sábado, 8 de dezembro de 2012

Um pouquinho de água no chopp

Com grande alegria e satisfação, a torcida do Flamengo comemora o resultado das eleições no clube. A vitória de Eduardo Bandeira de Mello - ou a derrota da desastrosa gestão de Patrícia Amorim - é cantada aos quatro cantos como sinônimo de renovação, esperança e fé em dias melhores para o clube de maior torcida do Brasil. Seja dentro ou fora do campo.



É fato que a política interna do clube era um eterno disco arranhado. A alternância de poder, em geral, se dava na cabeça de chapa. Para além desta, a insistente repetição de nomes bem conhecidos dentro e fora do Flamengo.

A simples nominata para os cargos mais importante, feita pela chapa recém-eleita, pode ser um indício de oxigenação da política rubro-negra. Eu disse "pode".

Em meio a tanta empolgação, é preciso ponderar algumas questões, antes que façamos avaliações positivas prévias em um mandato que ainda nem começou.

Se há algo realmente muito importante neste processo, é que ele transbordou os limitados muros da Gávea. Os sócios do clube foram sensíveis à voz das ruas, mesmo que estas ainda sejam abafadas pelo intrínseco elitismo do Clube de Regatas do Flamengo.

É absurdo que, para uma torcida de 40 milhões de pessoas, cerca de cinco mil associados estejam aptos a votar. Ou seja, pouco mais de 0,01% da nação rubro-negra.

Neste sentido, nada foi dito pela nova direção. Não há nada concreto para democratizar o Flamengo, trazer sua torcida para dentro do clube, fazê-la participar das decisões que, em primeiro lugar, a envolvem.

Que fique evidente, entende-se por torcida aqueles que não se locupletam do clube, não recebem ingressos para proteger ou difamar um ou outro dirigente. Enfim, torcedores não profissionalizados, que colocam o coração à frente do bolso, e não o contrário.



O Flamengo, tal como os demais grandes clubes do país, é muito maior que sua sede social. Cada ação de seus dirigentes conta, fundamentalmente, com a participação dos torcedores, vistos como consumidores em um cenário de adaptação progressiva dos clubes aos ditames empresariais.

Aliás, nestes padrões, o Flamengo está aparentemente bem servido. A nova diretoria possui executivos de grandes empresas, nos mais diversos ramos e todos muito bem sucedidos. Para que o Flamengo se torne, pelo menos do ponto de vista gerencial, um negócio rentável, este aspecto é importantíssimo.

E aí reside outra questão a se ponderar. Às vésperas do lançamento do edital de concessão do estádio do Maracanã, onde o grande favorito para levar este "presentão" é o megaempresário Eike Batista (o filho do ex-presidente da então estatal Vale do Rio Doce, durante a ditadura militar), e o responsável pelo futebol rubro-negro será Flávio Godinho, executivo da holding EBX, de propriedade do homem da coleirinha da Luma de Oliveira.

Pode ser um grande negócio para o Flamengo, mas é péssimo para o povo do Rio de Janeiro. Esta relação pode viabilizar um acordo entre as empresas de Eike e o Flamengo, a preços que os torcedores do clube dificilmente poderão pagar.

Além disso tudo, existe uma outra pedra no caminho. Para viabilizar sua gestão, é preciso obter maioria no Conselho Deliberativo do clube cuja eleição acontecerá no dia 13 deste mês. Caso contrário, as mudanças prometidas serão, por força do estatuto, engessadas neste conselho.

Para se obter a tal maioria, a nova direção terá que chafurdar na asquerosa política do clube.

Negociar com os velhos caciques que, há muitos anos, mantém o Flamengo em situação quase falimentar, inversamente proporcional às suas próprias contas bancárias.  Os mesmos que guardam distância entre o clube da Gávea e sua imensa torcida espalhada pelos subúrbios. Aqueles que, eleição após eleição, permanecem vivos nos noticiários sobre o Flamengo e que, a fim de não perder a "boquinha", impediram a profissionalização do futebol.

A gestão Eduardo Bandeira de Mello à frente do Flamengo será, trocando em miúdos, o resultado da mudança vitoriosa, negociada com o atraso, em tese, derrotado.

É inegável, também, o papel desempenhado por Zico nas eleições.

Destratado pela gestão de Patrícia Amorim, o maior ídolo da história do clube retornou ao Flamengo para sepultar quem o tirou de lá. Sua fiança para a chapa de Bandeirão (como é chamado o novo presidente em círculos mais informais) foi fundamental para mobilizar a torcida em torno dela.

O êxito deste processo está condicionado, primordialmente, à continuidade da "intervenção" da torcida nos rumos do clube. Esta é uma contradição que a nova gestão deverá enfrentar. Ou seja, adaptar-se à realpolitik do Flamengo, reunindo os mesmos interesses que travam o Flamengo há anos, significa virar as costas à grande força motriz que conduziu-os à direção do clube.

A bola está com eles, e esta eleição do Conselho Deliberativo pode ser um forte indicativo do caminho que escolheram.

Portanto, devagar com o andor, que o santo é de barro... e o calor no Rio está de derreter!


Valeu,

Bruno Porpetta


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Bruno Porpetta