segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O ouro da aberração

É louvável, digno de todas as homenagens, festas, louros e holofotes, o ouro de Arthur Zanetti.



Por vários motivos, dentre eles o fato dele ser o primeiro ginasta sul-americano a conquistar uma medalha de ouro olímpica.

Mas o fundamental é ressaltar a conquista de uma medalha de ouro na ginástica artística - no caso específico, nas argolas - pelo Brasil. Um país que, às vésperas de sediar uma Olimpíada, consegue tornar esta conquista uma aberração.

Arthur não iniciou sua vida esportiva em uma escola, ou universidade. Foi em casa mesmo, junto ao pai, que era serralheiro e fazia, com a matéria-prima de sua mão de obra, equipamentos de ginástica para o filho praticar.

E costuma ser assim. Os maiores incentivos para a prática esportiva no Brasil são privados. Geralmente por iniciativa de algum heroico professor de educação física ou parente.

Não existe uma política pública de maior alcance para que possamos ter vários Arthurs, e não nos cause tanto espanto quando uma medalha de ouro é conquistada.

Estamos a quatro anos das Olimpíadas do Rio, e nosso "projeto olímpico", ou seja, onde concentramos os esforços de investimento, é remover famílias de suas casas e promover obras de grande vulto, a custos exorbitantes, que visam garantir um mês glorioso para alguns e uma vida de sacrifícios para muitos.

Assim como Arthur Zanetti entrou para a história do esporte com a conquista do ouro olímpico em Londres, as Olimpíadas no Rio de Janeiro podem também entrar para a história como os Jogos do desrespeito ao povo e nenhum avanço em nossa política de esportes.

Ganhar medalhas é bom, e é certo que daqui a quatro anos ganharemos mais do que estamos habituados, mas só as medalhas não são nada.

Política séria de esportes é massificar a prática, nas mais variadas modalidades.

Se nem todos serão campeões, ganharão medalhas e se tornarão ídolos, pouco importa. Teremos alguns medalhistas e muita gente mais saudável.

Do ponto de vista do esporte, este seria um excelente legado. Sob todos os pontos de vista, parece que não  sobrará legado algum.


Valeu,

Bruno Porpetta

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Bruno Porpetta