sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

E o tênis fica menos divertido

Gustavo Kuerten, o maior tenista brasileiro de todos os tempos anunciou sua aposentadoria hoje, mas antes ainda disputará mais alguns torneios, entre eles Roland Garros, onde se imortalizou, havendo também a possibilidade de disputar as Olimpíadas de Pequim, caso se classifique.

Quando esse molecão surfista de Floripa apareceu pro mundo, em 1997, ganhando seu primeiro título em Roland Garros, gente como eu, cético com o tênis, passou a acompanhar e entender melhor o esporte das raquetes.

Aquele cara com barba por fazer, cabelo grande e desgrenhado, roupas coloridas e uma simpatia típica de um caiçara, fez com que o tênis passasse a ser comentado nas ruas, nos botecos. Uma popularidade que um esporte elitista como o tênis nunca teve no Brasil.

De repente, ao invés de gols, falava-se em aces. Ao invés de dribles, passadas. Ao invés de chapéus, lobbies. As faltas, artifício dos cabeças-de-bagre do futebol, agora eram duplas faltas. Do 1 x 1, virou 40 iguais. E assim se construia uma relação de um esporte com um país, de um atleta com seu povo.

Para além de colocar o Brasil num patamar onde nunca esteve no tênis mundial, Guga nos deu a oportunidade de conhecer Pete Sampras, Andre Agassi, Yevgeni Kafelnikov, Magnus Norman, Lleyton Hewitt, entre outras feras do tênis que outrora olhávamos com certo desdém.

E foi em Roland Garros que Guga fez sua Copa do Mundo. Venceu por 3 vezes, mas não daquela forma fleugmática que o tênis sempre se apresentou, mas de forma alegre, do jeito que o brasileiro gostaria de ver sua seleção, e em certa medida, via nele aquela arte esquecida em 1994 na Copa dos EUA.

Não era o melhor do mundo, mas era o mais divertido. Sempre de roupas coloridas, sempre com declarações típicas de um menino que estava ali brincando, sempre como se tentasse ali no torneio de tênis conseguir mais um motivo pra pegar uma onda em Floripa.

O cara que dedicou o título de Roland Garros ao Jacaré, centroavante do Avaí, seu time do coração, que havia sido campeão catarinense com artilharia de Jacaré, se tornava a expressão de um povo alegre, solidário e apaixonado.

Assim, Guga construiu sua história e, também, a de seu povo. Uma história que invadiu o esporte sisudo com sua irreverência e, a partir dali, mudou a história do próprio tênis.

Mas suas costas começaram a incomodar, vieram cirurgias, fisioterapias, retornos, mas nunca com aquele brilho. E suas próprias costas se tornaram o adversário mais difícil em sua trajetória no tênis. Elas lhe tiraram os títulos e, agora, lhe tirou o tênis.

Guga vai parar! E o que sobrou do tênis brasileiro foi a mesmice anterior a Guga. Temos bons jogadores, mas muito padronizados. Todos de branco, todos sem o brilho de Guga.

O destino de Guga é voltar à Floripa, viver como um garoto, surfando e se divertindo, como sempre fez no tênis.

Se Guga voltará a ser o mesmo garoto das praias de Floripa, o mesmo não se pode dizer sobre o tênis. Esse, depois de Guga, nunca mais será o mesmo!

Obrigado por me proporcionar tardes emocionantes assistindo tênis e, a partir daí, mudar completamente minha visão sobre o mesmo. Muito obrigado, Gustavo Kuerten!

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em janeiro 16, 2008 de 12:55 am

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Bruno Porpetta