terça-feira, 30 de julho de 2013

Pra não dizer que não falei do Galo...

Com quase uma semana de atraso, diante do que lhes devo desculpas, mas vou dar um pitaco no histórico título do Galo na Libertadores.

Pode-se dizer que foi a redenção de vários renegados.

Victor, o goleiro dos milagres que carregaram o Galo à decisão, foi renegado pela seleção (embora não tivesse mesmo lugar pra ele), Leonardo Silva, renegado pelo arquirrival, Richarlyson pelo São Paulo, Jô pelo Internacional e Ronaldinho... bem, este merece um parágrafo só pra si.



Ronaldinho não foi genial. Mas foi gênio!

Se não foi brilhante como na primeira fase, sua experiência foi fundamental para segurar a onda do time nos momentos que este mais precisou. Conseguia, ao menos, irritar o adversário, o que em decisões tensas como as que o Galo teve é, no mínimo, relevante.

Jô foi o artilheiro da competição. E seus gols foram decisivos. Afinal de contas, o Galo teve um impressionante desequilíbrio técnico nas fases eliminatórias da Libertadores. Ao contrário do show da primeira fase, o Galo patinou muito na reta final e quase pôs tudo a perder várias vezes.

O que explica então o título do Galo?

Uma combinação explosiva entre time e torcida. Parece que fizeram um acordo entre si, quando um vacilar, o outro vai lá e levanta!

Deve-se dizer que o papel da torcida atleticana foi gigantesco. A ela deve ser oferecida qualquer premiação de craque do campeonato.

Não à toa muita gente só deve ter voltado ao trabalho hoje, em Belo Horizonte. Eles mereciam esticar a festa até a última gota.

Outro que merece um parágrafo é Cuca. O azarado, o depressivo, o alho com cebola e sal dos times campeões. Ele temperava para os outros comerem.

Suas convicções ofensivas eram tremendamente contestadas por sua incapacidade de conquistar títulos expressivos. Seja por seu trabalho, ou por sua fé, isto acabou.

Agora, Cuca pode dizer que venceu quatro estaduais (um carioca e três mineiros) e uma Libertadores! Seu nome sai da lista da boca do sapo para a boca do povo.

Em tempos de visita do Papa ao Brasil, o título do Galo, e de Cuca, foi um presente divino aos torcedores.

E nas mãos de Victor ficaram os milagres. Aquele contra o Tijuana, nas quartas-de-final, foi um caso típico de reescrita da história feita in loco, ao vivo e a cores.

O Galo estava eliminado e, de repente, estava classificado. É pra marcar as mãos na calçada da fama do Atlético Mineiro. Para que ninguém nunca se esqueça que aquelas mãos mudaram o destino.

Apesar das dificuldades, o título foi merecido. Muito merecido.

Se a física não explica o que aconteceu, bota na conta do Papa!


Valeu,

Bruno Porpetta

quarta-feira, 24 de julho de 2013

De 62 a 68, em 51 anos (o Brasil de Amarildo a Amarildo)

Pelé saía de campo lesionado, no empate em 0 a 0 entre Brasil e Tchecoslováquia.

Diante de tal tragédia, a alternativa mais viável para Aymoré Moreira era colocar o ataque do Botafogo pra jogar. Que parceiro faria melhor companhia à Garrincha senão seu companheiro Amarildo?



Aquele time, já um pouco envelhecido, contava com o agora saudoso Djalma Santos (ao qual este blog se curva em reverência), além do infernal Garrincha e o "Possesso" Amarildo, mais um grande artilheiro do nosso futebol, mais um que deve ao Anjo das Pernas Tortas seu contrato para jogar na Europa.

Amarildo editou, junto a Garrincha, belíssimas páginas da história do Botafogo e da seleção brasileira. Páginas que inspiraram amantes do futebol, nos estádios e nos cartórios.

Não é de hoje que jogadores de futebol eternizam seus nomes nos filhos dos outros. As homenagens feitas a craques no registro de crianças recém-nascidas é notória e antiga.

Em uma delas, em 1966, nasceu Amarildo.



Amarildo Dias de Souza era um pedreiro. De tanto carregar pedras, assim como craque alvinegro, também ganhou um apelido. Era chamado de Boi.

Cresceu na Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro. Que os bairros de São Conrado e Gávea fingem não existir. Mas ela existe.

Tal como as demais favelas, cresceu desordenadamente, sem planejamento, sem água, sem luz, sem esgoto. Se tornou um depósito de gente descartada do "asfalto". Gente invisível, como se não fossem gente.

Nesta ausência do básico, é duro não se revoltar. Nesta revolta sem perspectiva, o crime aponta uma saída fácil, às vezes única. Assim, aos 17 anos, o jovem Amarildo registra sua única passagem policial, por furto.

