quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Entrevista com Juca Kfouri - Parte 1

Exibida pela TV Câmara, no Programa Sempre um Papo, uma entrevista em quatro partes com uma de minhas grandes referências em jornalismo esportivo, Juca Kfouri.

Nesta parte, além das alfinetadas de sempre, ele trata do exercício da profissão de jornalista sem diploma.

Vale a pena conferir! Nos próximos dias exibiremos as demais partes, na ordem, para que nem eu, nem vocês se percam.




Valeu,

Bruno Porpetta

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O outro lado da casaca ou sobre como assumi o Bonsuça



Por Alexandre Magno (Xandim Derauê)*


"Para ser grande, sê inteiro: nada
teu exagera ou exclui"
Fernando Pessoa


Desde que me lembro, gosto de vermelho. Mas nunca tive tanta paixão assim pelo futebol. Estádios ultralotados, brigas entre torcidas, mercenários travestidos de desportistas, o "ópio do povo": elencaria quinze razões, se preciso. Mas nasci homem, no Brasil, e isso já foi motivo suficiente para a necessidade de socialização impelir a escolha de um clube, maneira possível de ficar não tão deslocado assim nas conversas com os demais garotos.

Um elemento, porém, determinou a mudança radical desse quadro. E dependeu de uma viagem à Argentina - veja a ironia, a terra do arquiinimigo do escrete canarinho.

No albergue onde me hospedei para o último ano novo, em Buenos Aires, chamou atenção uma pequena bolsa, em azul e amarelo, com uma inscrição no mínimo curiosa: "Velez Juniors". O nome, as cores, as estrelas... Seria a fusão do Velez Sarsfield com o Boca Juniors? Mais atenção ainda chamou a resposta do atendente à minha indagação, num misto de desdém e repreensão: "Es mi equipo de corazón, del barrio. Pués hay que torcerse por el equipo de tu barrio".

Lá, como cá, o futebol é a paixão nacional, e a seleção, a pátria de chuteiras. Aquela advertência, no entanto, me abriu os olhos e o coração para o esporte que, graças à leveza do modo de jogar inaugurado pelos latinos, já há muito deixou de ser bretão. Convicto desde sempre do vermelho, caiu-me, de repente, um ficha que, para combinar, só poderia ser azul. Afinal, desde criancinha, mais precisamente a partir dos cinco anos de idade - quando para lá me mudei - e, portanto, antes de qualquer coisa, eu era Bonsucesso.

Determinado, era preciso estar seguro de meus argumentos para enfrentar, com ousadia, as repreensões daqueles que, dedo em riste, gritariam: "- Virou a casaca!". Ora, mais preciso seria, talvez, dizer que eu havia era me libertado daquela indumentária associada aos nobres europeus, que nunca muito bem me coube, para assumir a minha origem leopoldinense e proletária.

O jogo do último dia 23/7, contra o Estácio de Sá, o primeiro que assisti no histórico Estádio Leônidas da Silva, foi uma prova de fogo à minha decisão de deixar a quase "obrigação" de torcer pelo time supostamente mais querido do Brasil - epíteto ganho em 1927 numa eleição até hoje impugnada pelo (desde) então vice-campeão Vasco da Gama. Se o Bonsuça perdesse, a pecha de pé-frio para sempre estaria lançada. Não quis saber: deixei a meia em casa e fui, calçando havaianas, só para contrariar.

No campo, em jogo não estavam apenas três pontos a favor do Leão da Leopoldina, mas o retorno ao primeiro pelotão do futebol fluminense. E isso depois de dezessete anos, numa longa noite que chegou ao fundo do poço na terceirona em 2003. A partir do pontapé inicial, o significado do "ser Rubro-Anil" chegou na pele: logo no primeiro minuto de jogo, a arquibancada - eu incluído - ficou azul graças a um gol no mínimo estranho do Estácio. Olhei os céus, depois minhas sandálias e, por fim, o relógio: era apenas o começo da tortura.

No intervalo do primeiro tempo, entretanto, já se podia perceber as veias saltadas nos pescoços dos gritalhões torcedores que carregavam de rubro as nossas faces e embalavam o time. Por sorte, estrela ou perspicácia - não importa -, duas bolas na área e duas empurradas para a rede transformaram o desespero em regozijo e glória. Se uns são penta e outros, hexa, o Bonsucesso é o maior campeão, o único hepta - da série B do Rio de Janeiro.

