sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Agora dá pra parar de encher o saco?

A seleção de Mano Menezes conseguiu, enfim, sua primeira vitória em clássicos entre seleções. Ou, como diria a dupla Globo-CBF, um "superclássico", em mais uma invenção midiática estapafúrdia.

Mais que um título, um time


Com contrato firmado entre as duas entidades máximas do futebol nos dois países, que envolvem interesses comerciais da Vênus Platinada, Brasil e Argentina se enfrentarão nos próximos oito anos, contando apenas com jogadores que atuam nos dois países.

Dadas as condições econômicas de ambos, o que naturalmente respinga nos campeonatos locais, o Brasil leva imensa vantagem no confronto.

Não à toa, os melhores jogadores do time argentino jogam, justamente, no Brasil.

Apesar das fragilidades do adversário, o grande mérito da previsível vitória foi a gestação de um time.

O jogo criou os famosos "bons problemas" para Mano, além de parecer solucionar velhas carências.

Se todo bom time começa por um bom goleiro, Jefferson se encontra em fase muito melhor que o "inquestionável" Julio Cesar. A única deficiência do botafoguense, com relação ao interista, é a reposição de jogo, mas embaixo dos paus tem se dado bem.

Na zaga, se Dedé já tinha cavado seu espaço, Rever não ficou muito atrás. Os dois, inclusive, jogaram bem a ponto de não permitir que os titulares, Lúcio e Thiago Silva, deem mole.

Outra posição, cuja carência é antiga, é a lateral-esquerda. Se Marcelo se firmar, é o titular. Se não, Cortês chegou chegando. Que belíssima atuação!

Um lado esquerdo pra assustar o adversário


Rômulo é outro que merece mais chances. Até porque, jogou muito preso à marcação, diferentemente do Vasco, onde tem mais liberdade para encostar no ataque e armar jogadas. Jogando com um cão de guarda atrás, pode atuar como no clube, e assim deveria ser observado.

Um grande destaque foi Lucas, no momento em que se procura um meia de ligação, ele foi muito bem. O que se pode discutir é o estilo do meia, pois Lucas joga em velocidade, e nem sempre o jogo pede rapidez. Esta capacidade de ditar um ritmo mais cadenciado só se verifica em Ronaldinho ou Ganso, com preferência para o segundo que é meia de ofício. O Gaúcho fica melhor no ataque. Quem pode ter perdido espaço é Robinho.

Jogando bagarái...


Outro que, na minha modesta opinião, se não fizer muita bobagem e se empenhar, é o titular da camisa 9 da seleção para a Copa 2014, é Fred, do Fluminense.

A idade é boa, bola ele tem e seu estilo é exatamente o que precisamos. Um autêntico centroavante!

In Fred we trust


Podem dizer que enlouqueci (nada que eu não esteja acostumado), mas acho válido insistir com ele.

Enfim, começamos a ter um desenho de time, e temos tempo até a Copa.

Portanto, podemos parar de pedir a cabeça de Mano? Como diria a campanha de Lula, em 2006: "Deixa o homem trabalhar!".

Para não perder a chance do pitaco, escalo meu time também, à luz do momento, óbvio: Jefferson; Maicon, Lúcio, Thiago Silva e Marcelo; Sandro, Rômulo e Lucas; Neymar, Fred e Ronaldinho.



Pronto, agora podem começar a me xingar!


Valeu,

Bruno Porpetta


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Consolação

Existem os que foram ao show do Metallica, ontem, no Rock in Rio, e podem tentar se achar aí no meio da galera.

Os que não puderam ir e viram pela TV, como eu.

E os que sequer assistiram pela TV. Ou porque não tiveram oportunidade, ou porque tinham que dormir cedo.

Seus problemas acabaram!

Tá aí, na íntegra, a magnífica apresentação do maior expoente da cena thrash de São Francisco, California.

Com vocês, este monumento do metal chamado METALLICA!!!






Valeu,

Bruno Porpetta

A força que só eles tem

As recentes greves dos trabalhadores, nas obras do Maracanã e Mineirão, mostraram muito mais que a insatisfação dos mesmos com as péssimas condições de trabalho a que são submetidos.

O povo unido jamais será vencido


Mesmo com a decisão judicial que declarou como abusiva a greve no Rio, é evidente que qualquer paralisação, diante dos prazos estabelecidos e o desespero dos governos e dirigentes envolvidos para convencer aos mandatários da FIFA que tudo vai bem, deixa todo mundo de cabelos em pé.

Demitir todo mundo, eles não podem. Até porque isso prejudicaria ainda mais o cumprimento dos prazos e para eles o tempo é, literalmente, dinheiro.

E a questão principal reside basicamente aí. Juntamente com seus respectivos sindicatos, os trabalhadores tem a faca e o queijo na mão para conquistar uma imensa gama de benefícios que podem mudar suas situações de vida por um bom tempo, após o término do serviço.

Suas reivindicações, além de justas, encontram amparo em parcela da sociedade que questiona a forma como o processo de realização da Copa vem sendo conduzido no Brasil. E toda essa dinheirama (em boa parte, pública) gasta com o evento deve ser melhor distribuída. Ao invés de quase tudo no bolso de dirigentes do futebol e empreiteiras, os trabalhadores que tornarão tudo isso possível também merecem o seu bom quinhão.

O povo quer uma Copa que promova melhorias sociais para o Brasil. Não quer uma Copa que remova criminosamente as pessoas de suas casas, que exclua os torcedores dos jogos e que trate os operários dos estádios como animais. O povo brasileiro exige respeito, e isso não está se verificando até o momento.

Mesmo com a intransigência conservadora do Judiciário, até o julgamento da greve declará-la ilegal, mais tempo se passa, e em algum momento as empreiteiras e governos terão que ceder.

Considerando que a falta de respeito não se restringe ao Rio de Janeiro e Belo Horizonte, pode-se, inclusive, organizar um movimento nacional nas 12 cidades que abrigarão os jogos, reivindicando melhores salários e condições de trabalho. Quanto mais unidos, maiores conquistas terão.

Além disso, este movimento pode se articular a outros organizados para lutar pelo legado social dos megaeventos. Esta luta não é só dos operários, é de toda a população.

Caso isto não ocorra, o povo está fadado a assistir a uma Copa em seu país sem poder sair de casa, quando esta ainda existir.

E a Copa se vai, fica o Brasil. Com os mesmos problemas de sempre que, quando nos venderam a ideia de sediar tais eventos, prometeram que seriam resolvidos.

Fica a dica.


Valeu,

Bruno Porpetta


sábado, 24 de setembro de 2011

Enfim, a vitória

Depois de dez jogos sem vitórias, o Flamengo, enfim, venceu!

O futebol não melhorou uma vírgula sequer, mas pelo menos o segundo tempo foi de muita disposição, coisa que absolutamente não houve no primeiro.

Bom para aliviar a pressão e voltar a jogar bola, porque são 11 jogos que o Flamengo não joga futebol. É um bando de gente em campo, sem saber exatamente o que fazer.





Mas, ao menos, foi um grande alívio para a torcida.

Eu que o diga!


Valeu,

Bruno Porpetta

P.S.: No vídeo, a banda Del Rey, com O Portão, de Roberto Carlos

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O fim de uma parte minha

Ontem, o R.E.M. anunciou que vão encerrar suas atividades após 31 anos de bons serviços prestados ao rock'n roll.

Escolhi o primeiro enorme sucesso da banda, porque é uma canção que me diz muito respeito.

Lembro-me que esta música "bombava", em uma época modestamente feliz da minha vida.

Tempos de Satélite, clube de funcionários do Banco do Brasil, em Itanhaém, no litoral paulista.

À época, ainda conseguia minhas medalhas em competições de tênis de mesa e totó.




Bons tempos! Estes, que o R.E.M. marcou fortemente com esta música.

O fim da banda, confesso, me deu um acesso de nostalgia.

Como disse um amigo, o rock'n roll perdeu QI. Não duvido disso.

Porém, como já cantava Michael Stipe, em um sucesso anterior a este, inclusive: "It's the end of the world, as we know it..."

Hora de sair dos palcos, para ficar na memória!


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Futebol feudal

Os escândalos acontecidos nas séries C e D do Brasileirão, expõem várias de nossas feridas.

Se considerarmos que, com pouquíssimo incentivo por parte da CBF, os clubes que disputam as rabeiras do nosso futebol confirmam o que é regra no nosso futebol - os operários da bola recebem salários aviltantes para exercer sua profissão.

Em grande parte das vezes, jogadores de futebol profissionais de clubes de pouca expressão nacional, sem os holofotes da grande mídia, acumulam outros trabalhos para ter um mínimo de condições dignas em suas vidas.

E  o salário, ó...


Diante de tal situação, qualquer incentivo que apareça, venha de onde vier, é o peru de Natal destes atletas.

É aquela coisa, não é possível dissociar esta situação de uma condição mais geral do país. Mas ajuda a desmistificar a ideia de que jogador de futebol ganha "muito".

Os jogadores das séries A e B, cujos direitos de transmissão são disputados a tapa (leva quem tem a mão maior, no caso, a Globo) e tudo o que gira em torno movimenta vários zeros anteriores à vírgula, recebem milhares (ou até milhões) de reais por mês, são a exceção no futebol brasileiro.

O aceite de qualquer ajuda, se possibilita um ganho extra(ordinário) para eles, do ponto de vista esportivo é altamente questionável.

O problema é que, vendo tudo o que aconteceu, não dá pra ficar com cara de paisagem e tratar como se nada tivesse ocorrido.

(para entender melhor, acesse os links abaixo)

http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-c/noticia/2011/09/mais-polemica-arbitro-relata-dialogos-entre-jogadores-de-fortaleza-e-crb.html

http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-d/noticia/2011/09/polemica-na-serie-d-anapolina-quer-anulacao-do-jogo-com-tocantinopolis.html

Esta é, até o momento, a postura da entidade máxima do nosso futebol.

