terça-feira, 20 de setembro de 2011

Futebol feudal

Os escândalos acontecidos nas séries C e D do Brasileirão, expõem várias de nossas feridas.

Se considerarmos que, com pouquíssimo incentivo por parte da CBF, os clubes que disputam as rabeiras do nosso futebol confirmam o que é regra no nosso futebol - os operários da bola recebem salários aviltantes para exercer sua profissão.

Em grande parte das vezes, jogadores de futebol profissionais de clubes de pouca expressão nacional, sem os holofotes da grande mídia, acumulam outros trabalhos para ter um mínimo de condições dignas em suas vidas.

E  o salário, ó...


Diante de tal situação, qualquer incentivo que apareça, venha de onde vier, é o peru de Natal destes atletas.

É aquela coisa, não é possível dissociar esta situação de uma condição mais geral do país. Mas ajuda a desmistificar a ideia de que jogador de futebol ganha "muito".

Os jogadores das séries A e B, cujos direitos de transmissão são disputados a tapa (leva quem tem a mão maior, no caso, a Globo) e tudo o que gira em torno movimenta vários zeros anteriores à vírgula, recebem milhares (ou até milhões) de reais por mês, são a exceção no futebol brasileiro.

O aceite de qualquer ajuda, se possibilita um ganho extra(ordinário) para eles, do ponto de vista esportivo é altamente questionável.

O problema é que, vendo tudo o que aconteceu, não dá pra ficar com cara de paisagem e tratar como se nada tivesse ocorrido.

(para entender melhor, acesse os links abaixo)

http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-c/noticia/2011/09/mais-polemica-arbitro-relata-dialogos-entre-jogadores-de-fortaleza-e-crb.html

http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-d/noticia/2011/09/polemica-na-serie-d-anapolina-quer-anulacao-do-jogo-com-tocantinopolis.html

Esta é, até o momento, a postura da entidade máxima do nosso futebol.

O mesmo Estatuto do Torcedor, utilizado para barrar quaisquer menções depreciativas ao sacrossanto nome de Ricardo Teixeira nos estádios, ainda não foi reivindicado pela CBF para coibir este tipo de arrumação vil e desrespeitosa como as vistas nas séries C e D.

Ele andou dando o ar da graça nas séries C e D


O torcedor, eternamente feito de palhaço, pagou para ver futebol e acabou vendo um circo. Se havia tal promoção (pague por um espetáculo e veja dois), o coitado que foi assistir a seu time do coração não foi avisado.

Você pode estar se perguntando: mas isso não acontece com frequência na Europa? E na primeira divisão?

Sim. Lá as coisas funcionam mais ou menos assim: existem vários sites e casas de apostas, que movimentam milhões de euros, e a depender de quem está investindo - aí deixa de ser aposta, passa a ser investimento - os resultados são alterados de acordo com os palpites do malandro.

Qual é a diferença então?

A diferença é que Bernard Tapie, do Olympique Marseille, foi preso. A diferença é que La Vecchia Signora, a Juventus de Turim, foi jogar a terceira divisão italiana. A diferença é que lá, as entidades que dirigem o futebol, minimamente se mexem diante destas situações.

Não só o futebol, mas o Brasil como um todo, experimentam um "desenvolvimento" nunca antes visto na história deste país. Mas nossas dimensões continentais, às vezes, nos impedem de ver o quão atrasados estamos ainda nos grotões.

Foi mal aí, mas sabe como é...


São camponeses e lutadores mortos, corrupção desenfreada, abandono nos hospitais e postos de saúde, escolas em precárias condições, um povo subjugado pela fome, a miséria e o descaso. Tudo isso, sem punição aos coronéis que mantêm tais condições vivas para sua própria sobrevivência. No futebol, tal como em vários outros aspectos, o Brasil encontra seu espelho. Um pedaço do país que sequer foi apresentado ao tal do capitalismo.

Mas o capitão-do-mato do nosso futebol, tem muito mais com o que se preocupar. Com sua seleção fazendo negócios no exterior através de amistosos, e com seus contratos milionários com a Globo, que monopolizam a transmissão e impõem horários nada adequados aos jogos.

Antes fosse só isso. Ainda tem as suspeitas negociatas na Suíça, denunciadas pela BBC de Londres, além de um crescente movimento pedindo sua cabeça por aqui.

Nem a Globo tem conseguido sustentá-lo.

Enquanto isso, temos uma Copa saindo do forno. E a chapa só esquenta nossos traseiros.

Continuaremos sentados?


Valeu,

Bruno Porpetta


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Bruno Porpetta