sexta-feira, 29 de junho de 2012

Capisce?

Quando eu digo que a Itália, enquanto não estiver morta, está vivíssima, não estou brincando.

Nem ela!

E agora ele diz que fará quatro gols na Espanha...


A Espanha pode fazê-lo na primeira fase e, corretamente, não o fez.

Agora tá aí! Espanha e Itália decidem o título da Euro.

A Alemanha não deu nem pro cheiro. Até o marrento e contestado Balotelli resolveu dar o ar da graça e fez os dois gols da vitória.

E que Euro faz o tal de Pirlo!


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Com o dito cujo virado pra lua...

Um garoto de 21 anos, cuja trajetória no futebol passa por Rio Branco de Americana, São Bernardo e Bragantino, de repente chega no Corinthians.

Lá na capital, jogando no clube de maior torcida de São Paulo, tudo é muito diferente e, principalmente, amplificado.

Muitas vezes, jogadores considerados talentosos revelados no interior sucumbem ao peso da camisa dos times grandes. Pelo que se viu, não foi o caso de Romarinho.



O menino jogou duas partidas pelo Corinthians. A primeira, por maior que fosse o desinteresse de ambos, envolvidos em finais de outras competições, era "só" um clássico contra o Palmeiras. A outra, uma final de Libertadores, em La Bombonera, contra o Boca Juniors.

Dois jogos, três gols!

Fez os dois na vitória por 2 a 1 contra o Palmeiras, sendo um deles de letra, e marcou o gol do empate corinthiano em Buenos Aires, com uma categoria e frieza de um veterano.

Se pode afirmar muito pouco sobre o futuro de Romarinho no Corinthians, e na própria carreira, mas que ele tem uma estrela danada, isso tem.

Daqui a uma semana ele pode se tornar um herói corinthiano. Em apenas três jogos.

Quem sabe? Ainda tá tudo em aberto...


Valeu,

Bruno Porpetta

terça-feira, 26 de junho de 2012

Falando no Velho Mundo


As semifinais da Euro são, até certo ponto, óbvias.



Espanha e Alemanha já eram favoritos desde a Copa. O tempo passou, eles entraram na competição assim e continuam do mesmo jeito. É a final, na cabeça de nove a cada 10 seres humanos.

Embora a trajetória de ambas na competição seja uma simbiose entre elas mesmas. A Espanha com chucrute, e a Alemanha com paella.



A Itália, que chegou à Euro debaixo de mais um escândalo de manipulação de resultados em seu campeonato nacional, veio do mesmo jeito de sempre. Empatou dois jogos, e quando todo mundo achou que ela estava virtualmente eliminada, ela realmente se classificou.



A Azzurra só está derrotada quando está morta, e quando isto não acontece, ela vive. E como vive!

E Portugal? O que justifica a presença de Portugal entre as quatro melhores da Euro?



São duas as respostas. A primeira, é a camisa de Portugal, que no âmbito da Europa pesa bastante. A segunda, e fundamental, é Cristiano Ronaldo.

Ele conduziu Portugal até aqui, e seu apetite parece querer levá-la mais longe.

Sinceramente, ainda não coloco Portugal no patamar de favorita ao título. Mas ando dando tanta bola fora ultimamente que, por precaução, prefiro não apertar o botão verde pra confirmar.


Valeu,

Bruno Porpetta



Futebol pra todo gosto

Após a eliminação do Santos, diante do Corinthians, pela Libertadores, voltou à tona o debate sobre a eterna dicotomia entre o feio que vence e o bonito que perde.

O título improvável do Chelsea, na Liga dos Campeões, reacendeu-o. Principalmente pela eliminação do Barcelona nas semifinais, onde o próprio time azul londrino aplicou, segundo seu treinador, um futebol à italiana.

Se me perguntassem, em uma dessas entrevistas de emprego para treinador de um clube qualquer da oitava divisão da região metropolitana do Rio, como eu armaria meu time, à brasileira ou à italiana, cravaria na primeira sem dúvida alguma.



Acho legal, divertido, bonito, entre outros inúmeros atributos. Tendo a pensar que um passe magistral, ou um drible desconcertante, é mais caro aos meus belos olhos quase verdes do que um robô programado para marcar e correr.

Creio eu que isso se deve ao fato de ser brasileiro mesmo. Fui criado pela vida pra querer fazer gols, não desarmes. Se puderem ser lindos gols, melhor ainda. Um golaço me renderia mais assunto pra mesa redonda (de bar) após a pelada do que um carrinho.

Mas na mesa, todos são livres para exaltar os feitos que quiserem, tal como podem ter as concepções de futebol que lhes derem na telha.

O que não gosto é de ver meu estilo de jogo predileto pejorado como um retumbante fracasso em termos de resultado. O futebol, assim tratado como arte, já venceu, e muito!

O próprio Barcelona, no retrospecto recente, não se pode considerar um fracasso. Longe disso, inclusive.

Mas não dá pra dizer também que ele é absoluto. Existe o chamado futebol-força, cuja força é menor que a organização, e para ser organizado o talento também é indispensável.

