Ontem, ao (re)assistir o filme Laranja Mecânica, eu e meu amigo vascaíno Diego relembramos a seleção holandesa de 1974.
Além das óbvias associações feitas pela cor laranja dos uniformes do time holandês, conjecturamos sobre a inovação tática do escrete de Rinus Michels, chamado de Futebol Total, onde nenhum jogador guardava posição.
O giro constante dos jogadores enlouqueceu, inclusive, o Brasil de Zagallo. O mesmo jogador que participava da marcação, era visto armando o jogo e concluindo a gol.
Este esquema de jogo demandava grande aplicação tática dos jogadores, além de posicionamento correto e uma disposição física impressionante.
Nossa conversa girou em torno dos possíveis porquês da origem do apelido. Qual era a palavra que carregava o símbolo? Laranja ou mecânica?
Em tempos onde o debate sobre a contradição entre futebol-arte e futebol-força ganhava vultuosos contornos, o apelido Laranja Mecânica se refere à padronização do futebol, tal como a proposta do Ministro do Interior da Inglaterra, que aprovou um "tratamento" para o comportamento criminoso, eliminando a espontaneidade do indivíduo diante da possibilidade de transgressão moral e/ou legal?
Neste caso, a palavra mecânica ganha destaque.
Em 1974, a chegada da Holanda à sua primeira final de Copa, poderia representar o início do fim do futebol-arte, que se "confirmou" em 1982, sobreposta por uma lógica de futebol baseada na preparação física e tática dos times.
Era mais ou menos isso, mas mudava o tempo todo durante o jogo.
Nos dois casos, nos referimos à derrotas brasileiras traumáticas, onde a beleza do nosso futebol foi soterrada pelos esquemas táticos europeus.
Mas então, porque 74 não dói tanto como 82?
Aí entraram em campo as reflexões sobre o destaque da palavra laranja no apelido.
O tal esquema inovador de Michels seria possível em outra equipe? Um time que não tivesse nomes como Ruud Krol, Rob Rensenbrink, Johnny Rep, Johan Neeskens, os gêmeos Rene e Willy Van de Kerkhof e, principalmente, Johan Cruijff?
O que ameniza a dor da perda de 74 pelo Brasil, e sua seleção de muita qualidade, porém absolutamente burocrática durante a Copa, é que a Holanda tinha um time genial!
Em sendo genial, era possível inventar na disposição tática da equipe, pois seus jogadores eram capazes de cumprir todas as funções que o tal Futebol Total exigia.
Óbvio que a concepção de futebol apresentada por Michels era bastante interessante, mas o fundamental ali eram os jogadores. A Holanda tinha um grande time, e atropelou a burocracia brasileira sem dó nem piedade!
Não fossem eles, e a tal "mecanicidade" tática da equipe seria um rascunho no papel que o campo não absorveria.
E sob este aspecto, a seleção fica mais laranja do que mecânica.
Em 82, onde a dicotomia força e arte contou muitos pontos para a primeira, nossa seleção perdeu para a Itália jogando o fino da bola. Só voltamos a vencer em 94, mas de forma chata. E porque, muitas vezes, exaltamos mais o time de Zico, Sócrates, Falcão & Cia.? Porque gostamos da beleza! Temos isso no nosso sangue, apesar das insistentes tentativas de transfusão que os tecnocratas da bola gostariam de fazer.
Seguiremos discutindo, uma discussão tão eterna quanto o filme. Aliás, que filme!
Valeu,
Bruno Porpetta
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