segunda-feira, 30 de abril de 2012

Sacanagens à parte...

Segunda-feira, dia de louvar os vencedores e sacanear os derrotados.

Enquanto botafoguenses se regozijam pelo título da Taça Rio, vascaínos amargam, mais uma vez, a tortura de um vice-campeonato. Duas vezes no Carioca, além do Brasileirão do ano passado.



Porém, existe um aspecto pouco explorado em tudo isso. Em 2009, o clube cruzmaltino estava na segunda divisão, e dentro de um processo de retorno ao caminho das grandes vitórias, não há o que se queixar.

O Vasco, depois de muito tempo, volta a frequentar as primeiras posições em tudo o que disputa. Foi campeão da Copa do Brasil, que deu-lhe o direito de participar da atual Libertadores, onde está classificado para as oitavas-de-final e, a meu ver, tem tudo para passar pelo argentino Lanus.

Não coloco o Vasco como favorito ao título, mas tem tudo para uma boa participação, depois de muito tempo de ausência.

Como escrevi acima, é um processo. E processos muito rápidos são para se desconfiar. Se agora restou a amargura da perda de mais um título, o futuro pode ser promissor.

Basta não abandoná-lo.

A mesma premissa vale ao São Paulo, derrotado pelo Santos na semifinal do Paulista.



O São Paulo, diferentemente do Santos, possui um time em formação. Enquanto a juventude santista já está mais do que tarimbada, a sãopaulina está "pegando cancha".

Enfrentou um time pronto, um supercraque chamado Neymar, um gênio como Ganso se reafirmando. A derrota não é uma tragédia para o São Paulo.

Na modesta opinião deste blogueiro, é favoritíssimo ao título da Copa do Brasil, que seria o primeiro de sua história.

Da mesma forma que o Vasco, não existem razões para grandes mudanças.

O Santos fará a final, em dois jogos, contra o Guarani.

Este último chegou lá derrotando a Ponte Preta, de virada.



No interior, é bem mais complicado evitar o desmonte dos times, dadas as más condições financeiras dos clubes e que nenhum estadual é capaz de recuperar.

Só que, embora derrotada, a Macaca jogará a primeira divisão do Brasileirão. O Guarani, não.

Portanto, a prioridade é a manutenção do seu elenco. O time é bom, com um treinador inteligente. Desmontar tudo isso agora, às vésperas da estreia na elite nacional, é um passo largo rumo ao precipício.

No Rio, Fluminense x Botafogo. Em São Paulo, Santos x Guarani.

Favoritos?

Fluminense e Santos.

Como também o eram Real Madrid e Barcelona na Liga dos Campeões. Vai que...



Valeu,

Bruno Porpetta

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ah! O futebol...

Poderia enumerar mil e uma razões para o futebol ser um esporte tão popular, tão apaixonante, tão lindo.

Uma delas, definitivamente, é a imprevisibilidade.

O que dá lógica ao futebol é, justamente, a ausência de lógica.



Se fosse realizada uma pesquisa, com os mais de sete bilhões de habitantes no planeta, fora os chatos, onde me enquadro, seria imensa maioria cravando Real Madrid e Barcelona, jogando em Munique, aos 19 de maio de 2012, a grande final da Liga dos Campeões.

Os chatos, em geral, são os do contra. Os que tentaram a sorte em um bolão, cravando um palpite diferente pra ganhar toda a grana sozinho. Ou os que, como eu, consideraram a hipótese de uma zebra. No meu caso, cheguei a pensar com meus botões no caso do Bayern, não do Chelsea.

Mas, mesmo sendo chato, pensava o óbvio ululante. O grande clássico espanhol daria fim à Liga dos Campeões!

E não é que o futebol pregou mais uma de suas peças?



A final da Liga dos Campeões é, exatamente, a oposição à lógica, ao previsível.

Bayern e Chelsea farão a grande final. Cada um com suas marcas de batalha, mas estão lá.

Tanto um, quanto outro, chegam com desfalques. O Chelsea tem quatro, o Bayern, outros três.

Mas ainda assim, farão a final, e tenham certeza, será igualmente um grande jogo!

O Chelsea é, como diriam os Raimundos, "primo véio e cancrado". Um time montado a partir do dinheiro de Roman Abramovich, que bateu na trave por alguns anos na própria Liga.

Porém, cheio de grandes jogadores, que tem nesta Liga sua última chance de se afirmar. Como Lampard, Terry e Drogba.

Este último, inclusive, marcou gol decisivo no primeiro jogo, após um grande período em má fase. Cresceu na hora certa!

John Terry, que foi perfeito no primeiro jogo, acabou expulso no segundo, e não joga a final.



