sábado, 25 de dezembro de 2010

A espetacularização da notícia

O chamado Caso Isabella deve nos fazer refletir sobre o papel da imprensa na cobertura dos fatos. Até que ponto o que assistimos na TV ou lemos nos jornais e revistas é notícia ou pura macaquice dos órgãos de imprensa?

Sobre o caso em si, foi de fato uma barbaridade o que aconteceu e os responsáveis por tal brutalidade devem responder pelo que fizeram, mas a averiguação dos fatos e a conseqüente indicação de culpa deve ser feita pela polícia, assim como a condenação dos responsáveis é tarefa do Judiciário.

A imprensa, de olho nos índices de audiência ou vendagem, aprofunda-se no assunto como se esta fosse uma novela, torna o bárbaro assassinato da menina Isabella em um espetáculo, um show de horrores do nosso cotidiano.

A priore se insiste no assunto para se criar um clima de comoção social, terreno fértil para o consumo da notícia. Depois há a disputa dos órgãos de imprensa pela melhor cobertura do “evento”, buscando sempre o “furo” jornalístico e assim levando vantagem na obtenção de “consumidores”.

Essa comoção carece de respostas às questões colocadas. Portanto, nossa imprensa se apressa em dá-las, antes mesmo das autoridades competentes, desenvolvendo a história muito mais rapidamente no imaginário das pessoas do que a apuração real dos fatos. A partir daí, monta-se a história com todos os personagens: os mocinhos, os bandidos, os núcleos de ambos e os figurantes.

Na cobertura da imprensa sobre o caso já apareceram vizinhos, que para a polícia tinham poucas informações, mas para a imprensa deram riqueza de detalhes daquilo que não viram; colegas de escola da menina com seus desenhos ilustrativos da boa imagem que a menina deixara; especialistas em crimes, sejam policiais, jornalistas, médicos legistas e toda a sorte de técnicos da morte tentando desvendar o mistério que nem Edgar Allan Poe e seu Sherlock Holmes teriam condições de resolver; a família, transtornada e vítima de repórteres insandecidos por declarações bombásticas que colocariam os vilões em maus lençóis; e os próprios vilões, que antes de qualquer declaração da delegada responsável pela investigação foram presos, julgados e condenados pela imprensa.

É certo que as contradições colocadas e as poucas informações concretas divulgadas deixam o pai e a madrasta em situação bastante complicada e nos levam a crer que ambos são culpados pela morte de Isabella. Mas é certo também que hoje ambos são vistos como monstros, mais pelo papel da mídia no caso do que propriamente por fatos desvendados pela polícia.

Cabe lembrar de um caso que ocorreu em São Paulo há mais de uma década, onde um casal, proprietário de uma escola infantil, foi acusado por crianças de molestá-las. À época, o caso teve grande repercussão na mídia, e esta fez questão de crucificá-los por atentar contra inocentes crianças. A vida do casal mudou radicalmente, eles perderam tudo o que tinham e foram obrigados a mudar de vida e de cidade, devido a pressão social sobre os “monstros” de plantão.

Pois bem, algum tempo depois da vida do casal ter sido destruída pela cobertura da imprensa, a justiça considerou-os inocentes da acusação, o que não teve o mesmo destaque de cobertura.

Este fato deve nos levar a pensar sobre a imputação midiática de crime a pessoas que podem até ter cometido tais atos, mas para que se chegue a tal conclusão deve-se respeitar os procedimentos necessários, como inquérito, apresentação de denúncia e julgamento com direito amplo de defesa.

Caso contrário, continuaremos sendo vítimas da manipulação da mídia, que constrói heróis e vilões diante dos fatos cotidianos, fazendo dos mesmos grandes novelas em busca de audiência e vendagem.

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em abril 7, 2008 de 1:57 am

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será moderado e pode não ser incluído nas seguintes hipóteses:

1 - Anônimo

2 - Ofensivo

3 - Homofóbico

4 - Machista

5 - Sexista

6 - Racista


Valeu,

Bruno Porpetta