A explosão da torcida em júbilo com o apito final e a invasão do campo - digo, ocupação democrática - pelos torcedores, o "cheiro de luva" na mão após os sinceros cumprimentos ao goleiro (quem ocupa a posição sabe do que falo) e as lágrimas quase infantis daqueles senhores de cabelos brancos e camisas rubro-anil compuseram finalmente a foto, da qual eu, até então, tinha apenas a legenda - a advertência daquele honrado argentino. E a escolha, até então de consciência, fincou os pés naquele gramado, apesar de irregular, e alcançou o coração.

Futebol é uma questão de gosto, simplesmente. Porque é um espetáculo como poucos, como nenhum outro talvez. Porque não adianta querer escolher o melhor. Porque é um esporte em que, às vezes - aliás, com alguma freqũencia - não é necessariamente o melhor aquele que vence.

Ou, se tomarmos uma perspectiva mais, digamos, subjetiva, teremos ao fim que o melhor, sempre, é o seu time. Bom, isto para quem se admira ao ver o esforço humano, ainda que alheio, para levar sem as mãos aquela esfera quase perfeita a passar entre os três paus da meta alheia, fazendo vibrar as cores que ornamentam a bandeira viva composta pelos célebres anônimos que lotam (ou não) as arquibancadas. Parafraseando Chico Buarque, pintei de azul o preto, acompanhando o vermelho de uma cor do Brasil; virei o listrado do peito e nasceu, desse jeito, mais um rubro-anil.

PS: Tulio Maravilha, nós gostamos de você. Copa Rio, 2011, tamo aê!



*Comunista, goleiro, morador orgulhoso de Bonsucesso e convertido em rubro-anil. Sofredor? Que nada, ele adora!


Valeu,

Bruno Porpetta

domingo, 28 de agosto de 2011

CBF urgente, Sócrates Presidente!!!

O "doutor" Sócrates recebeu alta do hospital Albert Einstein, na Zona Sul de São Paulo, e objetivou sua "nova" vida.

- Me ofereceram uma nova vida, cuja missão já está mais ou menos clara na minha cabeça. [...] É importantíssima, uma nova "Diretas": "Diretas Já" para presidência da CBF.


Sócrates faz mais embaixadinhas que Teixeira!



Óbvio que, em se tratando de uma entidade privada, cujo estatuto reza que o Presidente da CBF é eleito pelos Presidentes das Federações estaduais, é muito difícil. Considerando que tais Federações são chefiadas por gângsteres da mesma laia de Ricardo Teixeira.

Mas é urgente, aproveitando a mobilização em torno do #foraRicardoTeixeira, apresentarmos um nome que represente o que queremos para o nosso futebol.

Assim, afirmamos que, para nós, torcedores de todo o Brasil, não adianta trocar seis por meia dúzia. Queremos mais democracia, mais transparência e uma maior preocupação com os fiéis apaixonados por futebol, que acabam pagando a conta de toda a barbárie conduzida pelos cartolas.

Por isso, abraçamos o nome de Sócrates para Presidente da CBF!!!

Estamos contigo, "Doutor"!

E temos certeza que muitos outros, que prestaram serviços relevantes ao nosso futebol, também estarão.


Valeu,

Bruno Porpetta

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Romário, sempre bem posicionado

Transcrevo aqui, o pronunciamento do (cada vez mais) nobre Deputado Federal Romário de Souza Farias (PSB-RJ), sobre o tratamento dispensado pelo poder público, nas cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, às suas populações.



Romário: o único Deputado que marcou mil gols


E não é que o baixinho sempre pode nos surpreender?


Senhor Presidente,

Nobres colegas,

Quem me conhece, quem acompanha minha atuação como parlamentar, sabe que eu, como milhões de brasileiros, estou na torcida para que o país realize da melhor maneira possível a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

É por isso, inclusive, que tenho demonstrado preocupação e cobrado publicamente explicações das autoridades para os atrasos nos preparativos para esses eventos.

Por outro lado, assim como vários colegas da Comissão de Turismo e Desporto, tenho procurado chamar a atenção para a necessidade de que esse processo seja conduzido com absoluta transparência, com espírito cívico, e também para que não deixemos em momento algum de ter em mente o legado desses eventos esportivos, isto é, o que vai ficar para a nossa população depois que o circo for embora.