Lampard deu o passe para Ramires - outro que fez grande partida - fazer o golaço que colocou o Chelsea no segundo jogo. Ainda tem Torres, que marcou o gol "fecha-caixão", um dos poucos que fez pelo time londrino.

Do lado do Bayern, além de um excelente time, haverá a torcida.



O grande jogo será em Munique, e o Bayern terá a oportunidade de se tornar um dos poucos que conquistaram a Liga em casa.

Os dois times, chegam com excelentes goleiros, em excelentes fases.

Peter Cech e Manuel Neuer, foram decisivos para o inusitado. Agarraram tudo, até sonho! E o sonho de ir à final, de improvável, se tornou possível.

Devo confessar, apesar dos riscos que corro, que acho que vai dar Chelsea. Ou Bayern. Não sei. Ah!, deixa pra lá!

Depois de tudo o que aconteceu, melhor não arriscar muito.

Como descrevi anteriormente, o futebol é apaixonante. Exatamente por isso. Sabe-se lá o que pode dar?


Valeu,

Bruno Porpetta

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O tempo passa, o tempo voa...*

Há quase um ano, escrevi sobre Ronaldinho no Flamengo.

Precisamente em 11 de junho de 2011.

Fazia sucesso, à época, uma música muito chata, de uma banda muito chata. Representantes legítimos do perfil "meio intelectual, meio de esquerda", comedores de brócolis e plantadores de árvores da Vila Madalena, em São Paulo, A banda mais bonita da cidade bombava no Youtube com o videoclipe Oração.

Uma música repetitiva, com letra pueril e um clipe tão meigo que dá vontade de lançar um míssil contra os bonitinhos. A música brasileira não precisava de uma síntese de Los Hermanos (que compõem o mesmo perfil aqui no Rio, sonhando ser Chico Buarque) e Titãs (pelo número bastante expressivo de membros).

Por isso, nada mais pop para um blogueiro desconhecido que, ao falar de Ronaldinho, o enquadrasse em um título que dialogava com a tamanha irritação que aquela música me provocava.

O título do artigo era "O craque mais escondido da cidade" e está disponível no link abaixo, para eventuais consultas do leitor.

http://porpetta.blogspot.com.br/2011/06/o-craque-mais-escondido-da-cidade.html


Pareceu-me relevante dividir uma sensação com vocês.

Este artigo, de quase um ano atrás, há cerca de um mês, ronda as estatísticas que o colocam entre os mais lidos recentemente.

Eles podem sair abraçados da vida do Flamengo


Neste momento, ele é o mais lido da última semana, o mais lido no mês e, surpreendentemente, o mais lido em toda a história do blog.

Aí eu me pergunto, será coincidência? Será que o texto é tão bom assim? Quem sabe ele foi publicado no Marca espanhol e eu nem fiquei sabendo?

A resposta é óbvia: NÃO!

O Marca está muito ocupado tirando sarro do Barcelona, e não estaria preocupado com um ex-ídolo do rival.

O texto nem é uma Brastemp. Embora possa gelar uma cerveja, não é pra tanto.*

E coincidência, infelizmente, não é.

De lá para cá, o cenário de Ronaldinho no Flamengo é quase o mesmo.

Suas boas atuações são como chuva no semiárido, raríssimas.

O que mudou de lá pra cá foi o tamanho do prejuízo do Flamengo. Dos 250 mil reais do ano passado, o clube passou a arcar integralmente com seu salário.

O resultado é que o Flamengo agora é uma escola, com férias duas vezes ao ano.

Por "coincidência", assim como a permanência do Flamengo em praticamente todos os cadernos dos jornais em 2010, as confusas relações entre jogadores, dirigentes e comissão técnica em 2011, e agora as eliminações precoces em todas as competições que disputava, a presidenta-vereadora do Flamengo parece estar na Sibéria.

As declarações, geralmente, são dadas por dirigentes enrolados e desafinados, o treinador e alguns jogadores, exceção feita a Ronaldinho, claro.

Patrícia Amorim gosta da festa, da boa nova, porque estas rendem votos, seja lá onde estejam estes votos. Seja no Flamengo, seja na cidade do Rio de Janeiro.

Más notícias, crises e afins são assuntos apenas de bastidores, sem muitas aparições. Estas jogam contra as pretensões eleitorais da ex-nadadora.

O pior é saber que ela pode se reeleger. Tanto em um, como no outro.


