terça-feira, 12 de julho de 2011

Entre aquilo que temos e o que queremos

A seleção brasileira feminina de futebol, mais uma vez, foi eliminada pelos Estados Unidos na Copa do Mundo.

Temos de convir, somos freguesas das estadunidenses!

São 29 jogos entre as duas seleções. As meninas do Tio Sam já nos derrotaram 23 vezes. Vencemos por três vezes, e com este - que nos eliminou - foram três empates.

Geralmente, desde o início da geração Marta, chegamos às decisões jogando o fino da bola. Com um caminhão de gols sobre as adversárias, as brasileiras marcam pelo espetáculo.

Ao contrário das estadunidenses, suecas e alemãs. Cujo futebol é mais cirúrgico, com padrão tático mais desenvolvido. Os resultados as conduzem, até o momento em que estes dois padrões de jogo se confrontam. Aí é que a porca torce o rabo!



Uma andorinha não faz verão: Marta não resolve sozinha



Precisamos admitir, apesar do endeusamento midiático, que o futebol feminino no Brasil engatinha.

O eternamente prometido investimento no futebol feminino, tanto por parte da CBF, como da parte do governo federal, não se concretiza. Pouquíssimos clubes tradicionais do futebol masculino, montam times femininos. Dos que o fazem, o Santos merece maior destaque.

Para além disso, o futebol praticado entre as mulheres ainda é um tabu. Neste aspecto, o Brasil sofre para desempacar do século XIX. A imagem de uma jogadora de futebol ainda é masculinizada. Fora as piadinhas, que são sempre as mesmas.

Superando todas estas dificuldades, o Brasil ainda conseguiu produzir a maior craque do futebol feminino mundial. Marta é a melhor jogadora de todo o planeta!

Mas devemos entender que Marta é Marta. Nas comparações feitas a Pelé, mais uma vez masculiniza-se a craque, como se fosse fundamental compará-la a um homem da mesma profissão.

Além disso, Pelé foi o maior gênio do futebol em toda a história. Traçar esta comparação é uma carga enorme sobre os ombros de Marta, tal como de qualquer outro ser humano.

Temos outras grandes jogadoras, mas é importante reconhecer que não estamos, ainda, no nível das demais.

Primeiro, diante de tantas mazelas, é impossível competir em pé de igualdade com países que possuem ligas organizadas, investimento na formação de novas jogadoras e profissionais especializadas em futebol. Até porque, geralmente, elas são dirigidas por homens, que muitas vezes não sabem diferenciar os gêneros.

Depois, até por não possuir tais profissionais, a formação de jogadoras em algumas posições específicas, como a de goleira, fica comprometida. Além da preparação tática, técnica e física das jogadoras não atingir o ideal, que nos capacite a jogar mais do que somente o nosso talento permite.

Se pudermos traçar alguma comparação masculino, vale dizer que os homens da seleção brasileira só ganharam a Copa do Mundo depois de 28 anos passados da primeira edição. E nunca foram campeões olímpicos.

No futebol feminino, ainda teremos um longo caminho pela frente, mas temos um futuro promissor. Só basta uma forcinha dos que decidem tudo. E dispensamos uma outra guerra mundial antes do nosso título.

Mas, da mesma forma que, antes de Pelé, tivemos Friedenreich, Domingos da Guia, Leônidas da Silva e Zizinho, teremos ainda muitas craques entre as mulheres. A Marta é só a primeira delas.

Mas não por concessão dos dirigentes, sim pelos nossos próprios pés.


Valeu,

Bruno Porpetta

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Bruno Porpetta