segunda-feira, 15 de julho de 2013

E a humanidade? Quando terá seu dia?

Hoje eu não vou falar de futebol.

Sei que estou em dívida com vocês, mas me perdoem.

Este negócio de Dia do Homem, somado à notícia que vi hoje, me fizeram mudar um pouco de assunto.

No Paraná, mais precisamente na cidade de Colombo - região metropolitana de Curitiba - um crime bárbaro há menos de um mês atrás chocou a população. A adolescente Tayná, de 14 anos, foi encontrada morta em um matagal, em frente a um parque de diversões.

Quatro funcionários do parque confessaram o crime (estupro e homicídio), permanecendo presos até hoje quando, por solicitação do Ministério Público, foram liberados.

O sêmen encontrado na garota não pertencia a nenhum dos quatro, que relatam sessões de tortura para confessarem o crime que não cometeram.

Como a mídia gosta de um showzinho, já os tinha condenado de antemão, provocando a ira da população da cidade, que destruiu o parque de diversões em sinal de protesto.

Saiba mais aqui: http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2013/06/menina-que-desapareceu-no-parana-foi-estuprada-e-morta-diz-policia.html

http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2013/06/moradores-protestam-e-destroem-parque-apos-sumico-de-adolescente.html

http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2013/06/corpo-de-adolescente-morta-por-funcionarios-de-parque-e-encontrado.html

http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2013/07/apos-pedido-do-mp-suspeitos-de-estuprar-e-matar-tayna-sao-soltos.html

Não é nenhuma novidade este tipo de prática policial, que obtém confissões mediante tortura. Tampouco o espetáculo midiático feito sobre a dor de uma família com a perda brutal de uma adolescente.

Porém, o mais assustador é se tornar corriqueira a "indignação" popular violenta, com ameaças de linchamento, destruição de "símbolos" da barbárie cometida (como foi o caso do parque) e o desgaste moral dos envolvidos.

Existe pouca preocupação por parte dos atores envolvidos (polícia, mídia e "revoltados") com a justiça, a averiguação dos fatos e a verdade.

A polícia diz que foi, a mídia confirma, todo mundo acredita e dane-se o resto.

Não é difícil lembrar, nestas situações, da escola em São Paulo, cujos donos foram acusados de abuso sexual contra as crianças. Foram perseguidos, condenados de véspera, tiveram suas vidas destruídas e ganharam, no máximo, uma desculpinha aqui, outra acolá.

Se juntarmos como elemento a atuação policial nas recentes manifestações pelo país, é possível dizer que as polícias perderam integralmente o seu papel. Na prática, servem tão somente como guardiãs de uma moral conservadora, hipócrita, a serviço de elites entregues a sua própria mediocridade.

A mídia, nas mãos de apenas 11 famílias em todo o país, faz da desgraça humana uma novela, captando a audiência desavisada de quem está sedento pelo infortúnio alheio.

Não é preciso dizer o quão desnecessário é o tal Dia do Homem. Este só seria preciso se o homem fosse obrigado a manter gestações contra a sua vontade, sofresse violência doméstica cotidiana, recebesse menos em seu trabalho por sua condição masculina. Obviamente, não é o caso.

O tal dia é fruto da cabeça machista dominante que não admite sequer a possibilidade das mulheres lutarem por direitos. Imagine tê-los!

É pra se pensar se, por um dia, nós pudéssemos dedicá-lo a humanidade, em seu sentido mais amplo.

A humanidade que, em algum ponto, deixamos de ter, em um país que sempre quis ser o futuro, mas parece cada vez mais preso ao passado. Mais precisamente, à idade média.


Valeu,

Bruno Porpetta

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Bruno Porpetta