A característica de pé-de-boi, que lhe rendeu o apelido, impediu que Amarildo trilhasse este caminho. Não fosse por isso, já estaria morto há muito tempo. O crime só compensa a curto prazo, até porque o prazo é necessariamente curto pra quem vive dele.

Entre a vitória da seleção do Possesso e o nascimento do Boi, sob a "iminente ameaça comunista", o país iniciou-se no capítulo mais vergonhoso de sua história. Em 64 os militares tomaram o poder e levaram consigo nossa liberdade. O Amarildo da Rocinha nasce em um Brasil proibido de pensar.



Com apenas dois anos de idade, Amarildo ainda não tem consciência, mas seu país mergulha nos piores anos desta excrescência que foi a ditadura militar. O Ato Institucional nº5 foi editado para liberar a tortura, o assassinato.

O jovem Amarildo deve ter visto pela TV, na telinha da Globo, milhares de pessoas na Praça da Sé, em São Paulo, comemorando o aniversário da cidade.

Mal sabia ele que, na verdade, lutavam por democracia no Brasil. Isto, a Globo não contou a ele.

Amarildo, com 23 anos, pela primeira vez votou para Presidente da República. Acreditou viver em um país democrático, retornando às urnas nos anos pares que se seguiram para cumprir o único direito que lhe foi concedido, já que todos os outros lhe eram sistematicamente negados.

Talvez tenham lhe ensinado que o Brasil foi "descoberto" por Cabral, até porque o massacre dos povos originários não permitiu que estes contassem sua história. E a vida (ou a "democracia"), lhe colocava diante de outro Cabral, mais de 500 anos depois.

Pela TV, lhe diziam das maravilhas que transformavam as favelas em territórios pacificados, longe dos crimes que Amarildo se recusou a prosseguir cometendo. Ele, que nasceu no país proibido de pensar, mais uma vez acreditou no que a TV lhe mostrava.

O que talvez não tenham lhe dito é que, para favelados como ele, só havia uma paz possível. A paz do porrete. O Estado, como foi por toda a sua vida, só se fazia presente através da polícia. Ainda assim, para Amarildo, a esperança de dias melhores.



O Boi acreditava que, carregando pedras, construiria uma vida melhor.

Assim, viu a seleção brasileira vencer, sem o Possesso que lhe dava o nome, mais três títulos mundiais. Viu a urna de votação, e ali a possibilidade de escolher qual país ele queria. Viu a UPP chegar à favela com status de heróis da liberdade. Viu o povo voltando às ruas para reivindicar direitos.

Depois disso, não viu mais nada.

No estado de exceção criado por Cabral, foi levado pelos policiais - os mesmos que resgataram sua esperança - para dentro do posto de comando da UPP da Rocinha, sem mais nem menos. Nunca mais foi visto.

Tal como naqueles anos, em que Amarildo ainda era uma criança, e pessoas desapareciam nas mãos sujas de sangue dos militares, chegou a sua hora.

Não teve tempo sequer de ver Cabral editar o "novo AI-5", retomando uma vergonhosa ditadura que seu partido disse um dia combater. Nem mesmo pedir perdão por eventuais pecados ao Papa.

Nem foi digitalmente incluído, para poder, pelo Twitter, dizer ao Papa o que a PM do Rio andava publicando por lá. Talvez o Papa perdoasse, inclusive, os pecados da PM. Não houve tempo.

Tal como Djalma Santos, Amarildo não está entre nós. Que Deus os tenha! Não é não, Papa Chico?

Ao menos Djalma terá um velório.

Amarildo, que viveu sem luz, sem água, sem esgoto, mas com orgulho, não teve escolha. Mesmo ao morrer, não tem direito a seu próprio corpo, nem à verdade, nada!

Sua família e sua favela exigem saber, mas continuam sem respostas. São recebidos a balas e bombas no Leblon.



O que o governo Cabral e a PM do Rio não querem dizer, nem Aymoré Moreira dá jeito.

E agora? Sem Pelé! Cadê o Amarildo?


Valeu,

Bruno Porpetta


N.B.: A homenagem ao Possesso é ficcional, assim como os programas de TV que ele por ventura assistiu durante a vida. Gostaríamos muito de poder perguntar ao próprio sobre isto. Pode ser, Cabral?

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Depois de tudo...

O Galo chegou a sua primeira decisão de Libertadores na história depois de matar uns 500 torcedores do coração.



Não bastasse o pênalti defendido por Victor aos 48 do segundo tempo, quando a torcida já chorava a eliminação contra o Tijuana dentro do Independência, veio a "virada" heroica contra o Newell's Old Boys, pelas semifinais.