Por isso, Senhor Presidente, é que venho acompanhando com apreensão as notícias sobre o modo como têm sido realizadas, em alguns casos, as desapropriações para a realização das obras. Há denúncias e queixas sobre falta de transparência, falta de diálogo e de negociação com as comunidades afetadas, no Rio de Janeiro e em diversas capitais.

Há denúncias também de truculência por parte dos agentes públicos.

Isso é inadmissível, Senhor Presidente, e penso que esta Casa precisa apurar essas informações, debater esse tema.

Não podemos nos omitir.

Diante desse quadro, nosso país foi objeto de um estudo das Nações Unidas, e a relatora especial daquela Organização chegou a sugerir que as desapropriações sejam interrompidas até que as autoridades garantam a devida transparência dessas negociações e ações de despejo.

Um dos problemas apontados se refere ao baixo valor das indenizações.

Ora, nós sabemos que o mercado imobiliário está aquecido em todo o Brasil, em especial nas áreas que sediarão essas competições.

Assim, o pagamento de indenizações insuficientes pode resultar em pessoas desabrigadas ou na formação de novas favelas.

Com certeza, não é esse o legado que queremos.

Não queremos que esses eventos signifiquem precarização das condições de vida da nossa população, mas sim o contrário!

Também não podemos admitir, sob qualquer pretexto, que nossos cidadãos sejam surpreendidos por retro-escavadeiras que aparecem de repente para desalojá-los, destruir suas casas, como acontece na Palestina ocupada.

E, como frisou a senhora Raquel Rolnik, relatora da ONU, “Remoções têm que ser chave a chave”. Ou seja, morador só sai quando receber a chave da casa nova.

É assim que tem que ser.

Tenho confiança de que a presidente Dilma deseja que os prazos dos preparativos para a Copa e as Olimpíadas sejam cumpridos, mas não permitirá que isso seja feito atropelando a Lei e os direitos das pessoas, comprometendo o futuro das nossas cidades. Espero que ela cuide desse tema com carinho.

É hora, Senhor Presidente, nobres colegas, de mostrarmos ao mundo que o Brasil realiza eventos extraordinários, sem faltar ao respeito com a sua população.

Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.


Valeu,


Bruno Porpetta

domingo, 21 de agosto de 2011

Contornos de decisão... mas calma, Cocada!

Percebe-se nas conversas de bar, entre torcedores de diferentes clubes, contornos decisivos nestas últimas rodadas do turno do Campeonato Brasileiro.

Mas calma, gente. É só o turno! Ainda tem todo o returno pela frente.



Já dizia o Lindeza...


Óbvio que já dá pra traçar algumas linhas sobre o que cada time está disputando. Seja o título, a vaga na Libertadores, a vaga na Sulamericana ou evitar o descenso.

Mas nada está definido, e muita coisa ainda pode se alterar.

Uma derrota em casa, um empate com gosto de derrota, não são o fim do mundo agora.

Em um campeonato longo, como este, oscilações no futebol e na tabela são absolutamente compreensíveis. Não é possível manter o mesmo padrão de jogo por 38 rodadas consecutivas.

Se, por um lado, o desgaste físico e, consequentemente, as contusões começam a desfigurar os times, por outro, a impossibilidade de treinar as novas formações pelo acúmulo de jogos em sequência, no meio e final de semana, não contribuem para a melhor performance.

Isso sem falar nas inevitáveis suspensões, que impossibilitam que a mesma escalação se repita por mais de dois jogos, na maioria dos casos.

Passado tudo isto, quem conseguir minimamente se impor, vencer jogos fora de casa e contra adversários diretos e não engatar sequências de derrotas, leva vantagem no final. Porém, tão importante quanto é crescer na reta final da competição.

Alguns pequenos acidentes no trajeto são plenamente justificáveis, às vezes até necessários.

Só pra citar, o Cruzeiro de 2003 (o que fez 100 pontos) chegou a perder por 3 a 0 para o Paysandu. Venceu os últimos nove jogos da competição!

O São Paulo engatou um tricampeonato em 2006/07/08 vencendo as chamadas "minidecisões", termo usado por Muricy para definir os jogos onde, quem quisesse ser campeão, não poderia perder pontos.

