quinta-feira, 10 de julho de 2014

Meu primeiro baque

Pra quem não sabe, nasci em Santos. Naquela cidade, onde vivi meus primeiros 23 anos de vida, quem não gosta de futebol é um insensível capaz de chutar o andador do avô.

Mesmo não torcendo pelo time mais famoso da cidade (devo confessar aqui e agora que tinha uma queda pela Portuguesa Santista, indo diversas vezes ao Ulrico Mursa assistir a jogos de qualidade técnica próxima à temperatura média do inverno russo), não havia como ser imune ao Santos FC.



Já corri da torcida deles por vestir a camisa do Flamengo, em pleno Canal 5 e durante o dia. Não era fácil torcer por um clube distante dali, era visto como um autêntico traidor das noções mais básicas de cidadania de um santista.

Mesmo assim, fui a vários jogos do Santos na Vila Belmiro. Acompanhava meu pai, meu irmão e meu avô nas arquibancadas da Vila, pois era um programa bacana pra se fazer em família, mesmo que eu tivesse que conter qualquer sinal de euforia diante de um revés santista.

Mais velho, já pude ir a jogos do Flamengo na Vila. Na arquibancada visitante, podendo gritar à vontade. Mas esta é uma outra história.

Certa vez, na escola, tínhamos que escolher uma disciplina para o trabalho da Feira de Ciências. Eu e mais uns cinco malucos por futebol escolhemos Educação Física e nosso trabalho seria sobre o Santos.

Foi maravilhoso! Conhecemos os vestiários, os jogadores (em especial o Guga, artilheiro do Santos à época), o gramado e todo o clube.

Batia uma certa satisfação em poder visitar às instalações do clube que dava tanto orgulho à cidade. Me amarrei mesmo nisso.

Em dado momento do "passeio", fomos à sala de troféus.

Era 1992, e o Santos não conquistava um título desde 84. Ou seja, um prato feito para minha sanha em sacanear os santistas. Fui à sala de troféus e saí de lá com rinite alérgica, de tão velhos os coitados.

Mas o grande impacto que tive não foi com troféu algum. Foi com um quadro.

A pintura era um retrato de Pelé. De costas, com o número 10 estampado na camisa, no gramado do Maracanã.

Ao fundo, o placar do jogo apontava Flamengo 1 x Santos 7.

A partida em questão era pelo Rio-São Paulo de 1961. Ou seja, dezoito anos antes do meu nascimento.

Não vi o jogo, claro. Mas olhar àquele quadro me deu uma tristeza tão grande no momento, que me senti como se estivesse na arquibancada do Maracanã, com lágrimas nos olhos.

É duro ver seu time perder por 7 a 1, dentro de casa.

De repente, parei de olhar o placar e passei a olhar para Pelé. Pensei que, estando lá, eu teria visto ele jogar.

Teria a oportunidade que todos da minha geração gostariam de ter. Parar de ouvir conversinha do pai, do avô, dos paralelepípedos da velha cidade. Poderia bater no peito e dizer: "Eu vi Pelé jogar!".

Fiquei imaginando o espetáculo que deve ter sido. O show que ele deve ter dado. O aplauso constrangido que eu seria obrigado a dar.

Depois da dor inicial, a sensação que o jogo que testemunharia não era uma simples goleada, era parte da história do futebol.

Este quadro me ajuda a relativizar um pouco a vergonha pelo jogo da seleção brasileira. Queiramos ou não, a Alemanha ajudou a escrever a história do futebol no Mineirão.

Mas este, por mais que tenha doído muito, pelo menos eu vi.



E não é por nada, não. Te juro que, se o Brasil estivesse todo de branco, eu me sentiria um pouco vingado.



Valeu,

Bruno Porpetta

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Bruno Porpetta