O mesmo Estatuto do Torcedor, utilizado para barrar quaisquer menções depreciativas ao sacrossanto nome de Ricardo Teixeira nos estádios, ainda não foi reivindicado pela CBF para coibir este tipo de arrumação vil e desrespeitosa como as vistas nas séries C e D.

Ele andou dando o ar da graça nas séries C e D


O torcedor, eternamente feito de palhaço, pagou para ver futebol e acabou vendo um circo. Se havia tal promoção (pague por um espetáculo e veja dois), o coitado que foi assistir a seu time do coração não foi avisado.

Você pode estar se perguntando: mas isso não acontece com frequência na Europa? E na primeira divisão?

Sim. Lá as coisas funcionam mais ou menos assim: existem vários sites e casas de apostas, que movimentam milhões de euros, e a depender de quem está investindo - aí deixa de ser aposta, passa a ser investimento - os resultados são alterados de acordo com os palpites do malandro.

Qual é a diferença então?

A diferença é que Bernard Tapie, do Olympique Marseille, foi preso. A diferença é que La Vecchia Signora, a Juventus de Turim, foi jogar a terceira divisão italiana. A diferença é que lá, as entidades que dirigem o futebol, minimamente se mexem diante destas situações.

Não só o futebol, mas o Brasil como um todo, experimentam um "desenvolvimento" nunca antes visto na história deste país. Mas nossas dimensões continentais, às vezes, nos impedem de ver o quão atrasados estamos ainda nos grotões.

Foi mal aí, mas sabe como é...


São camponeses e lutadores mortos, corrupção desenfreada, abandono nos hospitais e postos de saúde, escolas em precárias condições, um povo subjugado pela fome, a miséria e o descaso. Tudo isso, sem punição aos coronéis que mantêm tais condições vivas para sua própria sobrevivência. No futebol, tal como em vários outros aspectos, o Brasil encontra seu espelho. Um pedaço do país que sequer foi apresentado ao tal do capitalismo.

Mas o capitão-do-mato do nosso futebol, tem muito mais com o que se preocupar. Com sua seleção fazendo negócios no exterior através de amistosos, e com seus contratos milionários com a Globo, que monopolizam a transmissão e impõem horários nada adequados aos jogos.

Antes fosse só isso. Ainda tem as suspeitas negociatas na Suíça, denunciadas pela BBC de Londres, além de um crescente movimento pedindo sua cabeça por aqui.

Nem a Globo tem conseguido sustentá-lo.

Enquanto isso, temos uma Copa saindo do forno. E a chapa só esquenta nossos traseiros.

Continuaremos sentados?


Valeu,

Bruno Porpetta


domingo, 18 de setembro de 2011

Porque o Vasco voa?

Pense comigo.

Vinte times entram em um campeonato onde um será campeão e outros três vão, junto ao dono do caneco, à Libertadores da América. Digamos que este seja o filé mignon da competição.

Para poucos, o limite é a glória...


Há um pequeno consolo aos que não chegam a tanto. São oito vagas para a Copa Sulamericana, que apesar de poder representar uma vaga na principal competição do continente, ainda não pegou entre nós, brasileiros.

Daí em diante, são dois pequenos grupos. Um dos que escaparam à tragédia do rebaixamento, e outro que não. No fim das contas, dá pra resumí-los em um só.

... e para outros, a gelada tristeza do rebaixamento..


Os times que jogam o campeonato, de acordo com uma série de fatores, dentre eles a qualidade do elenco, o preparo físico, a capacidade do treinador em ajustar taticamente a equipe, entre outras coisinhas que vão aparecendo no caminho, se dividem na disputa pelos quatro grupos.

Continuemos pensando.

O Vasco foi campeão da Copa do Brasil. Com isso, já tem vaga na Libertadores do ano que vem e, automaticamente, está fora da Sulamericana (não se pode acumular as duas competições continentais). Ou seja, o pendão cruzmaltino entra no Brasileirão, ou para fugir do rebaixamento, ou para ser campeão. Dada a qualidade técnica do elenco, esqueçamos a primeira assertiva.

Resumindo, só sobrou ao Vasco a disputa pelo título.

Toda aquela pressão, que pode levar uma equipe a três destinos diferentes no fim da competição, o Vasco não tem. O time pode, simplesmente, jogar bola.

Bola pra jogar, o Vasco tem. E deste jeito, vai seguindo sem muita preocupação ou  responsabilidade, com uma tonelada a menos que os outros nas costas.

Não bastando a leveza, outro componente importante é a motivação. Não é incomum os times que venceram, ou a Copa do Brasil, ou a Libertadores (caso do Santos) - embora este último ainda tenha o que disputar no fim do ano, o Mundial Interclubes - dêem uma boa relaxada no Brasileirão. Às vezes, o relaxamento é tamanho que até risco de rebaixamento passa a correr.

É preciso que o treinador seja quase um psicólogo para motivar a equipe a buscar o único objetivo possível, o título.

Aí, muito mais do que na tática, reside o grande mérito de Ricardo Gomes no comando do Vasco. Acertado o time já estava, não à toa sagrou-se campeão da Copa do Brasil. Com o incremento de algumas (boas) peças, como o veterano, mas genial, Juninho Pernambucano, o Vasco veio empreendendo a mesma toada no Brasileirão.

Mesmo à distância, ele tá gostando do Vasco


Pois bem, tudo corria muito bem até o jogo contra o Flamengo. O treinador Ricardo Gomes sai de campo deixando todos muito preocupados. Um acidente vascular encefálico o deixou internado na UTI, com risco à vida. Ainda bem, o quadro está bem melhor e Ricardo foi liberado hoje do hospital, podendo concluir seu tratamento em casa.

Mas o que poderia servir como motivo para abatimento, pode ter efeito absolutamente diverso.

Se faltava alguma pitada para motivação, está dada. Agora, o Vasco luta pelo título para oferecê-lo ao seu treinador.

Quando se tem tranquilidade, somada a motivação, o combustível sobra. E o Vasco é, hoje, o grande favorito ao título brasileiro.

Não pelo elenco, onde existem melhores. Não pelo treinador, que sequer está a beira do campo e não tem o "pedigree" de outros. Não pela necessidade, pela classificação adiantada para a Libertadores.

O Vasco é favorito porque, no momento que o tal "algo mais" for exigido, o time tem de onde tirar. Mas sem estresse...


Valeu,

Bruno Porpetta

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Quem é Capitão Léo?

Leonardo Ribeiro, presidente do Conselho Fiscal do Flamengo e o principal responsável pelo pedido de demissão do maior ídolo da história do clube, o Zico, no ano passado, quando este era Diretor Profissional de Futebol.

Foi líder da Torcida Jovem do Flamengo - para ver a boa índole dos rapazes, assista o vídeo abaixo - cujo lema diz: "Nada do Flamengo, tudo pelo Flamengo".

Se perguntar não ofende, por que a torcida recebe cota de ingressos de dirigentes do Flamengo? Por que seus cânticos no estádio são, em grande maioria, apenas de auto-exaltação?

Nada do Flamengo? Tudo pelo Flamengo?





O Capitão Léo, como era conhecido em seu longo período como chefe (sem aspas mesmo) de torcida organizada, entrou para a política do clube nos anos 90. Assim se tornou, inicialmente, o representante do Flamengo na FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro).

Seu convívio com o Caixa d'Água - apenas um "modesto" torcedor do Americano, de Campos - lhe rendeu uma vice-presidência na Federação.

 Com um currículo destes, moral não é exatamente o seu forte


Um de seus grandes feitos no Flamengo, foi o papel decisivo que teve na aprovação das contas do então presidente Edmundo dos Santos Silva. O mesmo que, algum tempo depois, sofreu impeachment no clube, chegando até mesmo a passar uns dias no xilindró.

Agora, o Capitão Léo afirma que Zico está com ciúmes de Ronaldinho Gaúcho.

Podemos analisar quais os possíveis motivos para tal crise de ciúmes do Galinho. Para isso, é preciso considerar que, para a torcida rubro-negra, da qual o próprio Capitão Léo se diz parte, o Flamengo é uma nação muito maior que o Brasil. Basta perguntar a qualquer um, para quem torceriam se a seleção brasileira enfrentasse o Flamengo (a mesma assertiva vale para qualquer outra torcida, sejamos francos).

 Questionado pelo Capitão Léo, tem todo o direito de ficar bolado



Vejamos: Zico, como profissional, disputou 731 partidas pelo Flamengo, marcando 508 gols; conquistou o Mundial Interclubes (1981), a Libertadores da América (81), quatro Campeonatos Brasileiros (1980/82/83/87) e sete Campeonatos Cariocas (1972/74/78/79/79*/81/86), só para citar os títulos mais importantes.

Para Ronaldinho, que fez 39 partidas pelo rubro-negro, marcando 19 gols e conquistando o Carioca deste ano, um de seus maiores ídolos no futebol é Arthur Antunes Coimbra, o Zico.

Não à toa, Zico desdenhou de tamanha baboseira dita pelo "dirigente" Leonardo Ribeiro. E até Ronaldinho, não fosse funcionário do clube que dá voz e poder a um animal como o Capitão Léo, teria a mesma reação.

Quanto às declarações de Zico sobre seu envolvimento com o Flamengo atualmente, é mágoa profissional que, além de passar, não afeta a enorme gratidão que a nação rubro-negra tem para com ele.

Tudo isto posto, a pergunta do título fica ainda mais latente: Quem é Capitão Léo?

Para a estrutura elitista e antidemocrática do clube, talvez seja alguma coisa. Para a torcida, que ele insiste em dizer que faz parte, não é nada!


Valeu,

Bruno Porpetta


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Por que ando tão calado?

Algumas pessoas (e isso já é uma baita pretensão minha) podem estar se perguntando: por que não escrevi nada após o post sobre Allende?

Não preciso esconder de ninguém que o mar não anda pra peixe. Ou pra urubu...

Por isso, fica esta música. Acho que retrata bem o que penso sobre o momento atual, no Campeonato Brasileiro.





