terça-feira, 30 de setembro de 2014

Tá tudo errado

Duas situações envolvendo o Botafogo demonstram a inversão de valores no futebol brasileiro. Uma delas nos tribunais, tão ou mais decisivos que os craques dentro de campo ultimamente. A outra, entre goles de cerveja e suculentos pedaços de carne, linguiças e drumetes.



O STJD julgou os casos de Emerson Sheik, que reclamou da arbitragem no jogo com o Bahia e disparou contra a CBF na saída do campo, e Airton, por pisar a cabeça de Pato na partida o São Paulo.

Sheik foi absolvido pelas críticas à CBF, mas pegou quatro jogos de suspensão por ofensas ao árbitro. Airton pegou dois jogos de gancho pela agressão. No mesmo julgamento, o meia Valdívia pegou também dois jogos pelo pisão em Amaral, no confronto entre Palmeiras e Flamengo.

Para o STJD ofender o árbitro é mais grave que pisar na cabeça de um companheiro de profissão. Para os jogadores fica a lição: melhor arrebentar alguém que se dirigir ofensivamente ao Deus todo-poderoso vestido de preto.

Nossa arbitragem, que anda de mal a pior, só falta ser condecorada pelos serviços prestados ao futebol. Após o jogo entre Santos e Goiás, onde os “castanheiras” não viram um gol esmeraldino onde entre a bola e a linha do gol cabia uma carreta, estes novos personagens do futebol foram alçados à condição de árbitros.

Deixam de prejudicar o jogo da linha de fundo e passam a fazer dentro do campo o que a pomba faz nos fios de alta tensão.

A outra situação aconteceu no churrasco do aniversariante Maurício Assumpção, presidente do Botafogo.

Os salários dos jogadores atrasam e Jefferson vai a público dizer que, para fugir do rebaixamento, o time só pode contar consigo mesmo, a comissão técnica e a torcida. Assumpção bebe, come e ri. Chorar e sofrer, só na frente da Presidenta Dilma.


A cartolagem brasileira não merece sequer um pão dormido.


Valeu,

Bruno Porpetta

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Tempos sinistros

Emerson Sheik, por qualquer razão que se possa imaginar, expôs o quanto a CBF coloca nossa democracia à prova, retomando medos de outros tempos, quando falar o que se pensava era tratado como crime contra a segurança nacional.



Não importa se Sheik está “politizando” suas férias ou se acaba, involuntariamente, tornando-se uma liderança em um processo de questionamentos à CBF que se iniciou com o Bom Senso FC. Deve-se considerar, inclusive, a possibilidade de um processo coletivo arquitetado pelo próprio movimento, utilizando-se de novas figuras, como Sheik e Ganso.

O mais importante é falar e, principalmente, poder falar. Foi por este, e outros direitos, que muitos tombaram. Foram torturados, mortos e seus cadáveres foram ocultados, negando a suas famílias a simples chance de enterrá-los.

Nada que não vivemos nas favelas e periferias do país nos dias de hoje, mas existe um especial simbolismo nas mortes da ditadura militar. Uma referência em desrespeito aos direitos humanos.

Dentre as inúmeras similaridades que temos entre o presente e o passado, uma delas é o cerceamento ao direito de expressar suas opiniões. Por mais infames que possam ser, devem ser todas ditas.

A hipótese da punição a Emerson, já cogitada instantaneamente quando o atacante foi às câmeras de TV dizer que a CBF era uma vergonha, é um resquício muito grande destes tempos que ninguém nunca enterrará. A naturalização desta ideia é perigosíssima.

Uma coisa é a falta que provocou sua expulsão na partida. Por esta, ainda dá uma discussão. Pelo desabafo, nenhuma repreensão deve ser considerada normal.

Não é a toa que, ultimamente, vem ganhando força uma turma que adora deveres, mas tem pouco apreço por direitos, falando em “família”, “valores” e “moral”.


Que Deus nos proteja, mas que façamos por onde.


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Um convite ao sofá

O clássico das multidões. Esta é a definição do confronto entre as duas maiores torcidas do país: Flamengo e Corinthians.



Ou seja, o povo brasileiro está condenado a assistir velhos fantasmas do futebol brasileiro. Ingressos caros e os erros de arbitragem – do árbitro da Copa, diga-se de passagem.

Após uma sequência de vitórias rubro-negras, vieram as duas derrotas e o jogo contra o alvinegro paulistano deveria ser a redenção do Flamengo. Ao mesmo tempo em que o Corinthians vinha de uma sequência positiva, com um time melhor que o do Flamengo e sem problemas para o jogo.

Com os preços praticados nos tempos da lanterna, haveriam pelo menos 50 mil pessoas no Maracanã. Haviam 32 mil, o que não é um público ruim, pelo contrário. Mas poderia ter mais gente ali.

