sábado, 25 de dezembro de 2010

A renúncia de Fidel e a farra da mídia

O dia 18 de fevereiro de 2008 entrou pra história. Vai ser daqueles dias que aparecerão em livros de História Geral dos nossos filhos ou netos. Fidel Castro Ruz, revolucionário cubano que liderou um dos acontecimentos mais marcantes da história da América Latina e do mundo, a Revolução Cubana, renunciou ao posto de Presidente do Conselho de Estado e de Comandante-em-chefe das Forças Armadas de Cuba, depois de 49 anos à frente do processo revolucionário naquele país que, a partir de 1º de janeiro de 1959 deixou de ser apenas um prostíbulo dos EUA para se tornar de fato uma nação soberana.

São incontáveis os avanços do ponto de vista social em Cuba, país onde o analfabetismo foi erradicado, onde a saúde pública é modelo para todo o mundo, onde a mortalidade infantil é quase zero. Isso tudo não se passa numa grande potência mundial, com território vasto, mas sim numa pequena ilha do Caribe, próxima ao litoral da Flórida, nos EUA.

Além destes ensinamentos que Cuba nos deixa, de como é possível avançar tanto em algumas áreas e se modificar completamente o papel de um país para o mundo, fica também o exemplo da resistência de um povo. A proximidade dos EUA fez com que Cuba se tornasse um alvo preferencial do imperialismo estadunidense. Como poderia uma nação se declarar socialista debaixo das barbas do império? Os EUA responderam com um embargo econômico e ameaças militares que, a grosso modo, impediram Cuba de se tornar um país mais próspero. Mas mesmo assim Cuba resistiu. Provou que era possível enfrentar o imperialismo sem abaixar a cabeça e recuar um milímetro que fosse para satisfazer os EUA. E Fidel encarnava essa resistência. Foi considerado um inimigo pelo império e assim chegou até aqui, quase 50 anos depois.

Encerra-se um capítulo numa história de resistência popular e de concretização de um sonho socialista, apesar das dificuldades e das nuances necessárias para se garantir as conquistas, mas não se encerra o sonho nem a resistência.

A renúncia de Fidel não é o fim do socialismo em Cuba. Não é a abertura para a sanha do imperialismo. Não é a brecha para a imposição da “democracia” dos EUA. Ela é só o encerramento de uma tarefa cumprida por um dirigente comunista. Outras virão, como disse o próprio Fidel em sua nota de renúncia.

A repercussão da renúncia de Fidel foi mundial. Os países pró-imperialistas se apressaram em dizer que abriam-se as portas da “democracia”, a mesma “democracia” de George W. Bush no Iraque e no Afeganistão, que é a democracia do terror. Os pré-candidatos à Casa Branca afirmaram a necessidade de se garantir uma transição para essa tal “democracia”.

No governo brasileiro, opiniões diversas, fruto da “diversidade” ideológica do governo. Enquanto Lula, mesmo que moderadamente, dizia que Cuba não deve se tornar um campo de conflito por parte dos “cubanos de Miami”, o vice-presidente José de Alencar fazia coro com a direita que nunca suportou Fidel e a revolução cubana. Coisas de um governo de “coalizão”.

Mas vergonhoso mesmo foi o papel da mídia neste processo. A Rede Globo, um verdadeiro consulado midiático dos EUA no Brasil, dedicou o dia todo a desdenhar dos avanços da revolução cubana e a comemorar, de forma velada como dita o padrão Globo de “jornalismo”, a possível abertura de Cuba ao capitalismo. Afirmava que Raul Castro era um defensor do modelo chinês de abertura, que outro possível candidato ao posto de Fidel gostaria de negociar com os EUA o fim do embargo a Cuba, que outro defendia o processo ocorrido na União Soviética. Ou seja, a família Marinho – a maior máfia existente no Brasil – decretava por si só o fim do socialismo em Cuba e no mundo, classificando como anacrônicas e ultrapassadas as idéias de um mundo mais justo e igual.

Outra abordagem deprimente foi justamente de um jornal dito “popular” pertencente à máfia dos Marinho. O jornal Extra do Rio de Janeiro estampava uma foto de Fidel com o corpo arqueado para a frente e com a mão próxima à boca além da seguinte manchete: “Fidel chama o Raul”. Fazia referência à provável manutenção de Raul Castro à frente do governo cubano, mas também é um trocadilho a uma expressão popular (quando associada à foto) que significa vomitar.

Esta é uma demonstração do êxtase da mídia burguesa com a renúncia de Fidel. Com a tentativa de se consolidar para a história a experiência cubana como um atraso, um retrocesso que atirou o povo cubano na miséria. Nada mais falacioso. Cuba é um exemplo de resistência. Se não é o socialismo ideal, com plenitude democrática, é ao menos uma ilha de avanços para o povo em meio a um mar de opressão que tomou conta do mundo com o fim do socialismo no leste europeu e da bipolarização mundial.

Cabe aos povos de todo o mundo e, em especial, à militância comunista reivindicar esse processo cubano como um processo identificado com a luta dos trabalhadores e defender Cuba dos ataques vindouros por parte do capitalismo, além de resgatar a história de luta e resistência do povo cubano, e de Fidel, Che e outros líderes, contra a opressão imperialista e em busca de um mundo mais justo, ou seja, um mundo mais parecido com Cuba.

Hasta la victoria, siempre

Viva Fidel! Viva o povo cubano! Viva o socialismo!

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em fevereiro 21, 2008 de 3:51 pm

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