Tem muita rodada pela frente, e muita gente próxima. Muita mesmo!

Portanto, se assosseguem... por Almir Sater, Tocando em Frente, do próprio com Renato Teixeira.


Valeu,

Bruno Porpetta


domingo, 11 de setembro de 2011

O 11 de setembro que a Globo não conta

Era um 11 de setembro!

Há 38 anos, a democracia sofria um atentado tão inesquecível, quanto assassino.

O golpe militar chileno dado em 11 de setembro de 1973, com o assassinato de Salvador Allende, presidente socialista eleito sob a insígnia da transformação social mais profunda que a nossa América testemunharia, soterrou o país em uma sangrenta ditadura que durou exatos 16 anos e 6 meses.

Somando-se os corpos encontrados aos eternamente desaparecidos, o número de vítimas deste atentado supera, e muito, os mortos do ataque de Bin Laden ao World Trade Center.





Se a democracia chilena foi silenciada por todo esse tempo, e seu retorno se deu sob bases neoliberais, muito diferentes da mudança proposta por Allende, ao menos sobrou, ao povo chileno e de toda a América Latina, o direito de sonhar e lutar por justiça social, por comida, terra, teto, escola e demais direitos que nos são insistentemente negados pelas elites subalternas às vontades do Tio Sam.

E em nome deste sonho, Allende vive!

"Colocado em uma transição histórica, pagarei com minha vida a lealdade do povo. E os digo que tenho a certeza de que a semente que entregaremos à consciência de milhares e milhares de chilenos não poderar ser cegada definitivamente. Trabalhadores de minha Pátria! Tenho fé no Chile e em seu destino. Superarão outros homens nesse momento cinza e amargo onde a traição pretende se impor. Sigam vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor." Salvador Allende, 11 de setembro de 1973





Valeu,

Bruno Porpetta

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Mil vezes Rogério Ceni

Eu digo, repito e não me canso de afirmar que Rogério Ceni é, além de um dos grandes goleiros da história do nosso futebol, um chato de galocha e conservador.

Alguém que, desde os gramados, já demonstra "vocação" para cartola, no pior sentido do termo, não pode ser considerado um exemplo neste aspecto.

Como goleiro, sim! É um baita goleiro! E com mais de 100 gols marcados, inevitavelmente, já fez história.

E hoje, de novo.

Há 1000 jogos defendendo bolas impossíveis e posições conservadoras


Rogério completou 1000 jogos pelo São Paulo FC, hoje contra o Atlético-MG, pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Com isso, se torna o terceiro jogador da história do Brasil a estabelecer o milhar pelo mesmo clube. Antes dele, só Pelé (1114 jogos pelo Santos) e Roberto Dinamite (1065 jogos pelo Vasco).

E Ceni ainda não dá pinta de que vai parar.

O que impressiona, é que algumas lendas de clubes europeus, como Ryan Giggs (Manchester United), Raúl Gonzalez (ex-Real Madrid) e Paolo Maldini (ex-Milan) são recordistas de jogos pelos  mesmos clubes, em períodos até maiores - o camisa 3 rossonero jogou por 25 anos no clube, contra 21 de RC - detêm marcas mais modestas.

Mais um indício de que a frequência de jogos no Brasil anda um pouco elevada demais. Não é mesmo, dona CBF?


Valeu,

Bruno Porpetta

Duque de Caxias: nem aqui, nem na Sapucaí

O Duque de Caxias perdeu desta vez, em casa, para o Salgueiro, por 2 a 1.

Tudo bem. Sabemos que é o time da região do polígono do orégano, em Pernambuco. Mas que dá uma piada pronta, isso dá!

Imagina se fosse a Unidos da Tijuca, sob o comando de Paulo Barros - o José Mourinho do carnaval carioca, em suas qualidades e defeitos. O Duque levava uns cinco!






Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Freddie e o sexo

Ontem, Freddie Mercury faria 65 anos, caso tivesse comemorado o dia de hoje com camisinha.

Hoje é o Dia Internacional do Sexo!

Este vídeo abaixo, mata dois coelhos com uma cajadada só.

Ao mesmo tempo, homenageia esta voz maravilhosa e eterna, além de, convenhamos, para quem quer comemorar o dia de hoje, cante essa música no ouvido de alguém.

Batata!





Valeu,

Bruno Porpetta

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Peidar é humano!

A flatulência é uma ventosidade anal que pode ser ruidosa, ou não, e possui um odor fétido. É composta de gás metano, cuja densidade é menor que o oxigênio, o que faz com que ele suba rapidamente. O odor é resultado de pequenas quantidades de gás sulfídrico, enxofre (pode culpar o diabo!) e os mercaptanos livres na mistura.

Como ele contribui 21 vezes mais que o dióxido de carbono para o efeito estufa (seu peido é pior que o seu carro para o meio-ambiente), os jogadores do Flamengo podem todos ir aos treinos com seus luxuosos possantes. Desde que estejam devidamente revisados, não emitindo gases em excesso para o já estimado buraco da camada de ozônio.

Peidar dentro do carro então, nem pensar!





Na ausência de bons motivos para provocar uma crise no Flamengo, ou tentando abafar os mesmos, um simples peidinho soprou a farofa do time.



Depois de cinco jogos sem vitória, durante a preleção para o jogo contra o Bahia, realizada no sábado, um peido teria tirado Luxemburgo do sério. A ponto de estar procurando o autor do flato até agora!

Ao que consta, o peido foi daqueles bem ruidosos. Dos que quase rasgam a cueca. Pode imaginar-se, inclusive, que tenha deixado rastros. A famosa "freada de bicicleta"!

O time, indolente até o osso no jogo de ontem, estaria respondendo ao chilique do treinador diante de tal ofensa olfativa.



Diante do patetismo do fato (ou do flato), fica até difícil emitir uma opinião a respeito do sexto jogo sem êxito da equipe rubro-negra.

O que foi aquilo? Para não entregar um peidão, peidemos todos?

De qualquer forma, o motivo para o chilique do "pofexô", se não consegue ser inodoro, é absolutamente insuficiente para justificá-lo. Igualmente descabida também foi a reação do time ao fato (entre fatos e flatos, até eu já estou perdido).

Ainda que fosse dentro do elevador, onde o autor do dito cujo olha para cima - fingindo um ar blasé - como se nada tivesse acontecido, podendo até mesmo assobiar para disfarçar a tensão imposta aos demais, e a si próprio. Não faria sentido algum, toda esta repercussão a um simples peido!

Quais seriam as "punições" possíveis? O autor vai peidar em separado do elenco? Corta-se o feijão e o repolho das refeições?

Por favor, ou se abre o jogo sobre o que está acontecendo, ou se resolve isso logo de uma vez. Porque esta "crise do peido" é uma das histórias mais ridículas do nosso futebol!

Vai que o peido pesa? Aí, dá m...


Valeu,

Bruno Porpetta





A Santa Paz de Sérgio Cabral (o filho)

Vídeo mostra sob quais condições se dá o processo de pacificação no Morro do Alemão, zona norte do Rio.

Já dizia o Rappa, outrora: "Essa é a paz que eu não quero seguir admitindo..."





Valeu,

Bruno Porpetta

domingo, 4 de setembro de 2011

O papel libertador do bar







Ai meu Deeeeeeeeeeeeus!!!




Sexta-feira. A proximidade do fim de semana, em si, é renovadora.

Aos cinco dias consecutivos de trabalho, ou aula, ou os dois, a perspectiva aberta pelo fim de semana se inicia na manhã de sexta-feira. Parece que o caminho de ida para o cumprimento de suas obrigações cotidianas já é mais leve.

Se chove, é o alívio de quem sabe que é o último dia de tortura laboral a que somos submetidos. A começar pelo trânsito intenso, o transporte coletivo, em geral, lotado, o mesmo enredo sempre. Depois vem a labuta, propriamente dita. Goste-se ou não, a obrigação de fazer já é aviltante. Por que não se dispensam as formalidades de horários e frequência? Mesmo o que se gosta de fazer, se faz melhor quando se faz no momento que se quer.

Né não?



Mas não só isso! Chuva é, para quem se dispõe, sinônimo de amor. Ficar debaixo das cobertas com quem se ama (nem que por uma noite) é tão acolhedor quanto "indecente".

Quando faz sol, é a oitava maravilha do mundo! A praia, a noite, o próprio amor, tudo parece que fica mais visível e, notoriamente, bonito.

Até aquela mala do seu chefe não incomoda tanto. O seu professor de Estatística, com aquela aula bíblica sobre probabilidades, provavelmente não tem a menor consciência do quanto sua aula é dispensável, sob o ponto de vista concreto, numa sexta-feira.

Fora que o calor - ah, o calor! - é de matar. Com o passar do dia, uma secura toma conta da boca, e não há água que faça passar.

Quando findam as obrigações, a casa parece muito mais distante do que antes. O trânsito fica mais congestionado, o transporte coletivo ainda mais cheio. Nesta hora, parece não haver muita alternativa. O oásis da esperança é o bar!

Assim mesmo, suando....


Com chuva, nada melhor do que o toldo do bar para proteger. Todo mundo fica lá, sequinho, bonitinho. Daí, ou já emenda com a noite, ou vai pra casa mais relaxado.

Se o tempo tá bom, melhor ainda! Lembra aquele calor todo? Parece que não existe, a cada gole da cerveja mais gelada que houver nessa vida.

O bar é, acima de tudo, um espaço democrático por excelência. Se tem uma mesa da "canhota", na outra estão os conservadores. Se tem gente que bebe, outros vão só no refrigerante. Tem homem, tem mulher, que se gostam entre si, não necessariamente nesta ordem, ou até de ambos.

                                        O verdadeiro boteco!


E quando se fala em bar, não se fala naquelas mega redes que se proclamam "botecos", que, no máximo, são restaurantes com cerveja, e preços escandalosamente elitistas. O bar é, antes de qualquer coisa, acessível a todo mundo.