Pensado como um tabuleiro de xadrez, o campo de futebol comporta movimentos calculados, precisos, impondo uma lógica cerebral a um esporte cuja emoção pode levar à glória, ou à ruína.



O grande mérito do futebol organizado a partir da defesa é a previsão de situações que, em dias menos inspirados, os craques não conseguem agir. O coletivo sobrepõe-se ao indivíduo, e a palavra "solidariedade" não está solta na boca dos cronistas. Todos defendem, e muitos atacam. Em geral, de forma cirúrgica.

Sem talento, até mesmo a eficiência se liquefaz. Sem eficiência, o talento pode se dispersar pelo gramado.

Portanto, muito mais que a eliminação do Santos, a classificação do Corinthians - tal como o título do Chelsea - é digno de exaltação.

Comprovando a tese da mistura maravilhosa de eficiência e talento, tanto Drogba, quanto Danilo, andam merecendo uma estátua em frente ao Stamford Bridge e... bem, aí o Corinthians escolhe se na Fazendinha, no Pacaembu ou no Itaquerão.

Percebam como Danilo, sempre que o sufoco se avizinha do time corinthiano, vai lá e mete um golzinho salvador. Isso é o que se chama de poder de decisão.

Além dele, ainda tem o Emerson, que parece o Midas. Onde o Sheik pisou, nos últimos três anos, as galerias de troféus cresceram.

Voltando à vaca fria, não existe um estilo de futebol melhor que o outro. Existe o que cada indivíduo aprecia mais ou menos. Que nem música, exatamente do mesmo jeito.

Respeitar o estilo antagônico é prudente, eu diria. E com canja de galinha fica uma delícia!


Valeu,

Bruno Porpetta




domingo, 24 de junho de 2012

O níver do cara!

Não podia deixar de falar sobre o aniversário do último inscrito na galeria dos maiores gênios da história do futebol.

Lionel Messi completa hoje 25 anos de idade, e ainda tem muita lenha pra queimar.



Ele é a maior ameaça ao projeto brasileiro de conquistar uma Copa em casa. Teríamos um novo Maracanazo?

Messi, e somente ele, coloca a Argentina como uma das favoritas ao título. Apesar deste ser importantíssimo para encerrar quaisquer desconfianças sobre ele, uma eventual derrota não o retira da pequena lista dos mais geniais jogadores em todos os tempos.

Parabéns, La Pulga!


Valeu,

Bruno Porpetta

sábado, 23 de junho de 2012

Ao mestre, com carinho

Há exatos 40 anos, nascia em Marseille, na França, o neto de argelinos, símbolo de uma França etnicamente diversificada, que mudou para sempre a história do futebol francês e mundial.

O nome dele é Zinedine Zidane, ou Zizou, para os íntimos da bola.

Quando qualquer francês normal imaginava que nunca haveria ninguém como Platini, eis que surgiu Zidane. Além da Euro, ganhou a Copa. E inscreveu seu nome na galeria dos maiores jogadores de toda a história do futebol no mundo. E que me perdoe Platini, mas Zizou é o maior jogador da França, desde a revolução burguesa!





Havia uma outra disputa em curso, no período em que Zidane jogou, pelo mundo da bola.

Um certo Ronaldo Nazário andava nas cabeças, ganhava prêmios, títulos, marcava muitos gols. Zidane não costumava ser artilheiro, somente decisivo.

Se enfrentaram pela primeira vez, naquela competição realmente importante no mundo, justo em uma final!

Era 1998, e a França de Zidane marcava 3 a 0 no Brasil, do combalido Ronaldo, e era campeã da Copa do Mundo pela primeira vez. Dois gols do camisa 10 francês, ambos de cabeça, que não era lá sua especialidade.

Demos um desconto à situação de Ronaldo, recém saído de uma convulsão, e que sequer deveria estar em campo naquela partida.

O novo encontro em Copas, foi este acima no vídeo, em 2006, nas quartas-de-final. Ano em que a França, com um time bem mais limitado que o de 1998, foi conduzida por Zidane à final, até sua cabeçada (mesmo que equivocada, merecida) em Materazzi.

Um lance determinou quem era o craque daquela geração. Muito mais que a cobrança de falta pela esquerda do campo, nos pé de Henry, que acabou definindo o placar, outro lance foi decisivo.

Zidane deu um chapéu em Ronaldo!

Por mais que o estado de Ronaldo também não fosse dos melhores, visivelmente acima do peso, estavam ali os dois melhores jogadores do mundo na ocasião, e levar um chapéu define muita coisa.

O franco-argelino Zinedine Zidane, foi o melhor jogador do mundo naquele período, e é um dos maiores gênios do futebol.

Ele entrou naquela pequena lista, que inclui "apenas" Maradona, Romário e Zico, e agora também, Lionel Messi.

Ou seja, Zidane está, para mim, que tive a honra de poder, ao menos, assistir pela televisão suas exibições, entre os cinco maiores jogadores da história.

Só pra constar, Pelé não conta! É o Clóvis Bornay do futebol! É hors concours!

De qualquer forma, em seu aniversário, não pude deixar de prestar minhas reverências à Zidane.

Acima de tudo, obrigado!