O Flamengo chegou à metade da competição em 2009 simplesmente a 14 pontos do líder. Acabou campeão!

No último campeonato, o Fluminense conquistou o título perdendo pontos em casa para dois dos quatro times rebaixados à segunda divisão. Mas, durante todo o campeonato, nunca se distanciou da ponta de cima da tabela.

Ou seja, está cientificamente provado que, para vencer o Brasileirão em pontos corridos, elementos como regularidade, fator casa, não perder pontos bobos e combustível para a reta final são fundamentais.

Mas, da mesma forma que, muitas vezes, é impossível conjugá-los o tempo todo em um campeonato longo, também não se pode desprezar nenhum deles.

Portanto, podemos comemorar as vitórias, lamentar os empates e sofrer com as derrotas, mas ainda tem muita água pra passar debaixo dessa ponte.


Valeu,

Bruno Porpetta

sábado, 20 de agosto de 2011

Trotsky não está morto

Há 41 anos, era assassinado o líder do Exército Vermelho na Revolução Russa, Lev Davidovitch Bronstein, historicamente conhecido como Leon Trotsky.

Se quem me conhece, sabe que tenho diferenças astronômicas com o trotskismo, ao menos reconheço em Trotsky um autêntico revolucionário, grande estrategista e excelente formulador teórico que, até hoje, influencia nossa militância comunista.





Sua obra, a despeito das inúmeras interpretações (algumas vezes equivocadas, na minha modesta opinião) que teve, é um marco importantíssimo na formação política da nossa geração. Afinal de contas, aquilo que a gente vive cantando (e, até o momento, só cantando) aos quatro ventos, ele foi lá e fez!

Seus algozes, ao contrário do que pensavam, eternizaram suas sábias palavras, pois ninguém há de calar os verdadeiros revolucionários, e estes hão de vencer.

Graças a comunistas como Trotsky, continuamos lutando. E chegará o dia da vitória do povo!


Valeu,

Bruno Porpetta

Força, "Doutor"!

Sócrates Brasileiro Sampaio de Sousa Vieira de Oliveira, ou simplesmente o "Doutor" Sócrates, foi protagonista de dois dos episódios mais bonitos da história do futebol brasileiro, e por que não dizer, mundial.



Sócrates: o filósofo da bola


Um deles foi a Democracia Corinthiana. A experiência mais revolucionária da história do nosso futebol, onde desde o roupeiro, passando pelos atletas, até a direção do clube, todos eram considerados iguais. Afinal, tratavam de questões que diziam respeito à profissão deles, e por conta disso, lhes era totalmente cabido discutí-las, votá-las e decidí-las.

A começar pela abolição da concentração para quem assim o quisesse, indo até mesmo ao esquema de jogo adotado pela equipe e o posicionamento onde os atletas sentiam-se melhor em campo.

Juntamente com Wladimir, Casagrande, Zé Maria (que inclusive se tornou o treinador da equipe por escolha da mesma) fizeram daquele período no Corinthians um capítulo à parte em nossas memórias da bola. Algo que nunca mais foi reproduzido e, nos marcos do futebol, acabou soterrado na disputa de hegemonia contra os admiradores do resultado a seco.

Porém, é impossível negar o papel que aquele modelo de gestão foi um dos elementos importantes na própria redemocratização do país que, à época, estava em pauta.

O outro, em nossa opinião, não menos importante, foi a maravilhosa seleção de 82. Aquela que perdeu, mas é referência até hoje nas discussões sobre o estilo de jogo brasileiro.

Seja para atacá-la, atribuindo-lhe a pecha de fracassada, ou para exaltá-la, colocando-a, mesmo sem o título, entre as grandes seleções da nossa história e da própria Copa do Mundo, aquele escrete canarinho é elemento obrigatório em qualquer debate onde se contraponham duas visões de futebol: a força e a arte.

Sócrates fazia jus ao nome, e era um filósofo da bola. Com suas teses, abalou as estruturas de poder no Brasil e no futebol.

Hoje, se encontra na UTI do Hospital Albert Einstein, na Zona Sul de São Paulo, com uma hemorragia digestiva alta. Seu quadro é estável e o companheiro Casagrande afirma que a tendência é que fique tudo bem.