Valeu,

Bruno Porpetta


* As empresas referidas, tanto o banco quanto a indústria de eletrodomésticos, não pagaram um centavo sequer para figurar por aqui, mas devo reconhecer que as propagandas de ambas, de outros tempos, são excelentes.



quinta-feira, 19 de abril de 2012

Entre o favoritismo e a sina

O Fluminense garantiu ontem a melhor campanha da primeira fase da Libertadores da América.

De fato, há muito tempo coloco o Fluminense como um dos favoritos à conquista do título. Disso não tenho nenhuma dúvida, e não creio que alguém tenha.

Toda razão para comemorar, e também para ter cautela


A equipe tricolor, além de grandes jogadores dentro de campo, possui peças de reposição que mantém um bom nível, tanto do ponto de vista técnico, como da experiência necessária em um torneio difícil como a Libertadores.

Ontem mesmo, após a contusão de Wellington Nem, que vem sendo o motorzinho do ataque tricolor, a entrada de Rafael Sóbis - mesmo que a princípio o Fluminense tenha encontrado alguma dificuldade em reencontrar-se no jogo, adaptando-se a um estilo diferente - foi determinante. Foi de Sóbis o (belo) passe para o primeiro gol tricolor, marcado por Carlinhos.

Portanto, estas inúmeras possibilidades encontradas no elenco do Fluminense para mudar uma partida, a depender das características da mesma, o credenciam ao rótulo de favorito.

A obtenção da melhor campanha na primeira fase coloca para o Flu a definição de todo e qualquer confronto em casa, no Rio de Janeiro, ao lado de sua torcida.

Sem dúvida, esta condição pode ser fundamental para o título.

Pode.

Se levarmos em conta o retrospecto da própria competição, o último clube, com melhor campanha na primeira fase, que levantou o caneco foi o River Plate, em 1996. Ou seja, há 16 anos.

De lá pra cá, alguns chegaram muito próximo de conquistá-lo, sem sucesso. Até o próprio Fluminense, em 2008, teve a melhor campanha, com a prerrogativa de decidir todos os confrontos em casa, e sucumbiu na grande final à LDU, do Equador, nas cobranças de pênaltis.

Nos últimos dois anos, os times de melhor campanha da primeira fase foram derrotados logo nas oitavas-de-final, justamente pelos piores classificados e decidindo em casa.

Em 2010, o Corinthians, após ser derrotado pelo Flamengo por 1 a 0 no Maracanã, mesmo vencendo por 2 a 1 no jogo de volta, no Pacaembu, ficou de fora. No ano passado, foi o Cruzeiro, com uma campanha espetacular na primeira fase, que voltou pra casa mais cedo contra o Once Caldas, da Colômbia. No jogo de ida, vitória cruzeirense por 2 a 1, na Colômbia. Na volta, um improvável 2 a 0 para os colombianos, jogando na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas-MG.

História não entra em campo. Entram os times, suas qualidades e defeitos, mas, em uma competição onde o gol fora de casa é critério de desempate, todo cuidado é pouco.

No caso corinthiano, na edição retrasada da competição, bastou um simples 1 a 0 no campo do adversário para complicar sua situação. O gol de Vagner Love, no Pacaembu, apesar da derrota rubro-negra, foi decisivo para a classificação do Flamengo.

Imaginemos uma derrota por 2 a 0, fora. A obrigação de marcar, somada a necessidade de não levar mais gols para não complicar ainda mais a situação, pode ser mortal.

Se história ganhasse jogo, o Egito seria 10 vezes campeão do mundo.

Mas prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Tá aí o retrospecto que não deixa mentir.


Valeu,

Bruno Porpetta

sábado, 14 de abril de 2012

O menino de 100 anos

Como nasci na antiga Cidade Vermelha, a Santos de Plínio Marcos, de Pagu e, fundamentalmente, a terra onde Pelé jogou, meu primeiro contato com as arquibancadas na vida foi na Vila Belmiro.

Era princípio de 1988, eu tinha oito anos de idade, e depois de muito insistirmos, conseguimos fazer meu pai nos levar - eu e meu irmão mais novo, torcedor do Santos - ao estádio. Iríamos conhecer a Vila, num jogo de Brasileiro, contra o Botafogo.



Eu, já torcedor do Flamengo, me senti à vontade para ficar no meio da torcida do Santos.

Observava o campo, os jogadores e, atentamente, a temida Sangue Santista, que desde cedo nos era apresentada como o grande perigo, devido ao comportamento violento de alguns de seus membros. Não dá pra negar que sempre dá um frio na barriga saber, com aquela idade, que tem gente que briga com torcedores de outros times. E eu torcia por outro time!

Lembro-me que não foi um grande jogo, acabou em 0 a 0. Grande mesmo foi a contagem dos pênaltis. Terminou 10 a 9 para o Botafogo. Acho que dei azar.