Sendo o bar, o destino favorito de toda essa gente que trabalha, ou estuda, às sextas-feiras, o efeito libertador que o mesmo cumpre com relação à opressão semanal da obrigação é latente.

Tão latente, que não contentes, as sextas se tornam segundas, terças, quartas e quintas.

Sábados e domingos, trabalho ou estudo são quase homicídios. E aí é o bar, na verdade, que se torna uma obrigação.

Certo ou errado?


Valeu,


Bruno Porpetta


P.S. 1: Este que vos escreve já não bebe mais, mas recomenda ainda assim.

P.S. 2: De fato, hoje não estou com a menor paciência para falar de futebol.

Megaeventos, quem vai pagar a conta?**



Enquanto Nuzman nos mostra o tamanho do lucro...

Por KATIA MARKO*
O investimento de dinheiro público para a realização de megaeventos, como Copa do Mundo e Olimpíadas, desvia recursos que poderiam ser aplicados em áreas fundamentais como saúde e educação. O professor Gilmar Mascarenhas, da UERJ, avalia o legado desses projetos para a sociedade.

O jornal Brasil de Fato publicou trechos de uma entrevista exclusiva realizada pelo GT Comunicação dos Comitês Populares da Copa de Porto Alegre com o professor adjunto do Instituto de Geografia – PPGEO (Prog. de Pós-graduação em Geografia) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e integrante do Comitê Popular da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Rio, Gilmar Mascarenhas.Gilmar Mascarenhas fez doutorado em Geografia Humana pela USP, sob orientação da Dra. Odette Seabra. A sua tese, defendida em 2001, enfoca determinados aspectos da presença do futebol na evolução urbana brasileira. Também estudou, a partir de 2003, a política urbana relacionada à organização e realização dos Jogos Panamericanos na cidade do Rio de Janeiro em 2007: a concepção de gestão urbana, os interesses envolvidos, a reação da sociedade civil organizada, a parceria público-privada, os impactos e o legado futuro do Pan-2007.
O professor de geografia diz que nos últimos anos o Brasil optou por se projetar mundialmente através dos megaeventos, mas que o custo disso quem paga é o cidadão. “Os efeitos desses eventos são dívidas e o desfinanciamento de áreas como a saúde e a educação. No ano do Pan, o Rio enfrentou sua maior epidemia de dengue. Todo o dinheiro estava comprometido com os jogos. Os eventos são para assistir e não para desenvolver o esporte”, explica.
Segundo ele, hoje os eventos esportivos carregam interesses econômicos, políticos, sociais e ideológicos. E por demandar um investimento cada vez maior, a sociedade civil começou a exigir e discutir o legado desses eventos.
Leia a íntegra da entrevista. É longa e esclarecedora, ótima para se ler num domingão antes do futebol:
Você defendeu sua tese de doutorado em 2001 sobre a presença do futebol na evolução urbana brasileira e, desde então, vem pesquisando o tema dos esportes na vida urbana. Que conclusões você chegou?
Gilmar Mascarenhas – Em 2003 eu comecei a estudar os impactos dos Jogos Panamericanos sobre a cidade. Elaborei um histórico sobre grandes eventos esportivos (Jogos Olímpicos, Panamericanos, Copa do Mundo) para verificar que tipo de impactos e arranjos de políticas urbanas foram sendo feitos. O que encontramos nesses estudos é que quase sempre você tem a gestão urbana como um duelo entre interesses sociais e das grandes empresas. Esses grandes eventos se tornaram uma porta, para que através de uma situação extraordinária, grandes projetos urbanos capitalistas, encontrem uma ocasião especial para se impor, a despeito dos regulamentos urbanísticos e ambientais e dos interesses sociais.
Também verifiquei que, durante uma época muito extensa, havia nesses grandes eventos uma relativa preocupação com o interesse social. Um exemplo disso, era a destinação das vilas olímpicas para habitações de média e baixa renda. Isso se verificou da década de 1950 (no contexto do Estado de Bem Estar Social) até 1980, em Moscou. Já a partir de 1988, em Seul, as vilas olímpicas passam a ser projetos de habitação, digamos, para classes sociais mais altas.
No meu estudo verifico dois processos que vinham andando de maneiras distintas e independentes. Um deles, no âmbito da gestão do esporte, eram as mudanças, a maneira como o esporte se organiza, enquanto uma indústria. De outro lado, uma mudança na questão da gestão urbana, do planejamento urbano. Esse último é mais conhecido. Sabe-se que depois das décadas de 1970, 1980 esse modelo de plano diretor ou master plan, planejamento compreensivo e tal, ele começa a entrar num desgaste. Começa o discurso de que faltam recursos para o Estado e consequentemente a defesa do “Estado Mínimo”, da doutrina neoliberal. Enfim, há todo um movimento que vai fazer emergir o que seus defensores chamam de planejamento estratégico. E, ao mesmo tempo, essa mudança que o David Harvey coloca muito bem que é a guerra entre os lugares. Que o capital está muito mais fluido no planeta, e aí as cidades teriam que competir entre si para atrair mais investimentos. É uma guerra de marketing, decity marketing. Bom, isso no âmbito da gestão urbana.
E o que acontece com o esporte?
O esporte é uma atividade que há mais de um século adquiriu um patamar de organização muito forte no mundo inteiro. É hoje um fenômeno social universal. Embora sempre muito ligado a interesses econômicos, o espetáculo, a venda de ingressos, ocorre uma mudança brusca na década de 1980. No âmbito do futebol, começa na Fifa com João Havelange, brasileiro que assume em 1974. Ele, na posse já diz assim: “Eu vim mudar inteiramente a forma como a Fifa funciona. Eu vim vender um produto chamado futebol”. Até então você tinha as transmissões públicas, abertas. Havelange começa a vender a transmissão das imagens da Copa do Mundo numa escala de valores exponencial. Em 1980, no âmbito do Comitê Internacional, também se elege o Juan Antonio Samaranch, um espanhol que tem no seu passado político um forte envolvimento franquista, tendo sido membro da Falange Española em sua juventude, e recebido diversas nomeações políticas enquanto o regime esteve vigente. Ele retoma essa mesma atitude, de juntar os grandes negócios com o esporte.
No caso do olimpismo, isso é gritante. Até então os Jogos Olímpicos tinham um ideário muito forte, ligado lá na origem da retomada das práticas corporais lúdico-esportivas na idade moderna. O esporte como uma linguagem de integração entre os povos. O esporte como uma prática de regeneração das pessoas, de saúde física, mental. Mens sana in corpore sano, todo esse ideário do esporte olímpico que dizia que deveria afastar qualquer coisa ligada a dinheiro. Até a chegada de Samaranch o atleta olímpico é aquele sujeito que jamais havia ganho um centavo sequer pelo esporte. Esporte por amor, por uma causa: a causa esportiva. Havelange e Samaranch vão cortar tudo isso. Esporte é dinheiro, eis o novo lema. O novo modo de gestão do esporte se associa às grandes mídias, à expansão da TV. A televisão tem um apelo forte de assistência e essas empresas vão perceber ali um canal muito forte. O corpo do atleta é o corpo mais exposto na mídia. A mídia pode apoiar o cinema, o teatro, as outras artes, mas não vai poder colocar na testa ou na camisa de ninguém uma Coca-Cola. O que é um corpo esportista? É um corpo todo ele loteado. No futebol, os clubes alugam para as marcas o calção, a manga… Um corredor de Fórmula 1 tem todos os milímetros do corpo medidos em valores econômicos. Quanto vale a exposição daquilo ali? Então, essa expressão midiática do esporte, essa relação entre negócio, mídia e esporte vai virar esse grande complexo econômico que nós temos no mundo de hoje.
Que mudanças esses dois grandes processos trouxeram na realização dos megaeventos?
Com a gestão urbana nessa conjuntura neoliberal que vivemos hoje, city marketing (guerra dos lugares, guerra das cidades por uma imagem internacional que sugira ambiente seguro e promissor para investimentos) e o esporte tornado essa nova indústria muito forte, as cidades vão perceber que realizando megaeventos esportivos vão se projetar mundialmente, porque são espetáculos que bilhões de pessoas assistem. Além disso, o esporte traz um ideário de forte conteúdo positivo: praticar esporte é saúde, vigor, juventude, competitividade, a união dos povos. Quer dizer, há todo um complexo simbólico que envolve o esporte e que ele vai emprestar às cidades e aos países que vão realizar esses megaeventos. Então, verifico essa confluência de interesses entre a evolução da gestão urbana nos últimos 30 anos e a evolução do mundo do esporte. Isso vai fazer com que mude a forma de realização desses eventos vivida até a década de 1980 que era gastar pouco e de alguma forma deixar um legado habitacional no caso dos Jogos Olímpicos. Vou dar um exemplo forte. Na Copa do Mundo da Espanha em 1982, nós temos uma partida que ficou marcada para o Brasil (foi eliminado em jogo dramático contra a Itália), realizada em um estádio chamado Sarriá, de pequeno porte em Barcelona, que atualmente não serviria nem para treinamento das seleções para a Copa do Mundo. A Fifa exige hoje estádios de um padrão tecnológico, construtivo altíssimo. Estou falando da Fifa, mas poderia falar também do Comitê Olímpico. Então, qual é para mim o cerne da questão? A questão do legado no plano esportivo é que antigamente fazer um megaevento esportivo era um país ou uma cidade receber os povos de todo o planeta para praticar esporte nas condições em que o esporte era praticado ali. Como é que se pratica esporte no Brasil? Se pratica assim, dessa forma, nestas instalações, desse jeito, então era como dizer, vem jogar comigo, vem compartilhar a experiência rica da alteridade, de aprender com o outro, de viver outras culturas. Os megaeventos de hoje anulam as singularidades locais, regionais, nacionais, pela imposição de um padrão único internacional, de instalação esportiva, de ritual, de procedimentos. A sede do megaevento se torna assim um não-lugar, pois iguala-se a todos os outros. A única expressão de identidade local fica por conta das cerimônias olímpicas de abertura, onde cada cidade e país procuram contar um pouco de sua historia e de sua cultura. No mais, tudo é normatizado, padronizado, pasteurizado. A vila olímpica, por exemplo, obedece a um padrão internacional. Os atletas ali dentro, confinados no luxo, não se sentem em outro país, em outra cultura. Estão num lugar desprovido de identidade, como são os aeroportos. Ao montar um cenário totalmente novo, com estádios superdimensionados, logo depois que o circo acaba, fica o país, a cidade com um acervo de equipamentos esportivos que nada condiz com as demandas, com as necessidades do seu público.