Nós, amantes do futebol e da democracia, ficamos na torcida por Sócrates. Para que sua saúde se restabeleça e ele retorne às suas atividades, sempre com qualidade na mesma proporção em que são questionadoras da ordem.

Força, "Doutor"! Estaremos sempre ao seu lado!


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O primeiro golaço da Copa 2014

Diante de uma explosão, que vitimou um trabalhador, os operários das obras do Maracanã pararam!

Todo o apoio à greve dos operários do Maraca!!!


Suas reivindicações passam fundamentalmente por melhores condições de trabalho, que evitem outros acidentes deste tipo e respeitem a vida de quem está trabalhando para construir o novo Maracanã. Além de questões econômicas, como reajuste para uma parte dos operários, uma cesta básica melhor e um plano de saúde que contemple a todos. Sim, os trabalhadores nas obras do estádio não possuíam sequer um plano de saúde!

À parte do valor absurdo da obra, e do projeto que destruiu a história do Estádio Mário Filho, este levante é um alerta. Estamos jogando dinheiro público aos montes para empresas que estão prejudicando a saúde dos trabalhadores.

Da nossa parte, cabe dar total apoio à greve e esperar que, ao menos, as reivindicações de quem está suando para colocar o Maracanã de pé sejam plenamente atendidas.


Valeu,

Bruno Porpetta


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Pedindo licença, quase desculpas

Discordar de um gênio não é fácil.

Afinal, o cara é um gênio e eu sou apenas um rapaz latinoamericano sem dinheiro no banco (ênfase nesta última assertiva).


Ok, pelo menos nós dois achamos o Van Gaal um estúpido


Por isso, peço licença para divergir de Rivaldo.

Ele foi, junto a Ronaldo, o cara da Copa de 2002. Pessoalmente, esta Copa lavou minha alma.

Depois de, pela primeira vez na vida, ver uma seleção brasileira campeã do mundo em 94 - o que, naturalmente, me deixou emocionado -, aquela bolinha do tetra ainda não me satisfazia por completo.

Em 2002, se não foi uma esquadra daquelas que o futebol brasileiro produzia aos montes até 82, ao menos houve algo de belo para se contar depois. Nem que fosse contra a Costa Rica, o Brasil se deu ao luxo de marcar cinco gols em uma mesma partida, o que devia ser expressamente proibido por Parreira em 94.

E Rivaldo contribuiu, e muito, para esta parca beleza do penta. A ele, faço eternas reverências!

Em sua última coletiva, o agora meia sãopaulino afirmou que Neymar, Ganso e Lucas devem sair do país o mais breve possível.

Justificou dizendo que eles precisam ganhar experiência e atuar com os jogadores que enfrentarão na Copa de 2014.

Faz sentido. Mas pensemos por outros aspectos.

O futebol brasileiro, surfando na onda do bom momento da economia brasileira, tem sistematicamente repatriado jogadores brasileiros que atuam no exterior, além de se tornar um pólo promissor para jogadores da América do Sul.

Pagam salários, se não iguais, já bem próximos do nível europeu. Aliás, até a Europa já não faz mais as mesmas loucuras de antes, dada a crise que lá se instalou e parece não ter hora pra terminar. Por essas e outras, quem vem gastando os tubos por lá são, em geral, times bancados por barões do petróleo no Oriente Médio, e com estes não dá pra competir.

Portanto, a tal independência financeira é uma questão a menos para pesar na decisão dos nossos jovens craques.

Com mais jogadores de qualidade por aqui, o nível dos nossos campeonatos, obviamente, também sobe. Com este acréscimo qualitativo, os craques daqui saem para as competições internacionais mais tarimbados. Mas e a tal "experiência internacional"?

Pois bem. As considerações, comentários e afins que fazemos aqui neste blog sobre futebol, são dotadas de uma crença muito grande na capacidade do jogador, em especial o brasileiro, na arte do improviso, da molecagem, da beleza. Que faz desse esporte algo tão apaixonante quanto o pôr-do-sol atrás das rochas do Morro Dois Irmãos, no Leblon.

Foi este futebol que nos deu três títulos mundiais sem que houvesse a necessidade dos nossos craques terem profundas relações pessoais ou esportivas com os gringos. Até a década de 70, nossos jogadores cumprimentavam os adversários por mera educação. Não conheciam ninguém pessoalmente, não combinavam jantares, nunca sequer haviam se cruzado.