No campeonato seguinte, fomos eu, meu pai, meu irmão e meu avô - três gerações de santistas - a um jogo contra o Vasco, igualmente tranquilo para mim. Afinal de contas, além de ser o Vasco, eu iria ver Bebeto, recém-saído do Flamengo de forma conturbada. Perdi novamente, 2 a 1 para o clube de São Januário, com gol de Bebeto.

Depois disso, resolvi dar um tempo. Até para poupar minha família de algum possível escárnio.

Mesmo assim, se eu não ia até o Santos, ele vinha até mim. No meu prédio morava o, à época, ponta-direita do Santos, e ídolo em tempos de vacas magras, Almir.



Uma gentileza de pessoa, que convidou a toda criançada para a festa de aniversário de seu filho. Óbvio que a molecada toda foi, inclusive eu.



Lá, conversamos com praticamente todo o time. Destaco o lateral-direito Índio, que foi quem mais nos deu atenção e papo. Para uma criança que gostava de futebol, era a glória.

Além disto, conforme o tempo passava, fui desenvolvendo uma paixão maior pelo meu clube de coração, o que necessariamente me afastou da Vila. Pelo menos, na condição de "torcedor" da casa.

A chegada da adolescência me trouxe foi um ódio danado do Santos. As sacanagens coletivas cotidianas contra mim foram terríveis. Não que o Santos ganhasse tudo, muito pelo contrário. Mas, na Vila Belmiro, não perdia para o Flamengo. Tal escrita só foi quebrada, em jogos oficiais, no ano do hexacampeonato brasileiro rubro-negro, em 2009.

Em 1992, num trabalho de colégio para a Feira de Ciências (minha "ciência" era a Educação Física), sobre o Santos, voltei à Vila. Desta vez, pela porta da frente!

Conheci os jogadores, em especial o centroavante Guga, que adorava marcar gols no Corinthians e era adorado pela torcida. Frequentei os vestiários, sentei no banco de reservas, - rodeado de lama, diga-se de passagem - e entrei em campo.



O gramado era horrível, um verdadeiro pasto, e provavelmente o mesmo que foi incansavelmente pisado por Pelé e os Globetrotters do futebol. Mas como não pude jogar, as irregularidades do campo não foram problema. Bastou olhar para as arquibancadas dali, de dentro do campo, para sentir o que poderia ser aquilo cheio de gente.

É bom ressaltar, a imaginação pendia para os dois lados. Imaginava-me com a camisa do Santos, tendo meu nome gritado ao anúncio do locutor do estádio, mas também me via com a do Flamengo, sendo vaiado intensamente.



Jogar na Vila, como visitante, é das paradas mais indigestas que existem. Não existiam muros de acrílico, era só uma grade. Não tinham cadeiras, ficavam todos em pé, encostados na grade e cuspindo, xingando, atirando coisas nos adversários. Cobrar um escanteio, ou arremesso lateral, era um martírio.

A Vila sempre foi um estádio que conseguiu traduzir em si a força do Santos.

O que mais me incomodou, na verdade, foi a sala de troféus. Não pelos troféus, que eram lindos e imponentes, mas por um quadro enorme que ilustrava a sala.

Era um retrato de Pelé, vestido com o manto branco, o número 10 às costas e, ao fundo, o Maracanã. Repleto de torcedores em vermelho e preto, o placar abaixo destes marcava 7 a 1 para o Santos.

Os caras ficam 11 anos sem perder para o Corinthians, o maior rival, e colocam um quadro com uma goleada histórica contra o Flamengo?

Na hora, fiquei muito ofendido. Anos depois, reconheci que levamos sete de uma máquina de fazer gols, placar que deve ter se repetido contra vários outros clubes, mas só o Flamengo adentrou à sala de troféus do Santos. O artista reconhece que aquele placar não era contra qualquer um.

Nos anos de vacas magras, os tais 18 sem títulos, a torcida do Santos vivia uma depressão que parecia não ter fim. A inversão das faixas, pelas torcidas organizadas, representava o saco cheio com aquela situação. Colocá-las de volta para cima era uma tarefa que o time tinha que cumprir.



Em 1995, mais uma vez estava eu, agora diante da TV, torcendo pelo Santos com a minha família. Primeiro contra o Fluminense, na semifinal do Brasileiro, em jogo épico que deu origem às Testemunhas de Giovanni, depois, na grande final, contra o Botafogo. Não era desta vez que eu daria sorte ao Santos, e assim se prolongou o calvário.