E parabéns também pra Cindy Lauper, que fez 59 anos ontem. Ela merece, ao menos, uma citação!


Valeu,

Bruno Porpetta

Bola murcha

Com algum tempo de ausência no blog, devido à Cúpula dos Povos, e após alguns fatos relevantes no futebol, infelizmente não será possível tratá-los agora.

Hoje, a direita paraguaia consumou um golpe contra o povo paraguaio, contra a democracia e contra o processo transformador pelo qual a América Latina tem passado.



Com 39 votos, contra apenas quatro, o Senado decretou o impeachment de Fernando Lugo, presidente eleito pelo povo paraguaio, em um processo iniciado ontem, e concluído em menos de 24 horas.

Trata-se, nitidamente, de um golpe de Estado. Assim foi tratado, inclusive, pela UNASUL (União das Nações Sulamericanas), conforme nota no link abaixo.

http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/comunicado-da-uniao-de-nacoes-sul-americanas-unasul-sobre-a-situacao-no-paraguai

Escolados em golpes, a TV pública venezuelana TeleSur transmitiu a sessão do Senado que decretou a queda de Lugo, não referindo-se de outra forma senão a verdadeira, diferentemente da grande mídia brasileira, que adora exaltar as Constituições e as democracias quando estas lhes beneficiam.

Apesar do evidente golpe, a reação de Lugo foi a que deu mais legitimidade ao acinte. Acatou a decisão do Senado, sem resistência, mesmo com a carta na manga que a posição da UNASUL lhe deu.

Não tinha a mesma mobilização que Chávez dispunha em 2002, na Venezuela, quando a força popular o recolocou na cadeira de Presidente, mas muito porque seu governo tinha um perfil mais conciliador que o venezuelano, o que inevitavelmente rebaixa as possibilidades de resistência organizada do povo.

Porém, a simples aceitação do golpe coloca em risco todo o legítimo processo democrático que aponta novos rumos em nosso continente. Uma vitória das forças conservadoras, sempre de calças arreadas para o imperialismo estadunidense que, de pronto, reconheceu o "novo governo" paraguaio.

Cabe aos lutadores de todo o continente demonstrar nossa solidariedade e apoio à resistência popular paraguaia, tirá-los do isolamento e fazê-los avançar em sua luta contra o golpismo da direita local. Além disso, uma postura efetiva dos demais governos progressistas sulamericanos de condenação, deslegitimação e sanções aos golpistas.

Equador, Argentina, Venezuela e Bolívia não reconhecem o governo do golpe, capitaneado por Federico Franco, cujo nome lembra, por triste coincidência, a ditadura espanhola que assassinou uma infinidade de catalães e bascos.

Aguarda-se uma posição mais consistente do governo brasileiro, correndo-se o risco de morrer à espera.


Valeu,

Bruno Porpetta




domingo, 17 de junho de 2012

A tarde do "sai, uruca"!

Desde a minha chegada ao Rio, fui recebido por excelentes amigos.

Vim para cá sem lenço e sem documento, com algumas malas, uma disposição enorme em fazer a vida por aqui e sem uma casa que eu pudesse chamar de minha.

Nessas horas, os amigos são fundamentais, e alguns deles são isso ao quadrado.



Devo destacar três.

O historiador Luiz Felipe Thomaz, o primeiro a me ceder um teto quando por aqui desembarquei. Foram dois meses morando no Méier, mais precisamente em Todos os Santos, próximo ao Engenhão e acordando diariamente ao som da Rádio Tupi, de um conservadorismo divertido, com apelo bastante popular. Como era longe do trabalho, tinha que acordar bem cedo para ir trabalhar. Nem sempre isso foi possível.

Posteriormente, me mudei para a Tijuca, próximo à Praça Saens Peña, passar três meses na "famosa" Hilda,  um apartamento muito simpático na Praça Hilda. Fui convidado por João Domingues, um sujeito raro, tijucano boa praça, para me abrigar por lá e após conversas com seus companheiros de apartamento, meu nome foi "aprovado" e passei a integrar aquela família. Ali entendi o que o Kiss queria dizer com "Rock'n roll all nite, and party every day". Foram três meses muito divertidos, tanto quanto embriagados.

Por último, o cineasta baiano Luis Carlos de Alencar, o ex-Explicadinho. À época, habitante da Gloriosa. Como ficava na Glória, foram 10 dias de acesso fácil ao trabalho, além da Lapa, o que poderia ser perigoso (não pela violência, sim pela abundância das madrugadas).

O que há em comum entre os três?

Todos torcedores do Flamengo, como eu.

Com Luiz Felipe e Luis Carlos, mesmo antes da minha mudança para o Rio, já tínhamos um histórico acumulado de jogos do Flamengo. Com o primeiro, fui campeão da Copa do Brasil em 2006. Com o segundo, campeão brasileiro em 2009.

Ou seja, já estávamos experimentados e cientes que, em caso de derrota do Flamengo, esta não seria culpa nossa.

