terça-feira, 13 de novembro de 2012

A faca de dois gumes


Em Presidente Prudente, Palmeiras e Fluminense jogavam em realidades absolutamente distintas.



O Fluminense contava os dias para se sagrar campeão brasileiro. Somente uma hecatombe nuclear, ou se todos os países latino-americanos declarassem moratória em suas dívidas e exigissem reparação por séculos de injustiça e exploração por parte das ex-colônias e atuais impérios, poderiam tirar este título da Rua Álvaro Chaves, no simpático bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro.

Pouco provável que algo deste tipo ocorresse até o final do ano.

Restava saber em qual rodada o caneco seria pintado em três cores.

Do outro lado do campo, estavam as camisas verdes do Palmeiras. Sem sacanagem, um time fraco. Muito aquém da história alviverde de Parque Antártica. Não à toa se encontrava nesta situação.

Não bastava o desespero ao olharem os jornais pela manhã e enxergarem seu time na zona vermelha da tabela, ainda eram obrigados a conviver com ameaças de torcedores profissionais que mancham a imagem do clube. Há de se reconhecer até algum heroísmo neste time jovem que, a despeito de tudo isto, ainda se dispunha a correr e lutar pela permanência na elite do futebol brasileiro.

O jogo era um forno. Seja pelo calor intenso de Presidente Prudente, pelo fogo que o Fluminense tinha em resolver logo a parada, ou pela chapa quente palmeirense.

No primeiro tempo, o jogo foi o retrato de todo este calor. Amarrado, com o Palmeiras tentando manter a bola nos pés, contra um Fluminense com sua paciência característica.

A maior objetividade tricolor deriva da qualidade que tem do meio-campo pra frente, mesmo que parte destes jogadores também desempenhem funções defensivas – meio que a contragosto da torcida, mas deu certo.

Para o Palmeiras, parecia que nada pior do que levar o primeiro gol – de Fred, pra variar - no final da etapa inicial poderia acontecer. Ledo engano.

A tragédia parecia completa quando Maurício Ramos – que havia falhado duas vezes contra o Botafogo – amplia o placar contra o próprio patrimônio, logo no começo do segundo tempo. Em jogada de Fred.

A recordação do caso Andrés Escobar - zagueiro colombiano morto em 94, após enterrar o sonho de Edson Arantes do Nascimento em ver a Colômbia campeã do mundo, com um gol contra – me veio logo à cabeça. Coisas que somente a vileza de alguns profissionais da arquibancada, ou narcotraficantes, ou os dois, poderiam fazer supor.







Porém, quando surge o alviverde imponente no gramado em que a luta o aguarda, é preciso saber que, por sobre o corpo daqueles jovens acuados existe uma camisa do Palmeiras. E diante do tamanho que tem, o improvável tornou-se possível: empataram o jogo.

O Fluminense perdeu-se em campo por alguns instantes. Parecia não entender o que estava acontecendo.

Se o Palmeiras tivesse mais um ou dois jogadores decisivos, poderia ter virado o jogo. Mas não tem, ao contrário do Fluminense.

Quando a poeira assentou, o tricolor voltou a tocar a bola e assim, novamente com Fred, fez o terceiro. A esta altura, o Galo só empatava com o Vasco, em São Januário, com uma senhora ajuda do árbitro, que anulou gol legal da nau cruzmaltina e inventou um pênalti para o Atlético-MG.

Era o título! O quarto título brasileiro do Fluminense!

E de forma incontestável!

Por mais equívocos que a arbitragem tenha cometido, ela não fabrica o melhor ataque do campeonato, a melhor defesa, os milagres de Diego Cavalieri, a segurança de Jean, a velocidade de Wellington Nem, a consciência de Thiago Neves, a autoridade de Gum, o desprendimento de Rafael Sóbis, a aplicação de Diguinho, a genialidade de Deco e o incansável faro de gol de Fred.

O Fluminense, através da cabeça de Abel Braga, não se propôs a ser bonito, mas a ser campeão. E foi, com alguns requintes de beleza.

Ao Palmeiras, restou o direito de orar, porque este ainda não paga dízimo. Agora, não basta mais ser o Palestra Itália.

Há de se fazer questão da insistente citação do nome de Fred. A seleção ainda não encontrou um nove pra chamar de seu, e ele está violentamente escancarado nas fuças de Mano. Basta abrir os olhos, e não se propor a reproduzir o que a Copa passada já derrotou: a birra.



Pelos lados da Barra Funda, fica evidente que só um milagre resolve. Assim como a conquista da Copa do Brasil o foi. Afinal de contas, o problema devia mesmo ser o Felipão...

Aos tricolores, parabéns!

Palestrinos, boa sorte!


Valeu,

Bruno Porpetta

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Bruno Porpetta