Aqui em casa, tenho quatro bandeiras de mesa, exatamente ao lado direito deste monitor, onde este artigo está sendo produzido.
Pela ordem, da esquerda para a direita, estão a bandeira do Espírito Santo - estado onde colecionei bons amigos e boas histórias -, a do Flamengo - não preciso dizer o porque, imagino -, a da Espanha - roubada do amigo Jaime Cabral, pela qual já me fez cobranças, justas, diga-se de passagem -, e a da Galícia - presente do amigo Alexandre Magno, goleiro do Havana Futebol e Cana, torcedor do Bonsucesso, e galego como eu.
Por nunca ter ido à Espanha, de onde vem a minha família paterna, mais precisamente da província de Ponte Vedra, na Galícia, e ter me apaixonado pela seleção espanhola desde 1986, senti necessidade de assistir ao jogo de hoje em um lugar que me aproximasse mais da Espanha.
Fui à Casa de España, no Humaitá, simpático bairro da burguesia carioca.
Portanto, corre-se o risco de certa parcialidade nesta postagem, mas hoje ela é absolutamente merecida.
Falando nisso, hoje descobri que quando a torcida canta "Lá Lá Lá" no hino nacional, eles estão certíssimos. Não tem letra o hino, pois não há nada que possa unificar a monarquia com catalães, bascos, galegos, e outros povos submetidos ao reinado espanhol. Digamos que o rei tenha sido prudente, depois de garantir a unidade de seu reino na porrada, através da ditadura de Franco.
Aliás, Franco! Tenho a impressão de ter ouvido este nome há alguns dias.
A Espanha, após o título mundial conquistado na última Copa, virou adulta. Até ali, os escretes espanhóis eram infantis. Eram roubados pela arbitragem, derrotados por forças menores, prestando-se a certos papéis ridículos em Copas.
O título da Euro, em 2008, deu a Espanha alguma segurança para ir à Copa, mas para superar seus traumas somente a conquista da Copa poderia afirmá-la como parte das grandes seleções do mundo.
Com o time que tinha, foi possível ir às semifinais da Copa, e aí é o primeiro grande momento da seleção espanhola em sua história. Venceu à Alemanha, com autoridade, por 1 a 0.
Na final, enfrentou outra seleção traumatizada em Copas, a Holanda. O time laranja foi duas vezes vice, e queria a todo custo evitar a colocação de uma faixa diagonal sobre a camisa.
Venceu, com gol na prorrogação de Iniesta, o time espanhol. Pronto, enfim a Espanha se somava ao seleto grupo de seleções campeãs do mundo, com toda a carga que este título carrega.
De repente, a camisa da Espanha ganhou uns quarenta quilos a mais. E dentro de campo, isto faz diferença.
Hoje, a Espanha não somente foi bicampeã da Eurocopa, conquistando o terceiro título de sua história.
A seleção espanhola derrotou a Itália, com uma superioridade quase sacana.
Um placar retumbante! Coincidentemente, o mesmo com o qual o Barcelona colocou o Santos, e de alguma forma, o próprio futebol brasileiro, em um lugar encolhido no canto da sala. Parte daquele time, hoje, colocou a Itália de quatro!
Ainda se fosse a França, poderia rolar aquela gracinha em referência à Napoleão Bonaparte e a perda da guerra. Embora, um placar desses contra a seleção francesa, seria absolutamente justificável, numa perspectiva histórica.
Mas contra a Itália - que provou nesta Euro que é uma gigante do futebol mundial -, e com doses de crueldade, foi demais!
A Espanha cresceu! E demonstrou nesta Euro que, mesmo que as coisas não aconteçam exatamente da forma que as pessoas imaginam, que está entre os grandes do futebol mundial, não só europeu.
O escrete azul italiano não conseguiu jogar. Não dá nem pra falar que jogaram mal, porque nem esta chance eles tiveram. Exceção feita a um período do primeiro tempo, quando ainda estava 1 a 0, e a Itália criou algumas oportunidades, e aí está a primeira grande máxima do futebol funcionando.
Dizem que um grande time, começa com um grande goleiro. O arqueiro e capitão, Iker Casillas, é o melhor goleiro do mundo na atualidade!
Hoje, com a ponta dos dedos, tirou o doce da boca dos italianos duas vezes. De Rossi e Balotelli já estavam posicionados, no alto e com a expressão facial do cabeceio para o gol, mas os dedos de Casillas desviaram o gol certo.
Pra não falar da defesa segura, em chute de Cassano, onde a bola de repente aparece por debaixo das pernas de Piqué.
O time todo jogou muita bola, mas três homens em especial foram sublimes. Estes são Xavi, Iniesta e Fabregas.
Xavi, que não fez uma Eurocopa brilhante, segundo ele próprio, foi o senhor do jogo.
Com idade avançada e desgastado pela temporada, engoliu Pirlo na partida. Foi melhor em tudo. Na hora certa, foi decisivo.
Iniesta foi o mesmo de sempre. Uma máquina de jogar bom futebol.
E Cesc Fabregas, que ainda precisava de uma grande exibição na seleção espanhola, cavando seu lugar definitivamente no time, além de colocá-lo no devido lugar de craque que é, deixou esta cereja para hoje. Fez um partidaço!
Outros também foram fundamentais, como Jordi Alba, que mostrou o acerto do Barcelona em contratá-lo para a lateral esquerda, e Fernando Torres, que entrou no segundo tempo e, além de deixar sua marca no placar, ainda deu um gol de presente para Mata.
Devo me render! Eu, que defendia a saída de David Silva do time, para a entrada de Torres, ou Llorente, tive que segurar a onda. O meia-atacante do Manchester City esteve no nível da exibição do time. Jogou muito!
Enfim, a Espanha foi hoje do tamanho que provou que tem.
Além de botar pra correr a chatice de uns e outros, que dizem que o futebol espanhol é chato.
E a festa, em meio aos espanhóis, foi muito divertida.
Até em espanhol eu cantei: "Campeones, Campeones, ole ole ole!".
Valeu,
Bruno Porpetta
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