Gente que veria mais uma atuação vergonhosa da arbitragem. O árbitro Sandro Meira Ricci prejudicou, mais que o Corinthians, o jogo.

O gol do Flamengo estava – duas vezes – impedido e o pênalti não existiu. É necessário adotar, logo de cara, estas duas premissas. Ainda assim a vitória do Flamengo não foi injusta, jogou mais que os paulistas.

Além do mais, o Flamengo também foi prejudicado pela arbitragem. Por um lado, pelo impedimento dado a um jogador que estava no campo de defesa e sairia na cara do gol. Por outro, porque os erros contra o Corinthians tiram um pouco do brilho da vitória, mesmo justa.

O Flamengo dominou o adversário, correu riscos maiores apenas no início do segundo tempo, com o vacilo da defesa que deixou Luciano na cara do gol. A partida de Everton foi sublime. O Corinthians fez muito pouco para quem quer ir à Libertadores.


Ambos os fantasmas empurram o verdadeiro torcedor brasileiro para o sofá. Pagar muito por um “espetáculo” desses é de doer na alma, mas especialmente no bolso.


Valeu,


Bruno Porpetta

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Um museu de grandes novidades

O futebol brasileiro, carente de uma profunda renovação de conceitos e de novos personagens, precisou levar sete gols da Alemanha para que, ao menos, estas necessidades se tornassem visíveis.

Mas de que adianta ter visibilidade se nossos dirigentes são praticamente cegos? A pouca visão por parte de quem comanda o nosso futebol acaba provocando revolta em vários torcedores, mas não só. Algumas coisas são dignas de risos.



A grande “novidade” no Vasco é a contratação de Joel Santana para o comando técnico do time. Não basta caminhar na contramão do que se espera no nosso futebol, tem que ser uma anedota.

O futebol do Rio, há muito tempo, recorre ao Papai Joel para salvar times em crise. Como Joel é um bom malandro, querido por todas as torcidas, acaba descendo pela goela. Mas o que justifica o retorno de Joel ao futebol carioca, do ponto de vista tático, ou dos métodos de treinamento?

Os problemas do Vasco não se resolvem com frases de efeito ou expressões em inglês. O clube precisa definir quem responde pelo futebol. Não pode ser atribuição do Rodrigo Caetano, que deve ir ao mercado para cumprir as diretrizes do comando do clube, que não existe.

Sem isso, até o Guardiola estaria fadado a ser demitido em algum momento.

É impressionante como ainda dão ouvidos ao Roberto Dinamite, responsável direto pela bagunça que tomou conta do clube. Não à toa, sua reeleição foi descartada.

Este tipo de dirigente infesta o futebol brasileiro. Destes que só enxergam até a próxima rodada e tomam decisões baseadas no vento da opinião pública.

Por essas e outras, casos como o de Maicon na seleção são tratados dessa forma esdrúxula. Ninguém fala nada, nem deixa ninguém falar.


O futebol brasileiro continua com uma mentalidade tacanha. Enquanto você lia este artigo, mais um gol da Alemanha.


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Nada de novo

O mundo do futebol coleciona casos de racismo. Em todo o planeta, também no Brasil, não só no Rio Grande do Sul. O caso Aranha é o início da contagem regressiva para o próximo.

A única chance que temos para começar a desatar esses nós é, sem qualquer delírio de soluções imediatas, punir exemplarmente os envolvidos. A garota, os outros e, também, o Grêmio.



A garota e os outros estúpidos da arquibancada por razões escancaradas. Foram flagrados pela TV. Já o tricolor gaúcho, por mais que tenha tomado posturas aparentemente enérgicas, está envolvido pela terceira vez, nos últimos anos, em casos de racismo.

Chegou a hora desses idiotas verem o tamanho do estrago que causam, tanto na vida dos negros e negras do nosso povo, como para o próprio clube. Conviver no sistema carcerário brasileiro, um verdadeiro depósito de negros e pobres, pode fazê-los pensar um bocado.

A exclusão do Grêmio na Copa do Brasil é pouco. É preciso limitar o número de ingressos à metade da capacidade de um estádio distante de Porto Alegre, além de uma pesada multa. Ou seja, doer no bolso do clube. Os outros clubes, rapidamente, se precaveriam.

Até porque o racismo não é gremista, nem só no futebol, é uma questão nacional. O sujeito enlatado no trem, em sua maioria, é negro. Não é à toa.

O Brasil é um país racista. Os negros foram jogados para os cantos das cidades, recebem menos, trabalham mais. Qualquer semelhança com o século retrasado não é mera coincidência.

Os negros e negras do nosso povo não fazem parte da elite, que andaram dizendo por aí que não existe. Nem esquerda, nem direita, nem branco, nem negro... mas nada que umas tuitadas não possam mudar, de repente.


Do gremista Humberto Gessinger: “Nessa terra de gigantes, eu sei, já ouvimos tudo isso antes.”.



Valeu,

Bruno Porpetta