Cabe discutir seriamente uma teoria, desenvolvida por meu amigo Matheus, professor de história e conterrâneo de Wisnik, da Ilha de São Vicente.

O Santos, segundo ele, é o "Sebastianismo realizado".



Desde a morte de Dom Sebastião, o rei de Portugal que, empenhando-se numa tarefa absolutamente estúpida, foi morrer na Batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos, o povo português, com respingos no Brasil, esperava pelo seu retorno. A retomada da pujança portuguesa no mundo estava condicionada à ressurreição do rei Tião.

É perceptível que isto nunca aconteceu, e assim será para sempre.

Para Portugal, o Sebastianismo é irrealizado, e durante muito tempo, acreditou-se que o destino do Santos seria o mesmo.

Somente o renascimento de um Pelé para devolver a grandeza ao Santos. Parecia impossível.



Porém, o Sebastião santista não precisava ser extraterrestre como Pelé. Precisava simplesmente ser um moleque negro, aparentemente franzino, e genial.

Assim surgiram, pós-Pelé, os novos Sebastiões: Robinho e Neymar.

O rei das pedaladas devolveu ao Santos os títulos, e junto com eles, a altivez para continuar conquistando-os. Robinho deu a tranquilidade necessária ao Santos para descobrir seu novo Sebastião, o genial Neymar.



Diante desta teoria, cabe aos santistas, além de amantes do bom futebol, degustar este momento com carinho. Não se sabe quando surgirão outros Sebastiões.

Mesmo assim, de forma esporádica, o Sebastianismo santista encanta. A tradição do Santos em produzir arte em forma de bola é de emocionar a quem gosta de futebol.



Um futebol de menino. Tão menino quanto eu, ao conhecer a Vila, ao jogar bola nas praias de Santos. Tão menino quanto Pelé, quanto Robinho, quanto Neymar, entre tantos outros meninos que por lá surgiram. A lenda que atravessa gerações, os meninos da Vila.

Quando me perguntam se sou santista, me apresso em dizer que sou "de nascimento". Porque ser santista é quase um sinônimo de torcedor do Santos, e este não é o meu caso.

De qualquer forma, devo parte da minha devoção pelo futebol ao Santos, além da certeza de que minha terra natal não é somente um ponto no mapa.



Sou de Santos, a Cidade Vermelha! Do maior porto da América Latina e suas greves que afrontavam à ditadura militar. Das experiências revolucionárias em saúde pública, com David Capistrano. Do meu querido bairro do Boqueirão, de tantas histórias.

Mas não posso negar, sou também de Santos, a cidade alvinegra onde Pelé jogou.

Para não ser injusto, a cidade onde Rodolfo Rodríguez fez cinco defesas em sequência, protagonizando um dos maiores milagres da história do futebol brasileiro.







O Santos chega ao seu centenário, ainda com jeitão de menino.


Valeu,

Bruno Porpetta

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O craque da rodada é...

Sem dúvida alguma, São Judas Tadeu!

Ora, mas o Flamengo, cujo santo é o padroeiro, foi eliminado. Como assim?

Os santos, muito mais do que milagreiros, devem prezar pela justiça.

Se o milagre e a justiça entram em conflito, a vocação de sua santidade impõe a segunda.

São Judas Tadeu em noite de gala


No Engenhão, o Flamengo "fazia sua parte", vencendo o Lanus por 3 a 0.

São Judas jogou tanto, mas tanto, que o rubro-negro teve boa atuação, teve gol de Welinton, um desvio sutil na perna do zagueiro do time argentino no gol de Deivid, o gênio de ocasião Ronaldinho Gaúcho foi visto correndo, além de sua linda jogada no terceiro gol de Luiz Antônio.

Para se ter uma ideia, Joel Santana fez três substituições, nenhuma delas promoveu a entrada de um zagueiro. Ou seja, o santo tava forte!

Os caprichos ficaram para a outra partida, entre Olimpia e Emelec, em Assunção.

No fim do primeiro tempo, o Olimpia fazia 1 a 0. Podia-se supor que, jogando em casa, poderia se valer do desespero do Emelec para ampliar o placar. Ledo engano.

O segundo tempo foi, praticamente, de um time só. Do Emelec.

Mas o time equatoriano não é lá essas coisas. Consagrava o goleiro, a trave e, principalmente, dava status de gala a noite de São Judas Tadeu.

De acordo com o ditado, água mole em pedra dura tanto bate até que fura. O Emelec empata o jogo, a vaga, naquele momento, era do Flamengo.

Ao contrário do que se imaginava, não é o time da casa - superior tecnicamente - que busca a todo custo a vitória, é o Emelec. Tanto esforço, mesmo sem talento, é recompensado com o segundo gol. De todos os resultados, este era o mais inimaginável.

