sábado, 25 de dezembro de 2010

Eurocopa: uma mini Copa do Mundo?

Muitos dizem que a Eurocopa é uma Copa do Mundo sem Brasil e Argentina, tamanha sua magnitude enquanto torneio.

Ok, é um grande torneio!

Mas tem duas diferenças que fazem um abismo entre a Euro e a Copa.

Primeira, não tem Brasil e Argentina.

Segunda, a Grécia NUNCA seria campeã de uma Copa do Mundo.

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em junho 11, 2008 de 12:51 am

A Bahia dos carlistas genéricos e lulistas transgênicos

Jorge Almeida

A campanha eleitoral de 2008 na Bahia está trazendo um verdadeiro show de coligações cruzadas, onde o único critério é o de supostamente somar votos, não importando programa político nem, muito menos, critérios ideológicos. Um exemplo disso será a eleição para prefeito da capital. O atual prefeito, João Henrique Carneiro, foi eleito em 2004 depois de 8 anos de mandato de Antonio Imbassahy, na época filiado ao PFL carlista. Montou uma imensa coligação, na qual estavam seu partido (na época o PDT), mais PSDB, PT, PCdoB, PSB, PMDB, PTB e muitos outros menores. O fracasso de sua administração, com a consequente queda na avaliação das pesquisas, e a derrota do carlismo nas eleições de 2006 seguida da morte do senador Antonio Carlos Magalhães em 2007, aprofundou a desagregação do carlismo e a confusão no que outrora foi conhecido como anti-carlismo no estado.

Neste quadro, o prefeito João Henrique (agora no PMDB), acabou de selar uma aliança eleitoral com Edvaldo Brito (PTB) em que este será o candidato a vice-prefeito da capital em sua chapa.

Mas quem botou o selo de ouro na aliança foi o ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) quando, no ato de lançamento da chapa, numa declaração bombástica, acusou alguns adversários, como Antonio Imbassahy (ex- PFL e agora PSDB), de “carlistas genéricos”, se referindo aos ex-aliados do senador ACM. Já para o deputado federal ACM Neto (DEM), que também é candidato a prefeito, usou o adjetivo de “carlista verdadeiro”.

Agora, sua coligação está com 8 partidos: PMDB-PTB-PP- PSC-PDT-PRTB- PSL-PHS.

Mas quem são os principais aliados de João Henrique e Geddel?

Edivaldo Brito foi prefeito biônico de Salvador, indicado pela ditadura, quando o seu partido era a Arena. Depois, foi para o PTB, partido que, na Bahia, renasceu em 1979 nas mãos do carlismo. Neste partido, foi candidato a prefeito (derrotado) de Salvador em 1985 coligado ao PDS, que era o herdeiro genético da Arena. Garantindo sua candidatura, estavam o então ministro das comunicações do governo Sarney, ACM (PDS), e o então governador João Durval Carneiro (PDS). Como se vê, naquela época, eram todos “carlistas verdadeiros”. Depois, Brito foi para São Paulo, sendo secretário da justiça do prefeito Celso Pitta, um verdadeiro malufista, do PPB, a nova denominação do PDS e da Arena.

O outro partido importante da coligação em Salvador é o PP, ou seja, justamente o novíssimo herdeiro genético da Arena, do PDS e do PPB. Em São Paulo, até hoje malufista. Na Bahia, historicamente “verdadeiro carlista”.

Finalmente, o próprio PMDB, antigamente anti-carlista. Atualmente, abrigo de ex-apoiadores (sinceros e leais ou não) de ACM. Entre eles, o próprio ministro Geddel Vieira Lima (ex-carlista e atual lulista) e o prefeito João Henrique Carneiro (hoje no PMDB). João Henrique é filho do senador João Durval Carneiro (hoje no PDT), irmão do deputado federal Sérgio Carneiro (hoje no PT), cunhado do também deputado federal Sérgio Brito (PDT) e marido da deputada estadual Maria Luíza (PMDB). Como se vê, uma família supra-partidá ria e, assim como Geddel, todos, na própria linguagem geddeliana, “carlistas genéricos” ou seja, ex “carlistas verdadeiros”.

Ocorre que, no momento, todos estes “carlistas genéricos” são também “lulistas transgênicos”, pois, como diz o ditado, a carne é fraca e a genética também. Todos são políticos e partidos da base dos governos de Jaques Wagner e Lula da Silva, ambos do PT. E, na Bahia, estão na base até os genéricos tucanos do PSDB – e sem nenhuma reclamação da Executiva Nacional do PT, nem de qualquer de suas tendências internas.

O presidente Lula da Silva já disse que prefere apoiar João Henrique, que está chefiado pelo trator da Transposição do São Francisco, Geddel Vieira Lima. Jaques Wagner, também disse que preferia João Henrique (PMDB) ou mesmo Antonio Imbassahy (PSDB).

Mas, depois de muita indecisão e de ter ficado três anos e quatro meses participando do governo João Henrique, o PT resolveu entregar suas quatro secretarias na prefeitura (inclusive a Secretaria de Governo e a de Saúde) e sair atirando. Atirando no prefeito e caçando aliados onde puder, inclusive no PTB, PP e PR.

Por isso, parece que todas as correntes petistas ficaram sentidas por perder o apoio do genérico Edvaldo Brito, do seu PTB e do PP. Mas eles ainda têm esperanças em se aliançar com o senador César Borges (hoje no PR, depois de ter passado pela Arena, PDS, PFL e DEM). Este, que agora apóia Jacques Wagner, também é carlista. Há dúvidas se “verdadeiro” ou “genérico”. Mas isto não é mais problema. Por um lado, porque ele já foi devidamente transmutado em lulista transgênico. Por outro, depois da mutação do próprio PT, não existem mais barreiras deste tipo.

Talvez Borges acabe apoiando o jovem ACM (DEM, filho do PFL, neto do PDS e bisneto da Arena), “carlista verdadeiro”, mas não se sabe até quando. Afinal, até o velho senador teve seu momento de transgenia lulista.

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Jorge Almeida é professor de Ciência Política da UFBA e Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Autor de Como vota o brasileiro e de Marketing político, hegemonia e contra-hegemonia. jorgealm@uol. com.br

Publicado em maio 27, 2008 de 9:04 pm

A chatice da isenção

Não há nada mais chato no futebol do que o isento!

Enquanto torcedores apaixonados pelos seus clubes se engalfinham em jogos eliminatórios, o isento senta-se no meio do sofá. Entre botafoguenses e corinthianos, entre sãopaulinos e tricolores das Laranjeiras. Enquanto para o torcedor, seu time está jogando melhor e é roubado pela arbitragem, para o isento resta a análise precisa dos lances, sem o olhar cego do apaixonado.

O apaixonado, como eu sou tratando-se do meu clube do coração, não quer análises, quer gols, quer belos lances, quer raça, e quer matar o árbitro que impede cruelmente a vitória do seu time.

Mas neste meio de semana, eu não estive como apaixonado, por conta da vergonha que meu time me fez passar exatamente numa noite de meio de semana. Estava como isento!

Não conseguia torcer por ninguém. Nem por Corinthians, muito menos pelo Botafogo. Nem pelo São Paulo, e muuuuuito menos pelo Fluminense.

Então assisti às duas partidas, sendo uma na terça (Copa do Brasil) e outra na quarta (Libertadores, e toda a lembrança triste que esse nome me traz…), no papel de isento.

E fui chato, muito chato. Eu e minhas corretas análises. Eu e minhas exigentes súplicas por bom futebol. Eu e meu “dane-se” para o resultado. Tudo ao contrário do que todos os torcedores queriam. Eles queriam sangue e vitória. Eu só queria futebol.

E futebol foi tudo o que não houve entre Corinthians e Botafogo. Tal como foi o que houve entre Fluminense e São Paulo.

No primeiro jogo, os times queriam mostrar quem errava mais. Se no primeiro tempo, o Corinthians abusou de erros que impediram uma goleada ou uma vitória mais larga, no segundo, o Botafogo fazia questão de errar para continuar perdendo o jogo, mas em virtude do erro maior do Corinthians – que recuou demais no segundo tempo – acabou virando o jogo.