Pois sempre há aquele amigo, onde parece que assistir aos jogos juntos coloca sobre o time um elemento que extrapola à atuação em campo. Isto que por aí costumam chamar de azar, ou zica, uruca, dentre outros vários nomes possíveis para definir uma nhaca que não tem jeito de sair. Azar do destino, quis que este fosse o mais fanático de todos eles. O João!

No dia do hexacampeonato, em 2009, estávamos no mesmo estádio, mas ainda não nos conhecíamos. A partir do momento que nos tornamos amigos, bastava sentarmos juntos para ver o jogo para o Flamengo não vencer.

Não vimos juntos nenhum dos melhores jogos do Flamengo nos últimos dois anos e pouco, só os piores. Esta uruca nossa pesava sobre o time, e este não conseguia o resultado.

Digamos que esta situação é um tanto incômoda, a privação que a vida impõe a dois grandes amigos assistirem ao clube que amam juntos é muito chata. Restava a nós, comentar os jogos posteriormente um com o outro.

Certa vez, em um jogo contra o São Paulo, nos encontramos na porta do estádio. De pronto, definimos que cada um iria para um lado da arquibancada, para não correr o risco. Deu certo, e o Flamengo venceu por 1 a 0.

Em outra oportunidade, fui visitar João em sua casa e, coincidentemente, tinha jogo do Flamengo. Como não tínhamos dinheiro para ir ao estádio, assistimos por lá mesmo, sob a tensão constante de nossa uruca atrapalhar o time.

O Flamengo enfrentava o Cruzeiro, um adversário perigoso, que tornava nossa preocupação ainda maior.

Pra piorar tudo, aquela zaga lunar do Flamengo, deixou mais uma cratera no miolo, e o Cruzeiro abriu o placar.

Ao mesmo tempo, eu pensava em ir embora, e João pensava em me enxotar dali. Elegâncias à parte, seria absolutamente justo. Eu e João tínhamos nossos 30 e poucos anos cada um, o Flamengo completaria 116 anos de idade, o que define bem qual deveria ser a prioridade.

Mesmo assim, resolvemos dar uma chance pra ambos, que tendia àquele momento a uma chance ao azar, inicialmente sepultado pelo gol de empate, ainda no primeiro tempo, e mais quatro gols na segunda etapa. Uma goleada para lavar a alma, principalmente a nossa.

Ainda não era o suficiente. Pela TV é mole, queríamos ver como seria dentro do estádio.

O dia 17 de junho de 2012, no ano do suposto fim do mundo, foi a prova dos nove para nós.

Decidi, meio que de última hora, ir ao jogo contra os reservas do Santos, envolvido com a disputa da Libertadores.

Não tive dúvidas, o primeiro a saber foi João. Ele recebeu a seguinte mensagem pelo celular: "Jão, me deu a louca e tô indo pro jogo... deseje-me boa sorte! Abraços".

Qual foi minha surpresa que, depois de muito tempo sem ir ao estádio, recebo de João, também após um período grande de afastamento, a seguinte resposta: "Porra... tô aqui".

E o frio na barriga? E o medo de perder para os reservas do Santos só por causa de uma uruca deveras desagradável? Imagino que, ao receber minha mensagem, João deva ter pensado igualmente no pior.

Nos encontramos na porta, e após botar o papo em dia, olhamos um para o outro e dissemos: "É hoje!".

Ou aquela uruca caía, ou provavelmente decidiríamos nunca mais ver jogos juntos. Doeria tanto em mim, quanto nele.

Talvez nem valha falar do jogo em si, um excelente remédio para insônia. O Flamengo e seus 136 volantes, onde os que sabem razoavelmente tocar a bola com correção para o lado são alçados à condição de meia, e um Santos quase juvenil, fizeram um joguinho tão arrastado que, por um momento, pensei que o tempo havia parado e seríamos condenados a passar meses dentro do Engenhão assistindo àquilo.

Há de ressaltar que a elitização do futebol, além de excludente, é um convite à ignorância. Um monte de gente criada a "leite com pera", que sabe tanto de futebol quanto de astronaves. Um banho de povo nos estádios retomará o amor ao clube, maior do que às suas próprias convicções. E é cada convicção absurda que a branquelada tem, que chega a dar vontade de oferecer capim aos ditos cujos.

Primeiro, perseguição individual a um jogador não se justifica, afinal de contas, ele não se escala.

Segundo, a vaia é um instrumento de demonstração de sentimento de rejeição a algo, como uma derrota, que só acontece após os 90 minutos.

Terceiro, vaiar um jogador que vai bater um pênalti para o seu próprio time só pode ser demonstração de desamor por aquilo que se diz amar. E possivelmente contraproducente.

Ainda bem que, apesar da branquelada das caras arquibancadas do Engenhão, não influenciou no resultado. Gol do Flamengo, de Bottinelli, de pênalti, de qualquer jeito!

Parecia o fim do longo calvário meu e de João, e após alguns sustos, mas nenhuma infelicidade, o jogo acabou. Finalmente, vencemos juntos nas arquibancadas.

Daqui pra frente, é só com o time mesmo. Nós não temos mais nada a ver com os infortúnios.

Foi um enorme peso tirado de nossas costas, expresso em um abraço aliviado.