Futebol é o tipo de coisa que, nas CNTP e na maioria das vezes, se resolve dentro do campo.

Se nossos craques não estão acostumados a jogar com eles, o contrário também é verdadeiro. E podemos ser mais surpreendentes do que eles.

Enfim, me perdoe Rivaldo! Você é um gênio, mas não estamos de acordo.


Valeu,

Bruno Porpetta

sábado, 13 de agosto de 2011

Um tiro no pé

Quando foi criado o regulamento que prevê como critério de desempate os gols marcados fora de casa, se imaginou um jogo mais solto, com times visitantes não se limitando a simplesmente evitar a derrota.

Pois bem, isso foi lá atrás. O que temos visto hoje em dia é outra coisa.



E nossos torcedores ficam assim


São os times da casa que vibram ao não levar gols em casa. Às vezes, um 0 a 0 é mais comemorado que um 3 a 2 a favor do time da casa.

Do ponto de vista do resultado, meramente, tanto faz ganhar por 1 a 0 ou 3 a 1 em casa. No fim das contas, o mínimo para a sua eliminação é uma derrota por 2 a 0 fora.

Mas fazer 3 a 1 é bem mais difícil que cravar 1 a 0. Por isso o placar de 1 a 0 é supervalorizado.

Mas perceberam como ficou chato esse tipo de disputa com este regulamento?

O que era um estímulo ao gol, se tornou uma ode à preguiça ofensiva.

E assim, nosso futebol anda para trás. Até dentro do campo...


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Aos jovens de Londres

Às vésperas de 2012, Londres sente os efeitos da exclusão olímpica.

Gente com pouca perspectiva que acreditou que os Jogos Olímpicos poderiam mudar suas vidas. Não mudaram!

Diante disso, a rebeldia se tornou inevitável.

Mais uma lição que devemos aprender para os megaeventos que se aproximam por aqui.



As manifestações londrinas fazem com que a obra do The Clash seja atualíssima!


Valeu,

Bruno Porpetta

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A derrota não pode ser um ultimato

A seleção brasileira perdeu o amistoso com a Alemanha por 3 a 2.

Durante a semana, parte da imprensa tratava o jogo como "decisivo" para Mano. Ou seja, em caso de derrota, sua batata poderia assar. Isso porque não vencemos nenhum clássico.



A demissão de Mano é coisa de quem entende pouco de bola



Pois bem, vejamos o que estava em jogo. Jogaríamos contra a Alemanha, em Stuttgart. O escrete germânico já tem três títulos mundiais, e ficou em terceiro na última (campanha muito melhor que a do Brasil). Fora isso, o time que jogou hoje é a base daquele da Copa da África.

E ainda alguém vai querer me convencer que ganhar era obrigação?

Estamos refazendo o time. Isso leva tempo. Mas ficou evidente que André Santos não é lateral-esquerdo para a seleção.

Qualquer imposição de vitória não somente é uma pressão desnecessária. É uma avaliação de quem entende pouco do esporte bretão.

E no nosso jornalismo esportivo, vários deixam a desejar.


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A torcida que é um pé no "saquê"

Fred ameaça sair do Fluminense, caso não se sinta seguro em morar no Rio. Após ser, reiteradamente, ameaçado por torcedores do clube contrariados com a frequência frenética do jogador na noite carioca.

É bom se perguntar. Se você, pessoa física mortal, é visto bebendo por aí nas noites do meio da semana, e desenvolve bem seu trabalho apesar disso, seria perseguido por seu chefe, ou colegas de trabalho? Ou pior, por qualquer transeunte com interesse direto no seu trabalho?

Os jogadores de futebol, trabalhadores como nós, sofrem este tipo de perseguição.

A começar pela imprensa esportiva, que adora um babado, o controle da vida social dos craques é quase um dever cívico para com o clube. Ou, segundo a mesma, o interesse é dos torcedores do clube.



Os organizados que ameaçam


É bom que se diga. Existe uma parte louvável do jornalismo esportivo que se interessa única e exclusivamente com o campo. Possuem até muitas informações a respeito da privacidade dos trabalhadores da bola, mas as colocam em segundo plano nas suas análises.