Tá em aberto ainda, o Corinthians pode se classificar. Mas o Botafogo também!

No jogo da quarta, pela Libertadores, foi diferente. Foi jogo de Libertadores. Foi jogo de futebol, na essência.

Num jogo eletrizante e bem pegado, o Fluminense foi melhor no primeiro tempo e mereceu a vantagem no placar, com gol de Washington em vacilo da defesa sãopaulina.

O São Paulo voltou melhor no segundo tempo, atacou o Fluminense dentro do Maracanã. Sem vergonha de jogar futebol. E nessa disposição, acabou empatando o jogo, no seu monotema: bola aérea na cabeça de Adriano.

Isso mataria qualquer pretensão do Fluminense, não fosse o pé salvador de Dodô, que bateu cruzado no canto para fazer 2×1 Fluminense, apenas um minuto após o gol do São Paulo. Aí o Fluminense se classificou.

Daí em diante foi o Fluminense atacando e o São Paulo só no contra-ataque. E poderia dar qualquer coisa!

Mas o Maracanã pune a soberba e o mau futebol. Puniu o Flamengo pela soberba, e puniu o São Paulo pelo mau futebol. Um time que vive de bolas aéreas na área não merece a Libertadores. Não merece derrotar o bom futebol. O Fluminense jogava bem, atacava com perigo forçando algumas grandes defesas de Rogério Ceni, tocava bem a bola e tinha Conca. Este sim é o craque do Fluminense!

Aos 46 do segundo tempo – de forma sofrida como o Maracanã exige – o Fluminense tem escanteio para a cobrança de Thiago Neves, este que cobrou na área com perfeição, na cabeça deste grande centroavante chamado Washington. E o bom artilheiro nunca perdoa. Com uma cabeçada certeira no ângulo faz 3×1 Fluminense e liquida a fatura.

O São Paulo é condenado sumariamente por fazer aquilo que nem o futebol inglês faz mais. A dependência do chuveirinho é mortal, e o São Paulo morreu na Libertadores.

Já o Fluminense agora reza e torce pelo Santos. Pois se o Santos cair amanhã contra o maldito América do México, o Flu pega o Boca. E aí, meu amigo, é outra história!

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em maio 22, 2008 de 4:13 am

Ronaldo e as travestis

Há algum tempo queria escrever sobre isso, mas só estou conseguindo agora.

Existem dois pontos de vista que gostaria de abordar.

O primeiro é o que realmente penso. Ronaldo pode até estar com a razão e, nesse caso, as travestis devem ser processadas por tentativa de extorsão. Mas o papel do delegado é investigar qualquer versão!

Dane-se o que o delegado acha ou o que deixa de achar. Só pode concluir que Ronaldo tem razão depois de investigar, só pode concluir que Ronaldo não havia bebido ou consumido drogas ilícitas depois de fazer exames que chegassem a esse resultado.

Ele foi tão fanfarrão que ainda tentou amenizar sua falta de profissionalismo com frases do tipo: “os travestis devem ser respeitados” e coisas do tipo. Eles devem ser respeitados independentemente dos dizeres do delegado, pois ali não devem ser tratados como travestis, mas sim como partes de um processo, onde podem ser réus ou acusadores, desde que se deparem com delegados sérios, o que, mais uma vez, não foi o caso.

Quanto a Ronaldo, não se pode condená-lo porque sai com travestis porque isso é assunto da vida pessoal dele. Aos demais interessa apenas o que ele faz no campo! Fora dele, é assunto dele.

Mas como nossa digníssima imprensa não consegue ficar dois dias sem falar bobagem, já tem matéria de capa na Veja pra comparar Ronaldo à Maradona por conta dos escândalos, dizendo que Ronaldo poderia ser um Pelé, mas optou por ser Maradona. Quem dera!

Pelé foi o maior jogador da história do futebol. Nunca foi superado, e creio que nem o será. Mas pra além disso é um empresário de tão poucos escrúpulos como qualquer outro.

Maradona, se não foi melhor que Pelé no futebol, foi pelo menos o que chegou mais perto. E pra além do campo, é um exemplo de uma boa figura pública, daquelas que conhecem o sofrimento de seu povo e diante disso tomam partido pelo povo. Tanto que ajudou a organizar um ato que reuniu 40 mil pessoas na Argentina contra a vinda de Bush à América do Sul.

Tomara mesmo que Ronaldo venha a ser igual ao Maradona. Seria um grande serviço prestado ao povo brasileiro. Pena que isso é muito difícil se concretizar.

Mas o que dizer da Veja? Que consegue transformar qualquer trivialidade em uma ode à moral de quem lhe paga, o grande capital. Que se dane a Veja e seu jornalismo panfletário da exploração!

O segundo ponto de vista, é o que penso com meus botões.

Ronaldo é livre pra sair com quem quiser, mas tinha que ser com a camisa do Flamengo???

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em maio 7, 2008 de 12:14 am

A espetacularização da notícia II

Ontem foi o dia da reapresentação do casal Fernando Nardoni e Ana Carolina Jatobá à delegacia do 9º Distrito Policial, no bairro do Carandiru, em São Paulo, marcada para às 10:30h.

Desde ontem, a polícia já havia preparado um grande aparato para a imprensa em frente à delegacia, com toldo para proteger os equipamentos e espaço reservado na rua para os veículos de comunicação.

Na frente da casa da família Nardoni haviam inúmeros repórteres e populares à espera daqueles que vem monopolizando a atenção da imprensa nas últimas duas semanas. Todos sabiam onde eles haviam dormido, o que fizeram na noite anterior, a que horas saiu o carro do pai de Fernando, a que horas voltou, com quem, como, por que… tudo! Absolutamente tudo!

Ao mesmo tempo, os parlamentares aprovavam o aumento da verba de gabinete para 60 mil reais; a tocha olímpica dá a volta ao mundo em 80 exércitos, devido à grandes manifestações contra o governo chinês referentes à questão do Tibet; o preço dos alimentos é discutido em todo o mundo, para uns devido à enorme quantidade de bocas para comer, para outros devido à grande quantidade de cana e eucalipto que deixa essa enorme quantidade de bocas à míngua, ficando eu com a segunda alternativa; Iraque e Afeganistão continuam sob invasão estadunidense e milhares de pessoas já morreram nestes países, além de milhares que ainda hão de morrer; o fanfarrão fascista Silvio Berlusconi reassume a presidência da Itália, fazendo-a andar mais ainda para trás do que fez Romano Prodi e seu socialismo de araque; no Rio, já passa de uma centena o número de mortos pela dengue.

Mas a imprensa ignora o mundo e foca suas atenções naquilo que nos conforta, ver a justiça ser feita no Caso Isabella. É Isabella de manhã até a noite. A polícia, que também gosta de ser celebridade, exercita seu lado CSI (Crime Scene Investigation) – seriado estadunidense que trata de um departamento da polícia que é especializado em desvendar crimes utilizando-se de alta tecnologia na coleta de provas no local do crime e desenvolvida técnica de perícia criminal e perspicácia policial – divulgando tudo e nada ao mesmo tempo, desde que os refletores da imprensa não saiam da frente da delegacia. Em caso de sucesso na investigação, três possibilidades se colocam: aumento salarial, promoção dos agentes envolvidos, ou até uma pontinha na próxima novela das oito.

Com o indiciamento do casal, a tendência é que os “pavões” do Judiciário e do Ministério Público passem a monopolizar as atenções da mídia, e nesse caso, pó facial vira instrumento de trabalho, afinal, não dá pra sair feio nas fotos e vídeos.

A história deste casal e de sua filha assassinada já beira o ridículo!

Caso se noticiassem todas as crianças mortas na periferia, muitas vezes pela ação da própria polícia, não haveriam emissoras de TV e rádio suficientes para a cobertura. Mas estas não interessam à imprensa, somentes os filhos da classe média barbaramente mortos pelos pais, ou o contrário, ou mortos por bandidos da pior espécie (espécies obviamente definidas pela mídia).

Enquanto isso, o mundo gira, mas a mídia fica parada no mesmo lugar. Numa casinha no Tucuruvi.

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em abril 19, 2008 de 2:50 am

O futebol perde mais um gênio

Esta semana representou o fim da carreira de um gênio do futebol. Romário deixará saudades a todos que amam o futebol. A quem gosta da malandragem, do gol, do lance inimaginável.