Valeu,

Bruno Porpetta


quarta-feira, 13 de junho de 2012

Apenas respire

Se tem uma data muito chata, é o Dia dos Namorados!

Pra começar, foi uma invenção da cultura da cabeça baixa das nossas elites diante do todo-poderoso império estadunidense. Lá, conhecido como Valentine's Day, é mais uma data de estímulo ao consumo. Você deve ter motivos para dar presentes a todos os seres humanos com os quais se relaciona, diante do que, os comerciantes agradecem, e a economia sorri.

O papel da mídia na propagação do simbolismo da data, e seus óbvios efeitos sobre o aquecimento das vendas, fazem a programação televisiva dar até diabetes. São matérias nos telejornais, cenas nas novelas, programas especiais, musicais,... A celebração do amor mais piegas que existe. Na verdade, uma ode ao mau gosto.

A histeria desesperada dos "excluídos", torna a data ainda mais estúpida. Como se a solução dos problemas da humanidade estivesse diretamente ligada à presença do outro em suas vidas.

Quer esquentar os pés? Use meias! E grossas!



Nem tudo na vida são flores, mas nelas, apesar das inconveniências, não saltam aos olhos os espinhos. O que te faz reparar nas flores são as pétalas.

Portanto, mesmo diante de tantas agressões ideológicas que a data representa, ela provoca evidentes reflexões.

Refletir sobre o amor, ou sobre o não-amor, é refletir sobre si próprio, fundamentalmente, mas com especial atenção ao papel do outro.

Olhar para dentro de si, e enxergar um vazio que carece de preenchimento pelo outro, nada mais é do que um autoflagelo. É como uma oração católica apostólica e, acima de tudo, romana, onde volta-se aos céus pedindo piedade, clemência, compaixão, por aquilo que você não se tornou. Nada mais impiedoso consigo próprio, como pode esperar que os céus tenham por você aquilo que sequer você se deu?

Pensando bem, é impiedoso até com os céus.

Porque não oferecemos pessoas inteiras aos outros? Porque sempre a ideia da metade da laranja? Aliás, porque laranja?

A ideia da dependência é o que nos torna cada vez mais sós, mesmo acompanhados.

Se partirmos do pressuposto que o ser humano busca a felicidade, não é possível imaginá-la sem liberdade. E a busca do "complemento" nos aprisiona.

A felicidade é um horizonte, e a graça da vida é a perseguição.

O amor é uma escolha, feita por algum gnomo intrometido que, sem te pedir licença, te coloca o coração na boca com um simples sorriso do outro.

Atravessa barreiras, percorre distâncias, cresce na ausência, explode na presença.

As mãos dadas não expressam dependência, mas uma parceria nessa travessia rumo à miragem. Uma visão construída pelos olhos de ambos, alimentada pelos entreolhares.

E nada pode ser mais poético que um simples respirar de quem se ama!

Para quem ama, basta a existência.

O amor é uma revolução, e como já sabemos, esta não será televisionada.


Valeu,

Bruno Porpetta

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Um duelo muito familiar

Para quem não sabe, meu nome de batismo é Bruno Beneduce Padron.

Beneduce, da cidade italiana de Cerizano, ao sul da bota, próximo a Nápoles. Padron, de Ponte Vedra, região  galega da Espanha.

O encontro mais esperado desta primeira rodada da Eurocopa, sem dúvida, era entre espanhóis e italianos. Minha descendência paterna, contra minha descendência materna.



Embora isso não tenha muita interferência nas relações familiares, desde criança desenvolvi uma paixão esquisita pela seleção espanhola. Precisamente, na Copa de 86, no México, virei uma espécie de torcedor de La Furia.

Não nego que eu e meu pai sempre fomos muito próximos, e isso pode ter sido determinante na escolha pela seleção da Espanha. Mas não existe uma explicação muito racional pra isso tudo.

Tempos de Butragueño, Zubizarreta, Michel, Goikoetxea, Chendo, dentre outros. A derrota para o Brasil, na estreia, prejudicada pela arbitragem, ao mesmo tempo que me fez compartilhar a alegria pela vitória brasileira, com gol de Sócrates, também doeu. Por que tinha de acontecer justo com a Espanha?



A goleada contra a "Dinamáquina", por 5 a 1, com quatro gols de Butragueño, definiu o centroavante do Real Madrid como meu primeiro ídolo espanhol.

Para fazer das quartas-de-final, pessoalmente, uma tragédia, tanto Brasil como a Espanha foram eliminadas nos pênaltis nesta fase.

Por outro lado, nunca gostei da Itália. Sempre achei um futebol chato, mesmo quando não entendia muito a respeito.

Sentei-me diante da TV para assistir a Espanha X Itália, torcendo obviamente pela primeira.

E o que vi é que, mesmo diante de todos os escândalos que abalaram e desfalcaram a Azzurra, a camisa da Itália pesa toneladas.

O time italiano impediu o toque de bola espanhol, cercando as triangulações com três ou quatro marcadores, impondo ao jogo o seu ritmo. A melhor chance no primeiro tempo foi da Itália, em uma cabeçada de Thiago Motta, com excelente defesa de Casillas. No demais, sem muitas grandes chances de gol.

