segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Laranja ou mecânica?

Ontem, ao (re)assistir o filme Laranja Mecânica, eu e meu amigo vascaíno Diego relembramos a seleção holandesa de 1974.

Além das óbvias associações feitas pela cor laranja dos uniformes do time holandês, conjecturamos sobre a inovação tática do escrete de Rinus Michels, chamado de Futebol Total, onde nenhum jogador guardava posição.

O giro constante dos jogadores enlouqueceu, inclusive, o Brasil de Zagallo. O mesmo jogador que participava da marcação, era visto armando o jogo e concluindo a gol.

Este esquema de jogo demandava grande aplicação tática dos jogadores, além de posicionamento correto e uma disposição física impressionante.




Nossa conversa girou em torno dos possíveis porquês da origem do apelido. Qual era a palavra que carregava o símbolo? Laranja ou mecânica?

Em tempos onde o debate sobre a contradição entre futebol-arte e futebol-força ganhava vultuosos contornos, o apelido Laranja Mecânica se refere à padronização do futebol, tal como a proposta do Ministro do Interior da Inglaterra, que aprovou um "tratamento" para o comportamento criminoso, eliminando a espontaneidade do indivíduo diante da possibilidade de transgressão moral e/ou legal?

Neste caso, a palavra mecânica ganha destaque.

Em 1974, a chegada da Holanda à sua primeira final de Copa, poderia representar o início do fim do futebol-arte, que se "confirmou" em 1982, sobreposta por uma lógica de futebol baseada na preparação física e tática dos times.



Era mais ou menos isso, mas mudava o tempo todo durante o jogo.



Nos dois casos, nos referimos à derrotas brasileiras traumáticas, onde a beleza do nosso futebol foi soterrada pelos esquemas táticos europeus.

Mas então, porque 74 não dói tanto como 82?

Aí entraram em campo as reflexões sobre o destaque da palavra laranja no apelido.

O tal esquema inovador de Michels seria possível em outra equipe? Um time que não tivesse nomes como Ruud Krol, Rob Rensenbrink, Johnny Rep, Johan Neeskens, os gêmeos Rene e Willy Van de Kerkhof e, principalmente, Johan Cruijff?

O que ameniza a dor da perda de 74 pelo Brasil, e sua seleção de muita qualidade, porém absolutamente burocrática durante a Copa, é que a Holanda tinha um time genial!

Em sendo genial, era possível inventar na disposição tática da equipe, pois seus jogadores eram capazes de cumprir todas as funções que o tal Futebol Total exigia.

Óbvio que a concepção de futebol apresentada por Michels era bastante interessante, mas o fundamental ali eram os jogadores. A Holanda tinha um grande time, e atropelou a burocracia brasileira sem dó nem piedade!

Não fossem eles, e a tal "mecanicidade" tática da equipe seria um rascunho no papel que o campo não absorveria.

E sob este aspecto, a seleção fica mais laranja do que mecânica.

Em 82, onde a dicotomia força e arte contou muitos pontos para a primeira, nossa seleção perdeu para a Itália jogando o fino da bola. Só voltamos a vencer em 94, mas de forma chata. E porque, muitas vezes, exaltamos mais o time de Zico, Sócrates, Falcão & Cia.? Porque gostamos da beleza! Temos isso no nosso sangue, apesar das insistentes tentativas de transfusão que os tecnocratas da bola gostariam de fazer.

Seguiremos discutindo, uma discussão tão eterna quanto o filme. Aliás, que filme!


Valeu,

Bruno Porpetta

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Bruno Porpetta