Mas há uma grande parte que quer mais é ver o circo pegar fogo. Desde acompanhar romances, passando por jantares, até chegar às noitadas e seus possíveis excessos. Até indicam locais onde a mesma pessoa física mortal pode encontrá-los com mais facilidade.

E os torcedores mais desprovidos de bom senso "policiam" os jogadores. Mas o que ocorreu com Fred excedeu qualquer limite.

Se o rendimento de Fred não convencer (o que não era o caso, visto que ele havia marcado na última partida), diante dos abusos de consumo de álcool e parcas noites de sono, é outra discussão. E ainda assim, uma discussão que envolve diretoria, comissão técnica e o jogador. À torcida é reservado o espaço das arquibancadas para vaiá-lo, xingá-lo e afins.

O restante, é problema dele.

E que ninguém pense que este tipo de conduta é exclusividade da torcida do Fluminense. É prática recorrente em todos os clubes no Brasil.

Fica outra questão: os tais "torcedores" também não tinham que acordar cedo para trabalhar no dia seguinte?

Olha lá, hein! Vão perder o horário!


Valeu,

Bruno Porpetta

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Laranja ou mecânica?

Ontem, ao (re)assistir o filme Laranja Mecânica, eu e meu amigo vascaíno Diego relembramos a seleção holandesa de 1974.

Além das óbvias associações feitas pela cor laranja dos uniformes do time holandês, conjecturamos sobre a inovação tática do escrete de Rinus Michels, chamado de Futebol Total, onde nenhum jogador guardava posição.

O giro constante dos jogadores enlouqueceu, inclusive, o Brasil de Zagallo. O mesmo jogador que participava da marcação, era visto armando o jogo e concluindo a gol.

Este esquema de jogo demandava grande aplicação tática dos jogadores, além de posicionamento correto e uma disposição física impressionante.




Nossa conversa girou em torno dos possíveis porquês da origem do apelido. Qual era a palavra que carregava o símbolo? Laranja ou mecânica?

Em tempos onde o debate sobre a contradição entre futebol-arte e futebol-força ganhava vultuosos contornos, o apelido Laranja Mecânica se refere à padronização do futebol, tal como a proposta do Ministro do Interior da Inglaterra, que aprovou um "tratamento" para o comportamento criminoso, eliminando a espontaneidade do indivíduo diante da possibilidade de transgressão moral e/ou legal?

Neste caso, a palavra mecânica ganha destaque.

Em 1974, a chegada da Holanda à sua primeira final de Copa, poderia representar o início do fim do futebol-arte, que se "confirmou" em 1982, sobreposta por uma lógica de futebol baseada na preparação física e tática dos times.



Era mais ou menos isso, mas mudava o tempo todo durante o jogo.



Nos dois casos, nos referimos à derrotas brasileiras traumáticas, onde a beleza do nosso futebol foi soterrada pelos esquemas táticos europeus.

Mas então, porque 74 não dói tanto como 82?

Aí entraram em campo as reflexões sobre o destaque da palavra laranja no apelido.

O tal esquema inovador de Michels seria possível em outra equipe? Um time que não tivesse nomes como Ruud Krol, Rob Rensenbrink, Johnny Rep, Johan Neeskens, os gêmeos Rene e Willy Van de Kerkhof e, principalmente, Johan Cruijff?

O que ameniza a dor da perda de 74 pelo Brasil, e sua seleção de muita qualidade, porém absolutamente burocrática durante a Copa, é que a Holanda tinha um time genial!

Em sendo genial, era possível inventar na disposição tática da equipe, pois seus jogadores eram capazes de cumprir todas as funções que o tal Futebol Total exigia.

Óbvio que a concepção de futebol apresentada por Michels era bastante interessante, mas o fundamental ali eram os jogadores. A Holanda tinha um grande time, e atropelou a burocracia brasileira sem dó nem piedade!

Não fossem eles, e a tal "mecanicidade" tática da equipe seria um rascunho no papel que o campo não absorveria.

E sob este aspecto, a seleção fica mais laranja do que mecânica.