Romário era o gênio da grande área. Poucos conheciam aquele espaço como ele. E ali ele se sentia dono!

Com ele, se vai uma geração.

Romário era o único toque de genialidade na seleção burocrática de Parreira, campeã em 94. Talvez por isso Parreira tenha relutado tanto em convocá-lo. Afinal, como poderia um gênio caber naquela retranca de Parreira. Mas, no futebol, gênios cabem em qualquer lugar!

Romário parou!

Mas no imaginário dos apaixonados pela bola, Romário permanece. Marrento, ousado, irreverente, até arrogante, mas acima de tudo, um craque. E aos craques, só devoção!

Felizes ficam os rubro-negros, que foram homenageados pelo gênio em entrevista à Rede Globo, onde afirmou ser a torcida que mais o emocionou em sua carreira. Mas também ficam felizes os vascaínos, tricolores, catalães, holandeses, e fãs do futebol em todo o mundo, onde ele desfilou os 1002 gols de sua carreira.

Valeu, Baixinho!

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em abril 19, 2008 de 3:23 am

Beatles e a criação do mundo

Dizer que Beatles é a banda de rock mais influente da história já virou clichê. Sem temer a possibilidade de equívoco, ouso dizer que Beatles é o que há de mais influente na música, no comportamento e na evolução da espécie homo sapiens.

Beatles não se marca somente por quatro rapazes bonitos e bem vestidos, oriundos de Liverpool. Mas, principalmente, por ter criado, sob a égide do rock’n roll, o que há atualmente no pop, na música eletrônica, no grunge, no metal, e em qualquer outro estilo musical que não os de origem africana, como o samba.

Beatles criou o céu, o mar, o solo, os animais, as plantas, e tudo que há neste planeta.

Beatles criou a arquitetura, a engenharia, a sociologia, a filosofia, a política, a antropologia, a biologia, e toda e qualquer ciência que os homens comuns desenvolveram.

E digo isso porque, para além dos Beatles, somos todos comuns.

Somos incapazes de destruir, modificar, transformar, recriar, ou até copiar aquilo que os Beatles fizeram.

Isaac Newton não descobriu a gravidade, mas sim a maçã se atirou na cabeça dele enquanto ele desafinava Strawberry Fields Forever.

Graham Bell teve que desenvolver um meio de contar para os amigos que havia comprado o Sgt. Peppers. E daí veio o telefone.

A teoria da relatividade de Einstein foi desenvolvida quando alguém lhe mostrou I wanna be your man, com os Stones. Seu interlocutor dizia que aquilo era maravilhoso, Einstein respondia: “Isso é relativo, já ouviu a original com os Beatles?”

Thomas Edison descobriu a luz pois estava cansado de procurar o Abbey Road no escuro.

Back in the USSR não é uma referência à Revolução Russa, mas a Revolução Russa é uma referência à Back in the USSR.

Ou seja, não fossem os Beatles, os professores nas salas de aula permaneceriam calados por todo o tempo, pois não haveria nada a ensinar, tal como não haveria desenvolvido-se a fala e a escrita.

À junção de Paul McCartney, John Lennon, George Harrison e Ringo Starr deu-se o nome de Beatles, mas podem chamar de Big Bang.

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

P.S.: Isto é uma declaração de amor aos Beatles, sob minha responsabilidade as suas conseqüências históricas. Desculpem-me pelo necessário desabafo!

Publicado em abril 1, 2008 de 1:50 pm

A espetacularização da notícia

O chamado Caso Isabella deve nos fazer refletir sobre o papel da imprensa na cobertura dos fatos. Até que ponto o que assistimos na TV ou lemos nos jornais e revistas é notícia ou pura macaquice dos órgãos de imprensa?

Sobre o caso em si, foi de fato uma barbaridade o que aconteceu e os responsáveis por tal brutalidade devem responder pelo que fizeram, mas a averiguação dos fatos e a conseqüente indicação de culpa deve ser feita pela polícia, assim como a condenação dos responsáveis é tarefa do Judiciário.

A imprensa, de olho nos índices de audiência ou vendagem, aprofunda-se no assunto como se esta fosse uma novela, torna o bárbaro assassinato da menina Isabella em um espetáculo, um show de horrores do nosso cotidiano.

A priore se insiste no assunto para se criar um clima de comoção social, terreno fértil para o consumo da notícia. Depois há a disputa dos órgãos de imprensa pela melhor cobertura do “evento”, buscando sempre o “furo” jornalístico e assim levando vantagem na obtenção de “consumidores”.

Essa comoção carece de respostas às questões colocadas. Portanto, nossa imprensa se apressa em dá-las, antes mesmo das autoridades competentes, desenvolvendo a história muito mais rapidamente no imaginário das pessoas do que a apuração real dos fatos. A partir daí, monta-se a história com todos os personagens: os mocinhos, os bandidos, os núcleos de ambos e os figurantes.

Na cobertura da imprensa sobre o caso já apareceram vizinhos, que para a polícia tinham poucas informações, mas para a imprensa deram riqueza de detalhes daquilo que não viram; colegas de escola da menina com seus desenhos ilustrativos da boa imagem que a menina deixara; especialistas em crimes, sejam policiais, jornalistas, médicos legistas e toda a sorte de técnicos da morte tentando desvendar o mistério que nem Edgar Allan Poe e seu Sherlock Holmes teriam condições de resolver; a família, transtornada e vítima de repórteres insandecidos por declarações bombásticas que colocariam os vilões em maus lençóis; e os próprios vilões, que antes de qualquer declaração da delegada responsável pela investigação foram presos, julgados e condenados pela imprensa.

É certo que as contradições colocadas e as poucas informações concretas divulgadas deixam o pai e a madrasta em situação bastante complicada e nos levam a crer que ambos são culpados pela morte de Isabella. Mas é certo também que hoje ambos são vistos como monstros, mais pelo papel da mídia no caso do que propriamente por fatos desvendados pela polícia.

Cabe lembrar de um caso que ocorreu em São Paulo há mais de uma década, onde um casal, proprietário de uma escola infantil, foi acusado por crianças de molestá-las. À época, o caso teve grande repercussão na mídia, e esta fez questão de crucificá-los por atentar contra inocentes crianças. A vida do casal mudou radicalmente, eles perderam tudo o que tinham e foram obrigados a mudar de vida e de cidade, devido a pressão social sobre os “monstros” de plantão.

Pois bem, algum tempo depois da vida do casal ter sido destruída pela cobertura da imprensa, a justiça considerou-os inocentes da acusação, o que não teve o mesmo destaque de cobertura.

Este fato deve nos levar a pensar sobre a imputação midiática de crime a pessoas que podem até ter cometido tais atos, mas para que se chegue a tal conclusão deve-se respeitar os procedimentos necessários, como inquérito, apresentação de denúncia e julgamento com direito amplo de defesa.

Caso contrário, continuaremos sendo vítimas da manipulação da mídia, que constrói heróis e vilões diante dos fatos cotidianos, fazendo dos mesmos grandes novelas em busca de audiência e vendagem.

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em abril 7, 2008 de 1:57 am

A ignorância da CBF e da Seleção

No dia 29 de março comemoramos (sim, isso é motivo de comemoração) 50 anos da conquista da Copa de 58, na Suécia, contra a Suécia, com uma exibição maravilhosa e uma convincente vitória por 5 x 2, com dois de Pelé, dois de Vavá e um de Zagallo.

Amanhã, três dias antes do aniversário desse feito maravilhoso, a Seleção, que já foi brasileira, mas hoje é da CBF, jogará um amistoso em Londres, no Emirates Stadium, campo do Arsenal, justamente contra a Suécia.

Excelente oportunidade para comemorarmos a conquista de 58, quem sabe até aplicando outra goleada! Nada disso!

A CBF afirma categoricamente que o jogo não tem nada de comemorativo, e que as ditas lembranças serão feitas no Brasil e no momento certo.

Pior do que isso, os jogadores da atual Seleção nada sabem sobre a conquista de 58. Só lembram do título burocrático de 94, com pitadas da genialidade de Romário.