No segundo tempo, o jogo ficou mais aberto, e a Espanha conseguia trocar mais passes, embora a Itália assustasse em contra-ataques.

Balotelli teve a chance mais clara do jogo. Roubou a bola de Sergio Ramos, correu com a bola como uma lesma manca, meio sem saber o que fazer com ela, e permitiu a recuperação zagueiro espanhol. O suficiente para ser sacado quase imediatamente, dando lugar a Di Natale, o artilheiro do Campeonato Italiano, pela Udinese.



O mesmo Di Natale abriu o placar em seu primeiro lance, recebendo passe precioso do excelente Pirlo, e colocando no canto, na saída de Casillas.

Mal deu tempo da Itália se assanhar muito. Três minutos depois, em mais uma troca de passes nas cercanias da grande área italiana, David Silva achou o "centroavante" Fábregas, que tocou rasteiro para o barbante.

A Espanha passou a dominar o jogo após o gol, com a mesma paciência para tocar a bola que a notabilizou no último período, mas faltava aquela referência dentro da área. E foi assim que Del Bosque resolveu apostar em Fernando Torres.

Chances de virar a partida ele teve, mas apesar da boa movimentação, perdeu as três grandes oportunidades que teve. Na última, podia simplesmente ter rolado a bola para a direita, onde Jesus Navas entrava tão sozinho que dava até dó. Preferiu encobrir Buffon, e perdeu.

No fim das contas, o empate foi o retrato de um grande clássico europeu e, agora também, mundial. Uma Copa do Mundo pesa no currículo, e a Espanha já pode se considerar grande.


Valeu,

Bruno Porpetta


sexta-feira, 8 de junho de 2012

Gato por lebre (ou pássaro por dragão)

Imagine você, corinthiano, se um grupo polonês (numa situação tão hipotética, quanto improvável) comprasse o alvinegro do Parque São Jorge.

De repente, como forma de "internacionalizar" a marca do Corinthians, o investidor decide substituir as cores do clube pelas da bandeira de seu país, o vermelho e o branco. Além de substituir o mosqueteiro por um ursinho polonês, ou qualquer outro bichinho de Varsóvia.

Como você reagiria?



O Cardiff City, time do País de Gales que disputa a segunda divisão inglesa, fundado em 1899 e sempre vestido em azul e branco, conhecidos como Bluebirds (subentende-se que o mascote é um pássaro azul), agora são os Red Dragons (dragões vermelhos).

O clube foi comprado por um investidor malaio, chamado Dato Chan Tien Ghee, o qual chamaremos carinhosamente (e simplesmente, acima de qualquer coisa) de Dato.

Visando atingir o mercado asiático, a submissa direção do clube mudou, do dia para noite, o distintivo, as cores e o mascote do clube. Para isso, usará a imagem de um dragão vermelho, simbólico para os povos do oriente, em especial, a endinheirada e populosa China.

Poderíamos até pensar em uma suposta megalomania de Dato, visto que outros investidores, no próprio futebol inglês, não alteraram nada nos clubes agraciados pelos dinheiro aparentemente infindável do oriente. Os mesmos, todos da primeira divisão, cheios de holofotes e torcidas enormes, além de situarem-se na Inglaterra propriamente dita.

Um clube como o Cardiff City, de outro país do Reino Unido, fora da Premiere League, mas com uma torcida apaixonada, para o neocolonialismo asiático não representa nada, não significa nada? Pode então, a partir da chegada dos donos da grana, recomeçar sua vida, desprezando sua própria história?

Claro que a torcida do Cardiff não gostou nada disso. Protestou e foi solenemente ignorada. Tudo em nome do "progresso".

Em pesquisa feita pela página na internet do jornal britânico The Guardian, mais de 90% dos torcedores responderam que mais vale preservar a história do clube que fortalecer sua marca.

Mas a nova ordem mundial do futebol não entende assim. Não entende nada, na verdade.

Só entende de números, como se o mundo e o futebol fossem números.

Vale ressaltar que este tipo de situação acontece porque a "profissionalização" e "modernização" das ligas europeias,  onde os direitos de transmissão pela TV são porcamente distribuídos. Levam apenas números em consideração, e assim, deixam poucos clubes muito ricos, e muitos à míngua.

Se analisarmos o rumo tomado pelo futebol brasileiro, após o novo contrato firmado com a Vênus Platinada para os tais direitos, podemos imaginar um clube como a Portuguesa, comprado por algum investidor francês, passando a se chamar Marselhesa.

Né não?


Valeu,

Bruno Porpetta

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Triste coincidência

O Palmeiras tem uma mania horrível de perder em vésperas de Corpus Christi, que torna inevitável a piada batida do feriado de "Porcos Tristes".

Uma hóstia amarga na vida do Palmeiras


Poderia acontecer com qualquer outro clube, mas é com o Palmeiras, só para não se perder a piada.

A pior delas, certamente, foi a eliminação da Copa do Brasil, diante do Cruzeiro, em pleno Palestra Itália. Somada a uma listinha de outras três ou quatro derrotas, na noite que antecede a festa cristã do corpo de Cristo.