Em 82, onde a dicotomia força e arte contou muitos pontos para a primeira, nossa seleção perdeu para a Itália jogando o fino da bola. Só voltamos a vencer em 94, mas de forma chata. E porque, muitas vezes, exaltamos mais o time de Zico, Sócrates, Falcão & Cia.? Porque gostamos da beleza! Temos isso no nosso sangue, apesar das insistentes tentativas de transfusão que os tecnocratas da bola gostariam de fazer.

Seguiremos discutindo, uma discussão tão eterna quanto o filme. Aliás, que filme!


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Os virtuais candidatos

Passado mais de um terço de campeonato, já é possível tentar dar uma de gato-mestre, e prever quem disputará o título do Brasileirão este ano.

Na modesta opinião deste que vos escreve, cada rodada vem mostrando que - no fundo, no fundo - são três.

O primeiro é o primeiro! O Corinthians lidera o campeonato, e não à toa. Tem um time que, se não está entre os maiores esquadrões do novo século, também não deixa nada a desejar ao que se espera de um time campeão.



Tite discursa sobre o equilíbrio e a derrotabilidade


Jogadores de qualidade (alguns ainda a estrear), um forte esquema de marcação e muita velocidade nas saídas para o ataque. O treinador-filósofo Tite nunca empolgou, mas parece ao menos ter encontrado boas saídas para as limitações do elenco alvinegro e, graças a um começo arrasador, pode manter-se no topo.

O segundo é o time campeão estadual que não convencia, com o craque que não convencia, sem zagueiro, lateral-esquerdo e centroavante.

O craque agora convence, consequentemente, o time também convence, a solução temporária para a zaga estava o tempo todo ali, sentado no canto do banco, chegou Júnior César para o lado esquerdo e o centroavante... Bem, o centroavante, depois de infindáveis novelas, não chegou. Coube a Deivid que - diga-se - nunca foi centroavante, vestir a nove rubronegra e evoluir com o time, resolvendo, até o momento, a tal ausência do homem de área.

Até agora, ninguém freou o bonde...


Fora a invencibilidade e o jogo titânico contra o Santos. Afinal de contas, o Flamengo é o Flamengo!

O terceiro, parece que não tá nem aí pra nada!

Já tem seu troféu nacional este ano, já está na Libertadores, e joga sem grandes responsabilidades. Mas supera toda e qualquer desconfiança com relação à idade avançada dos seus principais jogadores do meio-campo (Juninho e Felipe), pois além de revezá-los entre si, os misturam a alguns jogadores que tem feito a diferença.



E eles querem ainda mais...


Quando não é Eder Luiz em desabalada carreira pelos lados da área, é Diego Souza jogando muito no meio. Se não tem Alecsandro marcando gols, tem Dedé impedindo que eles sejam sofridos. Ou seja, o time é muito bom, tá cheio de moral e não tem muito tempo a perder com G4. O Vasco quer o título!

Se o seu time não apareceu nesta lista, convenhamos, é porque ainda não deu grandes motivos para sua inclusão, né não?

Quem sabe na próxima vidência...


Valeu,

Bruno Porpetta

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

E o meu erro foi crer...

Desde já, agradeço o leitor e amigo Ramon Szermeta, pela lembrança e correção.

Quando afirmei no post "A farra com o nosso dinheiro" que o valor dado à festa da FIFA pelos governos estadual e municipal era maior que o dobro do liberado às cidades atingidas pela chuva na Região Serrana do estado do Rio, errei. Ou me expressei de maneira indevida.


A pergunta que fica: quem faz mais? Eu ou Cabral?



Por quê?

O estado contribuiu com R$ 15 milhões para o sorteio das eliminatórias da Copa, ao passo que liberou R$ 216 milhões para a tragédia das chuvas na serra fluminense.

A questão que ainda nos preocupa é: foram R$ 15 milhões na lata para a festa, que durou apenas um dia, enquanto o montante de R$ 216 milhões é o acumulado em seis meses, segundo relatório do TCE-RJ.

Fazendo uma conta grosseira, são R$ 1,2 milhão por dia (considerando 180 dias).

As cidades ainda passam por inúmeros transtornos por conta das chuvas de janeiro. Até lama na rua ainda se vê.

Acho que o debate passa pelas prioridades do governo estadual, né não?


São R$ 15 milhões para Blatter e Teixeira, e R$ 1,2 milhão para toda a população das cidades atingidas. É de se pensar.


Valeu,

Bruno Porpetta