quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Polícia para quem precisa

O baixo nível que tomou conta das redes sociais, impulsionado pela grande mídia, trata a questão das ocupações na Universidade de São Paulo (USP) como ações de "desocupados", "mimados" e, fundamentalmente, "maconheiros" que desejam a ausência da Polícia Militar nos Campi, tão somente, para queimar o orégano livremente.



É pertinente a posição de Rodrigo Vianna, em seu blog Escrevinhador, que defende não somente a entrada das forças policiais militares na USP, mas também a entrada da própria população, cuja universidade é um mundo estranho a ela.

Isolada por muros, de fato, a USP é um enorme bicho que se retroalimenta. Vive uma dinâmica muito particular, onde o acesso é, na prática, negado a amplos setores da sociedade. Majoritariamente, os "negados" são negros e pobres.

O uso do espaço da universidade, que é pública, por parte da população que, na mesma proporção sócio-racial, não consegue estudar lá, é restrito. A USP se torna, desta maneira, um outro planeta que, em sendo quase desabitado, é propício a atos de violência.

Até mesmo o seu movimento estudantil, há muitos anos, bastante combativo, possui várias peculiaridades. Apesar de, no momento, ser irrelevante esmiuçar a complexa atuação de suas forças internas.

Os próprios estudantes são vítimas de inúmeros casos de violência, tanto interna ao Campus, quanto em suas proximidades. Foram cometidos vários crimes, desde pequenos furtos, até homicídios e estupros.

Mas não é de hoje que a Reitoria da universidade, e o governo de São Paulo, são avisados por este mesmo movimento estudantil, hoje tão hostilizado, sobre o problema da segurança.

De qualquer forma, é bastante complicado dizer à sociedade que esta segurança não se dá com a presença da polícia. Embora as proposições feitas, até o momento, pelos estudantes, sejam de simples solução. Mais iluminação, maiores investimentos no transporte interno, interligando-o à própria cidade, entre outras questões foram levantadas.

Eis que o reitor João Grandino Rodas, persona non grata em sua própria faculdade, abriu os portões da USP para a Polícia Militar.

E até o presente momento, temos 75 pessoas detidas. Nenhuma por furto ou roubo, nenhuma por homicídio, nenhuma por estupro.

As três primeiras foram por um baseado, e as outras 72 por ocupar a Reitoria.





Quanto aumentou a sensação de segurança da comunidade uspiana, com a prisão destes 75 perigosos elementos que consomem uma planta, ou reivindicam suas questões? Nada!

Podemos até refletir se esta era, ou não, a melhor forma encontrada para protestar, mas é uma questão que, em uma universidade que se pretende livre e produtora de conhecimento, deve ser discutida pela própria comunidade acadêmica.

É absolutamente possível, coadunar a liberdade necessária para que a vida acadêmica se viabilize, com a presença da polícia. O que é importante discutir, é o papel que a polícia deve cumprir na universidade.

Esta mesma liberdade, hoje reivindicada pelos estudantes, porém taxada de "vandalismo" e "drogadição", foi responsável por significativas pesquisas científicas no país, relevantes contribuições à compreensão do que é o Brasil e como sua sociedade se organiza. E tudo isso, com gente deitada nos vastos gramados ali existentes, fumando maconha, se embebedando e fazendo festas. É assim, desde os tempos de Florestan Fernandes.



Quem precisa de polícia? Os "vândalos" e "maconheiros", ou as vítimas diárias de violência?

Derrubar os muros da USP, tornando-a mais acessível à população, aumentando o fluxo de pessoas em suas ruas e prédios, não torna o lugar mais seguro?

Estas são questões que a sociedade e, em especial, a comunidade uspiana, deve refletir.

As adjetivações conservadoras não contribuem em nada com a solução do problema da violência. Pelo contrário, acabam criando outros problemas que, inclusive, colocam em risco as noções de democracia e civilidade que temos.


Valeu,

Bruno Porpetta

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Bruno Porpetta