Lembrei-me desta coincidência, justamente, porque na noite que antecedeu o feriado de hoje, o Palmeiras perdeu.

Só para não se perder a piada.


Valeu,

Bruno Porpetta


terça-feira, 5 de junho de 2012

Tratamento de risco para o Galo voltar a cantar

Certamente, a notícia que tomou quase por completo o noticiário foi a contratação de Ronaldinho Gaúcho pelo  Atlético-MG.

Aliás, nos últimos dias, Ronaldinho ocupou espaço significativo nas manchetes e programas de TV.

Desde a conturbada saída do Flamengo, não se fala em outro assunto.



Nem mesmo a provável escolha de um conservador para a presidência do IPEA, substituindo o avançado Márcio Pochmann. Não se sabe quanto está o dólar (ou talvez Assis saiba), nem o preço da cana-de-açúcar no mercado agrícola.

Só se fala em Ronaldinho e no papel de trouxa que a direção do Flamengo enfiou o clube.

Até um vídeo "bombástico" com Ronaldinho passando a noite no quarto de uma moça, em um hotel em Londrina, onde o Flamengo fez sua "pré-temporada", anda rolando por aí, sendo divulgado pelo site do jornal Extra, do Rio de Janeiro.

Há uma clara e evidente tentativa da mídia (leia-se a Globo) em "criminalizar" Ronaldinho.

Convenhamos, é importante lembrar, dentre os inúmeros craques que o futebol brasileiro produziu, um campeão do mundo e da Libertadores pelo Grêmio, campeão brasileiro pelo Flamengo, ídolo do Fluminense por interromper, com a barriga, um jejum de 10 anos sem títulos estaduais: Renato Portaluppi, ou simplesmente Renato Gaúcho.

Segundo ele próprio, já passou a noite no quarto de milhares de mulheres. Sempre foi adepto de uma festa, uma noitada e, principalmente, umas cervejinhas.

Já dizia o conhecimento popular que não se faz amigos bebendo leite.



Renato saiu, bebeu e voltou acompanhado, altas horas da madrugada, para casa. E jogou muito!

Nasceu no Rio Grande do Sul, mas foi no Rio de Janeiro que encontrou o lugar ideal para ser o que é. Um craque boêmio.

Para Ronaldinho, uma enorme diferença. Renato não se escondia em campo, e vestia a camisa do time que jogava.

Foi Renato que, no momento mais difícil da história do Fluminense, ameaçou tirar a roupa caso o tricolor das Laranjeiras fosse rebaixado.

Pitoresco, mas remonta a uma das vergonhas do futebol brasileiro.

De qualquer forma, Renato fez história no nosso futebol. Ronaldinho, por todo o planeta.

Nem o fato de Ronaldinho não ser mais aquele, desde 2006, apaga o ídolo que é, ou o craque que foi.

Embora seja temerário, para a própria imagem, jogar com a preguiça habitual dos últimos seis anos.

O Flamengo fez sua aposta, vendendo-a para a torcida como uma certeza, que nem o Flamengo, nem Ronaldinho foram capazes de cumprir.

A cada dia que passa, inclusive, o Flamengo, como um ex-namorado ressentido pelo término da relação, vai tornando a situação mais ridícula para si próprio. As ameaças ao Palmeiras, por exemplo, são um evidente caso de maus tratos da direção do rubro-negro com a própria história do clube.



Já no Atlético-MG, o clima é de aposta mesmo.

A torcida queria um camisa 10? Ta aí!

Mas o contrato é curto (apenas seis meses), e o salário bem mais modesto que o anterior. Receberá 300 mil reais por mês, cerca de 25% do salário prometido, e não cumprido, pelo Flamengo.

Provavelmente, terá sua renda complementada pelos dividendos judiciais que o clube carioca deve pagar por um bom tempo.

Compensa para os dois.

Se for bem, ponto para o Galo! Se for mal, em janeiro a torcida atleticana estará livre dele.

Diante do alto índice de rejeição de Ronaldinho nos clubes brasileiros, o negócio não deixa de ser arriscado. Como já era quando o Flamengo o contratou, mas o custo é bem menor.

Vale a pena pagar para ver, a preços mais módicos.


Valeu,

Bruno Porpetta

domingo, 3 de junho de 2012

Uma nação de humilhados *

Apesar da crônica de uma morte anunciada, o desfecho da relação entre Flamengo e Ronaldinho Gaúcho não poderia ser pior. Ninguém saiu ileso ao mar de sujeira, nem a direção do clube, tampouco o atleta e seu empresário. Porém, não há quem mais tenha sido prejudicado nesta infame história do que os 40 milhões de torcedores do clube, cuja humilhação é semelhante a de um rebaixamento.



A torcida do Flamengo orgulha-se, quase ferozmente, de seu tamanho, dos títulos, de uma das gerações mais geniais da história do futebol brasileiro e por fazer parte de um seleto grupo de clubes nunca rebaixados para divisões inferiores em toda a sua existência.


Sem dúvida alguma, o Flamengo é um clube grande, enorme, gigante. Mas o rompimento da relação entre o clube e o craque revelou o quanto sua direção, representada na pessoa da presidenta/vereadora Patrícia Amorim, apequenou o rubro-negro.