...Teixeira mostra o do legado para a população.

Como você avalia a construção dos estádios para a Copa do Mundo 2014?
Menos da metade das 12 cidades-sedes tem regularmente clubes na primeira divisão. Menos da metade das cidades tem um mercado capaz de manter aqueles estádios. Manaus, Cuiabá, Brasília e Natal são cidades sem clubes na primeira divisão, nem na segunda… Então está se construindo estádios que depois serão verdadeiros elefantes brancos. Um estádio desses tem um custo de manutenção que é entorno de 10% ao ano do custo de construção dele. É um custo muitíssimo alto. Você só consegue justificar esse custo se tiver uma fluência de público constante. Vide o caso da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Foram construídos novos estádios, e agora o governo não sabe o que fazer com eles. O caso mais dramático é o estádio Green Point, construído na Cidade do Cabo. A um custo de meio bilhão de dólares, em zona nobre da cidade (Green Point é uma bela área verde, junto ao centro e ao porto que foi renovado, tornado área de lazer), o estádio atende a um padrão de sofisticação que não era interesse do governo local. Este queria um estádio mais modesto e localizado em zona menos valorizada, ciente de não ser o futebol um esporte de grande popularidade na região. Mas a Fifa demandou aquele equipamento caro, cuja localização pudesse exibir ao mundo uma África civilizada, moderna, desfrutando da bela paisagem costeira, tendo ao fundo o Table Mount, montanha turística que constrasta de forma magnífica com o mar. O resultado é que este estádio custa aos cofres públicos 4,6 milhões de euros anuais, e sem a menor perspectiva de retorno desse investimento. Então, a gente começa a pensar assim: como é que fica a questão da soberania nacional por conta desses megaeventos? O quanto os países se vendem e abrem mão da soberania nacional porque a Fifa falou que quer o estádio aqui. Na cidade de Johanesburgo também se construiu um estádio. Eu tenho uma citação da época de um conselheiro municipal, o sr. Benit-Gbaffou. Ele disse: “Trazer a Copa do Mundo é desenvolver a cidade. Isso torna ela cara. Não tem outro jeito, os pobres vão ter que sair, a cidade precisa apenas daqueles que podem pagar por ela”. E um depoimento de um morador: “Eu chorei duas vezes por causa dessa copa. Primeira vez foi quando o país foi eleito para a Copa. Eu chorei de emoção. Depois chorei quando perdi a minha casa, onde eu morava há 30 anos”.
Observemos o caso de Recife, que tem três clubes de futebol importantes, Sport Recife, Santa Cruz e o Náutico. Cada um tem seu próprio estádio, mas vão construir um novo estádio para a Copa. A pergunta é: Qual o clube que tem seu próprio estádio há várias décadas, onde construiu sua história, sua identidade, e, do ponto de vista prático, onde pode jogar com lucro, pois com despesas bem menores, vai deixá-lo para jogar no estádio da Copa, que fica no município da grande Recife, em São Lourenço das Matas, longe das massas e a um custo muito superior?
Já foram aprovados pelo BNDES R$ 400 milhões, agora mais R$ 280 milhões. Vão fazer ali a Cidade da Copa. É todo um projeto de conjunto residencial, um shopping center, um centro médico, ou seja, a ideia de construir um bairro de classe média nessa região e no meio dele um estádio. E esta área não é um vazio urbano. Estive lá, moram muitas famílias, as pessoas plantavam ali. Essas pessoas todas serão varridas dali, em nome de um empreendimento imobiliário que tem como cerne, ou motivação central, um estádio condenado ao abandono e a produzir dívidas públicas.
A Fifa e o Comitê Olímpico exigem instalações esportivas num padrão arquitetônico e tecnológico que estão muito além da capacidade dos países?
O caso da África do Sul no ano passado é emblemático. Um país onde o futebol tem um apelo popular, sobretudo na população negra e pobre, porque a classe média é adepta do rugbi. Você pega os jornais de grande circulação e só vê rugbi e futebol europeu, numa clara rejeição ao futebol local, por ser este apoiado pelos pobres. Mesmo assim, fizeram estádios caros, dentro das exigências da Fifa. Até mesmo o Globo Esporte exibiu recentemente matérias que apresentaram o quadro de abandono e inutilidade da maioria dessas instalações. Alguns em cidades pequenas, como Iokkane e Mpulanga, cujos governos locais não têm recursos para manter estes novos elefantes brancos em sua paisagem.
E na África do Sul os movimentos sociais foram muito fortes. Isso é um dado novo. Nos últimos 10 anos vem se criando uma consciência de que esses megaeventos são muito caros, são feitos com dinheiro público e tem que deixar algum legado para a população. Isso é um dado que é recente na história desses megaeventos. A África do Sul promoveu diversas manifestações.
No caso da China, um governo altamente autoritário, também houve manifestações. No percurso da tocha olímpica, pelo mundo, vários movimentos internacionais se interpuseram à marcha para criticar a postura do governo chinês em relação ao Tibet. O Comitê Olímpico Internacional sabe que tem nas mãos um produto muito caro, que é a imagem dos jogos olímpicos. Não interessa ao comitê manchar essa marca valiosíssima. Não interessa que os jogos apareçam como algo que causou um prejuízo à cidade, ao país, ou que esteja associado a movimentos e interesses que o senso comum renegue. Então, o comitê solicitou ao governo chinês que ele não fosse tão autoritário assim, que ele permitisse que a sociedade civil fizesse manifestações. Claro, em locais distantes, fora do alcance da mídia internacional, mas que fizesse isso. As pessoas que quisessem fazer um ato tinham que se dirigir até a autoridade policial mais próxima e fazer o pedido. O que fez o governo chinês? As pessoas se dirigiam à delegacia, faziam o registro e eram presas no ato. Só saíram depois que acabaram as olimpíadas. Então, eu vou concordar com o professor Carlos Vainer que vem trabalhando com o conceito de “cidade de exceção”. Você cria essa cidade de exceção, um ambiente jurídico-político diferente, que paira sobre as normas estáveis do estado de direito, e coloca o evento como se fosse algo grandioso, reluzente, que cai do céu como uma solução para os males do país. Vou lembrar o discurso do presidente Lula na Dinamarca: “Finalmente o Brasil conquistou sua cidadania internacional”. O que significa isso? Significa apenas você realizar uma olimpíada, não é você conquistar patamares superiores de educação, saúde, habitação, saneamento…
No caso dos jogos de Atenas, o governo quer apagar da sua história. Foi um evento que apenas expôs as dificuldades do país. Um país que vive hoje uma crise imensa também em função da dívida desse megaevento. Isso não interessa ao Comitê Olímpico. Por que Atenas entrou no jogo? Porque Atenas empresta ao Comitê Olímpico uma legitimidade que o movimento olímpico precisa ter. O olimpismo vem lá dos tempos clássicos da Grécia antiga, de Olímpia. Então, são supostamente fiéis a uma história de longa data. Atenas entrou para emprestar credibilidade, dar legitimidade e acabou causando vários problemas. No ano passado, em novembro realizamos o ETTERN-IPPUR, uma conferência internacional sobre cidades e megaeventos. Diversos estudiosos vieram de outros países para debatermos esse tema emergente. Da Grécia veio o Stavros Stavrides, professor da Universidade de Atenas. Ele nos trouxe um panorama bastante crítico de tudo o que ocorreu no país antes, durante e após as olimpíadas. Da mesma forma, contamos com outro acadêmico, o Alan Mabin, da África do Sul, para relatar os processos ali ocorridos. Em comum, vimos o autoritarismo, a ausência de diálogo, a repressão aos movimentos sociais, os gastos elevados e o legado ínfimo.
É real esse ideário de que o megaevento vai desenvolver uma cidade, um país?
A partir do estudo que fiz acerca dos Jogos Panamericanos no Rio pude comprovar que não. A previsão inicial era gastar R$ 250 milhões e foram gastos R$ 3,7 bilhões, e mais de 90% foi investimento público. Ou seja, um gasto muito alto, quinze vezes mais que o evento que o antecedeu, os Jogos Panamericanos de Santo Domingo, em 2003. E um gasto num evento que comprometeu seriamente a saúde, a educação da cidade porque a Prefeitura desfinanciou diversos setores. Vou citar só dois casos: o Rio viveu a maior epidemia de dengue da sua história porque se desmobilizou no enfrentamento desta questão, e em outubro de 2007, três meses após os Jogos, a encosta do Túnel Rebouças desceu, soterrou a entrada do túnel. Felizmente sem mortes, apenas o dano para a circulação de veículos. Qual foi o motivo disso? Existe uma empresa, a GeoRio, que monitora todas as encostas da cidade. A partir de 2003 a Prefeitura reduziu a 1/3 o contrato feito com a GeoRio. Então ela reagiu assim, como que quisessem dizer: “Tá bom, vocês fingem que pagam e eu finjo que vou fazer meu trabalho”. Felizmente não houve vítimas, mas desmoronou a entrada de um túnel importantíssimo para a cidade do RJ. Lembro as palavras de um colega que participou do Comitê Social do Pan (eu participei da fundação desse comitê no ano de 2005), em uma entrevista numa rádio do Rio: “O Pan se ergue sobre montanhas de cadáveres”, relatando a situação dos hospitais públicos municipais que antecederam os jogos Pan.