Dez a cada dez analistas, antes do jogo da volta, davam como certa a eliminação do Atlético-MG. Por um motivo muito simples: pelo próprio histórico na competição.

O Galo é um time que marca muitos gols, mas também leva. E levou em todos os jogos, menos naquele.

Como a dúvida é o preço da pureza e é inútil ter certeza, o Galo contrariou as próprias estatísticas e levou o jogo para os pênaltis.

Cuca fez um troço maluco, mas que fazia todo sentido: tirou Bernard e Tardelli, que alegavam cansaço, para botar Guilherme e Alecsandro.

Ou seja, tirou o jogo de fora da área e botou-o dentro da área. Afinal de contas, ele precisava de gols, não de belas jogadas. Ali foi o abafa do abafa.

Talvez o que mais tenha surpreendido Cuca é que ele esperava um gol de cabeça, dentro da área. Saiu de pé, de fora da área, mas de Guilherme, que ele colocou em campo.

Os gols de pênalti foram marcados pelos dois atacantes que Cuca lançou no segundo tempo, mais a estrela da companhia: o tal de Ronaldinho Gaúcho.

Agora, o baque ficou por conta da impossibilidade de contar com o Horto na grande final.

O jogo foi confirmado pela Conmebol para o Mineirão, a despeito dos pedidos do Atlético e da CBF.

Uma coisa deve ficar clara: o Atlético-MG já passou por, pelo menos, dois times melhores que o Olimpia. Portanto, com a bola no pé, o Galo é favorito.

O problema é que camisa também conta, e neste quesito o Olimpia leva vantagem.

Portanto, depois de tudo o que já passou, para ser campeão é só jogar bola.

Nesta o Galo se garante.


Valeu,

Bruno Porpetta

segunda-feira, 15 de julho de 2013

E a humanidade? Quando terá seu dia?

Hoje eu não vou falar de futebol.

Sei que estou em dívida com vocês, mas me perdoem.

Este negócio de Dia do Homem, somado à notícia que vi hoje, me fizeram mudar um pouco de assunto.

No Paraná, mais precisamente na cidade de Colombo - região metropolitana de Curitiba - um crime bárbaro há menos de um mês atrás chocou a população. A adolescente Tayná, de 14 anos, foi encontrada morta em um matagal, em frente a um parque de diversões.

Quatro funcionários do parque confessaram o crime (estupro e homicídio), permanecendo presos até hoje quando, por solicitação do Ministério Público, foram liberados.

O sêmen encontrado na garota não pertencia a nenhum dos quatro, que relatam sessões de tortura para confessarem o crime que não cometeram.

Como a mídia gosta de um showzinho, já os tinha condenado de antemão, provocando a ira da população da cidade, que destruiu o parque de diversões em sinal de protesto.

Saiba mais aqui: http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2013/06/menina-que-desapareceu-no-parana-foi-estuprada-e-morta-diz-policia.html

http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2013/06/moradores-protestam-e-destroem-parque-apos-sumico-de-adolescente.html

http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2013/06/corpo-de-adolescente-morta-por-funcionarios-de-parque-e-encontrado.html

http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2013/07/apos-pedido-do-mp-suspeitos-de-estuprar-e-matar-tayna-sao-soltos.html

Não é nenhuma novidade este tipo de prática policial, que obtém confissões mediante tortura. Tampouco o espetáculo midiático feito sobre a dor de uma família com a perda brutal de uma adolescente.

Porém, o mais assustador é se tornar corriqueira a "indignação" popular violenta, com ameaças de linchamento, destruição de "símbolos" da barbárie cometida (como foi o caso do parque) e o desgaste moral dos envolvidos.

Existe pouca preocupação por parte dos atores envolvidos (polícia, mídia e "revoltados") com a justiça, a averiguação dos fatos e a verdade.

A polícia diz que foi, a mídia confirma, todo mundo acredita e dane-se o resto.

Não é difícil lembrar, nestas situações, da escola em São Paulo, cujos donos foram acusados de abuso sexual contra as crianças. Foram perseguidos, condenados de véspera, tiveram suas vidas destruídas e ganharam, no máximo, uma desculpinha aqui, outra acolá.

Se juntarmos como elemento a atuação policial nas recentes manifestações pelo país, é possível dizer que as polícias perderam integralmente o seu papel. Na prática, servem tão somente como guardiãs de uma moral conservadora, hipócrita, a serviço de elites entregues a sua própria mediocridade.

A mídia, nas mãos de apenas 11 famílias em todo o país, faz da desgraça humana uma novela, captando a audiência desavisada de quem está sedento pelo infortúnio alheio.

