quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Senna: Gênio, herói, ídolo, semideus ou mito?


Por Fernando Casaes*




Até hoje, quando vejo vídeos como este, não consigo conter as lágrimas. Ok sou um chorão por natureza, um emotivo compulsivo que chora até em anúncio de margarina; mas aqui, não há como não concordarem comigo, a causa é justa. Depois do dia 01 de maio de 1994 nunca mais assisti uma corrida de Fórmula 1! Logo eu que, assim como milhões de brasileiros, “perdia” as manhãs de domingo –algumas ensolaradas – e muitas madrugadas – algumas frias e quietas demais – para diante de uma tela de TV, que não tinha as sofisticações de hoje, assistir a um grande prêmio de Fórmula 1 e com ele seu personagem principal: Ayrton Senna da Silva. E só por isso! Por quê? Que estado hipnótico era esse que agia sobre nossos intelectos, sobre nossos corpos, nossas artérias, nossos órgãos internos e externos? O que havia de tão extraordinário nesse rapaz?

Em Senna havia tudo que havia em qualquer ser humano: medo, angústia, aflição, alegria, dor, tristeza, pranto, rancor, mágoa, ódio, amor... Era normal! Normal? Além das “normalidades” humanas, Senna tinha alguns “plus”: Gênio, ídolo, herói, semideus, mito... Títulos atribuídos a ele no decorrer de uma curta vida pública. Pode de fato um homem possuir tantos atributos a ponto de lhes serem projetados tais títulos, que mais parecem ficção? Não sei... Não sou um gênio, um ídolo, um herói, um semideus e, nem tão pouco, um mito. Sou pequeno. Bem pequenininho. Busquei nos dicionários algumas definições para cada uma dessas honras. Ei-las:


Gênio: Fig. Altíssimo grau, ou o mais alto, de capacidade mental criadora, em qualquer sentido.
Senna: Para muitos, inclusive para mim, nunca se viu nada parecido com o que ele fazia nas pistas de corrida mundo afora. As soluções encontradas diante das dificuldades e tendo que decidir tudo em frações de segundos. Não sei se ele era bom em matemática, física, química, filosofia, astronomia, essas coisas que costumam definir “gênios”, mas sei que no que ele fazia, dirigir carros em alta velocidade, era sim um gênio, dentro do que propõe o dicionário, sobretudo no que se refere a “...em qualquer sentido.”


Herói: Homem extraordinário por seus feitos guerreiros, seu valor ou sua magnanimidade.
Senna: Efeitos guerreiros... Efeitos guerreiros... Mas por acaso a Fórmula 1 é uma “guerra”? Dirigir um carro de Fórmula 1 é estar em uma “guerra”? Lutar contra seus limites, os limites de uma máquina em suas mãos e ainda lutar contra máquinas adversárias é uma guerra? Buscar a vitória usando as armas convencionadas, dentro do espaço estabelecido, com propósitos definidos, diante de adversários com os mesmos desejos, é guerrear? Aurélio, por favor! Guerra: Combate, peleja, luta, conflitoTer fora das pistas um comportamento ético de proximidade com os mais necessitados, com os desafortunados, com boa parte daqueles que mal sabem o que é um aparelho de TV e ainda assim, manter-se no anonimato, ser simples, humilde, tímido e comum, é ser magnânimo? Ajudem-me, por favor...


Ídolo: Fig. Pessoa a quem se tributa respeito ou afeto excessivo.
Senna: Ficar na frente de um aparelho de TV, muitas vezes em manhãs de sol, deixar o sono na cama e nas madrugadas, por vezes frias, puxar o edredom no sofá e diante do mesmo aparelho, vibrar, se emocionar, chorar, xingar, rir, deslocar o queixo boquiaberto, amaldiçoar, gritar como um louco, dirigir, frear, passar marchas em um bólido imaginário e ir dormir zangado pela vitória que escapou por pouco ou exultante pela conquista ultrajante, é motivo para ser eleger um ídolo? Ver uma arquibancada em um autódromo pular como em um gol da Seleção em um Maraca lotado (vejam o vídeo!) é apontar um ídolo? Parar e comover um país inteiro para acompanhar um cortejo fúnebre, é enterrar um ídolo? Senhores, as respostas, por favor...