No caso de Santo Domingo, estive lá para conferir o legado do evento. Ele custou 240 milhões de dólares, oito vezes mais que o inicialmente previsto. Toda a periferia da cidade foi relegada ao abandono. Apenas a zona leste, que é a zona de expansão do capital imobiliário, foi beneficiada. A cidade consolidou com o Pan 2003 sua natureza segregada. Neste quadro de injustiça social, uma liderança nacional, o padre salesiano Rogelio Cruz, da teologia popular, mobilizou a sociedade contra os desperdícios e acintes dos jogos na República Dominicana e foi intensamente censurado e perseguido. No dia da abertura dos jogos, Rogelio Cruz liderou, a partir de Cristo Rey, bairro pobre da capital, uma passeata de 500 manifestantes, portando uma tocha da fome (paródia à tocha olímpica). O protesto, que se propunha a denunciar a situação nacional (e não impedir ou boicotar o evento) foi violentamente reprimido pela força policial militar, a tiros de escopeta e gás lacrimogêneo. O bairro manteve-se militarmente ocupado durante todo o evento. O então presidente da República, Hipólito Mejía, declarou à imprensa que o referido padre, a quem designava de “o novo Mao Tse Tung dominicano”, padecia de problemas psíquicos. O acesso ao aeroporto foi ampliado e melhorado, de forma que o projeto de cidade é claramente desenvolver o turismo, que é um dos esteios da economia nacional. A situação dos pobres não foi afetada, exceto pelo aumento da dívida externa junto ao FMI, que acaba incidindo justamente sobre os setores de investimento em serviços fundamentais à população de baixa renda. Ao menos, o Pan 2003 não desperdiçou tanto dinheiro em instalações, como fez o Pan do Rio.
No caso dos Jogos deste ano, em Guadalajara, no México, o que venho acompanhando à distância sugere os mesmos problemas gerais. A vila panamericana, por exemplo, já mudou de lugar três vezes, por desrespeitar a legislação e atacar os direitos dos pobres, que reagiram e continuam reagindo. Inicialmente a vila estava prevista para ser edificada em Parque Morellos, vizinho à área central da cidade, com objetivos de revitalização do bairro e aproveitamento dos atrativos históricos do centro. Foi transferido o projeto para o Parque Alameda, e deste para um terceiro local, El Bajío, no município de Zapotan, onde também encontra protestos populares intensos, posto que implica em remoção forçada de população residente. Todavia, estando já há poucos meses do evento (que ocorrerá em outubro), mesmo com embargo jurídico, o governo nacional mexicano, pressionado pela Odepa e pelos empresários envolvidos, interviu e decretou que a vila não poderia deixar de ser edificada no local, a despeito dos moradores afetados.
Em suma, em todas as edições de megaeventos esportivos surgem as mesmas promessas, que não são cumpridas. Não por acaso, as últimas edições dos jogos olímpicos expressam um descontentamento crescente e a eclosão de movimentos civis anti-olímpicos. O auge desta “crise” foi Atenas (jogos de 2004), que, como vimos, custou elevadas cifras, gerou prejuízo e pouco beneficiou a população local. Preocupado com o desgaste da imagem olímpica, no ano seguinte, o COI elegeu Londres para sede de 2012 com base na dimensão “social” do projeto, que apontava para a completa regeneração urbana de uma zona desindustrializada, decadente. Um projeto que olhava para a periferia da cidade e que, de alguma forma, resgata o mito do modelo Barcelona, que conseguiu conjugar a grandiosidade do evento com projetos de revitalização de zonas decadentes e extensão de infra-estrutura urbana para o subúrbio. Todavia, mesmo em Londres, podemos observar um processo arbitrário de retirada de populações e sobretudo pequenas empresas (umas 300, segundo o geógrafo Mike Raco, do King´s College London), da área onde se ergue o Parque Olímpico. Ou seja, não era um vazio abandonado, ali havia muita gente e uma vida econômica intensa.
Nesta pesquisa você estudou o que foram os jogos panamericanos no passado aqui no Brasil…
Sim, o Pan do Rio foi o segundo no país. Em 1963, ocorreram os Jogos Panamericanos em São Paulo. Fui a SP, na Biblioteca Pública do Estado e levantei dados em jornais e revistas da época (sobretudo na revista Manchete). E foi até surpreendente ver o quanto havia um descompromisso do Estado em relação ao evento. A organização era por conta e risco do Comitê Olímpico Brasileiro. Os países montavam seus eventos, vendiam os ingressos, faziam acordos de patrocínio. Se o evento daria lucro ou não era um problema do movimento esportivo, e não um problema público, do governo. Os gastos por isso foram mínimos, usaram todas as instalações que já existiam em SP. O evento custou, na época, 500 milhões de cruzeiros. Todo este dinheiro era suficiente para então adquirir apenas 34 automóveis wolkswagen do tipo fusca, zero quilômetro. Utilizando a tabela de correção monetária do Ministério da Fazenda, corrigimos estes valores para atualidade (junho de 2011), o Pan-1963 custou aproximadamente R$ 25 milhões, ou seja, 6,3% do custo do Pan-2007 (também em valores atualizados). Em outras palavras, o Pan do Rio custou 150 vezes mais que a edição paulista. Portanto, comparado ao panorama atual, um evento desta natureza custava muito pouco ao país. O fato de utilizar instalações pré-existentes e de não assumir gastos de outras delegações, tornava o evento bastante “barato”. O fato de, naquela época, o evento acolher apenas um terço do total de atletas que hoje costuma receber, não justifica uma diferença tão absurda nos custos de sua realização. As arenas são as mesmas, o calendário também (quinze dias de competições), mudaria apenas, basicamente, as dimensões da vila panamericana.
E a vila olímpica?
A USP estava construindo seu novo campus no Butantã. Então o comitê olímpico solicitou o empréstimo do CRUSP (Conjunto Residencial da USP, edifícios ainda não totalmente concluídos) e, mesmo obtendo cessão gratuita do alojamento cobrava diária de todos os atletas. Ou seja, os países pagavam diárias para colocar em quartos pequenos quatro rapazes e em outros seis moças, utilizando camas (beliches) emprestadas pelo Exército Brasileiro, em condições que hoje consideraríamos por demais espartanas. A previsão era de menos moças do que rapazes. Peguei imagens interessantes desses jovens atletas no mês de maio, junho em SP, frio, lá naquele deserto que era a USP na época. Como se divertiam? Faziam fogueiras, tocando violão à noite. Hoje esses mesmos jovens desfrutam de boates e sofisticações mantidas e pagas, muitas vezes, com nosso dinheiro. É outra situação, bem diferente. Como era caro participar da festa naquele tempo, alguns países latinoamericanos mandaram apenas os seus representantes burocráticos para participar da reunião da Odepa. E teve um caso, acho que foi da Costa Rica, que mandou somente uma atleta de natação porque apenas esta tinha potencial para ganhar uma medalha.
Causa surpresa, aos que desconhecem a profunda transformação vivida pelo esporte nestes quase 50 anos, saber que a decisão do ouro olímpico no futebol transcorreu no modesto estádio Parque São Jorge, pertencente ao S.C. Corinthians, na então pacata zona leste da cidade. Mais ainda quando se descobre que a medalha foi disputada num emocionante confronto entre Brasil e Argentina. Com a nova economia do esporte, que movimenta volumosos patrocínios públicos e privados, o atleta e toda a competição se valorizaram, não mais comportando realizações em instalações esportivas que não atendam às crescentes exigências do COI e da Fifa.
Se a gente for remontar a história das vilas olímpicas, a primeira é de 1932, nos Jogos de Los Angeles. Esses jogos serviram para compor o programa de recuperação econômica dos EUA após a famosa crise de 1929. Construir instalações (incluindo a vila olímpica, um conjunto de 700 casinhas pré-fabricadas) era uma forma de gerar emprego e ter alguma estimativa de retorno com o evento. Durante mais de 30 anos, desde o início dos jogos olímpicos da era moderna (em 1896) muitos atletas vinham para os jogos com barracas de camping, feitos no verão por isso. Era praticamente um hobby. Vinham participar por conta própria e porque eles tinham amor ao esporte, prazer em participar desses encontros da juventude. Conhecer pessoas de outros países que também tinham como eles esse hobby, esse prazer de praticar algum tipo de esporte, um esporte olímpico.
Com todo o contexto político, de disputa inter-imperialista que vai anteceder a Segunda Guerra Mundial, inicia-se uma ligação do Estado com os jogos. Começam acontecer coisas como desfiles com bandeiras nacionais. Com a chegada de Hitler, em 1936, em Berlim, essa ligação do esporte com o Estado, com a raça, atinge níveis extremos. A partir daí, vai começar o pós-guerra que assiste à formação do chamado Estado de Bem Estar Social, com uma política de esporte para todos, o Welfare State na Europa Ocidental, no Canadá, na Austrália. Sociedades com fácil acesso ao esporte. As escolas na França tinham piscina, disciplina obrigatória para as crianças. Você tinha bairros com centros esportivos públicos onde moradores podiam praticar esporte, como por exemplo em Barcelona. Com essa esportivização da sociedade pós-guerra, os jovens participavam dos jogos para construir ou melhorar instalações para uma prática social, comunitária, pública e gratuita do esporte.
Até que veio os anos 1980 com essa mudança do esporte, essa onda bem privatizante. Mas nos jogos de 1963, o que aconteceu? Quando o comitê olímpico percebeu que os ingressos não iriam custear os jogos, pediu socorro à prefeitura, ao estado. Em caráter de urgência, para reduzir o prejuízo do COB, os entes governamentais doaram valores que cobriram quase a metade do custo do evento que, como vimos, custou pouquíssimo. Tem coisas até cômicas. Como SP tem uma comunidade japonesa muito forte e o basebol é o esporte mais popular no Japão, o primeiro jogo de beisebol lotou o estádio. Vinham caminhões de agricultores para ver o jogo. E o que o comitê olímpico fez? No jogo seguinte, a organização majorou em 100% o valor do ingresso. Pensaram: então, já que tem público vamos aproveitar e cobrar mais porque a gente precisa de dinheiro pra poder bancar os jogos. Observem bem: os eventos eram feitos por conta e risco e agora você tem uma situação de uma vila olímpica luxuosa, com instalações luxuosas. No caso do RJ o caso é gritante: nenhuma das instalações esportivas se prestou para qualquer uso social após os jogos. Nenhuma delas.
