sábado, 29 de agosto de 2015

Do que nos faz tanta falta

Acabo de assistir ao documentário Democracia em Preto e Branco, de Pedro Asbeg, que retrata o período onde um dos clubes mais populares do país viveu uma experiência tão singular quanto magnífica.

A Democracia Corinthiana foi um elemento importante na popularização do debate sobre a redemocratização do país, no começo da década de 80. O movimento que retirou o futebol do espectro da alienação, colocando-o a serviço da luta política.

Que bonito poder rever muita coisa tão familiar, tão relacionada à minha infância e, por que não dizer, à minha juventude.

Só a narração de Rita Lee já dá a tônica do que seria o filme. A junção, dita por Serginho Groisman, de futebol, política e rock'n roll. O que mais poderia me pertencer tanto?

Durante o filme, tentei com os meus botões fazer alguma relação com os tempos atuais. O que fazer para mudar o futebol? Para mudar a política? Para mudar o rock'n roll, que perdeu tanto da sua rebeldia?



Não se mudará um sem o outro. É preciso reconhecer, primeiramente, que aquela democracia pela qual tanta gente lutou naqueles tempos, se esgotou. Está acomodada a relações econômicas que determinam as políticas. Nossa sociedade está sentada sobre uma montanha ilusória de dinheiro.

As ruas devem se mexer, com as pessoas agindo como placas tectônicas a provocar terremotos na atual estrutura da sociedade. Só isso pode resultar na combinação explosiva que deu origem à Democracia Corinthiana. Um intelectual, um líder operário e um jovem rebelde juntos, em um clube popular, com cabelos ao vento e bola na rede.

E como era bom ver esse time jogar. Um time que marcava no campo do adversário, que jogava com beleza, apesar dos gramados horrorosos. Que a garra de Biro-Biro, vez por outra, aparecia na área para concluir. Tudo o que chamamos hoje de "moderno". Só que muito tempo a frente.

Igualmente, as ruas poderão provocar na juventude o desejo de expressão pelo rock'n roll. Não há nada mais rebelde que o rock. Esta rebeldia deverá se expressar nas letras, nos gritos, na fúria das guitarras.

Encontramos alguns dos elementos possíveis para essa ebulição. Crise, falta de representatividade dos nossos dirigentes, no governo, no Congresso, ou nos clubes. Faltam só dois detalhes.

A ausência de um inimigo nítido, que nos mobilize, além de um instrumento político capaz de organizar esta mobilização, intervir concretamente nas lutas do povo.

Enquanto isso não acontece, só me resta sentir saudade. De um tempo que não volta mais, porque nem deveria voltar mesmo.

Afinal de contas, a história se repete como farsa, depois como tragédia.


Valeu,

Bruno Porpetta

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Bruno Porpetta