Aí o Olimpia teve que acordar pra vida. E foi pra cima.

Diante da fragilidade dos equatorianos, o gol de empate era, até certo ponto, previsível. E este saiu nos acréscimos, aos 46 minutos do segundo tempo.

O jogo estava empatado, e naquela altura, a vaga era indiscutivelmente do Flamengo.

São Judas havia cumprido sua missão? O milagre da classificação rubro-negra aconteceu?

Lembram quando dizíamos, no início desta crônica, que dado o conflito entre o milagre e a justiça, o santo deve ficar com a segunda?

Pois bem, a vaga do Flamengo durou um minuto! Foram 60 segundos onde, mesmo os mais incrédulos, oravam de joelhos diante da imagem do santo em dia de Messi, ou Pelé.

Mas o Flamengo não merecia a vaga. Pagava-se ali, naquela cabeçada de Quiñones, os equívocos de Joel, o descompromisso do time, a ausência quase permanente do gênio de ocasião.

A vaga era do Emelec!

O time de Guayaquil é bastante limitado tecnicamente. Mas jorrava neles vontade, a mesma que faltou ao Flamengo durante toda a competição, e ao Olimpia na reta final.

No fim das contas, fez-se justiça.

O que São Judas deixou ao Flamengo foram lições. Resta saber se alguém por lá está disposto a aprender.


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 12 de abril de 2012

As traquinagens do Boca

Se há um clube no mundo que merece sempre, no mínimo, muito respeito, este clube é o Boca Juniors.

O mito criado em torno das participações do Boca na Libertadores não é fruto de uma abstração. Concretamente, o Boca Juniors se impõe sobre todas as suas próprias dificuldades, as supera e cresce.

Para nós, brasileiros, em especial, o Boca é, na verdade, um prato indigesto.





Palmeiras, Santos, Grêmio, entre outros, são vítimas do mito.

Em todas as ocasiões, as vítimas estão melhores. Com mais time, melhor campanha, moral em alta... Seja lá qual for a condição que as diferencia, colocando-as em um patamar superior ao Boca, o time de La Bombonera surpreende.

O último foi o favoritíssimo Fluminense, diante de um Boca sem seu único jogador de expressão, Juan Roman Riquelme. Para o mundo, Riquelme. Para o Boca, simplesmente Roman.

Da mesma forma de sempre, sabendo se defender e, principalmente, definindo o jogo em poucos lances, o mediano time do Boca derrotou o excelente time do Fluminense dentro do Engenhão.

Assim como fez com o Palmeiras, o Santos, o Grêmio...

O Boca, tradicionalmente, cresce junto com a competição. Começa cambaleante e, de repente, põe a camisa pra jogar. Por várias vezes, desta forma, acabou campeão.

Se o time de hoje tem condições para vencer a Libertadores? Creio que não. Mas sempre dão mais trabalho do que se possa supor.

O Fluminense provou que a afirmação acima começa a se tornar verdadeira nesta Libertadores.


Valeu,

Bruno Porpetta

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Dinamite tinha razão?

Abaixo, você pode conferir a súmula do jogo entre Vasco e Flamengo, ocorrido no sábado.

O mesmo que provocou um chilique coletivo no time do Vasco, corroborado pelo presidente do clube, Roberto Dinamite, que julgou o árbitro como ladrão.



A letra "V", ao lado dos nomes de Fagner, Rodolfo, Eduardo Costa, Fellipe Bastos e Diego Souza, sugeriria que os mesmos haviam levado cartão vermelho após o tumulto no fim do jogo.

No dia seguinte, as letras foram apagadas.

Teria o árbitro roubado até os "V's" da súmula?

Sendo isto, Dinamite tinha alguma razão. Né não?


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O preço da covardia

Peço licença a tod@s para, ao invés de alguma análise mais séria sobre o Flamengo, simplesmente fazer um desabafo.

Não sou o cara que costumo ficar escondendo pra quem eu torço. O mundo inteiro sabe, ou deveria ter alguma noção, que eu torço pelo Flamengo. E tal como qualquer torcedor, sou suscetível a momentos de emoção extrema, como a raiva, a paixão, a ternura ou a loucura completa.

Joel consegue, em pouco tempo, merecer a demissão


A ideia não é chegar ao extremo da emoção, juro que vou tentar manter alguma razão nesta resenha toda. Mas devo admitir que é muito difícil!

O Emelec provou, para todo mundo ver, como podia ser facilmente derrotado. Com, pelo menos, cinco moles do Flamengo, o time equatoriano conseguiu marcar apenas um gol no primeiro tempo.

