sábado, 9 de novembro de 2013

Touré? Touché!

Yayá Touré, meio-campo da seleção da Costa do Marfim e do Manchester City, pertenceu ao apogeu do Barcelona. Formou durante três temporadas (entre 2007 e 2010) aquele meio mágico do time catalão, com Xavi e Iniesta.

Ao começar a perder espaço no time para Busquets, procurou outro time para jogar. Hoje, está no milionário azul da cidade de Manchester, na Inglaterra.



Tem jogado muito, diga-se de passagem.

Aquele período na Catalunha lhe deu projeção. É um dos mais conhecidos jogadores marfinenses no mundo, estando atrás apenas de Didier Drogba.

Pela Liga dos Campeões da Europa deste ano, foi à Moscou enfrentar o CSKA. O City venceu por 2 a 1, com dois gols de Aguero.

Dentro de campo, os jogadores estão tão concentrados no jogo que, muitas vezes, não prestam atenção no que vem das arquibancadas. Desde que a torcida não se faça notar por algo realmente diferente do habitual.

A torcida do CSKA se fez notar. E da pior forma possível. Ou melhor, da forma mais recorrente possível na Rússia, sede da Copa do Mundo em 2018.

Toda vez que Yayá Touré tocava na bola, um ensurdecedor urro vinha das arquibancadas. Uma representação tosca de macacos urrando.

Não, amigos! Não é uma suspeita, ou uma confusão do jogador. Era isso mesmo. Toda vez que ele pegava na bola, a torcida inteira imitava um macaco.

A Rússia tem se tornado um centro mundial da irracionalidade, do preconceito, da patifaria autoritária. Tudo isto com anuência estatal. Ou melhor, digamos que o Estado russo cumpra o papel de maior propulsor disso.

Os casos de racismo no futebol (para ficar no que é mais notório, ultimamente) russo são frequentes. Existe até um clube que é conhecido por não aceitar negros, sob o pretexto da não aceitação da torcida: o Zenit.

O brasileiro Hulk, nordestino de olhos verdes, que pode até correr para outra autodefinição racial (embora não se possa negar sua descendência negra), sofreu logo que chegou por lá. Até por companheiros de time.

No Anzhi, Roberto Carlos (que também é negro, embora não conte pra ninguém) sofreu racismo. A foto abaixo é bastante elucidativa.



Mas quem disse que é só racismo? A homofobia também é gritante! A Parada Gay em Moscou foi proibida! Vários militantes pela livre expressão sexual tem que se deslocar para São Paulo para poderem ser ouvidos.

Resumindo, o que acontece descaradamente na Rússia é escandaloso, aviltante, revoltante.

Este autoritarismo russo descende do czarismo, também perpassa os tempos de "socialismo real".

Por outro lado, existe uma campanha da FIFA contra o racismo.

Em geral, placas à beira do campo, faixas trazidas pelos jogadores, entre outras "ações" com a inscrição "Diga não ao racismo" (Say no to racism) são frequentes nos jogos.

Punição? Nenhuma!

Quando perguntado, Joseph Blatter diz que os casos de racismo dentro do campo são circunstâncias de jogo, que devem ser encerrados no apito final.



O racismo não é uma falta para conter contra-ataques! Esta sim é uma circunstância de jogo. E esta é punível com cartão. O racismo, nem isso.

Touré, além de pedir punição ao CSKA, propõe um boicote negro à Copa do Mundo de 2018. Que seleções africanas e jogadores negros ao redor do mundo não participem de uma Copa em um país racista.

A proposta é muito boa, embora pouco viável.

Ela já começa com um furo. Ninguém disse a Touré, mas a Rússia não é o único país racista do mundo.

A sede da próxima Copa, num país bastante conhecido por nós, chamado Brasil, também sofre com a questão. Talvez o que falte à Rússia é uma mídia tão determinada a jogar o racismo para debaixo do tapete. O tapete da "democracia racial".

Falta um longo papo entre os novos czares russos e Ali Kamel.

Ao menos, a proposta provoca reações imediatas da FIFA, preocupada em não prejudicar seu principal produto: a Copa.

Blatter já admitiu analisar a questão.

Por outro lado, é preciso entender que o racismo no futebol não pode ser tratado de dentro do campo para fora, mas sim o contrário.

Nenhum jogador aprendeu a ser racista dentro do campo. E a arquibancada é o local onde mais ele se manifesta nos estádios.

Como a legislação varia de país para país, o racismo pode ser crime em alguns e não em outros. Portanto, a FIFA deve tomar para si a resolução do problema no futebol.

Os clubes e torcidas só entendem um tipo de linguagem: a punição.

Não que eu seja um punitivista que acredite que ela solucione o problema, mas ao menos pode ser um símbolo que mostre ao mundo o quão estúpido é o racismo.

Mas voltando à punição, ela deve ser pecuniária e esportiva, sem exclusão de uma ou de outra.

Pode-se até pensar em punições gradativas, de acordo com a reincidência, mas o patamar mínimo já deve ser bastante pesado.

Por exemplo: comecemos com 30% da folha salarial da equipe em multa (podendo ser regressivo aos jogadores, por parte do clube, mas apenas em segunda ordem), perda de cinco mandos de campo em competições organizadas pela mesma entidade do jogo em questão, além da perda dos pontos da partida.

Em caso de reincidência, 50% da folha salarial, 10 mandos de campo e seis pontos perdidos.

Na terceira vez, multa no valor integral da folha salarial da equipe, perda de 15 mandos de campo e exclusão da competição, com rebaixamento, se for o caso.

Esta é apenas uma proposta, sujeita à críticas, sugestões, etc.

Ainda mais porque os negros teriam mais legitimidade do que eu para discutí-la e apresentá-la.

De qualquer forma, o debate proposto por Touré é fundamental.

Primeiro, porque o racismo ganhou proporções ainda mais absurdas de uns tempos para cá. Segundo, porque a campanha da FIFA contra o racismo está comprovadamente desmascarada como uma farsa contra o povo negro.

O que acham?


Valeu,

Bruno Porpetta

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Bruno Porpetta