domingo, 27 de março de 2011

O 100º gol do "dirigente" Rogério Ceni

Talvez tenha expressado, adjetivamente, minha opinião a respeito de Rogério Ceni em algumas ocasiões.

Em algum momento já devo tê-lo chamado de neoliberal. E acho isso mesmo de RC enquanto pessoa física legalmente cadastrada na Receita Federal.

Mas também acho RC um dos melhores goleiros do país. Não o melhor!

Faz parte de um seleto grupo de dois atletas que possuem um nível de identificação com sua torcida não visto há pelo menos duas décadas. Ele com o São Paulo e São Marcos com o Palmeiras.

Além de grande goleiro, é um exímio cobrador de faltas e penalidades máximas.

E hoje, na Arena Barueri, Rogério Ceni chega ao centésimo gol.

As circunstâncias do feito o tornam ainda mais louvável. Num clássico, contra o Corinthians, sendo o gol decisivo de uma vitória por 2 a1 que interrompe um tabu de 4 anos (11 jogos) sem derrotar o alvinegro de Parque São Jorge.

O feito de Rogério é similar ao milésimo gol de um jogador de linha. Disso não há dúvida!

Sendo assim, os holofotes da imprensa estavam todos voltados, merecidamente, para RC. E assim como Pelé, que dedicou seu milésimo gol às crianças, Rogério usou o palco para mandar seu recado. Entra aí, o "dirigente" Rogério Ceni!



O atleta Rogério Ceni fez o 100º gol, mas quem falou foi o "dirigente".


Não é novidade para ninguém que acompanha futebol que o destino de Rogério, ao término de sua carreira, será dirigente do São Paulo.

E sua declaração após o jogo de hoje é mais uma prova inconteste disso.

Rogério Ceni cutucou outros dirigentes sobre a polêmica discussão a respeito dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro.

Criticou a postura de alguns que, segundo ele, pensam "somente em si", ao invés de pensar no futebol como um todo.


Que os times grandes devem resguardar seus interesses, mas carregando também os pequenos consigo, para o bem do próprio futebol brasileiro.

Afirmou que o futebol não pode estar submetido ao poder de uma só pessoa, que "manda mais que o Presidente da República", numa referência direta ao Presidente da CBF, Ricardo Teixeira.

E Rogério está coberto de razão!

Preservar os interesses de um clube grande não significa criar um abismo para os menores. E a negociação, em separado, dos maiores clubes do Brasil vem gerando tais disparidades.

Podemos nos tornar, a médio prazo, uma Inglaterra da vida.

Lá, a criação da Premier League em substituição à primeira divisão do Campeonato Inglês jogou os clubes das divisões inferiores na rua da amargura, e a concentração de capital vultuoso está nas mãos de, no máximo, quatro clubes.

Estes disputam as principais competições europeias, enquanto os demais rezam para conseguir uma vaguinha que seja na Liga Europa (a Sulamericana deles) para poder atrair algum recurso.

Para nós, brasileiros, isso seria o pior cenário possível.

Somos o único país que, desde o início do campeonato, partimos com 12 potenciais candidatos ao título, revezando-se entre si ano a ano. Times com grandes torcidas, distribuidos nos 4 estados mais tradicionais do nosso futebol, representando, em parte, a diversidade de nossa cultura futebolística.

Digo em parte porque a "introdução" do capitalismo no futebol relegou os clubes tradicionais do Norte, Nordeste e Centro-Oeste a uma condição secundária na partição do bolo de recursos que movimentam o futebol.

O grande problema da fala de Rogério está no próprio São Paulo.

Para reivindicar este discurso libertador do futebol das garras abusadas de quem o dirige é preciso ter coerência histórica para tal.

Não é exatamente o caso do São Paulo.

Quando foi conveniente defender a posição da CBF com relação ao título brasileiro de 87, o São Paulo rasgou sua própria assinatura à época. Sua postura foi tão "egoísta" quanto as que hoje Rogério critica.

Mas assim caminha o futebol brasileiro. Todo clube vê o seu, e o torcedor, ó...



Valeu,

Bruno Porpetta

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Bruno Porpetta