Talvez, daqui a 50 anos, os jogadores da Seleção não saibam mais sequer quem é Pelé. E Zagallo estará eternizado somente na garganta dos críticos que o engoliram em 99. Vavá será somente um ex-pagodeiro famoso. Didi, um ex-humorista da Rede Globo.

E a atual Seleção é também a representação da desmemória da CBF e do futebol brasileiro. Do futebol que, de alguma forma, esqueceu de jogar futebol. Do futebol que hoje aplaude um chileno.

Da Seleção de 58 que permitia que até Feola dormisse para a Seleção atual que tira o sono de qualquer brasileiro apaixonado por futebol, e que tem saudades. Saudades de um futebol que se foi, e que a CBF e a atual Seleção fazem questão de esconder para que nunca mais seja lembrado.

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em março 25, 2008 de 12:58 pm

Entrevista com Cesar Maia

Repórter: “Bom dia, Sr. Prefeito, tudo bem?”

Cesar Maia: “Tudo bem, bom dia pra você e para os telespectadores!”

R: “O que a Prefeitura vem fazendo para combater a epidemia de dengue no Rio de Janeiro?”

CM: “Não há epidemia de dengue no Rio de Janeiro!”

R: “Mas Sr. Prefeito, já foram confirmados 250 casos de dengue no Rio de Janeiro…”

CM: “São 250 casos isolados de dengue no Rio, a dengue está sob controle.”

R: “Sr. Prefeito, o Rio de Janeiro alcançou esse número se somarmos os últimos 7 anos, desta vez, só em 2008 são 250 casos. O Sr. acha que, mesmo assim, não há epidemia?”

CM: “Não! O que ocorre é que os casos de dengue este ano tiveram uma pequena variação para cima por conta da falta de cuidados da população. Os cariocas devem tomar as precauções necessárias para combater o mosquito e receber os agentes de saúde nas suas casas.”

R: “Mas Sr. Prefeito, o número de casos de dengue cresceu mais de 5 vezes em relação ao ano passado, esses casos estão em todas as áreas do Rio, mas principalmente na Zona Norte, o Sr. de fato acredita que não há uma epidemia da doença?”

CM: “A Prefeitura tomou todas as precauções para impedir uma epidemia de dengue, contratou agentes de saúde, distribuiu panfletos explicativos sobre os cuidados que devem ser tomados, redobrou a atenção nos postos de saúde… Está tudo sob controle!”

R: “E o que explica o aumento com relação ao ano passado?”

CM: “Já disse, a população não está cooperando. Mas, do ponto de vista da Prefeitura, está tudo sob controle. Por exemplo, você está com dengue?”

R: “Não, não estou.”

CM: “Viu? Estamos eu e você aqui, e nenhum de nós está com dengue. O que nos permite afirmar que neste espaço a dengue foi absolutamente erradicada. Como podemos dizer que há uma epidemia?”

R: “Um bom dia e obrigado pela entrevista, Sr. Prefeito.”

CM: “Um bom dia e obrigado!”

Obs: A entrevista é fictícia, os dados são fictícios e o Repórter é fictício, mas o Cesar Maia está bem próximo do real!

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em março 22, 2008 de 10:09 pm

Imperialismo e mídia unidos pela guerra!

Reyes, número 2 das FARC, foi assassinado pelo exército colombiano (???) em território equatoriano, o que provocou o rompimento de relações entre os dois países, onde o Equador exige, com razão, desculpas do governo colombiano sem restrições.

Somado a isso, o governo colombiano acusa o governo venezuelano de Hugo Chávez de financiar às FARC, tendo contribuído com 300 milhões de dólares.

As notícias que nossa “imprensa” veicula dão conta que as fronteiras ao norte da Colômbia (com a Venezuela) e ao sul (com o Equador) estão tomadas de tropas venezuelanas e equatorianas. Diante disso, George W. Bush ameaça participar da defesa colombiana enviando tropas e aviões.

Ou seja, os EUA e a mídia pró-imperialista no mundo todo estão patrocinando uma guerra na América Latina!

Na verdade, é uma intensificação do Plano Colômbia, que visa o controle e monitoramento por parte dos EUA da Amazônia e das organizações de esquerda, em especial as FARC.

Classificadas pelo império como “terroristas”, as FARC resistem nas florestas colombianas há muitos anos, sofrendo todo o tipo de acusações, principalmente de ligação com o narcotráfico.

O que está acontecendo na América do Sul é mais grave do que podemos supor. É a legitimação da agressão à soberania de um país e de um plano que visa colocar uma cunha imperialista no continente.

E essa cunha tem implicações também para o Brasil, visto que o território amazônico, no qual o Brasil tem a maior parte, é alvo da operação estadunidense.

Mas a mídia brasileira faz algazarra com a possibilidade de uma intervenção nos processos, democráticos, diga-se de passagem, em curso na Venezuela, Equador e Bolívia. Promove um linchamento moral contra a Venezuela e seus aliados, com uma parcialidade pró-imperialista já comum em nossos meios de comunicação.

Isto é mais uma demonstração do equívoco do entendimento sobre a participação da burguesia nacional em qualquer projeto de poder que amplie a participação popular e garanta reformas estruturais no Estado. A elite brasileira sobrevive das benesses da subserviência ao império e não tem nenhum interesse em se opôr ao mesmo.

Será necessária atenção e mobilização popular em toda a América Latina para resistir a mais um ataque dos EUA à soberania dos países do chamado Terceiro Mundo. Não há ninguém isento nesta investida imperialista.

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em março 5, 2008 de 11:48 am

Esporte X Poluição

O maratonista etíope Haile Gebrselassie anunciou que não disputará as Olimpíadas de Pequim este ano.

Contusão? Boicote? Nada disso.

Haile é asmático e não suportaria numa prova da maratona (pra quem não sabe, 42km de corrida) a poluição de Pequim.

Podemos fazer algumas reflexões.

Não seria a organização de uma Olimpíada a possibilidade de um país avançar na solução de suas mazelas? Seja social, econômica ou ambiental?

Não é essa a justificativa central que o Comitê Olímpico Brasileiro usa para suas candidaturas a sede dos Jogos? Não foi esse o engodo que trouxe o Pan?

A China não é signatária do Protocolo de Kyoto, juntamente com os EUA, pois é um dos países mais poluentes do mundo. Os Jogos Olímpicos seriam uma excepcional oportunidade para se avançar nesta questão ambiental, visando inclusive preservar a integridade física dos atletas e condições adequadas para a prática esportiva. Mas parece que os chineses não estão muito preocupados com isso.

Importam mais os bilhões de dólares que os Jogos trarão.

Assim como nosso Pan.

Melhoria nos transportes públicos? Nas condições de vida do povo carioca? Novos equipamentos públicos para a prática esportiva de um povo que, em muitas ocasiões, só tem o tráfico como alternativa? Mais uma vez, nada disso!

Pelo contrário, ao povo sobrou higienização social, genocídio nas favelas, ações para “conter” o tráfico, mas na verdade serviram para oprimir ainda mais o povo pobre do Rio de Janeiro.

Fora o hiperfaturamento do Pan e o hiper-rombo nos cofres públicos.

As grandes corporações que financiam os sonhos do COB ficaram e ficarão eternamente agradecidas.

E que venha a Copa do Mundo de Futebol em 2014! E todos os seus Caveirões da opressão sobre a pobreza no país todo.

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em março 11, 2008 de 11:44 am

A renúncia de Fidel e a farra da mídia

O dia 18 de fevereiro de 2008 entrou pra história. Vai ser daqueles dias que aparecerão em livros de História Geral dos nossos filhos ou netos. Fidel Castro Ruz, revolucionário cubano que liderou um dos acontecimentos mais marcantes da história da América Latina e do mundo, a Revolução Cubana, renunciou ao posto de Presidente do Conselho de Estado e de Comandante-em-chefe das Forças Armadas de Cuba, depois de 49 anos à frente do processo revolucionário naquele país que, a partir de 1º de janeiro de 1959 deixou de ser apenas um prostíbulo dos EUA para se tornar de fato uma nação soberana.

