sábado, 25 de dezembro de 2010

A espetacularização da notícia II

Ontem foi o dia da reapresentação do casal Fernando Nardoni e Ana Carolina Jatobá à delegacia do 9º Distrito Policial, no bairro do Carandiru, em São Paulo, marcada para às 10:30h.

Desde ontem, a polícia já havia preparado um grande aparato para a imprensa em frente à delegacia, com toldo para proteger os equipamentos e espaço reservado na rua para os veículos de comunicação.

Na frente da casa da família Nardoni haviam inúmeros repórteres e populares à espera daqueles que vem monopolizando a atenção da imprensa nas últimas duas semanas. Todos sabiam onde eles haviam dormido, o que fizeram na noite anterior, a que horas saiu o carro do pai de Fernando, a que horas voltou, com quem, como, por que… tudo! Absolutamente tudo!

Ao mesmo tempo, os parlamentares aprovavam o aumento da verba de gabinete para 60 mil reais; a tocha olímpica dá a volta ao mundo em 80 exércitos, devido à grandes manifestações contra o governo chinês referentes à questão do Tibet; o preço dos alimentos é discutido em todo o mundo, para uns devido à enorme quantidade de bocas para comer, para outros devido à grande quantidade de cana e eucalipto que deixa essa enorme quantidade de bocas à míngua, ficando eu com a segunda alternativa; Iraque e Afeganistão continuam sob invasão estadunidense e milhares de pessoas já morreram nestes países, além de milhares que ainda hão de morrer; o fanfarrão fascista Silvio Berlusconi reassume a presidência da Itália, fazendo-a andar mais ainda para trás do que fez Romano Prodi e seu socialismo de araque; no Rio, já passa de uma centena o número de mortos pela dengue.

Mas a imprensa ignora o mundo e foca suas atenções naquilo que nos conforta, ver a justiça ser feita no Caso Isabella. É Isabella de manhã até a noite. A polícia, que também gosta de ser celebridade, exercita seu lado CSI (Crime Scene Investigation) – seriado estadunidense que trata de um departamento da polícia que é especializado em desvendar crimes utilizando-se de alta tecnologia na coleta de provas no local do crime e desenvolvida técnica de perícia criminal e perspicácia policial – divulgando tudo e nada ao mesmo tempo, desde que os refletores da imprensa não saiam da frente da delegacia. Em caso de sucesso na investigação, três possibilidades se colocam: aumento salarial, promoção dos agentes envolvidos, ou até uma pontinha na próxima novela das oito.

Com o indiciamento do casal, a tendência é que os “pavões” do Judiciário e do Ministério Público passem a monopolizar as atenções da mídia, e nesse caso, pó facial vira instrumento de trabalho, afinal, não dá pra sair feio nas fotos e vídeos.

A história deste casal e de sua filha assassinada já beira o ridículo!

Caso se noticiassem todas as crianças mortas na periferia, muitas vezes pela ação da própria polícia, não haveriam emissoras de TV e rádio suficientes para a cobertura. Mas estas não interessam à imprensa, somentes os filhos da classe média barbaramente mortos pelos pais, ou o contrário, ou mortos por bandidos da pior espécie (espécies obviamente definidas pela mídia).

Enquanto isso, o mundo gira, mas a mídia fica parada no mesmo lugar. Numa casinha no Tucuruvi.

Abraços,

Bruno Padron (Porpetta)

Publicado em abril 19, 2008 de 2:50 am

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Bruno Porpetta