Inclusive a vila olímpica do Rio está com vários problemas…
Seríssimos! Este é um capítulo à parte. Vale a pena voltar um pouquinho na história para falarmos da vila olímpica do Rio. Em 1996, o Rio de Janeiro era candidato aos jogos de 2004. Porque o César Maia, com essa gestão mercadófila, colocou na cabeça que o RJ tinha que ser uma cidade olímpica, para promover sua imagem mundialmente. Naquela ocasião o poder municipal não tinha ainda montado esse aparato fechado, blindado ao diálogo com a sociedade. Havia alguns canais de diálogo. E um dos pontos do debate foi refletir sobre onde seriam as instalações esportivas.
O movimento social propôs que a maior parte das instalações fosse na cidade universitária, numa área de baixa renda. Era uma área imensa da UFRJ, então em grande parte deserta (hoje ocupada em parte pela Petrobrás). A ideia era construir uma vila olímpica que depois seria residência social. A proposta era essa para os jogos de 2004. Quando o Rio ganhou 5 anos depois o direito de sediar os jogos panamericanos, o prefeito pegou esse projeto e jogou fora. A vila seria agora na Barra da Tijuca. Onde? Justamente numa área de fronteira de expansão do capital imobiliário da Barra. Assim como, hoje também, a futura vila olímpica será numa área que pertence a Carvalho Hosken, uma área também de expansão imobiliária da Barra. Vai construir uma vila para valorizar todo o entorno.
A vila do Pan está numa área não recomendável tecnicamente para se construir. Conversei na época com vários engenheiros que visitaram a obra da vila e disseram: “Olha, as fundações vão a 60 metros de profundidade, uma construção caríssima”. São 12 prédios de 17 andares. Estive lá no ano passado, tem uma quantidade imensa de imóveis fechados. Têm imóveis que o habite-se não foi dado até hoje. Na semana de abertura dos jogos, dois trechos da vila afundaram. Um engenheiro me falou que esta vila demanda um monitoramento constante porque é não é uma área 100% segura.
Consta que o Ronaldinho Gaúcho recebeu 11 imóveis em troca de propaganda e que Romário também comprou vários imóveis que devem estar fechados. Tudo bancado pela Caixa Econômica e com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Um desperdício, mas cumpriu-se o papel com o capital imobiliário, pois a vila serve uma ponta de lança, um vetor de expansão de valorização daquela área. É uma área que ia acabar sendo ocupada por população de baixa renda. Está muito próxima da favela Rio das Pedras. É isso, começar a demarcar espaços de elite. Ou seja, é um uso estratégico desses jogos.
A realização do Pan ajudou na escolha do Rio para os Jogos Olímpicos?
Com certeza. Foi de longe a mais cara edição dos jogos panamericanos, em mais de meio século de história (a primeira edição foi em 1951, em Buenos Aires). A cidade demonstrou claramente sua predisposição para gastar, investir pesado em megaeventos. Como já dissemos, foi 15 vezes mais caro que os Jogos de 2003 e os jogos deste ano de 2011, no México, ficarão bem aquém da edição carioca em termos de volume de investimentos. Para além desse aspecto, há outro, decisivo. Foi feito um empenho político fortíssimo para a candidatura Rio 2016. A presença do presidente Lula sensibilizou muito o comitê olímpico. Por que o Rio é uma cidade olímpica agora? Em parte porque o Brasil vive um momento único em expressão mundial, como potência econômica emergente e teve como presidente alguém carismático e de origem sindical, ou seja, alguém que legitima no cenário externo a imagem de consolidação de nossa democracia.
O comitê olímpico tem duas etapas para eleição da cidade: uma etapa mais técnica e a outra é política. Entre Chicago, Rio, Madri e Tóquio, a escolha foi política. Das quatro cidades, a que teve a pior avaliação técnica foi o RJ. Tecnicamente falando o RJ era a pior cidade, mas venceu pelo conjunto de razões que acabamos de expor.
Em Chicago teve um movimento contra, inclusive.
Em Chicago a população disse: “Aqui não vai ser mesmo. Obama, queremos saúde e educação!”. No caso da Espanha, Madri não condiz com a idéia de mostrar que há um rodízio intercontinental no movimento olímpico, já que seria logo após a edição de Londres 2012. Então, Madri tinha a melhor proposta tecnicamente falando, mas politicamente não era interessante. Tóquio tem a questão do fuso horário e outras questões, como a proximidade dos jogos de Pequim e alguns protestos que também foram lá verificados. Então, o Brasil era a bola da vez.
Até hoje Barcelona é a garota propaganda dos megaeventos. Virou uma exportadora de um modelo. O que explica Barcelona?
Tem coisas que a mídia não conta. Primeiramente, em 1986 quando a cidade foi definida olímpica, estava no poder o partido socialista, com um plano diretor em ação para tentar suprir carências da periferia, acumuladas ao longo de 40 anos de regime franquista. Era o déficit do franquismo. O plano era bem claro: levar à periferia de Barcelona serviços coletivos como metrô, além de habitação social digna… Era colocar a Espanha próxima ao patamar de conquistas sociais dos principais países europeus. O país vinha de um atraso imenso. Então, os jogos pegam a cidade num processo político redemocratizante, e assim os jogos se adequaram à cidade em grande parte, e não ao contrário. Você pega o modelo de Barcelona e vê como é o metrô. Os jogos olímpicos foram feitos de maneira descentralizada. Tinham quatro pólos diferentes, dentro de um modelo que eles chamaram de equilíbrio espacial, e levando metrô para todas essas áreas. Os jogos de Barcelona, de alguma forma, foram bem sucedidos porque havia antes deles um plano diretor discutido, e que foi, ao menos em parte, respeitado.
Outra questão que favoreceu Barcelona é que com a criação da União Européia, a Espanha entrou num período de crescimento econômico inédito, também. Então, Barcelona também pegou os fluidos dessa nova Espanha em crescimento. Outro dado que não devemos esquecer é que Barcelona promoveu uma reforma no seu sea front muito forte, mas pouco se fala que onde está a vila olímpica de Barcelona, havia um bairro chamado Icaria, um bairro industrial, operário, que estava em decadência. E todo esse patrimônio de fábricas foi colocado ao chão, alem da remoção dos habitantes.
Estava lendo um trabalho há pouco tempo dizendo que Barcelona fez três grandes eventos em sua história. Uma exposição universal em 1988, outra em 1929 e os jogos de 1992. Mas as situações anteriores, ambas tiveram a intenção de mostrar um pouco a história do país, preservar o patrimônio. Os jogos de Barcelona de 1992, em plena época que o patrimônio é tão debatido, não deu uma linha sequer a isso. Ou seja, foi a aniquilação pura e simples de um bairro inteiro.
Estive lá há pouco tempo, para ver de novo o bairro Nova Icaria. Se construiu ali um grande shopping e essa vila olímpica de classe média alta. Nas unidades habitacionais que estão para o mar, os aluguéis chegam a 5 mil euros. Uma orla altamente valorizada. Mas não se fala disso, não se fala como Barcelona varreu do mapa essas populações e o patrimônio histórico industrial para fazer os jogos.
De qualquer forma, há uma coisa muito positiva em Barcelona que foi descentralizar os jogos, levar benfeitorias até a periferia da cidade, coisa que o RJ mesmo pagando muito caro aos consultores catalães, não fez. Fez o quê? Criou uma ilusão.. Você tem a Barra onde acontece quase todos os jogos e lá na zona norte, numa área pobre da cidade, vão fazer as competições de tiro e esportes radicais. Vão fazer ali um parque temático para montain bike. Ora esse parque temático vai ficar fechado, vai ser para turistas e privilegiados poderem ir lá, pagar para, muito eventualmente poder praticar montain bike. Isso não é esporte popular. Vão colocar lá na zona norte do Rio pra dizer, olha, as olimpíadas vão até a periferia.
E hoje quem paga a conta de estádios vazios?
O contribuinte paga tudo isso, sem direito a dialogar, participar, questionar. Em Montreal, por exemplo, o déficit público só foi sanado 30 anos depois. Em 2006, o governo de Montreal disse: “Agora sim estamos quites com os jogos”. Trinta anos para pagar os jogos, realizados em 1976. Tenho um colega, economista de Munique, que vem estudando a questão do turismo há um bom tempo. Ele vem provando que a cada megaevento, os promotores vêm superdimensionando o turismo desses eventos. É sempre muito inferior ao impacto apresentado. Ele pegou o caso da Eurocopa em 2008, na Suíça e na Áustria, e mostrou que nesses países, naquele mês de julho, mês da Eurocopa, a soma dos visitantes foi inferior aos meses de julho dos outros anos quando não tinha a Eurocopa. Então, todos eles superestimam o turismo. Por exemplo, agora se fala muito em reformar os aeroportos do Brasil em função da Copa do Mundo. Quanto vai representar em termos de movimento de pessoas nos aeroportos para a Copa do Mundo? Se estima em 0,5% de aumento de fluxo. Meio por cento para a Copa do Mundo. Ou seja, é absolutamente insignificante.
O caso de Portugal, Eurocopa de 2004, merece ser citado. O país se empenhou em produzir um belo evento, com estádios sofisticados, atendendo a todas as exigências de conforto e segurança. Como sempre, o problema emerge depois que o circo vai embora. Restaram estádios de elevado custo de manutenção, alguns em cidades onde não há mercado para mantê-los funcionando. Os estádios de Braga, Leiria, Coimbra, Aveiro e Faro, juntos, geram aos municípios um custo de 13 milhões de euros ao ano, somando o pagamento da dívida assumida quando da construção dos mesmos e a manutenção dessas arenas. O caso mais aberrante é o da cidade de Faro. Imagine uma pequena cidade de 35 mil habitantes, com um estádio para 40 mil expectadores, e sem um time importante. O prejuízo é certo.