São incontáveis os avanços do ponto de vista social em Cuba, país onde o analfabetismo foi erradicado, onde a saúde pública é modelo para todo o mundo, onde a mortalidade infantil é quase zero. Isso tudo não se passa numa grande potência mundial, com território vasto, mas sim numa pequena ilha do Caribe, próxima ao litoral da Flórida, nos EUA.

Além destes ensinamentos que Cuba nos deixa, de como é possível avançar tanto em algumas áreas e se modificar completamente o papel de um país para o mundo, fica também o exemplo da resistência de um povo. A proximidade dos EUA fez com que Cuba se tornasse um alvo preferencial do imperialismo estadunidense. Como poderia uma nação se declarar socialista debaixo das barbas do império? Os EUA responderam com um embargo econômico e ameaças militares que, a grosso modo, impediram Cuba de se tornar um país mais próspero. Mas mesmo assim Cuba resistiu. Provou que era possível enfrentar o imperialismo sem abaixar a cabeça e recuar um milímetro que fosse para satisfazer os EUA. E Fidel encarnava essa resistência. Foi considerado um inimigo pelo império e assim chegou até aqui, quase 50 anos depois.

Encerra-se um capítulo numa história de resistência popular e de concretização de um sonho socialista, apesar das dificuldades e das nuances necessárias para se garantir as conquistas, mas não se encerra o sonho nem a resistência.

A renúncia de Fidel não é o fim do socialismo em Cuba. Não é a abertura para a sanha do imperialismo. Não é a brecha para a imposição da “democracia” dos EUA. Ela é só o encerramento de uma tarefa cumprida por um dirigente comunista. Outras virão, como disse o próprio Fidel em sua nota de renúncia.

A repercussão da renúncia de Fidel foi mundial. Os países pró-imperialistas se apressaram em dizer que abriam-se as portas da “democracia”, a mesma “democracia” de George W. Bush no Iraque e no Afeganistão, que é a democracia do terror. Os pré-candidatos à Casa Branca afirmaram a necessidade de se garantir uma transição para essa tal “democracia”.

No governo brasileiro, opiniões diversas, fruto da “diversidade” ideológica do governo. Enquanto Lula, mesmo que moderadamente, dizia que Cuba não deve se tornar um campo de conflito por parte dos “cubanos de Miami”, o vice-presidente José de Alencar fazia coro com a direita que nunca suportou Fidel e a revolução cubana. Coisas de um governo de “coalizão”.

Mas vergonhoso mesmo foi o papel da mídia neste processo. A Rede Globo, um verdadeiro consulado midiático dos EUA no Brasil, dedicou o dia todo a desdenhar dos avanços da revolução cubana e a comemorar, de forma velada como dita o padrão Globo de “jornalismo”, a possível abertura de Cuba ao capitalismo. Afirmava que Raul Castro era um defensor do modelo chinês de abertura, que outro possível candidato ao posto de Fidel gostaria de negociar com os EUA o fim do embargo a Cuba, que outro defendia o processo ocorrido na União Soviética. Ou seja, a família Marinho – a maior máfia existente no Brasil – decretava por si só o fim do socialismo em Cuba e no mundo, classificando como anacrônicas e ultrapassadas as idéias de um mundo mais justo e igual.

Outra abordagem deprimente foi justamente de um jornal dito “popular” pertencente à máfia dos Marinho. O jornal Extra do Rio de Janeiro estampava uma foto de Fidel com o corpo arqueado para a frente e com a mão próxima à boca além da seguinte manchete: “Fidel chama o Raul”. Fazia referência à provável manutenção de Raul Castro à frente do governo cubano, mas também é um trocadilho a uma expressão popular (quando associada à foto) que significa vomitar.

Esta é uma demonstração do êxtase da mídia burguesa com a renúncia de Fidel. Com a tentativa de se consolidar para a história a experiência cubana como um atraso, um retrocesso que atirou o povo cubano na miséria. Nada mais falacioso. Cuba é um exemplo de resistência. Se não é o socialismo ideal, com plenitude democrática, é ao menos uma ilha de avanços para o povo em meio a um mar de opressão que tomou conta do mundo com o fim do socialismo no leste europeu e da bipolarização mundial.

Cabe aos povos de todo o mundo e, em especial, à militância comunista reivindicar esse processo cubano como um processo identificado com a luta dos trabalhadores e defender Cuba dos ataques vindouros por parte do capitalismo, além de resgatar a história de luta e resistência do povo cubano, e de Fidel, Che e outros líderes, contra a opressão imperialista e em busca de um mundo mais justo, ou seja, um mundo mais parecido com Cuba.

Hasta la victoria, siempre

Viva Fidel! Viva o povo cubano! Viva o socialismo!

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em fevereiro 21, 2008 de 3:51 pm

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Meu primeiro gol no Maraca!!!

Domingo, dia 24/02, finalíssima da Taça Guanabara entre Flamengo e Botafogo. Jogo duro, com todos os elementos de um grande clássico, lances agudos, confusão, briga, expulsões, estádio lotado (pouco mais de 84 mil presentes) e um cheiro forte de empate no ar.

Primeiro, cabe ressaltar que, ao olhar o Maracanã, me lembrou um pouco àqueles jogos dos anos 50/60 que passavam no Canal 100. As duas torcidas faziam um espetáculo maravilhoso e um barulho ensurdecedor. As muitas bandeiras tremulavam de lado a lado, os braços sacudiam-se fazendo o mar de gente se assemelhar a uma tormenta.

O jogo era bom, o Botafogo abriu o placar no primeiro tempo, gol de Wellington Paulista. O Flamengo empatou no segundo, sob uma chuva torrencial que durou desde o início do lance até o final das polêmicas expulsões de Souza, do Flamengo, e Zé Carlos, do Botafogo. O gol foi de pênalti, de Ibson.

A expulsão de Lúcio Flávio, do Botafogo, justa por sinal, incendiou a torcida rubro-negra. E esta empurrou o time pra cima do Botafogo. A torcida do Botafogo se segurava e empurrava o Fogão nos contra-ataques.

Um clássico digno de ser chamado de clássico!

O Flamengo vai mais à frente com a entrada de Diego Tardelli no lugar de Toró. E insiste. Mas o clássico parece fadado ao empate.

Eis que o Botafogo vai à frente, a zaga rubro-negra corta. A bola sobra para Ronaldo Angelim que, por um momento, sonhou que era Gerson e deu um lançamento de 40 metros nos pés de Kleberson, este rolou para Léo Moura que partiu pra cima dos zagueiros e, quando chegou próximo à meia-lua da grande área do Botafogo, passou para Diego Tardelli – este entrou em campo com a missão de superar as desconfianças da torcida – que dominou a bola, viu sua vida toda passar naquele momento, era o seu momento, ou virava herói ou vilão, o jogo chegava aos 47 do segundo tempo. Ele bateu na bola, com categoria, buscou o canto.

Foi aí que eu apareci, estava na arquibancada, de frente pro lance. Vi aquela bola indo fora, mas não queria perder aquele título, e tive que intervir. Cravei os olhos na bola e, com os olhos, coloquei ela lá dentro, 2 a 1 Flamengo. A nação estava em festa!

O juiz não viu e deu o gol para Diego Tardelli, mas não me importei. O importante foi que nem as duas investidas do Botafogo até o final do jogo nos tiraram aquele título. Flamengo, bicampeão da Taça Guanabara!

No dia seguinte, caminhando com a camisa do Mengão pelas ruas de Copacabana, as pessoas me cumprimentavam. Eu já tinha realizado meu grande sonho, fiz um gol no Maracanã e me tornei um herói rubro-negro!

Mas agradeço imensamente ao Diego Tardelli pelo passe!

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em fevereiro 26, 2008 de 2:25 pm

E o tênis fica menos divertido

Gustavo Kuerten, o maior tenista brasileiro de todos os tempos anunciou sua aposentadoria hoje, mas antes ainda disputará mais alguns torneios, entre eles Roland Garros, onde se imortalizou, havendo também a possibilidade de disputar as Olimpíadas de Pequim, caso se classifique.

Quando esse molecão surfista de Floripa apareceu pro mundo, em 1997, ganhando seu primeiro título em Roland Garros, gente como eu, cético com o tênis, passou a acompanhar e entender melhor o esporte das raquetes.