Não é preciso dizer o quão desnecessário é o tal Dia do Homem. Este só seria preciso se o homem fosse obrigado a manter gestações contra a sua vontade, sofresse violência doméstica cotidiana, recebesse menos em seu trabalho por sua condição masculina. Obviamente, não é o caso.

O tal dia é fruto da cabeça machista dominante que não admite sequer a possibilidade das mulheres lutarem por direitos. Imagine tê-los!

É pra se pensar se, por um dia, nós pudéssemos dedicá-lo a humanidade, em seu sentido mais amplo.

A humanidade que, em algum ponto, deixamos de ter, em um país que sempre quis ser o futuro, mas parece cada vez mais preso ao passado. Mais precisamente, à idade média.


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 9 de julho de 2013

Em busca de boas notícias

Olha, tudo bem que as noites de sono de um rubro-negro não são das mais tranquilas, mas o que está acontecendo com o Vasco?

Desmontou o time que tinha, Bernardo se enfiou em uma confusão que até hoje não teve uma explicação muito convincente, a torcida quer a cabeça de Dinamite num prato (justo ele, que foi um dos maiores ídolos do clube, mas se arruinou como dirigente) e ainda há a chance do retorno de Eurico Miranda (essa é pra entrar em pânico).



Há três meses, diante de uma crise financeira que fazia com que o gramado de São Januário fosse irrigado com água da piscina, por conta de uma dívida com a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), o Vasco apresentava o conceituadíssimo treinador Paulo Autuori.

Com discursos de amor ao Vasco, o treinador abria mão de situações financeiras mais confortáveis para assumir um abacaxi tremendo.

Me perdoem os vascaínos, mas o time que Autuori assumiu luta para não cair. Qualquer ponto é lucro, e o início diante da Portuguesa - adversário direto nesta inglória luta - foi positivo.

De repente, Autuori entra numa onda de ultimatos, cobrando os atrasados do elenco.

Beleza! Super justo! É um absurdo esta prática - mais que recorrente no futebol carioca - de deixar salários atrasados e dívidas se acumulando, como se todo mundo no futebol fosse obrigado a fazer tudo por amor.

O profissionalismo, para o qual o Vasco teve um papel fundamental em sua consolidação no Brasil, não permite que consideremos um mercenário alguém que cobre dois, três ou seis meses de salários atrasados e previstos em contrato. Ou seja, os valores cobrados não saem de uma cartola mágica, saem sim de um cartola maluco.

O Vasco, por sua vez, pede mais alguns dias para regularizar a situação do elenco, dizendo-se às vésperas de obter as certidões negativas de débito para liberar a verba de patrocínio da Eletrobrás (outra burrice, se sabe que deve as calças, por que firma acordo com uma estatal?).

Parece que as certidões (que às vezes parecem o horizonte, quanto mais perto, mais longe) saem na quarta-feira. No entanto, Autuori não parece disposto a esperar.

Ora, bolas! Autuori já sabia do abacaxi desde o início, quando aceitou o cargo. Agora passou a achar um absurdo aquilo que, pelo tamanho do rombo, já se sabia desde as caravelas de Cabral (o primeiro que arrasou indígenas) que iria acontecer?

Ao mesmo tempo, o São Paulo - time pelo qual Autuori ganhou seus títulos de maior expressão na carreira - está com o banco vago e já disse que não terá pudor nenhum em tirá-lo do Vasco.

Parece tudo tão casadinho, não? Soa até estranho...

Enquanto isso, em São Januário, ainda busca-se uma boa notícia. Se até os novos contratados fazem golaços contra (como foi o de Nei, no domingo), o que pode se esperar de 2013?

Antes a Copa das Confederações tivesse turno e returno...


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 2 de julho de 2013

Tá bom, porra! Eu falo desta merda!

Não dá pra passar incólume por uma atuação primorosa do time brasileiro diante da Espanha.

O Brasil jogou muito e mostrou que, enfim, tem um time.



Pode não ser o time dos seus sonhos, ou o time dos meus sonhos, mas tem um time.

Não dá pra colocar na conta de Mano não tê-lo antes. Os primeiros anos seriam mesmo dedicados à experiências, e ele as fez.




Vencer a Copa das Confederações é bom para o moral, como diria Rita Cadillac. Mas não é pra tanta exaltação.

Foi importante achar um time. Serviu para, enfim, enxergarmos em Neymar um craque (sem que ele precisasse jogar um dia sequer na Europa).

Mas ganhar a Copa das Confederações não é garantia de nada! Vide os anos de 2005, na Alemanha, e 2009, na África do Sul.

Então, devagar com o andor que o santo é de barro! Foi muito bom ganhar em casa e poder imaginar como pode ser no ano que vem. Mas, por enquanto, é só imaginação.


Valeu,

Bruno Porpetta