda conservadora por parte do governo recém-eleito e recheado de esperança.

A reforma da Previdência do jogo de ontem foi a lesão de Neymar.

Um banho de água fria nas esperanças do povo brasileiro.

Ao saber da notícia do corte, Fred fez cara de espanto, de descrença. Saiu-se com a pergunta: "Você tá brincando, né?"

Exatamente a mesma cara e a mesma pergunta que eu fiz. E que muitos devem ter feito.

Fica no ar aquela sensação de "fodeu".

Enfrentaremos a maior seleção desde o início da Copa, e sem Neymar. Pra piorar, sem Thiago Silva, suspenso.

Bem, agora é com a camisa mesmo. E só!

Sobre a entrada do Zuñiga em Neymar, foi dura, mas não desleal. Ele olhava pra bola e atingiu o brasileiro. Então parem de pilhar o cara.

Ele não é o grande vilão de uma hipotética derrota na Copa, até porque esta história de vilão é coisa da Globo, que adora fazer novela com tudo.

Quanto aos insultos racistas à Zuñiga pelas redes sociais, é mais um triste episódio de nossa má educação, que vaia a Dilma, vaia o hino do Chile e ofendeu até mesmo o Marcelo, quando este fez um gol contra.


Valeu,

Bruno Porpetta