Semideus: Homem excepcional pelo seu talento e pelas honras que lhes são concedidas
Senna: Em 11 temporadas (1984/1994) foram 162 GP’s disputados, tendo largado em 161; 3 títulos mundiais (ah, Ímola! Se não fosse você...); 41 vitórias; 80 pódios; 614 pontos; 65 poles; 19 voltas mais rápidas. São só números, é verdade. Mas não são os números e a avaliação deles que definem, muitas vezes, o que é bom e o que é ruim? São números que em sua época, poucos possuíam e que, seguramente só foram batidos (não sei se todos!) porque semideus não é deus, por isso, também morre como qualquer mortal. Depois de 18 anos passados de uma fatalidade que, embora fizesse parte da “guerra”, ainda não foi digerida, depois de muitos números serem quebrados/batidos, depois de outros virem e conquistarem tantos títulos, inclusive 7, depois de tudo levar a crer que o esquecimento viria, ainda hoje se diz e em várias fontes: “Foi o melhor de todos os tempos!” Semideus?


Mito: [Do gr. mythos, 'fábula', pelo lat. mythu.] Pessoa ou fato assim representado ou concebido
Senna: Um dia ouvi uma conversa entre alguns apaixonados pela Fórmula 1 e como em qualquer conversa esportiva, particularmente, surgiam questões do tipo: Esse era melhor; aquele era mais seguro; o outro era mais correto e ético; fulano era o mestre na chuva e assim a coisa ia. Até que um começou a defender Ayrton Senna e seus feitos. Todos se calaram. Muitos ali sabiam do que estava se falando. Outros, mais jovens, não. Depois de desfiar um rosário de proezas, para deleite deja vu de uns e para a incredulidade de outros, um menino disse: Impossível! Você está exagerando! Isso é lenda...! No meu coração e nas lágrimas dos meus olhos, a resposta para aquele menino, com seus 13, 14 anos: Sim, rapaz, exatamente isso: Uma lenda! E é nas lendas, nas fábulas, na oralidade das histórias que vivem os mitos. Uns existiram de fato; outros, só no imaginário. Os da imaginação a ela pertencem e é lá que se dão e se darão por toda a história da humanidade. Os que aqui um dia estiveram e que criaram legiões de testemunhas, estão nos livros históricos, nos documentos oficiais e oficiosos, nos jornais e revistas, estão numa fita de vídeo ou, para ser mais atual, estão ai, na WWW, na internet, no youtube e em toda essa gama de registros que não deixam a menor sombra de dúvida de quemitos também podem ser fatos.
Assim, posso dizer, mesmo não estando tão certo ainda, pois que certo e errado comungam da mesma merenda: a dúvida, que Ayrton Senna da Silva foi um gênio, um herói, um ídolo, um semideus e um mito e agradeço aos deuses por ter participado um pouco disso. À net aqueles que não tiveram a mesma sorte!



*Escritor, crítico literário, corretor de imóveis, pau-pra-toda-obra e um grande amigo tricolor, pelo qual tenho grande apreço e integral concordância em tudo o que escreveu acima.




Valeu,

Bruno Porpetta

Um comentário:

  1. Querido,

    Adorei o "pau-pra-toda-obra", embora hoje menos pau e por isso, menos obra.

    Amo vc de coração! Vc é um grande cara.

    Quanto ao texto, Senna sempre me emocionará. É impressionante o poder que ele ainda tem sobre mim.

    Espero que gostem!

    Beijos,

    Fernando Casaes

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Bruno Porpetta