sexta-feira, 27 de julho de 2012

A Olimpíada invisível

Começaram os Jogos Olímpicos de Londres-2012, a maior festa do esporte mundial, que carrega à eternidade o Barão Pierre de Coubertin, idealizador das Olimpíadas da era moderna, iniciada em 1896, na cidade de Atenas (GRE), onde a competição já era consagrada.

O lema olímpico é Citius, Altius, Fortius (o mais rápido, o mais alto, o mais forte), eternizado por este que foi o segundo presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), presidido anteriormente pelo grego Demetrius Vikelas.

Outra máxima clássica do Barão foi "O mais importante não é vencer, mas participar!". A frase que embala o chamado espírito olímpico, onde a superação dos próprios limites humanos se coloca acima do resultado, propriamente dito.



Não é preciso nem dizer que, devido a inúmeros contratos publicitários que envolvem os atletas nas mais diversas modalidades, esse espírito foi para o beleléu. A cor da medalha conquistada, além da quebra de recordes mundiais (nem os olímpicos são tão relevantes), rendem milhões de dólares para atletas de alto rendimento.

Pelas bandas de cá, a expectativa é que o desempenho da delegação brasileira seja o melhor de toda a história de nossa participação olímpica. Tendo em vista as Olimpíadas de 2016, que será disputada no Rio de Janeiro, o Brasil corre para deixar sua delegação nos cascos para daqui a quatro anos.



Cabe uma ressalva aí. O Brasil prepara uma geração de ponta para os jogos em casa, mas não vai muito além disso. Nossa política esportiva é focada no alto rendimento, e o saldo relacionado à prática esportiva em nosso país - que acarretaria em uma redução drástica nos gastos em saúde, só pra ficar em um aspecto apenas - é praticamente zero.

Outro aspecto interessante a ser ressaltado, diz respeito a quem costuma frequentar redes sociais como o Facebook. Lá, as Olimpíadas parecem não ter começado.

Poucos posts, comentários, compartilhamentos de notícias... O que será que está acontecendo?

Não é muito difícil explicar. Estes Jogos são os primeiros, depois de longa data, cujos direitos de transmissão não pertencem à Rede Globo.

A Globo, quando detentora dos direitos, sempre teve um carinho especial com a competição. Não raro era a interrupção de inúmeros programas de alta visibilidade para a exibição de disputas mais "nobres" nas Olimpíadas, além de outras competições onde atletas brasileiros despontavam com chances de medalha.

Mesmo com todo o investimento da Record (atual detentora dos direitos transmissivos) na exibição dos Jogos Olímpicos, a emissora dos pastores não emplaca o mesmo nível de audiência que a concorrente dos Marinho. Na prática, a audiência da Globo é capaz de "invisibilizar" as demais emissoras.



Ou seja, no presente momento, o tamanho do poder conferido à Globo tornou, simplesmente, a Olimpíada em uma competição invisível.

A Vênus Platinada pode até alegar que sua equipe está em Londres, cobrindo os Jogos, e seu canal de esportes para TV fechada está exibindo em tempo real as competições nas mais variadas modalidades.

Mas o acesso à TV fechada é tão restrito quanto a pelota dada pela Globo às Olimpíadas em seu canal aberto.

É o caso de se perguntar: em se tratando de concessões públicas, a cobertura de um tema, inegavelmente, de interesse público, não deveria ter um tratamento mais adequado?

A resposta para esta pergunta está no Ministério da Distribuição de Concessões, conhecido oficialmente como Ministério das Comunicações, que ao longo da história do país - principalmente no período da ditadura militar - ajudou a construir impérios, derrubar outros, e contribuiu decisivamente para uma correlação de forças midiáticas tremendamente injusta.

O reflexo disto está nas pautas que o brasileiro discute diariamente.



O futebol masculino, bombado de ufanismo em torno de nossa possível primeira medalha de ouro na história, que antecederia a Copa do Mundo no Brasil, gerando um clima de confiança e apoio à seleção brasileira (excelentes ingredientes para a audiência), parece ser a única modalidade em disputa. Às demais, o silêncio.

O Brasil é o país do futebol, do carnaval e do arroz com feijão, bife e batata frita. Um tanto por enraizamento cultural, outro por construção midiática dos "donos" da bola.

O sistema de telecomunicações brasileiro padece de um pouco mais de espírito olímpico. Todo mundo só quer ganhar, e neste caso, ganha mais quem está bem a frente.


Valeu,

Bruno Porpetta






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Bruno Porpetta