Significa que o Flamengo jogou mal na primeira etapa? Não.

O time rubro-negro criou inúmeras chances, fez dois gols e podia ter feito mais. Léo Moura aparecia bem pela direita. Vágner Love ajudava na troca de passes. Deivid aparecia bem, embora nem sempre concluísse da mesma forma. Acabou marcando o segundo, após cruzamento do contestado Júnior César, que recebeu belo passe do gênio de ocasião, Ronaldinho.

Os problemas do Flamengo eram defensivos, mas dava pra contar com a má pontaria do Emelec, até determinado ponto.

Willians e Welinton são duas peças que, há algum tempo, não justificam sequer os seus empregos, que dirá seus salários. Se era o que tinha na prateleira, tudo bem. Embora o Flamengo seja réu confesso no crime de não ter elenco para disputar duas competições em paralelo, sendo uma delas a Libertadores da América.

Definitivamente, o Flamengo tem mais time que o Emelec, o Olimpia e o Lanús. Os resultados obtidos, na verdade, evidenciam outras questões.

Quando um clube grande, com inúmeros títulos no currículo, enfrenta um time mais frágil, a ordem natural das coisas reza que um se imponha sobre o outro. Em um jogo de Libertadores, esta regra vale ao quadrado.

O primeiro tempo, apesar da vontade louca de levar mais gols, era animador para a torcida do Flamengo. Do meio pra frente, todo mundo jogando bola, trocando passes a encontrando os espaços. Até Ronaldinho, pasmem!

No segundo, não sei se impulsionados pela retórica de Joel no intervalo, o Flamengo puxou o freio de mão, mas quando a bola encontrava a qualidade de seus homens de frente, ainda levava perigo.

Pode-se dizer que, aos 23 minutos do segundo tempo, o Flamengo abriu mão da Taça Libertadores da América.

Foi melhor nem ver mesmo...


Deivid, ainda readquirindo ritmo após uma contusão, e fazendo bela partida até então (apesar de perder mais um gol feito, só pra botar na conta), sente cãibras.

Existe um ditado antigo que profecia: "Em time que está ganhando, não se mexe."

Se tal prognóstico não se torna possível, ao menos não mexa muito.

E Joel, borrando-se de medo, coloca o zagueiro Gustavo no lugar de Deivid.

O medo é o sentimento mais paralisante que existe. E quando o comandante da tropa tem medo, à tropa só resta abaixar as calças e borrar-se junto.

Dito e feito! O Flamengo se encolheu, permitindo que o lamentável time do Emelec crescesse. A partir daí, a lógica do futebol entre o grande e o pequeno estava absolutamente invertida. E Joel Santana é responsável direto por isso.

Restavam, pelo menos, mais 22 minutos de jogo. Convidar o adversário a frequentar sua área durante tanto tempo, significa correr um risco absurdo e desnecessário. Resumidamente, é uma covardia!

Imaginar que, lançando bolas longas para frente, seu gênio de ocasião vai resolver tudo e segurar a bola no campo de ataque é de uma inocência ímpar, ou de uma burrice sui generis.

Com certa dose de condescendência, podemos considerar a hipótese da inocência como verdadeira. Se existe um torneio que não admite inocência, é a Libertadores. Diante disso, o Papai Joel não era o cara pra dirigir o Flamengo na competição.

Admitindo-se a outra hipótese, - da burrice - aí sim, ele não poderia sequer ter passado na porta da Gávea.

Recordando o momento da chegada de Joel ao Flamengo, os jogadores tiveram papel decisivo na demissão do treinador que o antecedeu, Vanderlei Luxemburgo. Estavam felizes com a chegada do novo treinador, mas muito mais pela saída do outro.

A questão dos salários, pelo menos para o público em geral, está contornada. Não se fala mais em atrasos no Flamengo, portanto, não há motivos para panes secas por desnutrição entre os jogadores.

E mesmo assim, o time se acomoda. Parece satisfeito com o resultado e, automaticamente, aperta o botão "desliga". Se há alguém que se destaca neste "apagão", é o gênio de ocasião, Ronaldinho.

Melhor não contar com ele...


O gaúcho é capitão do Flamengo. Se existe uma atribuição inerente à responsabilidade de um capitão, esta é a de botar ordem na casa, chamar os garotos pra conversar, acalmar os demais diante de um mal momento.

A ausência é a pior característica que um capitão pode ter. E o capitão do Flamengo, nos momentos mais difíceis, se ausenta. Some do jogo, como que por encanto. O time fica todo perdido, sem saber o que fazer, e onde está sua referência? Em algum lugar, menos ali.

