segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Trocando as moscas

Fazer que se está mudando tudo é a melhor forma de não se mudar nada.

Hoje, assistimos a uma faxina geral na FIFA, Conmebol, UEFA, federações nacionais, etc.

 Foto: Eny Miranda/GOVERJ

O ex-todo poderoso Blatter e seu provável sucessor Michel Platini foram punidos com uma suspensão de oito anos fora de qualquer atividade relacionada ao futebol.

Muito bem! Estaríamos assistindo a uma faxina ética na entidade que comanda o futebol no mundo?

É bom observar mais. A FIFA é presidida, desde o afastamento de Blatter e até 27 de fevereiro, quando ocorrerá o congresso eleitoral extraordinário, pelo camaronês Issa Hayatou, sobre quem pesam também uma gama enorme de acusações.

O próximo presidente da FIFA será eleito pelo mesmo colégio eleitoral. Ou seja, pela maioria de votos dentre as mais de 200 federações e confederações nacionais, além das confederações continentais.

O que ninguém vem questionando, até o momento, é justamente o papel das entidades que compõem o colégio eleitoral.

Não vou reproduzir o discurso mesquinho e racista de quem acha que o voto do Gabão não pode valer o mesmo que o da Itália. O que distancia Gabão e Itália é a geopolítica mundial, a economia dos países. O futebol, dentro de campo, é o mesmo. Uns com mais qualidade, outros com menos. Mas chutar uma bola é uma prerrogativa de oito a cada dez crianças em todo o mundo.

Mas as eleições na FIFA, diante do cenário econômico dos países e, por consequência, de suas federações, são marcadas pela troca de favores. Pela ajudinha financeira, travestida de auxílio no "desenvolvimento do futebol".

Ver jornalistas exaltando o papel de João Havelange na popularização do futebol nos quatro cantos do mundo chega a ser aviltante.

Como se o centro do império não tivesse intenção alguma de colocar a periferia no bolso e, assim, manter o controle sobre o vetor principal de onde a grana transita.

Isso é mais antigo que o guaraná com rolha.

João Havelange é, no máximo, um cara "moderno". Ou seja, quando ninguém ainda sabia como aquele negócio podia dar um belo dinheiro, Havelange foi lá e mostrou como. Ninguém tá nem aí pro esporte, esqueça disso.

O centro da questão, a meu ver, está justamente nas regras pouco democráticas que definem os dirigentes das federações nacionais e continentais.

O que nos remete ao cerne de tudo isso. Os clubes!

A falta de democracia e transparência começa na célula do organismo. Os clubes são microcosmos do que é a FIFA, a Conmebol, a CBF, etc...

Ou seja, as eleições da FIFA mudarão o presidente, o secretário-geral e outros... Para não mudar nada!

E a imprensa ainda acha que estão fazendo "reformas"...


Valeu,

Bruno Porpetta