Sua gestão à frente do clube foi marcada por polêmicas e, principalmente, sumiços. A cada nova confusão no Flamengo, sua presidenta/vereadora simplesmente não aparecia, não falava, nada! Ficava a cargo de outros dirigentes explicar os casos, cada vez mais inexplicáveis, que aconteciam na Gávea. Começando pela permanência quase constante do nome do clube nas páginas policiais, que culminaram no caso Bruno, sua ausência era notoriamente sentida.


O caso mais emblemático foi a passagem de Zico pelo comando do futebol do Flamengo. Patrícia esteve ao lado do grande ídolo da história do clube em sua apresentação, mas aguardou à espreita sua fritura, cujo personagem destacado foi Capitão Léo, ex-dirigente de organizada e vice-presidente da Federação Carioca de Futebol.


Desde o início da trajetória de Ronaldinho pelo Flamengo, onde foi recebido com festa pela torcida rubro-negra, foi tudo muito controverso. Contratado após uma espécie de leilão, que envolvia, além do clube carioca, o Palmeiras e o Grêmio, sua aquisição, por intermédio da Traffic, prometia ser um estouro de marketing, porém as atuações do craque, além de sua agitada vida noturna, somadas ao pouco carisma e disposição para virar estrela comercial, resultaram em um baixíssimo aproveitamento, dentro e fora de campo.


A saída da Traffic, no ano passado, após a direção do Flamengo costurar, junto à 9ine (empresa de marketing esportivo que pertence a Ronaldo), o contrato de patrocínio master da camisa, tornaram evidente o amadorismo da gestão. E a conta disso, que o clube não pagou até o momento, está sendo faturada.


É justo que um trabalhador, como Ronaldinho era no Flamengo, exija a remuneração prevista em contrato. Mas o futebol é mais do que uma simples relação entre patrões e empregados. Envolve a paixão de milhões, e a postura do craque durante o período não o isenta de responsabilidade.


Porém, os seguidos equívocos de gestão do Flamengo não se resumem à presidenta/vereadora. São recorrentes em várias gestões, embora seus nomes quase nunca mudem. Boa parte da atual gestão, fez parte da base de sustentação política no clube de Edmundo dos Santos Silva, que até preso foi.


É a velha história, mudam as moscas, mas os excrementos continuam os mesmos.


Diante de tal histórico, o Flamengo se apequena a passos largos. Por maior que seja o orgulho de ser rubro-negro, este, no fim das contas, sucumbe a sucessivos erros de seus dirigentes, fazendo sua torcida, cada vez mais, sentir falta de seu passado, de suas principais glórias.
Tal como o centenário do clube, em 1995, onde o Flamengo montou um supertime que não ganhou nada, convivendo com os mesmos atrasos de salários e promessas não cumpridas, os 100 anos do futebol do clube, em 2012, são também uma sombra do que o rubro-negro já foi.


No horizonte, a solução não parece próxima. A política interna do Flamengo, além de não se renovar, está entre a cruz e a espada. Os grupos políticos do clube se revezam no poder (onde circula muito dinheiro) e não se vislumbra na atual oposição uma diferença substancial com relação ao quadro atual.


Fica a seguinte indagação: como pode, um clube de 40 milhões de torcedores, ter sua direção escolhida por pouco mais de dois mil sócios?


A resposta é simples. Não interessa aos grupos que comandam o Flamengo democratizar o clube, abrir-lhe as portas para sua torcida. Cabe aos mesmos de sempre, representantes, inclusive, da mesma classe social, dirigir o clube, a paixão que o envolve e, principalmente, o dinheiro que ele gera.


Embora a saída mais óbvia, em tempos de capitalismo agudo, seja transformar os clubes em empresas, tampouco esta alternativa é cogitada entre os barões do Flamengo. Uma empresa retiraria das mãos deles a administração do futebol, portanto, igualmente mataria a galinha dos ovos de ouro.


No entanto, transformar o futebol do Flamengo em uma empresa faz com que uma enorme massa de torcedores sejam tratados como meros consumidores, jogando água no moinho da elitização crescente no esporte.


A única alternativa capaz de relacionar ambos os processos, sob uma perspectiva transformadora no Flamengo, é a democratização do clube, ampla e irrestrita. Que além de inovadora, em um meio tão atrasado como o futebol brasileiro, coloca a enorme Nação rubro-negra no centro das decisões, não apenas como expectadora passiva dos desmandos de uma elite arcaica que se locupleta com o clube.


Não existe inviabilidade, existe falta de disposição para isso. E esta indisposição para tal, além de servir aos interesses de poucos, coloca muitos em situação vexatória, humilhante.
Os dirigentes, presentes e pretéritos, do Flamengo, saem de suas casas em carrões blindados, chegam escoltados ao clube, trabalham na surdina e deixam seus cargos afirmando que cumpriram seu dever.


A torcida, no seu cotidiano, é quem suporta as constantes humilhações que estes dirigentes provocam.


É hora da Nação virar este jogo!


* Publicado originalmente na Transa Revista (www.transarevista.blogspot.com)