Aquele cara com barba por fazer, cabelo grande e desgrenhado, roupas coloridas e uma simpatia típica de um caiçara, fez com que o tênis passasse a ser comentado nas ruas, nos botecos. Uma popularidade que um esporte elitista como o tênis nunca teve no Brasil.

De repente, ao invés de gols, falava-se em aces. Ao invés de dribles, passadas. Ao invés de chapéus, lobbies. As faltas, artifício dos cabeças-de-bagre do futebol, agora eram duplas faltas. Do 1 x 1, virou 40 iguais. E assim se construia uma relação de um esporte com um país, de um atleta com seu povo.

Para além de colocar o Brasil num patamar onde nunca esteve no tênis mundial, Guga nos deu a oportunidade de conhecer Pete Sampras, Andre Agassi, Yevgeni Kafelnikov, Magnus Norman, Lleyton Hewitt, entre outras feras do tênis que outrora olhávamos com certo desdém.

E foi em Roland Garros que Guga fez sua Copa do Mundo. Venceu por 3 vezes, mas não daquela forma fleugmática que o tênis sempre se apresentou, mas de forma alegre, do jeito que o brasileiro gostaria de ver sua seleção, e em certa medida, via nele aquela arte esquecida em 1994 na Copa dos EUA.

Não era o melhor do mundo, mas era o mais divertido. Sempre de roupas coloridas, sempre com declarações típicas de um menino que estava ali brincando, sempre como se tentasse ali no torneio de tênis conseguir mais um motivo pra pegar uma onda em Floripa.

O cara que dedicou o título de Roland Garros ao Jacaré, centroavante do Avaí, seu time do coração, que havia sido campeão catarinense com artilharia de Jacaré, se tornava a expressão de um povo alegre, solidário e apaixonado.

Assim, Guga construiu sua história e, também, a de seu povo. Uma história que invadiu o esporte sisudo com sua irreverência e, a partir dali, mudou a história do próprio tênis.

Mas suas costas começaram a incomodar, vieram cirurgias, fisioterapias, retornos, mas nunca com aquele brilho. E suas próprias costas se tornaram o adversário mais difícil em sua trajetória no tênis. Elas lhe tiraram os títulos e, agora, lhe tirou o tênis.

Guga vai parar! E o que sobrou do tênis brasileiro foi a mesmice anterior a Guga. Temos bons jogadores, mas muito padronizados. Todos de branco, todos sem o brilho de Guga.

O destino de Guga é voltar à Floripa, viver como um garoto, surfando e se divertindo, como sempre fez no tênis.

Se Guga voltará a ser o mesmo garoto das praias de Floripa, o mesmo não se pode dizer sobre o tênis. Esse, depois de Guga, nunca mais será o mesmo!

Obrigado por me proporcionar tardes emocionantes assistindo tênis e, a partir daí, mudar completamente minha visão sobre o mesmo. Muito obrigado, Gustavo Kuerten!

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em janeiro 16, 2008 de 12:55 am

25 anos sem Mané

Ontem completou-se 25 anos da morte de Mané Garrincha.

Com ele se foi uma das maiores lembranças do futebol brasileiro, além de uma de suas figuras mais caricatas.

Com uma vida recheada de histórias, boas, más, divertidas, trágicas. Mané é a síntese do futebol brasileiro.

Menino pobre de Pau Grande-RJ, foi recusado em diversos clubes por ter as pernas tortas, e acabou sendo contratado pelo Botafogo, por pedido de Nilton Santos, que não queria ter que enfrentar aquele capeta.

Fez com aquelas pernas tortas e quadril deslocado o que nenhum jogador fez ou sequer poderia imaginar fazer. Mágico, magistral, inimaginável!

Driblou sempre pro mesmo lado, o direito, mas sempre foi imprevisível, imponderável, impossível, improvável. Mané era arte em seu estado mais puro. Futebol para exposição em museus. Fez gato e sapato dos inúmeros Joões que o marcaram, a ponto do gol ser um alívio para a defesa, cansada de tanta humilhação.

Apesar de ter feito história no Botafogo, alguns, como seu primeiro treinador, o Tôti, afirmam ter provas que o menino era flamenguista. Mais uma pro rol de histórias do futebol brasileiro.

Foi vencido pela dor daquelas pernas que deram tantos dribles quanto tomaram infiltrações de medicamentos. Foi vencido pelo alcoolismo. Álcool que talvez tenha sido seu companheiro mais perene e inseparável, tal como seus pássaros.

Mané foi um moleque travesso com a bola, e em 20 de janeiro de 1983 partiu para fazer suas molecagens em outros campos.

Foi-se pobre, tal como nasceu. Foi-se bêbado, tal como cresceu. Foi-se gênio, tal como viveu!

Enfim, foi-se. Mas aos incrédulos provou que existe vida após a morte, pois está vivo em cada drible que cada moleque pobre e travesso neste país aplica em qualquer João, nos campos de terra perdidos pelo Brasil afora. Enfim, vive!

Obrigado ao Sr. Manoel dos Santos, ou para os íntimos da arte em forma de bola, simplesmente Mané Garrincha!

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em janeiro 21, 2008 de 1:36 pm

Pela estatização do MASP

Após o assalto ao MASP (Museu de Arte de São Paulo) em que foram levadas duas telas, uma de Picasso e outra de Portinari, foi levantada a questão da assunção por parte do poder público do MASP, ou seja, sua estatização.

O museu é administrado por uma fundação privada que, na verdade, não administra nada. Já houve corte de luz por dias, agora esse assalto que, convenhamos, foi mais fácil que tirar um pirulito de uma criança.

O “genial” administrador teve, após o ocorrido, a “brilhante” idéia de cercar o vão livre do MASP, local onde tradicionalmente ocorre uma feira de antiguidades, a molecada se junta pra bater papo e dar risada e, principalmente, ocorrem inúmeras manifestações políticas, algumas massivas, outras nem tanto, mas não importa, ocorrem!

A princípio, confesso que fiquei bastante preocupado. Imagina se o Kassab (quem sabe, sabe, e passa longe dele), a burguesia do rolex dos Jardins, ou a decadente de Cerqueira Cesar, os almofadinhas engravatados da Paulista, o povo, enfim, todo mundo abraça essa idéia?

Além de um espaço charmoso, com uma bela vista da Nove de Julho (dentro do que é possível ser belo em São Paulo) e gostoso pra tomar um sorvete e ficar sem camisa num dia de calor, é um espaço onde se faz história.

Os maiores sindicatos, entidades estudantis, movimento negro e a Parada GLBTT se organizam a partir dali, ou seja, aquele, mesmo não sendo do ponto de vista legal, é um espaço público, incorporado à cidade de São Paulo e ao povo paulistano.

Não pode ser, assim como a própria Paulista foi em parte, roubada do povo. Não seria o único exemplo, mas seria talvez o mais sintomático dos tempos que vivemos.

Agora, as praças têm grades, as casas têm grades, as dentições têm grades, tudo tem grades!

Chega de viver preso, enquanto os novos ricos compram apartamentos em condomínios fechados com autênticos parques privados, com vegetação, sala de ginástica, quadra poliesportiva, campo de futebol, piscinas aquecidas, saunas a vapor, entre outros itens indispensáveis à manutenção perfeita das cirurgias plásticas de madames e senhores em busca da juventude perdida. Ou seja, só pode desfrutar do que é bom quem tem dinheiro pra comprar um “modesto” duplex no Morumbi? Ou um apê de frente pra USP com anúncio e recomendação da Sophia Loren cover?

E saiba que estes que moram nestes palácios verticais são exatamente os mesmos que, de segunda à sexta, te enchem de ordens estapafúrdias e te pagam uma ninharia para que eles possam desfrutar da natureza no quintal de casa! Portanto, não se sinta mal se você estiver odiando-o, pelo contrário, procure odiá-lo ainda mais!

Nós, que não compramos nosso sossego porque este nos custa vários anos de trabalho, queremos nossos parques, nossas piscinas, nossas saunas, nosso futebol, nosso vão livre e tudo que possa ser livre! Queremos o nosso MASP, e queremos que seja de fato e de direito NOSSO!!!

Se estes desmandos da administração do museu são a oportunidade que faltava para tornar o MASP público, pois que seja agora!