Sucedem-se tentativas inúteis de cavar uma faltinha aqui, outra acolá. As poucas marcadas são, via de regra, cobradas pelo dito cujo. Se cobranças de falta demandam treinos, e nestes ele falta aos montes, logo, é possível imaginar a quantidade de erros que ele comete nos jogos.

Mas tudo isso, não parte do nada. Parte da omissão da diretoria diante de tal descompromisso, que parece ser coletivo, não individual, mas reflexo direto da postura do capitão do Flamengo.

Os dirigentes do Flamengo mereciam ser sabatinados pelos 40 milhões de torcedores que eles dizem representar. Ouviriam poucas e boas, se não saíssem dali sob linchamento.

Se essa palhaçada fosse na Cinelândia...


Considerando o início de ano rubro-negro, onde não se sabia o time que iria a campo a alguns dias da estreia na temporada, pode-se dizer que planejamento e organização passaram a léguas da cabeça de Patrícia Amorim e seus asseclas.

Ou surge alguma coisa diferente na política da Gávea, ou o Flamengo está fadado a ser uma nau sem rumo por longos anos, independente de quem o dirija.

A covardia de Joel, a covardia de Ronaldinho e, principalmente, a covardia dos dirigentes do Flamengo, são de deixar qualquer torcedor maluco.

Podem me entender, né?


Valeu,

Bruno Porpetta

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Libertadores à velha maneira

Não consegui encontrar uma explicação racional para isso, mas alguém tem percebido como esta Libertadores está mais violenta do que as anteriores?

Era prática comum na Libertadores a violência. Seja dentro ou fora do campo.



Os times brasileiros que viajavam pela América do Sul, a fim de enfrentar os adversários continentais, deviam se preparar para, além do jogo em si, todas as vicissitudes que o envolviam.

Desde as longas viagens, recepções nada amistosas nos aeroportos, foguetórios em frente aos hotéis de concentração, pedradas nos ônibus que conduziam a delegação, chuva de objetos no campo e o bom e velho sarrafo durante o jogo. Tudo isso com anuência de policiais e árbitros.



O Santos de Pelé, depois de dois títulos e vários hematomas, decidiu deixar de disputar a competição, visto que deixava de ganhar um bom dinheiro em suas excursões pelo mundo para ficar levando caneladas na Libertadores. Embora Pelé tenha dado também suas bordoadas, absolutamente justificáveis.

Dizia-se que era a ausência de transmissão televisiva que contribuía para tal. De fato, o televisionamento serviu para, ao menos, constranger um pouco as arbitragens com tamanha selvageria. E até os próprios agressores ficaram um pouco constrangidos. Só um pouco.

Com TV e tudo, o Flamengo, campeão em 1981, teve o craque Adílio agredido na final por Mario Soto, do Cobreloa, sem a menor cerimônia. O camisa oito rubro-negro ficou de fora da final, assistindo ao jogo do hospital. Ao menos, viu o Flamengo campeão, além de ver Anselmo entrar em campo, arrebentar a cara de Soto, e sair expulso.



De lá pra cá, a Libertadores se tornou um pouco mais "civilizada". Apesar das dificuldades, os times brasileiros, mais acostumados à competição, passaram a vencê-la mais vezes.

Acontece que, não se sabe exatamente o porquê, a edição deste ano está, particularmente, mais violenta. A condescendência das arbitragens com a porradaria voltou, e os times brasileiros que, em sua maioria, não sabem jogar em tais condições, andam meio perdidos.

Apesar dos resultados não serem os piores, vez por outra, algum jogador brasileiro responde à violência alheia com agressões absolutamente estúpidas.

Não preguemos o "bom samaritanismo", menos ainda o autoflagelo.

Ou os brasileiros aprendem, de uma vez por todas, a lidar com estas questões, ou vão ficar levando pancadas que, se até o momento não comprometeram muito, lá na frente podem até decidir o título.



Resolvi escrever sobre isto após a vitória do Vasco sobre o Alianza Lima, do Peru, em Lima.

O resultado foi excelente, o Vasco está praticamente classificado, mas o volante Nilton quase botou tudo a perder. Quando o time vencia por 2 a 1 e era pressionado, aos 46 minutos do segundo tempo, o cruzmaltino cometeu uma tentativa de homicídio na cabeça de Carmona. Deixou o Vasco com 10 jogadores, correndo o risco de levar o empate e, para piorar, desfalca o time no jogo mais importante, contra o Nacional, em Montevidéu.

Portanto, não precisamos ser santos, tampouco burros.


Valeu,

Bruno Porpetta