Qual foi o legado para a população carioca do Pan?
O que ficou para o RJ: nada! Ou melhor, ficaram dívidas. Por exemplo, ficou a arena multiuso feita num padrão altamente luxuoso, que passou para uma empresa, o banco HSBC, o que alugou. O complexo aquático Maria Lenk está entregue às moscas! Custou caríssimo, também. Na época, a gente tava propondo que esse complexo aquático fosse, após os jogos, utilizado pelas escolas municipais do Rio. Sabe o que foi dito pra gente? Olha, essa piscina é muito bacana pra botar criança pobre dentro dela. É muito bonita. Eles preferem deixar a piscina rachar fechada do que dar a ela um uso educativo.
Eu fui à cidade de Santo Domingo onde foram os jogos Panamericanos anteriores ao do Rio, em 2003. Tenho imagens para mostrar o que é um evento que, com todos os problemas, foi muito melhor do que o nosso e gastou-se 15 vezes menos. Fui lá e vi que a quadra poliesportiva é usada pelas crianças das escolas públicas, projetos da cidade. Como o tênis não é um esporte muito popular, quem mantém a quadra de tênis são as Associações de Tênis Americana e Canadense. Elas têm um contrato de aluguel. Como lá o inverno é muito suave, passam 6 meses ocupando essas quadras de tênis. Ou seja, custo zero para o poder público para manter a quadra de tênis. Visitei o Estádio Olímpico, modestíssimo, e a Vila Olímpica, também muito simples. Para uma classe média baixa.
Já o Rio de Janeiro gastou 15 vezes mais para fazer um evento suntuoso para dizer assim: “A gente quer mostrar que nós somos realmente um país emergente”. E o que ficou para o Rio de Janeiro? Ficaram as instalações sem uso. O legado como esporte escolar é realmente zero. Desta vez, após tantas críticas que fizemos a esse descaso total com a formação de novos atletas, resolveram construir escolas municipais nesse sentido. A primeira delas, situada no Morro dos Prazeres, já foi batizada, e com muito mau gosto: chama-se Juan Antonio Samaranch, homenageando um franquista, assumido defensor de sangrentos regimes ditatoriais, para agradar aos membros do COI. Começará a funcionar em 2012, e planeja-se turno integral de aulas, sendo pelo menos três dedicadas aos esportes.
O Estádio Olímpico João Havelange previa um centro de formação de talentos que não foi feito. O estádio foi alugado para um clube de futebol da primeira divisão que paga, se não estou equivocado, R$ 35 mil por mês. Perto do que ele custou não é nada. No RJ todos os clubes têm dívidas e agora a gente vai escutar o João Havelange propor que o governo federal anistie a dívida de todos os clubes. Só pra fechar: o Rio de Janeiro não precisava fazer um Estádio Olímpico, o Maracanã poderia ser adaptado, mas fizeram um novo estádio. O estádio ficou pronto a um custo em torno de R$ 380 milhões. Na mesma época a Suíça construiu um estádio do mesmo porte, para a Eurocopa, do mesmo padrão, a um custo equivalente ao nosso. Se a Suíça, pagando 10 ou 20 vezes mais caro pela mão de obra operária faz um estádio ao mesmo custo do nosso, tem alguma coisa errada aí.
Na época se falou muito em despoluir a Baia de Guanabara e nada foi feito. Agora, com as Olimpíadas, novamente promessas foram feitas, mas já se sabe que a despoluição não ocorrerá. Apenas um trabalho superficial, de melhorar alguns aspectos, para que o mundo, durante os jogos, não conheça a vergonha ambiental que é a nossa Baía de Guanabara. E nela intervirão tão somente por estar no caminho de quem chega na cidade de avião. É um cartão-postal da cidade, daí cuidar da aparência. Pois, do outro lado, na Baía de Sepetiba, zona oeste da cidade, nada de maquiagem e sim o serviço sujo: alocação de indústria pesada, cinzenta, altamente poluidora, com expulsão de pescadores e um novo porto para exportação mineral, que confirma a vocação nacional de reviver, em pleno século XXI, a velha condição de nação exportadora de matéria-prima para as nações industrializadas.
Também ocorreu segregação das vias públicas, impedindo a circulação da população?
Sim, se criou uma faixa exclusiva para a chamada Família Olímpica. O César Maia decretou férias escolares e disse o seguinte: “Eu proponho à população que todos saiam da cidade, vão passear em suas casas de veraneio em Cabo Frio para a cidade ficar mais tranquila para os jogos”. Se criou mesmo essas faixas e o trânsito ficou realmente difícil em diversos pontos do Rio. Havia muitas promessas de expansão do metrô. Aliás, o César Maia se reelegeu facilmente em 2004, tendo o panamericano como sua principal plataforma. Em janeiro de 2005, primeiro mês de governo, numa entrevista de página inteira em jornal de grande circulação, perguntaram sobre a expansão do metrô. Ele falou: “Não vai ter!”. – Repórter: “Mas e os jogos?” César Maia: “Não precisa”. Aí finalmente ele falou a verdade. Os jogos panamericanos são eventos de dimensão menor do que o Carnaval, menor do que o Reveillon do Rio. Então não tem metrô nenhum, ao contrário do que havia sido dito durante a campanha eleitoral.
A cidade não ganhou nenhum legado em termos de transporte público. E agora para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas vão fazer ligação do aeroporto a Barra. Assim como na África do Sul fizeram o tal do VLT, que é muito bonitinho, mas fizeram onde? Do aeroporto para o bairro nobre dos hotéis. A população da África do Sul vai continuar indo pro trabalho em vans clandestinas que é o transporte público de lá. Quem vai visitar acha muito bonito, pega aquele VLT bacana, chega no hotel e fica achando que o país realmente mudou com a Copa.
Visitei Fortaleza no ano passado. Lá vi o caso mais crítico. A cidade tem uma longa faixa ocupada por população de baixa renda que eles chamam de “comunidades do trilho”, porque existe uma ferrovia desativada que liga o Porto. Ao longo dessa via férrea, que é só de carga, tem um corredor de ocupação popular desde a década de 1950. Eles moram lá há 50, 60 anos. Ocupação irregular, no jargão oficial. A cidade de Fortaleza cresceu muito ultimamente. Surgiram alguns prédios de classe média-alta junto dessa área, shopping centers, e agora eles querem varrer a ocupação de lá. São mais ou menos umas 30 mil pessoas que moram numa faixa de uns 8 km. Querem fazer o quê? Querem abrir uma avenida e essa via de circulação que vão criar é pra ligar o nada a coisa alguma. Não tem a menor razão de fazer essa via, mas vão criar para justificar a remoção e assim seguir o ciclo de valorização imobiliária. Então tem uma luta ferrenha no Ceará. Assim, se criam propostas de transporte para, quase sempre, erradicar comunidades que estão em áreas que os moradores chamam “área de rico” e não de risco, porque elas estão ali incomodando de alguma forma.
O que tem de diferente entre uma capital e outra no Brasil em relação à Copa? Em Porto Alegre tem uma reação com os Comitês Populares da Copa. Pode-se esperar algo nas outras capitais também?
Em Fortaleza tem essa reação popular forte. Em Natal, fiquei surpreso. Estive lá em dezembro último e percebi uma opinião pública contrária à Copa, bastante difundida. A população entende que a cidade não precisa da Copa, de que a cidade não precisa fazer um estádio. Tanto que até hoje Natal ainda não licitou o estádio, porque na Câmara de Vereadores há um debate intenso. É um caso meio raro no Brasil hoje. Inclusive vi taxista falando assim: “Eu sou Lula. Mas essa coisa de fazer Copa do Mundo é uma loucura do Lula”. Dizem assim, pra quê Copa do Mundo, né? E aqui em Porto Alegre, estive em outubro e já vi um movimento forte. Brasília também está começando um movimento.
No Rio, a gente já tem um histórico do Comitê Social do Pan. O mesmo grupo está hoje no Comitê Popular da Copa. A diferença é que no Rio fala-se mais sobre os jogos Olímpicos do que a Copa, porque são os Jogos que realmente vão mudar a cidade. Já estão mudando, no plano de remover 130 comunidades e dezenas de milhares de pessoas, para abrir novas vias. O problema maior é a forma como essa remoção está sendo conduzida. A Comissão de Direitos Humanos da ONU esteve na cidade e pude acompanhar a visita, liderada por Raquel Rolnik, relatora para assuntos de direito à moradia. Além de não haver qualquer negociação coletiva com as comunidades, como reza a lei orgânica municipal, ficando tudo na base das pressões a cada individuo, e do uso da força policial para remover, a prefeitura simplesmente derruba as casas dos moradores que aceitaram a remoção. Já aqueles que ali permanecem, aguardando o desfecho da negociação, têm que suportar o quadro caótico, de viver entre escombros, um verdadeiro cenário de guerra. Escombros que impedem até a circulação, o ir e vir desses moradores. Escombros que abrigam lixo, ratos e comprometem a saúde pública.
Em suma, o poder público, que deveria zelar pela integridade e saúde, torna-se o promotor de um quadro absurdo de desrespeito à saúde e integridade dessa gente. Por fim, sob o argumento da agilidade na burocracia, o governo federal propôs e o parlamento acaba de aprovar o RDC (Regime Diferenciado de Compras) para a Copa e às Olimpíadas, que facilita ou mesmo exclui processos licitatórios habituais. Imagino então que teremos nos próximos dois anos um embate crescente, entre os que reivindicam direitos e necessidades básicas da população e os gastos absurdos com os megaeventos esportivos.
* com colaboração de Lucimar Siqueira, Luiz Alberto Pires e Sérgio Baierle.
Fonte: Brasil de Fato – http://www.brasildefato.com.br/node/6825


**Extraído do Blog do Juca Kfouri (www.blogdojuca.uol.com.br)