terça-feira, 9 de abril de 2013

Futuro arcaico

De 2007 até hoje, o Rio de Janeiro assiste ao indecente desmantelamento do "legado" do Pan.

Quando sediamos o Pan, venderam-nos a ideia de que a estrutura - que nos custou os olhos da cara - montada serviria ao Brasil e, em especial, o Rio na conquista do direito a sediar os Jogos Olímpicos. Este, por sua vez, traria um caminhão de investimentos para a cidade, deixando-nos um legado que melhoraria os transportes, a saúde, a educação... e todo aquele papo de candidato do estabilishment em época de eleições!



O complexo de piscinas do Maria Lenk, absolutamente abandonado. A Arena da Barra, respira através de aparelhos sonoros dos shows que sedia, mas basquete que é bom, já faz tempo que não há. O velódromo, não serve para as Olimpíadas por conta de uma pilastra mal posta. E por último, o Engenhão.

O estádio, cedido ao Botafogo por um valor módico, era o símbolo da "modernidade" olímpica. Se era possível colocar aquele imponente trambolho no meio de Engenho de Dentro, bairro suburbano e - via de regra - carente de serviços públicos, o que não seria possível fazer na Olimpíada?



Era o único equipamento construído para o Pan que, enfim, serviria para os Jogos Olímpicos. Mas Drummond era um visionário. Quando dizia que "há uma pedra no caminho", esta significava obra.

Obra para levantar, e tome outra obra para que ele não caia.

Na cidade das remoções, das inúmeras agressões aos direitos humanos mais básicos, da exaltação constante à polícia que mais gosta de uma "mordidinha" em todo o país, descobre-se que a Prefeitura já sabia desde 2010 que o Engenhão precisava de reformas. E se estas fossem feitas à época, sequer seria necessária a interdição do estádio.

O mesmo 2010 que marcou a despedida do bom e velho Maracanã, fechado para ser vilipendiado por saqueadores da história e cultura do nosso futebol e do nosso povo.

Imaginem só, em pleno início das obras do Maracanã, a cidade toda descobrir que o "legado" que toda esta parafernália ligada aos megaeventos poderia virar areia, de uma hora para outra?!?



A vida dos que ocupam as cadeiras do poder não seria tão tranquila.

Não distingue-se aí o poder privado do estatal, muito pelo contrário. Estes colaboram-se.

Agora, às vésperas do término das obras do Maracanã, o Comitê Organizador da Rio-2016 mandou avisar que este novo Maracanã também não serve às Olimpíadas. Questionam os estacionamentos, lojas (nos custando uma escola, um museu e dois equipamentos esportivos que, além de servir para treinamento daqueles que deveriam receber um pouco mais de atenção por parte dos dirigentes, abrigam vários projetos comunitários) e... um túnel!

Um raio d'um túnel que, para o COI, deve ter seis metros de largura por seis de pé-direito. Resumindo: mais obras!

Afinal de contas, quem disse que só a turma do "futebol" pode se locupletar com tamanha fartura de obras, e uma meia dúzia de melhorias, cujo custo-benefício para o povo é extremamente discutível?



Ainda tem muita gente querendo mamar nestas enormes tetas chamadas "megaeventos esportivos".

Passados os eventos, ainda ecoa pelos ares a pergunta: afinal, qual será o nosso legado?

Enquanto o nosso futuro estiver nas mãos do atraso, as perspectivas não são nada animadoras.


Valeu,

Bruno Porpetta


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Bruno Porpetta