O Lula não quer, o Serra não quer, o Kassab não quer, mas nós queremos! Então lutemos por ele! Exijamos o MASP para os paulistanos, e não só pra galera do condomínio fechado!

Ou senão perderemos uma oportunidade histórica de nos apropriar daquilo que sempre deveria ser nosso.

Vamos à luta!!!

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em janeiro 9, 2008 de 1:31 am

As dez melhores coisas de São Paulo, por mim mesmo

Ontem me deu na telha escrever as dez coisas que mais gosto em São Paulo, como forma de gratidão à acolhida nos últimos 5 anos, mas que mesmo assim não me impedem de querer mudar pro Rio. Seguem:

1-) Minhas festas de aniversário. que só são possíveis, da forma que são, em São Paulo;

2-) Matrix. As melhores seqüências musicais da noite paulistana;

3-) A Loca. Impagável, principalmente às quintas e domingos;

4-) Trash 80′s. A do centro de São Paulo, não na Vila Olímpia. Excelente pedida pra uma quinta à noite;

5-) Espaço Unibanco. Raríssimas vezes vi um filme que não gostei lá;

6-) Centro Cultural São Paulo. Perto de casa e extremamente interessante, além de útil quando se precisa estudar;

7-) A Casa Polaca. Moradia de meus irmãos comunistas do leste europeu, Guilherme, Eduardo, Ramon e Cesinha. Festas inigualáveis, mas esquecíveis por amnésia alcoólica. Além de ser um achado na região central;

8-) Andar na Paulista ouvindo música. A Av. Paulista é um dos logradouros mais musicais do Brasil, mas tem que ser rock’n roll! Senão não combina…;

9-) Botecos sujos e desprezíveis. Os melhores, disparado…;

10-) A legião de estrangeiros. Encontrar amigos que vem de fora de São Paulo, como os meus capixabas, minha sergipana, meu calunga, meus caipiras, e toda uma infinidade de “estrangeiros” tentando se adaptar a essa selva chamada São Paulo;

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em janeiro 14, 2008 de 3:51 pm

Do Blog do Juca

Na ‘Folha’, de sábado

JOSÉ GERALDO COUTO

Jesus, amor etc.

Kaká, como jogador, é o máximo, mas tomá-lo como modelo para os jovens é anacrônico e conservador

A ESCOLHA de Kaká como melhor futebolista do planeta não surpreendeu ninguém, pelo que ele jogou na temporada. O que me assustou um pouco foi ouvir no rádio e na televisão uma porção de gente exaltar o rapaz como “modelo positivo para a juventude”. Ora, vamos combinar, Kaká fora de campo, à parte a beleza física evidente, é de uma insipidez espantosa. Mauricinho e carola, sua imagem corresponde a um bom-mocismo que eu julgava há muito superado. Não me entendam mal.

Nada contra ele casar virgem e estampar na camiseta que “pertence a Jesus”. Mas daí a tomar isso como exemplo de caráter vai uma grande distância. Kaká, é bom lembrar, foi um dos primeiros a sair em defesa do casal Hernandes, os líderes da igreja evangélica Renascer em Cristo, que foram parar na cadeia por ludibriar a fé dos incautos e sonegar impostos. Apoio no mínimo questionável, a meu ver.

Ainda assim, problema dele. Mas há algo de profundamente regressivo em considerar esse tipo de comportamento como “sadio”. Querer restaurar, a esta altura do campeonato, valores como a virgindade e a fé religiosa cega traz um perigoso ranço de TFP (a ultraconservadora Sociedade de Defesa da Tradição, da Família e da Propriedade), ainda que sob as tintas mais estridentes, pragmáticas e mercantilistas das correntes evangélicas. Como contraponto a esse obscurantismo anacrônico, lembro um episódio ocorrido com o grande ex-jogador e ex-treinador Elba de Pádua Lima, o Tim (1915-84), e narrado no recém-publicado “João Saldanha – Uma Vida em Jogo”, de André Iki Siqueira.
Tim era técnico de um clube grande do Rio de Janeiro quando, numa peneira, um garoto ansioso por agradá-lo declarou: “Não bebo, não fumo nem farreio”. Tim respondeu: “Pois aqui você vai aprender a fazer tudo isso”. Claro que ninguém aqui é criança. Sabemos que o álcool, o cigarro e as noites maldormidas podem prejudicar a saúde e o desempenho de qualquer profissional. Mas são, no mais das vezes, experiências que fazem parte do aprendizado de vida de qualquer cidadão saudável.

Millôr Fernandes escreveu uma vez que a mais incompreensível de todas as taras é a abstinência. Ernest Hemingway, por sua vez, quando indagado sobre as coisas que poderiam atrapalhar a atividade do escritor, respondeu: “Mulheres, bebida, dinheiro. E também falta de mulheres, de bebida e de dinheiro”. João Saldanha, sábio do futebol e da vida, ajudava seus jogadores a fugir da concentração para se divertir. Só recomendava, de modo meio machista, que não mudassem de mulher às vésperas de um jogo, caso contrário tenderiam a “mostrar serviço” na cama, desgastando-se em excesso.
Kaká entregou a alma a Jesus, o dinheiro à Renascer e a virgindade à noiva. Vágner levou uma mulher para a concentração do time e ganhou o apelido de Love.

O primeiro é muito mais jogador, mas o “exemplo” do segundo me agrada mais.


Escrito por Juca Kfouri às 11h29

Publicado em dezembro 24, 2007 de 10:28 pm

Pra quem gosta (muito) de futebol!!!

Achei essa pérola no Blog do Juca, um joguinho pra quem gosta de futebol!

São 64 escudos de clubes do Brasil e do mundo pra você descobrir a quem pertencem. Óbvio que estão disfarçados para não ficar tão fácil.

http://www2.uol.com.br/flashpops/jogos/escudos.shtml

Divirtam-se!

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em dezembro 25, 2007 de 8:25 pm

Achei um parente!

Descobri um poeta espanhol chamado Antônio Porpetta, aí resolvi publicar este poema dele, pra divulgar a família (hehehe).

Boa leitura e divirtam-se!

Donde se dice de los labios de la amada
y el poeta es alcanzado por una dulce muerte
Antonio Porpetta

Cauces de la palabra, sembradores
de hielos o luciérnagas,
ya manantial altivo, ya planicie
frutal, enredadera
de muérdago y campana, antesala
de intrépidos galopes hacia siempre,
de plenilunios largos como nunca.
Mas sobre todo, cráter,
tierno cráter de luz que me sucumbe,
que entero me derrama hacia el olvido,
atalaya trigal, silbo del fuego,
vestíbulo feraz del mediodía.
Quizás, tras de vosotros, una lluvia,
una lejana lluvia que amanece
recubierta de sueño,
como un musgo
que invitara a vivir lo no vivido,
pregonera de un tiempo inevitable
que en esta patria tiene su manida.

Entre cráter y musgo me desvelo:
una aldaba, una voz, un desafío.
No sé si me llamáis o soy quien llama
ni quién es tigre aquí, ni quién paloma,
pero el imán ejerce su mandato,
se hace viento la sangre, manifiestan
las ascuas su destino.
Lentamente me acerco:
ya os respiro,
ya soy,
ya casi nazco.
Si vosotros quisierais,
si quisieras…
Qué serena canción, qué profecía,
qué inmune realidad en vuestro cuenco
inagotable y mío.
Qué dulce muerte así,
qué muerte ahora.


(De “Territorio del fuego”)


Publicado em dezembro 18, 2007 de 4:11 pm

Tropa “da” Elite

Do período onde se iniciou o debate de grandes proporções sobre o filme Tropa de Elite, de José Padilha, até eu mesmo assistir o filme, muito tempo se passou. Tanto que, mesmo antes de ver o filme, já conseguia arriscar algumas opiniões a respeito. Mas eu sabia que só quando assistisse conseguiria ter uma análise mais precisa do que aquele representava.

Já tinha ouvido falar que o filme era fascista, mas acho que essa afirmação não pode ser feita à seco. Deve-se caminhar por um exercício de lógica esdrúxulo, mas necessário!

