quarta-feira, 30 de maio de 2012

A "bota" que não aprende, e o resto que se cuide

Mais uma vez, a Itália se vê às voltas com denúncias de combinação de resultados para beneficiar apostadores.

Os escândalos no Calcio não são novidade. Ocorrem desde 1927, envolvendo o Torino, e o último deles aconteceu há seis anos, tendo como principal personagem a Juventus, que acabou perdendo dois scudettos.



Desta vez, 19 pessoas tiveram ordem de prisão expedida, sendo 10 destas para jogadores profissionais, além de uma série de pessoas,dentre treinadores e dirigentes, arroladas para prestar esclarecimentos às autoridades judiciais de Cremona, onde corre o processo. Entre os detidos, estão o capitão da Lazio - Stefano Mauri - e o ex-jogador do Genoa - Omar Milanetto.

O arraso provocado passa, inclusive, pela seleção italiana que se prepara para a Euro-2012, forçando o treinador Cesare Prandelli a cortar o zagueiro Criscito, que hoje atua no Zenit-RUS, citado pelo período em que atuava no Genoa. Outro nome pode ser chamado a prestar depoimento, o de Bonucci, zagueiro da Juventos que, à época, jogava no Bari. Como ainda não foi citado oficialmente nas investigações, não foi cortado, mas pode acontecer até durante a Eurocopa.

Desde a profissionalização do futebol, e a crescente mercantilização do mesmo ao longo do tempo, valendo-se do enorme apelo popular que o esporte possui, o capitalismo se impõe como lógica imperativa nos mais diversos aspectos.

Os ditos salários fabulosos pagos aos craques, são ínfimos perto da lucratividade gerada aos clubes e patrocinadores aos quais os mesmo estão ligados. E como em toda reprodução microcósmica do capitalismo, tais benesses voluptuosas representam uma minúscula parcela do mundo do futebol. A maior parte dos atletas profissionais de futebol vive com salários abaixo do aceitável, além de acumular outros empregos junto ao futebol. Tanto que a média salarial, no Brasil, paga aos jogadores de futebol é pouco maior que 900 reais.

Obviamente que não é o caso dos atletas da primeira divisão italiana. Bem remunerados, não precisariam, em tese, valer-se de esquemas de corrupção para levantar mais uma grana. Acontece que, no capitalismo, toda grana é insuficiente. Deve-se sempre ter mais, e para isso, vale qualquer coisa.

Não se pense que a corrupção no futebol italiano é maior que nos demais países, porém aparece em larga escala, porque é investigada. Existe corrupção no mundo da bola, desde que o mundo é uma bola, inclusive - pasmem! - no Brasil.

Portanto, torna-se imprescindível investigações mais apuradas também para o futebol brasileiro.

Vários escândalos se passaram por aqui, sem uma punição sequer. São arrastados em processos judiciais longos e sem grande acompanhamento da imprensa, até caírem no esquecimento popular. Basta observar os casos mais recentes de Ivens Mendes (cujo escândalo foi enterrado junto com o próprio, após seu falecimento) e Edílson Pereira de Carvalho.

Na Itália, o primeiro-ministro, Mario Monti, apesar de assegurar se tratar de uma opinião pessoal, sugeriu que o campeonato nacional seja paralisado por dois ou três anos. Ou seja, além da corrupção no futebol italiano não se restringir ao próprio campeonato, sendo discutido na esfera pública, o próprio mandatário da república se mostra incompetente em freá-la.

Questões como esta ganham todo este vulto por conta do papel que o futebol exerce na própria manutenção do bloco hegemônico, tal como o contrário também é possível.

A mercantilização deste importante elemento identitário cultural dos povos é reflexo da própria mercantilização das sociedades e suas relações, sejam econômicas ou culturais. Tal como seu estágio de desenvolvimento é determinado pelo do próprio capitalismo. Onde a própria estruturação da sociedade é precária, o futebol também reproduz a mesma lógica.

Se a corrupção é própria do sistema capitalista e seu modelo de organização do Estado, concebido como instrumento de dominação de uma classe por outra, propicia-se a prática corrupta desta forma, e o futebol não está isolado desta concepção.

Não possuímos as mesmas conquistas do estado de bem-estar social, e naturalizamos a exclusão de parte significativa da sociedade brasileira como sujeito de direitos, além do adestramento à aceitação da corrupção como "parte do jogo". Não é, ou não deveria ser, nas instituições estatais, tampouco no futebol.

Portanto, é bom que fiquemos atentos aos desdobramentos do novo escândalo italiano. Que nos sirva de exemplo.


Valeu,

Bruno Porpetta



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Bruno Porpetta