O filme retrata a visão do BOPE na relação com o tráfico. A visão do BOPE sobre essa relação é fascista. Logo, o filme se torna uma importante peça de propaganda do fascismo instintivo que as elites possuem e transmitem, através da mídia, para os trabalhadores e excluídos.

Assisti ao filme num feriado prolongado, o que me permitiu, além de ver o filme enquanto obra cinematográfica brasileira, assistí-lo por várias vezes, me atentando às falas, cenas e subjetividades que, por vezes, passam até como objetividades.

O filme é narrado pelo Capitão Nascimento, que para parte da opinião pública é um herói, para a Veja, “trata bandido como bandido”, dentre outras interpretações que fogem ao razoável.

O Capitão Nascimento é um bandido, mártir de um processo de higienização social nas favelas do Rio de Janeiro, herói de uma elite que não admite conviver lado a lado com a miséria, situação esta que eles mesmos provocaram!

Aos que reivindicam a lei para o combate ao tráfico de drogas, o que são as ações do BOPE senão ações ilegais? A legitimação da violência contra a pobreza, e seu extermínio, com amparo estatal e reverberação na classe média e média alta.

O Rio de Janeiro traz em sua história, agravado pelo fato da cidade já ter sido capital federal, um currículo extenso de higienização social. Até mesmo a ocupação dos morros foi resultado de um destes processos, quando espalharam-se doenças contagiosas em regiões mais pobres, ainda no “asfalto”, para expulsar aquela parcela da população, visto que a população oriunda de Portugal vinha crescendo e precisaria ocupar aquele espaço. Não tendo pra onde ir, só seria possível subir para os morros.

Isso é o que se reflete na atuação do BOPE. A continuidade de um processo que se demonstra historicamente de “limpeza” da pobreza para conforto das elites.

Daí podemos verificar o seguinte, a visão do BOPE sobre a tal “guerra” é a visão da elite do Rio, ou seja, a favela é o espaço propício para a proliferação da criminalidade. Algum favelado que caminha no sentido contrário e consegue uma oportunidade no mercado formal de trabalho é uma exceção, mas serve de exemplo ao povo carioca de como é possível ser favelado e não ser bandido. Ou seja, os favelados, leiam-se pobres em geral, tem uma predisposição natural ao crime.

Não é à toa que o governador tosco do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, defende o aborto como método de redução de violência, ou seja, menos pobres nascendo, menos bandidos em potencial. Declaração bastante estapafúrdia que demonstra a quem serve o governo.

Se o filme tivesse a preocupação de ouvir o outro lado, ou seja, quem sofre com a atuação do BOPE, talvez tivesse evitado algumas críticas. Mas ele não teve essa preocupação.

É preciso também contextualizar o filme. Ele se passa em 1997, num período onde ainda não havia o chamado “Caveirão” e ainda não havia sido expulso nenhum membro do BOPE por corrupção. Aliás, uma das marcas do BOPE à época era a “incorruptibilidade”. Tão marqueteira quanto falaciosa, pois quem fere direitos constitucionais do cidadão, mesmo o infrator, também corrompe à lei (mesmo a legislação burguesa)!

De lá pra cá, muita coisa mudou, seja no tráfico, ou no BOPE. O tráfico vem perdendo espaço em algumas favelas importantes para as milícias (fascistas extra-oficiais) e o BOPE já convive com casos de corrupção, inclusive com casos de aluguel de “Caveirões” para o tráfico em suas incursões em favelas de outras organizações do crime.

E aí entra outra questão que mudou de lá pra cá, o “Caveirão”. Carro blindado que parece um tanque de guerra, usado pelo exército israelense contra os levantes palestinos (ou seja, veículo a serviço do fascismo em nível mundial), que cumprem o papel de fazer o BOPE avançar sobre o morro pelas vias principais do mesmo, visto que o tráfico se aloca em casas com visão privilegiada dos acessos ao morro, atirando na polícia quando esta chega próxima. Além disso, ele tem alguns orifícios onde é possível colocar o cano do fuzil dos policiais para fora e atirar indiscriminadamente, sem ver o alvo. Ou seja, o “Caveirão” não vem cumprir mandados judiciais contra bandidos, mas sim para matar moradores da favela que estiverem pela frente.

Se fez “necessário” porque o BOPE era “convocado” pelo Estado com cada vez mais freqüência, perdendo o elemento surpresa em suas ações. Daí a necessidade de se “proteger”.

Daí, retomo à idéia de se ouvir o outro lado. Que tal o ponto de vista das famílias que perderam inocentes pelas balas do BOPE de dentro dos “Caveirões”? Que tal o ponto de vista de quem perdeu parentes na ação que antecedeu os Jogos Panamericanos no Rio, matando 19 pessoas, das quais 10 não tinham passagem pela polícia? Fica o desafio para José Padilha.

A glamourização da atuação do BOPE, através do seu mártir destemido, o Capitão Nascimento, tem provocado reações na sociedade, majoritariamente favoráveis, atingindo inclusive setores mais pauperizados. Isto é resultante de uma ação que não é só do filme, mas também da comercialização da violência pela mídia. Existe a criação de um ambiente no Rio de Janeiro muito mais violento do que ele realmente é, e isso favorece às interpretações mais fascistas do filme. Vide matérias no Jornal Nacional, quase que diárias, sobre tiroteios nas ruas do Rio, inclusive de bairros mais nobres como Copacabana e Ipanema.

O Rio tem uma peculiaridade, seus morros cortam os bairros ricos, estão espalhados por toda a cidade. Logo as contradições sociais acirram-se. Imagina como deve ser agradável morar numa favela com vista pro hotel mais luxuoso do Rio!

Já em São Paulo, onde moro, a elite teve a preocupação de empurrar a miséria para os cantos da cidade. Lá, onde a polícia também barbariza a população, não vira notícia, primeira página de jornal, capa de revista, afinal alguém como João Pedro, o menino arrastado por um carro na Zona Norte do Rio, nunca teria passado por lá. Quem morre lá é pobre, então não interessa pra Globo! Diferente de Copacabana, Leblon, etc.

Existe outro ponto que o filme aborda, e sobre esse também há o que se dizer. Trata da responsabilidade da classe média alta no financiamento da máquina que se tornou o tráfico.

No filme, um playboyzinho vende drogas na universidade em que estuda se valendo de uma ONG instalada no Morro dos Prazeres, onde estabelece contato com o “dono” do morro, compra a droga e a revende, sob a fachada de um “trabalho social”, que inclusive está a serviço de um candidato a Senador, e taí algo interessante, o número dele é 451, o que leva a crer que ele é do PSDB, embora não se afirme isso. Nada mais apropriado.

O questionamento interessante disto é sobre as ONG’s que atuam nas favelas. Sabe-se que muitas delas atuam a serviço de um político picareta que angaria votos na favela. Sabe-se também que todas elas atuam com o consentimento do tráfico, mas isso é um fenômeno igual a tudo que ocorre no morro, porque ao contrário do tratamento que o filme dá para o tráfico, os traficantes e associados não são entes estranhos ao morro, mas sim parte dele. Sofreram com a mesma miséria dos demais moradores e conhecem as necessidades deles, por isso são mais “considerados” que o Estado, que só age através da repressão policial. Retomando o raciocínio, a quem servem as ONG’s? Entendo que seja somente à manutenção do status quo.

Quanto ao papel do usuário, devemos debates sob outra perspectiva, que aliás o filme não aborda. O grande sustentáculo do tráfico é a proibição do uso!

O tráfico de drogas nada mais é do que uma estrutura do capital paralela ao Estado. E o usuário nada mais é do que um consumidor dessa estrutura. É o elo mais frágil dessa corrente, pois é, na verdade, alguém que necessita de políticas públicas na área da saúde, para tratamento do vício.

Mas ainda se trava este debate com muita hipocrisia na sociedade, hipocrisia esta que o filme, além de não combater, ainda “surfou na mesma onda”.

É possível que o filme seja premiadíssimo, concorra ao Oscar, ou até ganhe o mesmo, porque, enquanto obra, é um excelente filme. Mas que ninguém deve optar por uma visão purista do filme, colocando a visão do BOPE como verdade dos fatos, é também uma realidade.

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em dezembro 14, 2007 de 6:46 pm